Mapeamento faciológico da Bacia Sedimentar de Curitiba (PR) : contribuição da cartografia temática à evolução morfoestrutural

Tese de doutorado

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Resumo

Identifica e mapeia as localizações preferenciais de ocorrências das fácies sedimentares na Bacia de Curitiba em subsuperfície, mediante tratamento geoestatístico de dados litológicos de superfície e sub-superfície, contribuindo para a melhor compreensão do comportamento espacial das litofácies que compõem a Formação Guabirotuba. O tratamento cartográfico temático, aqui apresentado, possibilitou o aprofundamento dos conhecimentos acerca da espacialidade tridimensional da faciologia sedimentar da Bacia de Curitiba e, dessa forma, também incrementou informações que contribuíram para a elucidação de sua evolução tectono-sedimentar, morfoestrutural e faciológica. Estruturalmente, o arcabouço da Bacia se configura numa depressão tectônica do tipo pull apart (com nítido controle retilinizado em sua borda noroeste), onde correm três principais depocentros, alinhados segundo a direção NNE-SSW, a mesma orientação do RCSB. Esses depocentros não são sincrônicos, mas ocorrem evolutivamente de SSW para NNE (com a tafrogenia), gerados por esforços transcorrentes NE-SW (não contínuos, mas espasmódicos) que perduraram do Oligoceno (idade muito provável para a gênese do Bacia de Curitiba) até o final do Plioceno ou Pleistoceno. Após esses momentos iniciais de tafrogenia e durante a vigência dos esforços transcorrentes NE-SW, a região sofre o início (ou aumento significativo) de esforços distensivos NW-SE; os quais produziram desnivelamento e basculamento na área a oriente da borda ativa do RCSB, formando um hemi-graben com declividade de leste para oeste. Com isto, deposita-se a fácies fluvial meandrante, a partir do Leste num segundo trend de sedimentação (ou segunda área-fonte), independente daquele instalado dentro da depressão pull apart. Os estágios finais de estruturação do arcabouço tectônico ocorreu, provavelmente, no Plio-Pleistoceno, e estão representados por falhamentos transversais ao RCSB (direção aproximada N-S) resultantes de esforços transtensionais e/ou transpressionais. Ao longo destes falhamentos, em rift, ocorrem as últimas deposições. Os sedimentos pertencentes à Bacia de Curitiba apresentam se, granulométrica e mineralogicamente, muito heterogêneos, apresentando litofácies rudáceas de orto a paraconglomeráticas, polimíticas, ostentando matrizes extremamente heterogêneas (desde granular e areia muito grossa até silto-argilosa). Os lamitos, muito imaturos e muito pobremente selecionados, apresentam desde areia média até argila; e com grande dispersão granulométrica tanto para as frações muito grossas como para as muito finas. De maneira geral, os sedimentos apresentam-se em corpos individualizados, ora maturos (para algumas areias retrabalhadas por drenagens), ora totalmente imaturos, geralmente sub-arcosianos a arcosianos (predominantes). Interpreta-se que os sedimentos sofreram curto transporte entre a área-fonte e a bacia deposicional (compatível com o modelo genético tectônico-sedimentar revelado pelo produto cartográfico ora apresentado) num ambiente climático árido a semiárido reinante na maioria da história deposicional, senão em sua totalidade. Quanto à faciologia dos depósitos, ocorrem cinco fácies sedimentares: leques aluviais proximais, leques aluviais medianos, leques aluviais distais, fluvial entrelaçado (braided) e fluvial meandrante. As três primeiras ocorrem, grosso modo, depositadas sequencialmente da borda para o depocentro da bacia pull apart, em sucessões interdigitadas e coalescentes. A fácies fluvial entrelaçado é produto de retrabalhamentos locais dos leques aluviais por drenagens intermitentes e perenes (representada por corpos arenosos mais bem selecionados). A fácies fluvial meandrante ocorre dispersa em toda a superfície aplainada de um bloco estrutural basculado em disposição de hemi-graben (a partir da área à leste, desde os contrafortes da Serra do Mar, rumo ao centro deposicional da bacia pull apart); apresentando-se tipicamente mais maturos, melhor selecionados e com estruturas sedimentares condizentes com ambiente fluvial meandrante. A presente pesquisa conclui pela indivisibilidade estratigráfica dos sedimentos presentes na Bacia de Curitiba, mantendo a tradicional e consagrada denominação de Formação Guabirotuba para os mesmos, uma vez que não foram encontrados elementos e evidências estratigráficas ou sedimentológicas que justifiquem qualquer desmembramento, como aqueles propostos em trabalhos anteriores.