Educação escolar indígena: temas recorrentes na produção geográfica recente (2000-2022)
Regis Stresser dos Santos, Jamille da Silva Lima-Payayá
Data da defesa: 26/04/2023
A Educação Escolar Indígena tem se desenvolvido nos últimos anos no contexto dos embates com a colonialidade, em defesa de uma educação contextualizada. Ganhou força com a Lei nº11.645, de março de 2008, que instituiu a obrigatoriedade do ensino da história e da cultura indígena nos sistemas de ensino no país, estando desde então em processo de discussão e de implementação. Entre as questões mais importantes, estão os desafios de lidar com a alteridade e a diferença, devido à colonialidade presente nas práticas escolares. Não apenas em termos práticos, mas os próprios conteúdos estão alicerçados em perspectivas eurocêntricas que relegam ao indígena a posição de alterno – o Outro que é reduzido à Mesmidade do Colonizador. A Educação Geográfica, devido ao histórico envolvimento da Geografia com o projeto colonial, tem buscado rediscutir suas bases, visando contribuir para a descolonização, o que tem sido, por vezes, feito pela adoção de professores indígenas e escolas com currículos específicos propostos com a comunidade. Neste sentido, esta pesquisa teve como objetivo avaliar as contribuições para o debate sobre os desafios encontrados pelos processos educacionais escolares em ambientes indígenas no enfrentamento à colonialidade. Para tanto, realizou-se revisão sistemática (como estado da arte) da produção geográfica recente que tematizou a educação indígena, buscando compreender as contribuições e, sobretudo, os desafios, da construção de tais práticas escolares. Buscando as principais bases de dados da produção acadêmica feita no Brasil, selecionamos artigos, dissertações de mestrado e teses de doutorado que investigaram o tema de maneira específica, traçando um quadro interpretativo pautado em uma leitura fenomenológica, ou seja, a partir das geograficidades indígenas presentes nos trabalhos. As pesquisas apontam para os desafios cotidianos, em especial no contexto intercultural com participação de profissionais não-indígenas e as potencialidades que a Geografia tem a desempenhar na construção de uma educação contextualizada.
É proibido proibir: liberdade e ser no mundo na docência em geografia
Débora Jurado Ramos, Jeani Delgado Paschoal Moura
Data da defesa: 07/03/2023
Delineamos a presente tese a partir de um texto afetivo que propõe ser uma leitura silenciosa e empática, problematizando o debate em torno de temas sobre a liberdade e o ensino de Geografia. Para tanto, tomamos o conceito de liberdade da filosofia existencialista sartreana, empregando-a na compreensão do ser educador e educando, discutindo questões como objetificação, autonomia, revolta, ideologia, projeto, profissionalização e, de maneira menos efetiva a decolonialidade. O objetivo é identificar a liberdade a partir de seu conceito existencialista, no dia a dia docente, tanto sua efetivação na profissionalização quanto suas contribuições para o ensino de Geografia. A temática nos parece sensível à atualidade, sobretudo a respeito da reflexão sobre o isolamento social, a falta de fraternidade e as tentativas de controle dos sistemas de ensino nacional, que a todo tempo desqualifica o profissional educador. Assim, tomando o ensino como um meio de comunicação e um dos instrumentos de controle e manutenção do status-quo, e analisando os indivíduos que dele participam como seres-para-si, buscamos uma outra forma de diálogo e compreensão, pautada na ciência, mas também na arte e na subjetividade. Por isso, optamos por uma escrita que não a comumente utilizada na ciência geográfica. Para nós, pareceu que o debate acerca da questão da liberdade e sua relação com a geografia só poderia ser realizado a partir da liberdade da escrita, trazendo a esta tese aspectos da subjetividade humana manifestados em diferentes produções científicas e artísticas. Portanto, caro leitor, você será direcionado lentamente ao centro do debate sem apressamento, trilhando um caminho que fora pensado para oportunizar a reflexão e a subjetividade a partir da filosofia, da