Fluorese dentária e teores de flúor na água de Itambacará/PR
Luciana de Miguel Cardoso, Maria Celeste Morita
Data da defesa: 21/05/2002
O flúor já foi consagrado como um agente eficaz na prevenção e terapêutica da cárie dentária; porém, quando ingerido em doses excessivas durante o período de formação dos dentes, pode gerar uma intoxicação crônica: a fluorose dentária. Existem, por todo o mundo, regiões que apresentam fluorose dentária endêmica. Esse fenômeno vem ocorrendo em Itambaracá, norte do estado do Paraná, cujos habitantes ingerem água proveniente de poços com presença natural de flúor. A área apresenta uma anomalia hidrogeoquímica, com altas concentrações de flúor em solo e em água de bacias superficiais. Realizaram-se análises da água de consumo das escolas do município e um monitoramento dos teores de flúor da água de um poço do distrito de São Joaquim do Pontal, o qual apresentou uma considerável flutuação nos valores de flúor (de 1,0 a 2,0 ppm). Foi conduzido um levantamento epidemiológico censitário de fluorose dentária com os escolares da zona urbana e rural do município, utilizando-se o índice de Dean, e examinaram-se 1129 crianças, de 5 a 23 anos de idade. A prevalência de fluorose dentária encontrada foi de 60,9%. No distrito mais acometido, a prevalência chegou a 71,7%, com casos, até mesmo, severos de fluorose dentária. O estudo mostra a necessidade de modificação da fonte ou correção dos níveis de flúor da água de abastecimento público de São Joaquim do Pontal como medida urgente de intervenção, para que gerações futuras não sejam submetidas aos mesmos níveis de toxicidade. Há uma evidente necessidade de se monitorar sistematicamente a concentração de flúor dos poços da região, a fim de se conhecer sempre a composição da água que a população está ingerindo.
Influência de um programa de bochecho semanal com fluoreto de sódio a 0,2% na prevalência da cárie dentária em escolares de 12 anos em região com água de abastecimento fluorada
Maria Luiza Hiromi Iwakura, Maria Celeste Morita
Data da defesa: 21/05/2002
A aplicação tópica de flúor na forma de bochechos de fluoreto de sódio a 0,2% tem sido um dos métodos mais empregados para a prevenção da cárie no Brasil, depois da fluoração da água de abastecimento público. O presente estudo teve como objetivo comparar a prevalência de cárie dentária em escolares de 12 anos, do Município de Londrina, que participaram do Programa Semanal de Bochecho com solução de fluoreto de sódio a 0,2%, com outros escolares não participantes. Foram examinados 367 escolares de 12 anos, sendo 190 participantes (51,8%) e 177 não participantes (48,2%) do Programa. Os Índices utilizados foram o de Dentes Cariados, Perdidos e Obturados (CPOD) e o de Superfícies Cariadas, Perdidas e Obturadas (CPOS), com critérios de diagnóstico da Organização Mundial da Saúde (OMS, 1999). Os exames foram conduzidos por 3 examinadores e a concordância no diagnóstico de cárie e fluorose dentária foi quase perfeita com K=0,90. O Índice CPOD aos 12 anos foi de 0,85 (DP±0,059), sendo 0,70 (DP±0,0605) para não participantes do Programa e 1,0 (DP±0,0583) para participantes. Para o Índice CPOS o valor total foi de 1,16 sendo os valores mínimo de 0,34 e máximo de 1,66. Na análise bivariada, estiveram estatisticamente associados (p<0,05) com a presença de cárie: natureza da escola ser pública, ter participado do Programa de Bochecho e a alta freqüência de ingestão de doces entre as refeições. Na análise de regressão logística multivariada, mantiveram-se associadas as mesmas variáveis da análise bivariada. Como variável dependente foi considerada a situação quanto a presença de cárie e, como variáveis independentes, o sexo, a natureza da escola pública ou privada, a participação ou não em Programa de Bochecho Semanal com flúor, a freqüência da escovação, a quantidade de pasta utilizada, a presença de fluorose dentária, freqüência de ingestão de doces e última consulta ao dentista. A participação no Programa de Bochecho com flúor não esteve associada às menores prevalências de cárie, tanto em escolas públicas como privadas. O resultado contraditório da participação no Programa de Bochecho sugere que outros fatores podem estar contribuindo para a diferença na prevalência de cárie observada.
