Teses e Dissertações
RESPONSABILIDADE MORAL EM DAVID HUME: UMA LEITURA NATURALISTA
Karlos Kened Pontes da Silva, Aguinaldo Pavão
Data da defesa: 26/04/2024
Entre outros assuntos, David Hume trata em seus escritos sobre a questão da
liberdade e necessidade. Esta questão diz respeito a saber se as ações voluntárias
são necessárias tal como as operações da matéria, bem como em que sentido
podemos compreendê-las enquanto ações livres. O filósofo conclui que as ações
voluntárias são tão necessárias quanto as operações da matéria e,
consequentemente, a liberdade compreendida enquanto ausência de necessidade
não deve existir. Sendo assim, é possível que o agente seja responsabilizado por
ações voluntárias? É denominada naturalista a interpretação segundo a qual a
abordagem de Hume ao problema da responsabilidade moral passa pela
compreensão da natureza e condições do sentimento moral, uma vez que em sua
filosofia responsabilizar moralmente um agente é torná-lo objeto do sentimento moral
de alguém. Tendo a interpretação naturalista como hipótese de trabalho, a pesquisa
tem por objetivo investigar as condições e a natureza da responsabilidade moral na
filosofia de Hume. Para tanto, buscamos analisar em que consiste o problema da
responsabilidade moral frente ao determinismo das ações, em que medida a filosofia
de Hume pode ser compreendida enquanto um naturalismo, e, qual é o papel que o
sentimento moral ocupa na filosofia de Hume frente ao problema da responsabilidade
moral.
O PROBLEMA DA CONSOLAÇÃO COMO PERTENCIMENTO SOFRIMENTO, LINGUAGEM E SOCIABILIDADE SOB A METAFÍSICA DA POSSE
Tiago Damasceno Chiaveli , José Fernandes Weber
Data da defesa: 20/07/2024
A ideia de consolação ronda a filosofia desde o seu nascimento. Apesar de uma
longeva relação que atravessa toda a história, a filosofia ainda não foi plenamente
capaz de tomar a consolação como um legítimo sujeito filosófico, e defini-la em um
modelo explicativo. Esse esforço foi recentemente retomado, e em uma época cuja
cultura é por muitos caracterizada como coping culture e repleta de abordagens e
estratégias dissonantes sobre a lida emocional ante os atuais desafios psicossociais.
Nesse cenário, este trabalho se une ao atual esforço de caracterizar filosoficamente
a consolação, no sentido de encontrar o modelo de linguagem que lhe seja peculiar.
Este modelo, conforme a tradição retórica e da clínica psicológica atestam, repousa
sobre a condicionalidade – visto que a função da consolação é relativizar, por meio
de seus gestos, o estado fatalista em que um sujeito desolado se encontra. Sob
esse pressuposto, nosso trabalho investiga com profundidade o que é pressuposto
dessa “gramática do condicional”: a ideia de possibilidade, posse e pertencimento,
não em seu sentido usual, meramente social, mas nas condições metafísicas dessa
sociabilidade. O trabalho mergulha na metafísica aristotélica com esse olhar
pragmático, na tentativa de estabelecer quais são os limites da relação entre os fatos
absurdos que provocam-nos profundo pesar, e a recriação de possibilidades
capazes de nos renovar e requalificar para a felicidade.
ESTADO EM IDEIA: UMA PERSPECTIVA CRÍTICA DO DIREITO KANTIANO
Guilherme Augusto Riveline, Fábio César Scherer
Data da defesa: 17/06/2024
O tema desta pesquisa é a concepção de Estado de Kant em Primeiros princípios
metafísicos da doutrina do direito, de 1797 (RL). Visa explicitar os seus fundamentos
críticos. A partir da distinção entre respublica noumenon e respublica phaenomenon,
presente no item oitavo da segunda seção do escrito Conflito das faculdades, e
subjacente ao parágrafo 51 da doutrina do direito de 1797, investiga-se a teoria do
Estado na RL. Assume-se que essa distinção fornece a estrutura arquitetônica-
sistemática do direito do Estado em 1797, na qual o “Estado em ideia”, juntamente
com a divisão dos poderes, é tratado nos parágrafos 45 a 49, e as diferentes formas,
nas quais o poder do Estado aparece enquanto “pessoa física”, são expostas nos
parágrafos 51 e 52. Seguindo uma outra indicação sobre essa distinção no direito do
Estado, feita por Kant no final do prefácio da RL, implícita nas duas razões apontadas
para o menor detalhamento das seções finais (concernentes ao direito público),
pretende-se explicitar a concepção de “Estado em ideia” a partir do direito privado,
bem como, endereçar a alegação de Kant de que há muitas discussões abertas à
parte que tratam das formas do Estado, a doutrina da respublica phaenomenon.
