KEIJI NISHITANI E O ESVAZIAR-SE: ŚŪNYATĀ (VACUIDADE) COMO ALTERNATIVA À CONSCIÊNCIA
Eduardo Gomes Fávaro , Eder Soares Santos
Data da defesa: 01/03/2023
Esse trabalho tem como objetivo geral compreender a análise de Keiji Nishitani acerca da consciência e sua proposta de intervenção a esse modelo de existência que levou o homem a sentir-se desconectado do mundo e dos outros seres. Para isso, parte-se da leitura das obras Religion and Nothingness e On Buddhism, bem como de seus principais comentadores. Diante disso, abordam-se os seguintes tópicos: a importância da religião para o Nishitani, a construção das bases filosóficas ocidentais a partir de Descartes, a análise do niilismo e seus desdobramentos, a proposta de Nishitani que parte do conceito de śūnyatā derivado do budismo e a consequência desse modelo de existência. Com isso, compreendem-se alguns pontos relevantes da contribuição Nishitani ao pensamento universal e sua crítica social. Dentre elas, tem-se a descrição do autor sobre o fato do progresso realizado no Ocidente ter levado o homem a um sentimento de solidão cósmica. Isso ocorreu devido às relações com a natureza e com Deus, que davam sentido e significado a existência, terem sido rompidas, ocasionando o niilismo. Deste derivaram-se duas formas, o criptoniilismo, marcado por um movimento não percebido pelas massas, que deslocam suas atenções a atividades que buscam justificar as próprias vidas, e também um niilismo consciente, mas que ainda se percebe e sente-se como um estrangeiro no mundo. Como proposta, Nishitani resgata os valores da religião primitiva ao buscar uma possibilidade de intervenção através de uma análise budista, na qual a racionalidade mal direcionada e o ego são evidenciados como obstáculos à vacuidade (Śūnyatā). Śūnyatā possibilita ao indivíduo não só entrar em contato profundo com a realidade, natureza e outros seres, mas também tornar-se realidade, natureza e outros seres em uma visão cosmo-ética que remodela toda a forma de existência e relação com o mundo, que até então se baseavam principalmente no cogito cartesiano. Portanto, a grande contribuição de Nishitani, se dá a partir da ideia de que podemos caminhar pela vida sem fugir para outras transcendências, reconhecendo a vacuidade. Esta possibilita um existir profundo no aqui e agora que tem como base o esvaziar-se do ―eu desvelando a talidade de si e do todo.
Liberdade, responsabilidade e individualidade em Schopenhauer
ROGÉRIO MOREIRA ORRUTEA FILHO, Aguinaldo Pavão
Data da defesa: 03/03/2023
Este trabalho tem por objetivo depurar a teoria de Schopenhauer (que podemos chamar de “metafísica da vontade”) sobre a liberdade moral de suas próprias inconsistências filosóficas. Tais inconsistências decorrem do fato de Schopenhauer apresentar uma noção de liberdade da vontade que é destituída de atributos inerentes à liberdade mesma: a individualidade e a consciência, que é condição de responsabilização. Para cumprir aquele objetivo, meu método consistirá em reler Schopenhauer a partir da radicalização do emprego do método analítico e consequente recusa do método sintético e da analogia (que desempenham um importante papel na argumentação desenvolvida por Schopenhauer em O mundo como vontade e representação). Ao longo do trabalho será mostrado que, desta análise rigorosa das intuições que informam nossa experiência moral (tais como o sentimento de responsabilidade e de compaixão), resulta uma metafísica descomprometida com o monismo centrado na noção de “Vontade de vida” inconsciente, una e indivisa em todos os fenômenos, e que seria a única categoria de vontade verdadeiramente livre. Em lugar desta interpretação mais tradicional da metafísica da vontade, o que se tem é a noção de vontades livres, em si mesmas individuais e supraconscientes (em vez de “inconscientes”).
