É proibido proibir: liberdade e ser no mundo na docência em geografia
Débora Jurado Ramos, Jeani Delgado Paschoal Moura
Data da defesa: 07/03/2023
Delineamos a presente tese a partir de um texto afetivo que propõe ser uma leitura silenciosa e empática, problematizando o debate em torno de temas sobre a liberdade e o ensino de Geografia. Para tanto, tomamos o conceito de liberdade da filosofia existencialista sartreana, empregando-a na compreensão do ser educador e educando, discutindo questões como objetificação, autonomia, revolta, ideologia, projeto, profissionalização e, de maneira menos efetiva a decolonialidade. O objetivo é identificar a liberdade a partir de seu conceito existencialista, no dia a dia docente, tanto sua efetivação na profissionalização quanto suas contribuições para o ensino de Geografia. A temática nos parece sensível à atualidade, sobretudo a respeito da reflexão sobre o isolamento social, a falta de fraternidade e as tentativas de controle dos sistemas de ensino nacional, que a todo tempo desqualifica o profissional educador. Assim, tomando o ensino como um meio de comunicação e um dos instrumentos de controle e manutenção do status-quo, e analisando os indivíduos que dele participam como seres-para-si, buscamos uma outra forma de diálogo e compreensão, pautada na ciência, mas também na arte e na subjetividade. Por isso, optamos por uma escrita que não a comumente utilizada na ciência geográfica. Para nós, pareceu que o debate acerca da questão da liberdade e sua relação com a geografia só poderia ser realizado a partir da liberdade da escrita, trazendo a esta tese aspectos da subjetividade humana manifestados em diferentes produções científicas e artísticas. Portanto, caro leitor, você será direcionado lentamente ao centro do debate sem apressamento, trilhando um caminho que fora pensado para oportunizar a reflexão e a subjetividade a partir da filosofia, da pedagogia e da ciência geográfica. Tendo em vista nosso objetivo, realizamos coletas de dados em diferentes formatos: entrevistas em grupo e individualizadas; encontros propositais ou acidentais e observação silenciosa do ambiente escolar, para apreender como professores de Geografia entendem a liberdade e a aplicam em suas aulas. Também lancei mão da minha experiência enquanto professora da rede pública de ensino em escola bilíngue Português/Libras, tendo em vista que nesta narrativa de fenômeno, a vivência de professora se confunde com a de pesquisadora e tal fusão faz parte do método de pesquisa utilizado, a fenomenologia. E o que podemos concluir? Que apesar de não haver total concordância entre a essência de liberdade atribuída por profissionais da educação entrevistados com o conceito sartreano, ainda assim há diversas confluências e que, ao final, a liberdade se efetiva a cada movimento docente em busca de uma revolução em pequena escala, aquela que ocorre ordinariamente em sala de aula, na busca constante por fazer em cinquenta minutos um momento de aprendizado autônomo, crítico e transcendente. Foi também em minhas vivências como educadora que encontrei a tal liberdade que procurava, percebendo que sou efetivamente livre em minha prática docente e, para além disso, havia algo nesta tese e na minha atuação que me guiam a novos caminhos, agora decoloniais. Também me parece caro ressaltar as problemáticas da efetivação da liberdade por subterfúgios e fissuras do sistema e não como um processo regido por uma política pública, gerando grande perda nos sentidos de formação dos indivíduos. Por esse motivo, não propomos soluções, generalizações e modelos, tal qual nos sugeriu a ciência produzida pelos nossos colonizadores, mas um caminho de diálogo e construção coletiva, em busca de um ensino de geografia libertador, autônomo, criativo, emancipatório e decolonial.