Adicionalmente, apontaremos que os conceitos críticos da concepção de Estado de
1797, já estão presentes no escrito À paz perpétua (1795), mas ainda não organizados
sistematicamente sob essa distinção arquitetônica. Defende-se que essa distinção
elementar, introduzida de forma sistemática em 1797, mas explicitada em sua forma
crítica um ano depois, no Conflito das faculdades, é o critério-chave para a
reconstrução argumentativa do direito do Estado em RL.
A EXPANSIVIDADE E ITERATIVIDADE FORMAIS ENQUANTO CONDIÇÕES DE AMPLIAÇÃO DA FENOMENOLOGIA HUSSERLIANA
Yuri José Victor Madalosso , Eder Soares Santos
Data da defesa: 31/07/2024
O objetivo geral desta tese é explorar a possibilidade de núcleos estruturais dinâmicos
na constituição do “ser ideal”. Especificamente, pretende-se defender que os
desenvolvimentos ontológicos formais têm origem na estrutura recursiva e operatória
aritmética da primeira filosofia husserliana. Por fim, busca-se elucidar como a
semiótica husserliana de seu período inicial permanece um “fio condutor” nas fases
posteriores, especialmente nos conceitos ligados a operações, transformações e
modificações lógicas e gramaticais. A hipótese desta pesquisa é que, desde a filosofia
inicial de Husserl, uma relação efetiva entre o real, o fenomenológico e o ideal só é
possível (especialmente em “níveis superiores”) porque esse filósofo elaborou uma
legalidade específica para modificações iteradas de significação e operações capazes
de expansão consistente, tanto no âmbito gramatical e lógico-matemático quanto na
fenomenologia. Desde 1890, diversos direcionamentos formais e psicológicos, que
resultariam na fenomenologia como filosofia e na lógica pura, apresentam uma
estrutura e importância filosófica que ampliam a própria filosofia husserliana. Essa
ampliação, fundamentada na recursividade e expansividade formais (incluindo
axiomas, domínios de objetos e categorias gramaticais semânticas), permite tanto a
constituição subjetiva de múltiplos níveis de formas lógico-matemáticas quanto a
produção de objetividades puras no sentido intencional. Por fim, os núcleos estruturais
que viabilizam essa ampliação foram organizados em três grupos de conceitos, a
serem explorados nos três capítulos seguintes: i) “círculos concêntricos”,
“operação/combinação” e pressupostos de sistemas formais; ii) a noção de
multiplicidade definida relativa e as modificações sintáticas significativas; iii) a
significação em seu sentido ôntico-fenomenológico, as objetivações categoriais
enquanto significações noemáticas e as matérias e formas sintáticas.
O HOMEM ATOMIZADO E A CRISE DA DEMOCRACIA REPRESENTATIVA: REFLEXÕES A PARTIR DE HANNAN ARENDT
Alessandro Marinelli de Oliveira , Maria Cristina Müller
Data da defesa: 04/07/2024
A tese trata da degeneração da democracia representativa. Tem por justificativa a superação da
crise pelo exercício direto da política, que transcenda as liberdades privadas e não se resuma ao
bem-estar social em prestígio aos princípios republicanos, à liberdade e à felicidade públicas.