Uma arqueologia da noção de contracontrole
Luiz Guilherme Nunes Cicotte, Prof. Dr. Marcos Alexandre Gomes Nalli
Data da defesa: 22/07/2022
B. F. Skinner é um autor fundamental para uma certa proposta de Psicologia, haja visto o Comportamentalismo. Há em seu pensamento um conceito denominado “contracontrole” que, dentre os autores contemporâneos, parece ser essencial para as discussões políticas. Oriundas desde a década de 1970, tais discussões se configuram como uma aproximação entre a perspectiva comportamentalista e política. Sendo assim, a presente pesquisa procurou apresentar uma matriz conceitual sobre a noção de contracontrole. Inicialmente nos textos do autor e, em seguida, mapear sua dispersão na literatura especializada de matriz anglófona e brasileira. No primeiro capítulo foi realizada uma investigação nos livros publicados pelo autor, cobrindo da década de 1930 a 1980. No segundo, foi apresentado como o conceito de contracontrole é discutido na literatura especializada anglófona e tal organização das discussões resulta nos seguintes pontos: a) contracontrole como algo desejável; b) contracontrole como algo indesejável; c) contracontrole e liberdade; d) contracontrole e resistência. Por fim, no terceiro capítulo, foi realizado o mesmo movimento em relação à literatura especializada de matriz brasileira, investigando agora, artigos publicados em revistas, dissertações e teses. A discussão nessa literatura resultou nos seguintes aspectos: a) efeito do controle aversivo, sendo um efeito colateral indesejado, subproduto de contingências aversivas nas quais o organismo está submetido; b) tratado como comportamentos específicos com exemplos genéricos; c) em termos de contingências contracontroladoras. Adotou-se a postura arqueológica para tais investigações. A arqueologia se configura como uma forma de pensamento que desenvolve temas para além de ser meramente uma questão metodológica. Como contribuição para os estudos em relação à noção de contracontrole, em linhas gerais o conceito pode ser organizado da seguinte maneira: uma classe de comportamentos controlados por contingências contracontroladoras que tem por função, seja direta ou indiretamente, diminuir, eliminar, destruir o controle por contingências opressivas, podendo se dar no nível individual e no nível grupal. Por fim, observou-se que no campo da psicologia comportamentalista parece que tem se apresentado uma certa insegurança em sua própria cientificidade, no sentido de sua primazia em relação aos outros campos. Há um movimento cada vez maior de abertura às questões. A própria noção de contracontrole, apesar de não ser tão desenvolvida tanto na matriz anglófona quanto na brasileira, está aparecendo e sendo discutida no campo da política. A partir disso, parece que um novo campo de possibilidades se abre, no qual a noção de contracontrole pode ter um papel fundamental.
A liberdade intelectual em Schopenhauer
Antonio Alves Pereira Junior, Prof. Dr. Aguinaldo Antonio Cavalheiro Pavão
Data da defesa: 16/12/2022
O objetivo principal da presente dissertação é a investigação sobre a formação e significação do conceito de liberdade intelectual que surge em Schopenhauer na obra Sobre a liberdade da vontade e aparece vez ou outra de modo direto ou indireto em outras de suas obras. No entanto, muitos conceitos importantes das discussões filosóficas schopenhauerianas também são trabalhados e abordados sob a perspectiva de aumentar a compreensão e de fornecer um detalhado e pormenorizado estudo da liberdade. São esses conceitos principalmente a responsabilidade moral, a justiça eterna, as formas de causalidade, a negação da vontade, o fatalismo e a loucura, que dão como que o intervalo tonal e compõem o campo harmônico para vez ou outra, recorrer de novo à tonalidade principal, ou seja, à liberdade intelectual. Uma importante reflexão levantada ao final da dissertação e que se configura como uma das suas principais contribuições para a comunidade filosófica schopenhaueriana especializada se trata da hipótese de pensar a loucura, no âmbito da filosofia e do entendimento de Schopenhauer, como que deslocada da estética para a ética, de modo a entendê-la não apenas como rompimento do fio da memória, mas também como estando nos santos e negadores da vontade como loucura divinatória, nas palavras de Sócrates e expostas por Platão, tal como busquei mostrar.
