Histórias e trajetórias de pessoas com úlcera de perna em busca de tratamento
Maria Regiane Trincaus, Regina Melchior
Data da defesa: 30/07/2015
As úlceras, mais especificamente as de perna, levam os indivíduos a passar por uma experiência de enfermidade que abrange múltiplos aspectos (físicos, sociais, cognitivos, culturais e psicológicos) necessitando de abordagens mais amplas para que o problema/aflição deles seja resolvido ou pelo menos amenizado. A pessoa com úlcera de perna sofre estigmatização, dor intensa e tende a isolar-se socialmente com o intuito de autoproteger-se, além do longo período de evolução destas lesões. O objetivo desta pesquisa foi compreender como as pessoas com úlceras de perna constroem suas trajetórias na busca pelo tratamento destas feridas. A metodologia escolhida foi a qualitativa. Foi utilizada a história de vida como perspectiva de abordagem metodológica, a qual culminou na construção dos itinerários terapêuticos. Foram realizadas entrevistas utilizando-se de uma questão norteadora: Conte-me a sua história com esta ferida. Foram entrevistados nove pacientes, em tratamento no Ambulatório de Feridas do CEDETEG, e três itinerários foram analisados em profundidade. A presença da úlcera foi utilizada como situação marcadora. Para análise do itinerário terapêutico foram utilizados os conceitos de rizoma de Deleuze e Guatarri (2011), redes vivas de Merhy (2014) e redes de Feuerwerker. A dor e o (auto)preconceito foram evidenciados nos relatos chegando a interferir no cotidiano familiar. A análise do itinerário terapêutico nos leva a um movimento rizomático pelo qual as pessoas constroem suas trajetórias em busca de tratamento para estas feridas. Ferramentas como acolhimento, escuta, vínculo, responsabilização, mostraram-se imprescindíveis para a relação profissional-usuário e a manutenção do paciente no serviço, dando-lhe assim oportunidade digna de tratamento. Compreendemos que os itinerários terapêuticos foram construídos conforme novas entradas surgiam no rizoma, enquanto outras linhas mais frágeis eram rompidas. A fragilização dos serviços de saúde e das condutas contribuíram para a cronicidade deste agravo. A busca por melhor qualificação tende, além de melhorar a autoestima do profissional, melhorar também a assistência prestada à comunidade, mas necessita, contudo, do reconhecimento do gestor. A proximidade dos serviços com Instituições de ensino pode ser uma alternativa para estimular a busca por qualificação. A abertura do profissional para acolher e responsabilizar-se pelas pessoas com feridas crônicas ou outros agravos são imprescindíveis para que o cuidado ocorra. Verificamos que na maioria dos serviços de atenção básica e especializada o modelo assistencial biomédico ainda é hegemônico. A transformação das práticas em saúde passa pela formação dos profissionais, mas também pela gestão dos serviços, que carecem de um trabalho integrado e colaborativo em rede, onde Atenção Básica e Especializada se complementem e se apoiem mutuamente. A reflexão pelos profissionais de saúde sobre essas práticas e a educação permanente são essenciais para esse processo.