Questiona-se de que modo e por que meios o fortalecimento dos princípios republicanos, da
liberdade e felicidade públicas, podem se tornar possível para superar a degeneração do governo
composto por uma elite política eleita, em geral, pelo homem atomizado, e, portanto,
ideologizado e alheio aos assuntos públicos – compreendido como aqueles assuntos referentes
à construção do bem-comum e ao respeito à pluralidade. Objetiva-se analisar a degeneração do
governo que, sob o regime de democracia representativa, torna possível a instalação de
movimentos autoritários; objetiva-se ainda identificar os componentes da república que
autorizam a participação política direta nos assuntos públicos. Para tanto, realizar-se-á pesquisa
principalmente dos escritos de Hannah Arendt; a título de abordagem, revisão bibliográfica, e,
em relação ao procedimento, o monográfico. Como resultado, aponta-se os caminhos e as
estruturas republicanas, a exemplo do sistema distrital, que podem evitar a degeneração do
governo por meio da democracia apenas representativa com vistas ao aprimoramento do estado
democrático de direito e ao revigoramento da res publica.
O DISCURSO DE ÓDIO COMO PATOLOGIA SOCIAL NA CONJUNTURA DEMOCRÁTICA CONTEMPORÂNEA
José Eduardo Ribeiro Balera, CHARLES FELDHAUS
Data da defesa: 04/11/2024
Nos últimos anos, tem aumentado, de modo considerável, as denúncias de discursos com
conteúdo discriminatório, das práticas públicas de preconceito, da hostilidade contra minorias
sociais e das manifestações de extremismo e de polarização na sociedade. Na trilha da
filosofia social, o presente trabalho tem por objetivo averiguar se as práticas discursivas de
ódio e de preconceito, no atual contexto democrático, podem ser qualificadas como uma
patologia social ou se seriam, no máximo, fatos fragmentados e episódicos que geram tensões
do ponto de vista puramente moral e jurídico. Para tanto, propõe-se a elaboração de um
diagnóstico desse possível distúrbio social com a identificação das particularidades das
práticas discursivas de hostilidade que, em conjunto e sob a luz do paradigma honnethiano do
reconhecimento, constituem uma práxis social degenerada prejudicial à realização mínima dos
projetos de vida dos cidadãos. Assim, propõe-se especificar, por exemplo, os efeitos nocivos
da naturalização desse comportamento pela sociedade, as causas eventuais de tais práticas
sociais, as formas de reprodução e os mecanismos favoráveis à sua disseminação acrítica.
Portanto, são apresentados os elementos constitutivos dessa patologia social e os mecanismos
intersubjetivos de dominação, exclusão, desigualdade e opressão reproduzidos em conjunturas
democráticas distorcidas. Com base na clara identificação desse quadro patológico, propõe-se
um esboço de diretrizes para uma teoria antidiscriminatória da democracia, ou seja,
examinam-se potenciais recomendações de cunho terapêutico em favor da transformação
social e do combate do preconceito. Em termos metodológicos, a investigação é baseada,
sobretudo, na teoria do reconhecimento de Axel Honneth e em suas explicações relativas às
práticas de desrespeito e às disfunções sociais das sociedades contemporâneas. Para o
aprofundamento do estudo, confronta-se a filosofia de Honneth com argumentos de seus
críticos e de potenciais interlocutores, como Joel Whitebook, Nancy Fraser, Martha
Nussbaum e Miranda Fricker. Ao longo do texto, distancia-se progressivamente da leitura
política ideal e são apresentadas as incongruências reproduzidas pelas práticas sociais
patológicas, bem como sua capacidade para impedir a satisfatória realização dos projetos de
“vida boa” dos cidadãos e de grupos socialmente vulneráveis. De início, os principais
argumentos de Jeremy Waldron, relativos aos discursos de ódio, são expostos para
contextualizar a problemática e auxiliar o leitor na compreensão do debate existente na
filosofia política. Em seguinte, é apresentada a estrutura elementar do paradigma do
reconhecimento de Honneth e a proposta de diagnóstico crítico da filosofia social. Nos
capítulos subsequentes, examinam-se os danos sociais dos discursos de conteúdo
discriminatório, as lesões geradas às vítimas, as prováveis causas desses padrões
comportamentais deletérios ao organismo social e os fatores de seu alastramento.
