Geografia escolar e ensino de cidade: os cartões-postais escolares (CPE) como possibilidade de ensino e aprendizagem de Londrina – PR
Liliam Araujo Perez, Rosana Figueiredo Salvi
Data da defesa: 14/07/2023
Em pleno século 21 são muitos os enfrentamentos no atual cenário da educação brasileira. Mudanças nas políticas educacionais têm sido o foco de discussões acerca dos desdobramentos da atual implantação da Base Nacional do Currículo ComumBNCC e Novo Ensino Médio. Diante da realidade diversa das escolas e da sala de aula, docentes se deparam com os desafios do ensino e aprendizagem. A Geografia Escolar e a Ciência Geográfica ao longo da sua história no Brasil, tem como defrontamento a renovação no/do ensino para se manter como disciplina básica nas últimas décadas, defendendo sua relevância para a construção de uma educação de significados e sentidos para escolares do Ensino Fundamental e Médio. Diante dessa realidade a pesquisa desenvolveu-se sofrendo a ação de mudanças na política educacional do estado do Paraná e sob o contexto dos resultados da pandemia da Covid 19 que interrompeu as atividades presenciais nas escolas. O objetivo geral da tese, desenvolvida dentro de tais limites, foi avaliar as emergências sobre o aprender na/da/a cidade de Londrina, advindas de uma prática pedagógica de elaboração de cartões-postais escolares (CPE) e compreender que percepções de Geografia/conceitos geográficos têm estes estudantes do ensino médio. De natureza qualitativa, a pesquisa fundamentou-se na Análise de Conteúdo, baseada em Bardin (1994; 1977; 2011; 2016), a qual possibilitou a exploração, análise e avaliação dos CPE produzidos a partir de uma sequência didática dividida em oito momentos. A elaboração de CPE com vistas ao conteúdo urbano oportunizou um olhar específico dos estudantes participantes da pesquisa sobre a cidade de Londrina concebido na perspectiva hibrida de ensino formal, não formal e informal. A análise evidenciou uma aprendizagem vinculada ao ensino formal de Geografia relacionada a aspectos locacionais da cidade de Londrina, tais como a identificação de bairros e lugares, a noção de distâncias e relações comerciais e culturais entre diversificados espaços e pessoas. Todavia, emergiram dados de uma aprendizagem informal propiciada pela prática de elaboração dos CPE, nos significados atribuídos a diferentes lugares da cidade de Londrina, representados por locais mais tradicionais como espaços de cultura, religião e lazer, até aqueles com vistas de paisagens urbanas repletas de grafites em muros e pontilhões. Ainda, emergiram dos olhares dos estudantes diferentes paisagens vistas de janelas de ambientes mais íntimos, representando o pôr do sol ou um aspecto comovente do espaço urbano. Conclui-se que a prática didática potencializou o ensino e o aprendizado a partir do aprender informal e espontâneo da cidade por meio da geografia escolar.
É proibido proibir: liberdade e ser no mundo na docência em geografia
Débora Jurado Ramos, Jeani Delgado Paschoal Moura
Data da defesa: 07/03/2023
Delineamos a presente tese a partir de um texto afetivo que propõe ser uma leitura silenciosa e empática, problematizando o debate em torno de temas sobre a liberdade e o ensino de Geografia. Para tanto, tomamos o conceito de liberdade da filosofia existencialista sartreana, empregando-a na compreensão do ser educador e educando, discutindo questões como objetificação, autonomia, revolta, ideologia, projeto, profissionalização e, de maneira menos efetiva a decolonialidade. O objetivo é identificar a liberdade a partir de seu conceito existencialista, no dia a dia docente, tanto sua efetivação na profissionalização quanto suas contribuições para o ensino de Geografia. A temática nos parece sensível à atualidade, sobretudo a respeito da reflexão sobre o isolamento social, a falta de fraternidade e as tentativas de controle dos sistemas de ensino nacional, que a todo tempo desqualifica o profissional educador. Assim, tomando o ensino como um meio de comunicação e um dos instrumentos de controle e manutenção do status-quo, e analisando os indivíduos que dele participam como seres-para-si, buscamos uma outra forma de diálogo e compreensão, pautada na ciência, mas também na arte e na subjetividade. Por isso, optamos por uma escrita que não a comumente utilizada na ciência geográfica. Para nós, pareceu que o debate acerca da questão da liberdade e sua relação com a geografia só poderia ser realizado a partir da liberdade da escrita, trazendo a esta tese aspectos da subjetividade humana manifestados em diferentes produções científicas e artísticas. Portanto, caro leitor, você será direcionado lentamente ao centro do debate sem apressamento, trilhando um caminho que fora pensado para oportunizar a reflexão e a subjetividade a partir da filosofia, da pedagogia e da ciência geográfica. Tendo em vista nosso objetivo, realizamos coletas de dados em diferentes formatos: entrevistas em grupo e individualizadas; encontros propositais ou acidentais e observação silenciosa do ambiente escolar, para apreender como professores de Geografia entendem a liberdade e a aplicam em suas aulas. Também lancei mão da minha experiência enquanto professora da rede pública de ensino em escola bilíngue Português/Libras, tendo em vista que nesta narrativa de fenômeno, a vivência de professora se confunde com a de pesquisadora e tal fusão faz parte do método de pesquisa utilizado, a fenomenologia. E o que podemos concluir? Que apesar de não haver total concordância entre a essência de liberdade atribuída por profissionais da educação entrevistados com o conceito sartreano, ainda assim há diversas confluências e que, ao final, a liberdade se efetiva a cada movimento docente em busca de uma revolução em pequena escala, aquela que ocorre ordinariamente em sala de aula, na busca constante por fazer em cinquenta minutos um momento de aprendizado autônomo, crítico e transcendente. Foi também em minhas vivências como educadora que encontrei a tal liberdade que procurava, percebendo que sou efetivamente livre em minha prática docente e, para além disso, havia algo nesta tese e na minha atuação que me guiam a novos caminhos, agora decoloniais. Também me parece caro ressaltar as problemáticas da efetivação da liberdade por subterfúgios e fissuras do sistema e não como um processo regido por uma política pública, gerando grande perda nos sentidos de formação dos indivíduos. Por esse motivo, não propomos soluções, generalizações e modelos, tal qual nos sugeriu a ciência produzida pelos nossos colonizadores, mas um caminho de diálogo e construção coletiva, em busca de um ensino de geografia libertador, autônomo, criativo, emancipatório e decolonial.