CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL – CAPS: UMA CARTOGRAFIA
LAUANE RAFAELA DE BRITO CAMPOS, Regina Melchior
Data da defesa: 05/04/2024
O panorama que temos hoje no que se refere à política pública e ao entendimento - mais ou menos coletivo - do campo da Saúde Mental é fruto de um processo cujas raízes históricas e políticas podem ser encontradas em uma série de acontecimentos que, articulados e entrelaçados com a efervescência do período de redemocratização e principalmente com a Reforma Sanitária, fundaram a Reforma Psiquiátrica no Brasil. De toda uma série de acontecimentos históricos para o cenário da Luta Antimanicomial, a criação do primeiro CAPS do país, chamado de Professor Luís da Rocha Cerqueira, inaugurado em 1987 na cidade de São Paulo, foi o grande marco da concretização da nova proposta de atendimento à saúde mental. A partir de então, o CAPS passou a figurar como elemento central na organização do novo modelo de atenção à saúde mental, até os dias atuais. Esta pesquisa qualitativa, de abordagem cartográfica, teve por objetivo mapear a relação entre a oferta de serviços do CAPS e a necessidade dos usuários, trazendo para a análise a afetação do sujeito-pesquisador quando do encontro com seu objeto- pesquisado. Os resultados, a começar pela análise da dificuldade de acesso ao campo para realizar da pesquisa, passando pela observação das relações entre os atores desta cena e chegando, finalmente, à observação e escuta dos usuários, apontaram uma multiplicidade de fatores que, na constituição do serviço, podem constituir barreiras em vez de instituir cuidado em saúde: a insuficiência numérica do serviço diante da demanda; o arranjo escolhido pela gestão para a organização do serviço; o esvaziamento da proposta terapêutica do CAPS. Apesar, destas barreiras, no entanto, foi possível perceber que o encontro é o verdadeiro locus de produção de cuidado, pois neste espaço, a despeito dos entraves da macropolítica, é possível estabelecer vínculo, reconhecer e recolher os afetos que se organizam sob a forma de discurso e de demanda e organizar uma oferta, qualquer que seja ela, pensada e dirigida para aquela necessidade de saúde que se apresenta.
A ARTE NA PRODUÇÃO DO CUIDADO SOB A ÓTICA DOS PROFISSIONAIS DE SAÚDE DOS CENTROS DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAIS DE UM MUNICÍPIO DE MÉDIO PORTE
LETÍCIA SALGADO ALMEIDA, Alberto Durán González
Data da defesa: 25/04/2023
Considerando os processos de transição do cuidado em saúde mental do modelo asilar para o de base comunitária, os Centros de Atenção Psicossociais se constituem como principal estratégia de serviços substitutivos aos manicômios. Estudos apontam a inserção da arte nos mais diversos contextos e ações em saúde, podendo estar presente na prevenção e promoção, na gestão e no tratamento de saúde, contribuindo para prevenir doenças, para o desenvolvimento humano e com o cuidado em saúde mental. Dessa forma, essa pesquisa teve por objetivo discutir os processos de cuidado dentro dos CAPS Álcool e Drogas e Infantojuvenil, assim como compreender a correlação entre arte e saúde na percepção dos trabalhadores, averiguando os desafios e potenciais dessa integração dentro desses centros. Tratou-se de uma investigação qualitativa de caráter analítico, realizada através de entrevistas semiestruturadas com treze profissionais do Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil e do Centro de Atenção Psicossocial Álcool e outras Drogas de um município de médio porte localizado no estado do Paraná, e os dados foram analisados por meio do referencial metodológico da Análise de Conteúdo de Bardin (2016). Observou-se que o uso da arte nas CAPS está envolto em dificuldades e preconceitos por parte da comunidade e trabalhadores como um todo, a qual afasta alternativas que não as medicamentosas do tratamento de usuários, crianças e adolescentes. Dificuldades como a falta de material, preparo dos profissionais da saúde, de conhecimento sobre a Arte como terapia, considerando um contexto de pandemia, isolou a arte do cuidado. A partir da pesquisa de como os profissionais de saúde dos CAPS compreendem a arte na produção do cuidado, foi possível perceber a necessidade de ampliar a concepção da oferta do mesmo e, portanto, de ações em saúde, buscando a ruptura da visão biomédica e hospitalocêntrica e principalmente resgatando princípios da Reforma Sanitária e Psiquiátrica que nos dias atuais encontram-se ameaçados.
Perfil epidemiológico dos usuários de substâncias psicoativas atendidos no CAPS AD, Londrina, PR
Sérgio Ricardo Belon da Rocha Velho, Regina Kazue Tanno de Souza, Dinarte Ballester
Data da defesa: 29/07/2010
Introdução: o tratamento para usuários de álcool e drogas no Sistema Único de Saúde tem uma história recente no Brasil. Há escassez de estudos que avaliem o atendimento a usuários de substâncias psicoativas no SUS. Objetivo: analisar as características dos usuários de substâncias psicoativas no Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas de Londrina, PR. Método: trata-se de um estudo transversal com 486 indivíduos atendidos no CAPS AD do município de Londrina, PR no segundo semestre de 2008. A coleta de dados foi realizada pela análise de relatório dos casos, ficha de acolhimento, caderno de registro diário e relatório de internação hospitalar. Foram levantados dados sobre variáveis sociodemográficas, padrão de uso de substâncias psicoativas e variáveis sobre o processo de atendimento. Para o processamento e a análise dos dados foi utilizado o aplicativo Epi Info 3.4.3. Resultados: entre os usuários que procuraram tratamento no CAPS AD observou-se maior proporção de pessoas do sexo masculino (85,4%), na faixa etária entre 30 e 49 anos (51,0%), que não concluíram o ensino fundamental (66,8%), referiram como substância manifesta, no momento da triagem, principalmente o álcool (46,1%) e o crack (44,4%). A proporção de usuários de álcool mostrou-se maior (89,6%) na faixa etária de 45 a 54 anos. Entre as pessoas de menor idade ocorreu predomínio de substâncias ilícitas (crack e maconha). A maioria dos casos veio encaminhada por outros serviços (60,0%) e os serviços de saúde de média e alta complexidade apresentaram maior proporção de encaminhamentos (27,7%). Após a triagem, 81,7% permaneceram em tratamento no CAPS AD. Desses, 49,6% não permaneceram em atendimento por mais de um mês e 29,7% permaneceram em atendimento por mais de 150 dias. Quanto ao número de comparecimentos, 32,0% compareceram apenas na triagem e 16,6%, mais de trinta vezes durante seis meses. Conclusão: os resultados apresentados apontam a necessidade de aprimorar a atenção ao usuário, melhorando a vinculação desses ao tratamento.