Adicionalmente, expõe-se a concepção de democracia cooperativa e o exercício das
liberdades à filosofia de Honneth. Por fim, são avaliadas as alternativas terapêuticas para a
efetivação de uma conjuntura antidiscriminatória da democracia. Na conclusão, sugere-se o
uso do diagnóstico para a formulação de uma concepção de democracia capaz de estimular
um amadurecimento social favorável à autorrealização de todos os cidadãos. Após a
conclusão, foi apresentado um ensaio baseado nas lições da teoria neurocomportamental
contemporânea e nas reflexões de Cass Sunstein, na tentativa de superar a lacuna explicativa
de Honneth quanto aos processos de patogenia social por uma perspectiva macro.
ARTHUR SCHOPENHAUER E O CRISTIANISMO: ASCESE, NEGAÇÃO DO MUNDO E SUA RELAÇÃO COM A ÉTICA
Gabriel Pedrão Feliciano , AGUINALDO PAVÃO
Data da defesa: 21/01/2025
Este projeto de pesquisa se propõe apresentar as duas diferentes perspectivas que
Schopenhauer possui no que diz respeito ao cristianismo, principalmente no livro IV
de O mundo como vontade e como representação, e o capítulo XVII do segundo
tomo desta mesma obra, para assim, entender qual é a relação que Schopenhauer
tem com a religião cristã: ela é imprescindível em sua filosofia ou não? Quando o
assunto é o cristianismo, podemos notar dois lados opostos em seu pensamento: o
cristão, que se relaciona com a religião, encontrado principalmente na ética, e o
crítico, relacionado às alegorias e sua atuação. Perante a isso, nesta dissertação se
buscará entender por qual motivo o filósofo considera sua filosofia cristã,
defendendo uma diferenciação entre o cristianismo tradicional e o utilizado pelo
autor. Desse modo, o entendimento de Schopenhauer sobre cristianismo é diferente
do tradicional, e, quando se relaciona com a religião, o faz tendo base o verdadeiro
cristianismo, aquele que sofre influência das religiões orientais, sediado no Novo
Testamento, e quando critica, leva em conta o cristianismo com raízes judaicas. Por
fim, com base nessa separação entre o verdadeiro cristianismo e o outro, é possível
facilitar o entendimento sobre a verdade da ambivalência da religião cristã, e
também, da não contradição de Schopenhauer, quando o assunto é o cristianismo.
O conceito de Ideia em Schopenhauer
CAMILA BEREHULKA DE ALMEIDA, José Fernandes Weber
Data da defesa: 29/02/2024
O conceito de Ideia em Schopenhauer costuma ser um conceito bastante criticado por
estudiosos do filósofo, considerado como um erro, ou ainda um argumento ad-hoc.
Tendo em vista que esse conceito é originariamente da filosofia de Platão, acreditam
que o mesmo não teria lugar em uma filosofia imanente. O presente trabalho pretende
defender que, na verdade, o conceito de Ideias de Platão sofreu constantes alterações
com o passar dos séculos, sendo considerado posteriormente como um conceito
pertencente às artes e à vida interior do artista e tais alterações, ainda que não sejam
claramente mencionadas por Schopenhauer, foram decisivas para a sua apropriação do
mesmo, configurando um papel importante em sua metafísica do Belo, bem como na
metafísica da Ética. Além disso, analisamos as críticas desferidas contra esse uso
schopenhaueriano das Ideias platônicas, as quais, por ignorarem essa alteração de
significado, incluíram na filosofia de Schopenhauer conclusões que não fazem parte do
pensamento do filósofo, sendo inclusive contraditórias ao que preconiza o pensamento
do filósofo de O Mundo como Vontade e como Representação. Expomos que
Schopenhauer operou uma subversão do conceito de Ideias em sua significação, que não
apenas se refere à Arte e ao Artista (Gênio), mas que em sua filosofia possui um caráter
profundamente imanente e ligado à Vontade como coisa-em-si. Por fim, apresentamos,
a título de exemplo, a poesia de Augusto dos Anjos como uma receptora do conceito de
Ideia.