Necropolítica Através De Suas Influências: Achille Mbembe na Encruzilhada entre Estado De Exceção, Biopoder e Colonialidade
Tadeu José Migoto Filho, Prof. Dr. Marcos Alexandre Gomes Nalli
Data da defesa: 15/08/2022
Achille Mbembe consiste em um dos grandes nomes do pensamento político contemporâneo. Foi sobretudo como seu conceito de necropolítica que seus trabalhos ganharam notoriedade no meio nacional. Todavia, apesar de se tratar de um autor em evidência, ainda é possível constar uma certa escassez de literatura especializada sobre Mbembe e sua obra no país. Com isso, a presente dissertação procura, valendo-se do método de revisão bibliográfica, esclarecer e contextualizar a noção de necropolítica em Mbembe. Para tanto, utilizamos como estratégia teórica a apresentação dos propósitos e intuitos do autor camaronês através de um diálogo com suas principais fontes e influências. Dentro dessa perspectiva se torna possível vislumbrar o pensamento de Mbembe como situado em uma encruzilhada teórica entre estado de exceção, biopolítica e colonialidade. Assim, investigaremos inicialmente as teorizações sobre o estado de exceção, conforme iniciadas por Carl Schmitt e continuadas por autores como Giorgio Agamben. Essa primeira investigação importará para a compreensão da colônia como uma forma de exceção e um dos baluartes do terror moderno. Em seguida, nos debruçaremos sobre as reflexões de Michel Foucault, sobretudo quanto ao biopoder e o racismo de Estado, a fim de elucidar a colonização como uma experiência biopolítica e bioeconômica. Após o que, passaremos a investigar as peculiaridades do necropoder em relação ao biopoder. Para tanto, o pensamento de Frantz Fanon nos será indispensável, já que à sua obra a que Mbembe recorre, não apenas para compreender o funcionamento da violência em solo colonial, como também para integrar as insuficiências do pensamento de Foucault. Por fim, exporemos como a necropolítica pode ser contextualizada dentro dos rumos que a filosofia de Mbembe vem apresentando nos últimos tempos, notadamente no que concerne às suas implicações com as noções de devir-negro e de brutalismo.
Razão e vontade: a incomensurabilidade na ação humana
Antonio Afonso Ribeiro Neto, Andréa Luisa Bucchile Faggion
Data da defesa: 08/07/2022
Esta dissertação tratará do problema da incomensurabilidade dos valores na ação humana. Para tanto, será analisado o contraste realizado por Joseph Raz entre a denominada “visão clássica” e a “visão racionalista” sobre a ação humana, argumentando-se que o ponto fulcral da separação entre estas duas visões é a consideração sobre a existência de uma relação de incomensurabilidade entre opções de cursos de ação. Para isto, num primeiro momento, realizar-se-á uma investigação sobre os pressupostos centrais da “visão clássica”: a tese da forma do bem e a descrição da ação humana paradigmática como ação intencional. Posteriormente, dissertar-se-á sobre algumas das teses que moldam a concepção de Joseph Raz sobre a natureza do valor: a tese da dependência social dos valores, a sua objeção a auto evidência dos valores básicos (como é proposta por John Finnis), e o seu pluralismo de valores. No capítulo final apresentaremos a tese da incomensurabilidade de valores em maior detalhe, as suas consequências ao raciocínio prático, bem como algumas respostas à possíveis objeções racionalistas à tese.
A RELAÇÃO ENTRE MUNDO EM HEIDEGGER E REALIDADE EM FREUD
THIAGO RODRIGO BRUNASSI, Prof. Dr. Eder Soares Santos
Data da defesa: 10/02/2020
Visamos encontrar por este trabalho a relação entre os conceitos mundo de Martin Heidegger e realidade em Freud. Uma vez que encontremos este que será o solo comum onde tais conceitos se tocam, a comensurabilidade de ambos tornará possível identificarmos em que medida também se diferenciam. Heidegger é um crítico da metafísica justamente porque nela representações da realidade tornaram-se autosuficientes e desmundanizadas. A partir de uma ontologia fundamental, sendo-no-mundo, conceitos mundanizados nos levarão pelo filósofo da floresta negra a uma abordagem verdadeira da realidade. Como Freud se encontrou com a temática da realidade ao longo de sua obra? Desenvolveremos um modo como o pai da psicanálise conceitualiza a realidade e encontraremos no conceito de sintoma a síntese de uma representação que resiste às pulsões de um sujeito ao mesmo tempo que o relaciona à realidade externa. Em que medida esta relação se diferencia daquela que mundaniza a realidade heideggeriana? Se no sintoma freudiano encontramos a expressão que sintetiza o homem da clínica psicanalítica em sua realidade, o mundo em Heidegger advém de uma ontologia fundamental que nos mostra em que medida neste conceito freudiano encontramos um homem que insiste em existir na resistência de suas representações.
