O ensino de Geografia na Perspectiva Inclusiva para as pessoas com deficiência visual: narrativas sócioinclusivas e as tramas da exclusão-inclusão na educação básica

Tese de doutorado

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Resumo

A tese apresenta as possibilidades do Ensino de Geografia na Perspectiva Inclusiva, com foco no processo de ensino-aprendizagem de pessoas com deficiência visual congênita (cegos, baixa visão) na educação básica, destacando as potencialidades da educação geográfica nesse contexto. Foram realizadas 10 entrevistas semiestruturadas com quatro docentes de Geografia e quatro responsáveis pela elaboração de materiais didático-pedagógicos no Centro de Apoio Pedagógico para atendimento a pessoas com deficiência visual - CAP Londrina. Além disso, foram entrevistadas duas pessoas com deficiência visual congênita (cegos) que frequentaram as Salas de Recursos Multifuncionais (SRMs) durante o ensino regular. A seleção dos participantes foi realizada por meio da técnica de amostragem não probabilística “Bola de Neve”. Os resultados evidenciaram uma concepção ambígua entre Educação Especial e Educação Inclusiva, relacionada às experiências e práticas dos participantes. Para os entrevistados, essas abordagens educacionais são distintas: a Educação Especial é organizada em áreas específicas, conforme o público-alvo, e ocorre em salas de recursos multifuncionais ou instituições especializadas, enquanto a Educação Inclusiva se refere ao acesso e à permanência de estudantes com deficiência no ensino regular. Apesar dessa diferenciação, é importante ressaltar a interconexão entre ambas, pois os avanços históricos da Educação Especial possibilitaram reflexões e ampliaram as discussões sobre a inclusão educacional de pessoas com deficiência ou outras especificidades no ensino regular, no modelo da Educação Inclusiva. As geografias da inclusão e da exclusão se manifestam de maneiras distintas nos diversos contextos locais da educação básica. Embora exista o Atendimento Educacional Especializado (AEE), estudantes com deficiência, especialmente em contextos socioeconômicos vulneráveis, frequentemente não têm liberdade de escolha quanto à sua escolarização. Esse cenário reflete uma lógica de exclusão que permeia não apenas as pessoas com deficiência, mas todo o sistema educacional. Apesar das alternativas teóricas, a realidade socioeconômica restringe o acesso a uma educação verdadeiramente inclusiva e de qualidade. A presença de estudantes com deficiência nas escolas desafia o modelo hierárquico e mecanicista das instituições de ensino, muitas vezes gerando resistência por parte de docentes tradicionais, o que dificulta o processo de inclusão e silencia as vozes desses estudantes. Quanto à Geografia, a disciplina pode ser compreendida de diversas maneiras, especialmente por meio de recursos táteis, considerados essenciais e abordagens dialógicas que apresentem o conteúdo para além da visão. É fundamental conhecer as diversas escalas geográficas, compreender o próprio lugar e refletir de forma crítica sobre o espaço ocupado por outros atores sociais. Nesse sentido, o ensino de Geografia na Perspectiva Inclusiva para estudantes com deficiência visual, além da utilização de recursos multissensoriais, considera os conhecimentos prévios por meio de uma abordagem dialógica, elementos esses, potencializadores para todos os estudantes, com ou sem deficiência. Apesar dos avanços no ensino de Geografia e nas práticas inclusivas, persistem desafios educacionais significativos, agravados pela desvalorização da educação e pela desconformidade entre as políticas públicas e a realidade escolar. Nesse contexto, é crucial a implementação de políticas públicas consistentes, respaldadas por uma compreensão profunda da realidade educacional brasileira e das limitações do sistema público de ensino.