CARNAP, SUPPE E VAN FRAASSEN SENTAM À FOGUEIRA: Uma investigação em defesa da Received View
PEDRO HENRIQUE NOGUEIRA PIZZUTTI, Gelson Liston
Data da defesa: 28/03/2024
Nesta tese, conduzimos uma reconsideração da história da Filosofia da Ciência tendo por
enfoque a considerada “superação” do Empirismo Lógico e sua abordagem sintática de teorias
científicas. Nesse sentido, na história da Filosofia da Ciência, é tido que duas tradições
dominaram o cenário no que tange às temáticas da estrutura das teorias científicas e da relação
entre teoria e observação, a saber, a Received View dos empiristas lógicos e a Semantic View
dos semanticistas pós-positivistas. A partir das inúmeras críticas e do enorme movimento de
rejeição, foi considerado que a Received View era uma abordagem terminantemente errada, em
seus mais variados aspectos, que nada tinha a contribuir à Filosofia da Ciência. Em
contrapartida a esse estado de coisas e, ancorados em um movimento crescente de
reconsideração da filosofia dos autores do Empirismo Lógico, nossa hipótese de trabalho é a de
que, a despeito de todas as falhas e equívocos, a filosofia lógico-empirista, plural em seus
autores, está longe de constituir uma filosofia morta e fossilizada cujo mérito é apenas
historiográfico. Por conseguinte, apresentamos uma investigação acerca da estrutura das teorias
científicas, da relação teoria-observação e do debate do realismo científico em defesa da
Received View. Isto é, investigamos essas temáticas tendo por referencial as críticas levantadas
ao modo como a Received View lidou com elas e como a tradição pós-positivista, em especial
a Semantic View, tentou apresentar soluções a esses problemas crucialmente importantes à
Filosofia da Ciência. Com base nesse exame, que tem como referencial teórico maior as obras
de Rudolf Carnap, representando a Received View, e Frederick Suppe e Bas van Fraassen,
representando a Semantic View, desfazemos caricaturas da abordagem sintática do Empirismo
Lógico, desmitificamos certas “vantagens” teóricas e conceituais consideradas historicamente
inerentes à abordagem semântica e, em especial, defendemos a tese de que a “superação” da
Received View na Filosofia da Ciência foi um “acidente” histórico e não uma “necessidade”
filosófica. De modo que, a Received View foi, pode ser e, de fato é, uma ferramenta importante
para nossa compreensão de teorias científicas e de outros temas centrais em Filosofia da
Ciência.
ARENDT E A CRÍTICA AO ESTADO-NAÇÃO SOBERANO
ANA CAROLINA TURQUINO TURATTO, Maria Cristina Müller
Data da defesa: 29/04/2024
A tese tem como tema soberania e Estado-nação a partir de Arendt. O tema é
problematizado face à existência de seres humanos destituídos de um lar, excluídos
dos corpos políticos constituídos como Estados-nação soberano e relegados à própria
sorte sem quaisquer garantias. Recentemente os acontecimentos enfrentados pela
humanidade com mais intensidade, como as questões dos refugiados e das guerras
entre Estados demonstraram que o direito de pertença a um corpo político e o direito
à cidadania no modelo da organização mundial quanto uma questão interna aos
Estados é bastante delicada. A pergunta que norteia esta pesquisa é em qual medida
o modelo Estado-nação soberano, enquanto padrão amplamente adotado como
organização política no mundo, inviabiliza a amizade enquanto exercício político e,
por consequência, faz com que os seres humanos, em situações limites, sejam vistos
apenas na abstrata nudez, o ser unicamente humano, não obstante as diversidades
culturais, étnicas e morais entre os mais diversos grupos humanos? Também como
uma pergunta subsidiária tem-se: haveria outros modos de organização políticojurídica entre os Estados? Diante do objetivo de analisar os conceitos e as críticas
feitos por Arendt às noções de Estado-nação e soberania, com vista a outros modos
de organização política para além do vínculo ao Estado-nação soberano, mediante
pesquisa bibliográfica dos textos, dentre outros, de Arendt, Bodin, Rousseau, Sieyès
e Montesquieu e seus comentadores, tendo por horizonte a hipótese, que ao final se
confirma, de que o amor mundi e a amizade política são alternativas à soberania e ao
Estado-nação.