Mortes por doenças cerebrovasculares como eventos sentinelas de doenças cardiovasculares na Atenção Básica
Cristhiane Yumi Yonamine, Ana Maria Rigo Silva , Regina Kazue Tanno de Souza
Data da defesa: 26/02/2018
O uso da técnica de evento sentinela, no cotidiano dos serviços de saúde, vem contribuindo para maior conhecimento sobre a qualidade da atenção à saúde prestada às populações, permitindo instaurar mecanismos de vigilância e intervenção precoces. Relativamente às doenças crônicas não transmissíveis, que são as principais causas de morbimortalidade e afetam negativamente a qualidade de vida da população, destacam-se as doenças cerebrovasculares. O presente estudo visa a analisar a assistência prestada pela Atenção Básica às pessoas, de 74 anos ou menos, que faleceram por doenças cerebrovasculares, na perspectiva do evento sentinela. Trata-se de um estudo observacional, com série de casos, utilizando a técnica de investigação de evento sentinela. A população do estudo correspondeu às pessoas residentes em Cambé, no ano de 2013, cujas causas descritas nas declarações de óbito foram codificadas como doenças cerebrovasculares (Capítulo IX da CID10 – Doenças do Aparelho Circulatório que englobam os diagnósticos I60 a I69). Foram utilizados dados do Laboratório de Vigilância das Doenças Crônicas Não Transmissíveis da Secretaria de Saúde do município de Cambé, PR. O Laboratório dispõe de dados registrados em formulário próprio, advindos das declarações de óbito, dos prontuários dos serviços de saúde utilizados nos dois anos que antecederam o óbito e das entrevistas domiciliárias e semiestruturadas com familiares. Cada caso foi analisado, tendo por referência um modelo lógico elaborado especificamente para este fim, contendo os componentes utilização da Unidade Básica de Saúde, reconhecimento, acompanhamento, atendimento e controle da Hipertensão Arterial. Conforme os componentes do modelo lógico, observou-se que todos os portadores de Hipertensão Arterial foram reconhecidos como tal pelas unidades básicas de saúde. Verificaram-se a falta ou a incoerência de informação em alguns registros, a não utilização de instrumentos oficiais de acompanhamento, a não cobertura integral pela Estratégia Saúde da Família e a concentração de ações dos profissionais, elevada em alguns casos e abaixo da preconizada em outros. Além disso, observou-se que poucos casos apresentaram dificuldade do controle dos níveis pressóricos devido à não adesão à terapia medicamentosa. Dessa maneira, pode-se inferir que as mortes por doenças cerebrovasculares podem servir como eventos sentinela para avaliar a Atenção Básica, mas destaca-se a ausência de registro, ou subregistro, como a principal falha a ser corrigida na promoção da longitudinalidade do cuidado, primordial no contexto das doenças crônicas. Além disso, o uso da tecnologia de eventos sentinela possibilitou analisar aspectos não contemplados na avaliação quantitativa, contribuindo, dessa maneira, para o planejamento, o fornecimento de informações e a elaboração de intervenções mais efetivas nos serviços de saúde.