Permanências do conservadorismo brasileiro no processo de redemocratização na década de 1980 : estudo d’O São Paulo e da edição falsificada Mea Culpa

Dissertação de mestrado

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Resumo

Esta pesquisa analisa a falsificação de uma edição do jornal católico O São Paulo intitulada Mea Culpa, que data do ano de 1982, e a posterior reação midiática desencadeada pelo ocorrido, em um período que compreende, portanto, o contexto da Ditadura Militar no Brasil e o processo de abertura política do país. Os documentos contemplados pela pesquisa fazem parte de um dossiê que foi disponibilizado pela Arquidiocese de São Paulo ao Laboratório de Estudos das Religiões e Religiosidades vinculado à Universidade Estadual de Londrina, e contém 154 matérias de jornais e revistas nacionais e internacionais que acompanharam as investigações, assim como a própria edição falsificada. Serão empreendidos, a partir de tais arquivos, os processos de análise documental, com contribuições da análise de conteúdo e da análise do discurso, no sentido tanto de identificar os fundamentos que embasaram o ato de falsificação do semanário e seus objetivos, considerando que o conteúdo dessa edição divergia das publicações do semanário no período em que atuavam no sentido de informar acerca das atrocidades cometidas durante o período ditatorial, em um sentido que reavaliava e revogava o conteúdo destas, quanto de analisar a reação midiática que acompanhou o desenvolvimento das investigações acerca da edição apócrifa. Com a leitura e a interpretação das matérias e do jornal falsificado, pode-se perceber que a reação evidenciada pelo ato de falsificação, considerando a conceituação proposta por Karl Mannheim, foi subsidiada por um pensamento de cunho conservador, a fim de atuar para preservar a ordem social instituída na ditadura militar, considerando o período de mudanças que se delineavam com o momento de abertura política no país, mantendo, portanto, diálogos com a conjuntura e com formas de pensamento que convergem para a manutenção do governo ditatorial. Apreendeu-se, também, que, apesar de a falsificação objetivar manipular ou despertar dúvidas em relação ao conteúdo veiculado pelo O São Paulo, teria, ao contrário, acarretado uma reação que acabou proporcionando maior destaque e visibilidade às falas dos membros da Arquidiocese e à tentativa de cercear possibilidades de expressar-se de forma divergente ou contrária ao cenário social e político da ditadura brasileira.