pedagogia e da ciência geográfica. Tendo em vista nosso objetivo, realizamos coletas de dados em diferentes formatos: entrevistas em grupo e individualizadas; encontros propositais ou acidentais e observação silenciosa do ambiente escolar, para apreender como professores de Geografia entendem a liberdade e a aplicam em suas aulas. Também lancei mão da minha experiência enquanto professora da rede pública de ensino em escola bilíngue Português/Libras, tendo em vista que nesta narrativa de fenômeno, a vivência de professora se confunde com a de pesquisadora e tal fusão faz parte do método de pesquisa utilizado, a fenomenologia. E o que podemos concluir? Que apesar de não haver total concordância entre a essência de liberdade atribuída por profissionais da educação entrevistados com o conceito sartreano, ainda assim há diversas confluências e que, ao final, a liberdade se efetiva a cada movimento docente em busca de uma revolução em pequena escala, aquela que ocorre ordinariamente em sala de aula, na busca constante por fazer em cinquenta minutos um momento de aprendizado autônomo, crítico e transcendente. Foi também em minhas vivências como educadora que encontrei a tal liberdade que procurava, percebendo que sou efetivamente livre em minha prática docente e, para além disso, havia algo nesta tese e na minha atuação que me guiam a novos caminhos, agora decoloniais. Também me parece caro ressaltar as problemáticas da efetivação da liberdade por subterfúgios e fissuras do sistema e não como um processo regido por uma política pública, gerando grande perda nos sentidos de formação dos indivíduos. Por esse motivo, não propomos soluções, generalizações e modelos, tal qual nos sugeriu a ciência produzida pelos nossos colonizadores, mas um caminho de diálogo e construção coletiva, em busca de um ensino de geografia libertador, autônomo, criativo, emancipatório e decolonial.
Escola como espaço feliz : entrelaçamentos de experiências geográficas na interação corpo-lugar
Jéssica Bianca dos Santos, Jeani Delgado Paschoal Moura
Data da defesa: 30/09/2021
A sala de aula é um espaço de simulações de realidades, onde se supervaloriza o trabalho intelectual em detrimento da corporeidade e da experiência corpo-lugar, com carteiras enfileiradas que limitam as múltiplas possibilidades de interação. Na presente pesquisa discuto a experiência escolar, considerando a relação corpo-lugar, levando em conta a problemática da corporeidade que é limitada pela sala de aula como estrutura física rígida que, atrelada ao currículo escolar gradeado, limita os sentidos corpóreos e as diversas interações entre os indivíduos. A sala de aula vista como essencial e única ao ensino é resultado de uma arquitetura física empregada e direcionada a reprodução do capital, o que nesta pesquisa se contrapõe a uma aprendizagem de corpo inteiro levando em conta o ambiente como imanente à experiência geográfica. No intuito de unir a teoria à prática educativa necessária ao ensino de Geografia entre outras ciências, discuto a aprendizagem com todos os sentidos corpóreos (visão, audição, tato, paladar, olfato) em interação com o mundo, na relação Eu-Tu e Eu-Isso, tendo o corpo como mediador de nossa experiência. A metodologia qualitativa foi direcionada a compreensão do fenômeno escolar do ponto de vista fenomenológico, considerando a escola como espaço de convivência, lugar de expressividade corporal e de relação dialogal entre entes, escola como espaço feliz. A compreensão fenomenológica das narrativas de professores e estudantes em relação às vivências em sala de aula e ambientes que extrapolam os seus limites, ocorreu por meio da aplicação de formulários online, alternativa possível em tempos de pandemia. O debate se dá em torno do sentido da escola e da necessidade de se aprender com a corporeidade, levando-se em conta a relação corpo-lugar. Espero com esta pesquisa, avançar nas discussões sobre a corporeidade, ampliando a compreensão sobre a importância da criação de espaços de convivência na sala de aula e para além desta, que não se restringem a aprendizagem única de conteúdos, mas que se volta à aprendizagem para a vida.