A FILOSOFIA DA CIÊNCIA DE RUDOLF CARNAP: Da Teoria Construcional à Lógica da Ciência
PEDRO HENRIQUE NOGUEIRA PIZZUTTI, Prof. Dr. Gelson Liston
Data da defesa: 18/02/2020
Nesta dissertação, analisamos o desenvolvimento e as alterações da obra de Rudolf Carnap tendo como referencial teórico três eixos temáticos: Teoria Construcional, Sintaxe Lógica e Semântica. Conjuntamente, contemplamos as alterações metateóricas com suas evoluções, como, por exemplo, do fundacionismo metodológico do Aufbau ao falibilismo epistemológico em Logical syntax. Tal empreendimento considera a historiografia recente do Empirismo Lógico e a caricatura clássica de seus principais autores. Com isto posto, nossa hipótese de trabalho é de que as caracterizações equivocadas da obra de Carnap podem ser desfeitas e esclarecidas se considerarmos as posições metateóricas em estreita relação às diferentes estruturas de análise nas quais elas surgiram e se encontravam ancoradas, ou seja, uma interpretação coerente da obra carnapiana pode ser alcançada se suas posições forem apresentadas e discutidas em conjunto com a estrutura de análise lógica utilizada em suas respectivas formulações. Não obstante, é nossa posição que, a despeito de toda crítica, e dos trabalhos de revisão, a obra de Rudolf Carnap apresenta ferramentas que podem e devem ser devidamente consideradas em Filosofia da Ciência.
Teorias de Justificação da Autoridade Política
PEDRO AUGUSTO GRIGGIO RODRIGUES, Profa. Dra. Andréa Luisa Bucchile Faggion
Data da defesa: 06/04/2020
O presente estudo tem como finalidade investigar o problema da autoridade política, buscando compreender se é possível justificar a autoridade do Estado. O que se pretende é compreender no que consiste a autoridade do Estado, como melhor defini-la e se é possível justifica-la. O ponto de partida é a análise do problema da obrigação política, tentando determinar em que medida haveria por parte dos indivíduos um dever moral de obedecer às leis do Estado. Após, busca-se compreender a relação entre obrigação política e autoridade política, para, então, discutir as teorias que objetivam justificar a autoridade política. A partir da leitura e análise de textos de autores modernos e contemporâneos da filosofia e do direito, busca-se identificar os argumentos existentes que objetivam justificar a autoridade do Estado e compreender se eles cumprem esse papel. O estudo defende a hipótese de que os argumentos existentes não são suficientes para justificar a autoridade do Estado e, embora existam alternativas promissoras, a alternativa, pelo menos por enquanto, seria concordar com o anarquismo filosófico.
A OBJETIVIDADE DOS JUÍZOS ÉTICOS A PARTIR DE WITTGENSTEIN
MARCELO FERREIRA RIBAS, Profa. Dra. Mirian Donat
Data da defesa: 31/03/2020
Os juízos éticos, informados pelos valores morais, orientam as ações dos sujeitos porque são objetivos, configurando instâncias que independem de deliberações subjetivas. No entanto, o estatuto de objetividade da linguagem moral é controverso e, por essa razão, o trabalho procura esclarecê-lo a partir do aparelho conceitual de Wittgenstein, o que acaba por evidenciar uma concepção de objetividade própria desse discurso, baseada em certezas morais objetivas. Isto posto, abre-se para a compreensão do funcionamento dos juízos éticos objetivos nos jogos de linguagem morais, ressaltando-se as regras gramaticais que condicionam a produção de significados no interior de uma forma de vida. Nesse contexto desenvolvem-se concepções éticas que, por vezes, conflitam entre si; todavia, as diferenças podem ser superadas em vista do consenso que pode ser obtido por meio da persuasão. Por todo o exposto, e na esteira do pensamento filosófico wittgensteiniano, a dinâmica da pesquisa salienta que a experiência ética se organiza na linguagem e que, por meio dela, pode ser compreendida como uma dimensão importante de constituição de sentido para a existência humana.
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