Desenvolvimento gerencial em saúde: limites e possibilidades
Débora Cristina Bertussi, Márcio José de Almeida
Data da defesa: 27/05/2002
Esta investigação objetivou analisar as dimensões política, administrativa e pedagógica do projeto GERUS/Desenvolvimento Gerencial de Unidades Básicas de Saúde no município de Curitiba/PR, face ao processo de descentralização na saúde. O referencial teórico compõe-se dos conceitos de gerência, gerência no setor público, gerência em serviço de saúde. A opção metodológica foi a investigação qualitativa de estudo de caso do tipo histórico organizacional. Foram realizadas coleta de documentos e entrevistas com roteiro semi-estruturado com atores sociais representantes dos grupos de condução, monitores e gerentes de UBSs, participantes do desenvolvimento do Projeto GERUS no município. Os dados das entrevistas foram preparados segundo o formato específico do software NVivo 1.2, para posterior análise através de recorte em torno de categorias analíticas que remeteu para os núcleos temáticos: desenvolvimento gerencial: limites, possibilidades e contradições e influência da proposta na realidade. Evidenciou-se que ocorreu desenvolvimento organizacional, através da incorporação de conceitos e instrumentos gerenciais na organização do processo de produção em saúde. A SMS passou a ter uma nova cultura organizacional, porque as condições favoráveis e desfavoráveis à mudança foram criadas e se tornaram propriedades do meio organizacional.
Os cursos de fisioterapia no Paraná frente aos conceitos contemporâneos de saúde
Luciana Alves Tapia Schmidt, Márcio José de Almeida
Data da defesa: 14/06/2002
O século XXI teve início com um grande desafio para os profissionais de saúde: consolidar o Sistema Único de Saúde (SUS), baseando-se nos princípios de integralidade, eqüidade e universalidade, num sistema regionalizado e descentralizado. Além da preocupação quanto à reforma nos serviços, surge a necessidade de mudanças na formação dos profissionais de saúde para que se tornem efetivamente sujeitos desse processo, com as competências necessárias para atuar no setor saúde e comprometidos com a realidade social. Por essa razão, entram em cena atores sociais e institucionais na busca de estratégias que impulsionem as mudanças necessárias na formação dos profissionais de saúde. A Fisioterapia, enquanto profissão da área da saúde e que vem experimentando um crescimento vertiginoso na última década, também deve estar apta a contribuir para a construção e consolidação do SUS. Desde a sua origem, ela esteve fortemente vinculada às áreas de cura e reabilitação. Porém, diante do conceito ampliado de saúde e de todo o contexto de reformas ocorridas no setor, como está ocorrendo a formação do fisioterapeuta? A partir disso, surge o interesse em verificar a adequação da formação desse profissional nos cursos existentes no Estado do Paraná, no que tange aos conceitos contemporâneos de saúde, e a sua inserção no SUS, sob a ótica dos atores responsáveis por essa formação. Para isso, com um enfoque de pesquisa qualitativa, foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com os coordenadores dos cursos de fisioterapia que fizeram parte da população desta pesquisa, e foi procedida a análise documental dos projetos pedagógicos e dos planos de ensino das disciplinas de Saúde Pública e Fisioterapia Preventiva. O material coletado foi analisado a partir da construção das categorias de análise, possibilitando verificar que a verdadeira incorporação dos conceitos de saúde estabelecidos pela Constituição Federal de 1988 e a reorientação do modelo de atenção parece não ocorrer de fato na formação acadêmica desses profissionais, apesar de existirem avanços e, em parte, a consciência de que mudanças são necessárias para garantir a formação de um profissional competente e que contribua para a construção do SUS e do setor saúde no Brasil, proporcionando melhores condições de vida e possibilitando o direito à saúde constitucionalmente garantido a todos os cidadãos.
Profissionais de saúde: o que a AIDS revela?
Vera Lucia Martins, Márcio José de Almeida
Data da defesa: 14/06/2002
Esta investigação objetiva analisar, tendo a epidemia de aids como cenário, a atuação do profissional de saúde junto às pessoas que vivem com HIV/aids, nos serviços de saúde credenciados pelo MS/SUS, no município de Londrina, em 2001. O referencial teórico compõem-se de recursos humanos em saúde, a construção social da aids, o profissional de saúde no contexto da aids. A opção metodológica adotada neste estudo foi a análise temática. Foram realizadas onze entrevistas com roteiro semi-estruturado, com médicos e enfermeiros que atuam diretamente junto às pessoas com HIV/aids. A análise do material foi feita através dos recortes em torno de categorias de análise, que deram origem aos núcleos temáticos: a atuação do profissional de saúde, motivações para o trabalho, dificuldades e facilidades, sentimentos, formação acadêmica, capacitação em serviço, organização de serviços e atitudes. Evidenciou-se que a atuação profissional junto às pessoas que vivem com HIV/aids é vista como desgastante, traz desconfortos e conflitos frente aos temas inerentes a aids, como a sexualidade, a morte, o abuso de drogas, para os quais os profissionais não se sentem preparados. Esta situação gera sentimentos de angústia, impotência e frustração.
O trabalho da enfermeira no Serviço Municipal de Saúde de Londrina
Mara Lúcia Rocha Ramos, Márcio José de Almeida
Data da defesa: 17/06/2002
A reorganização do Sistema de Saúde clama por uma reorientação de seus trabalhadores em direção à novas práticas de saúde. No âmbito da enfermagem, há que se pensar a prática desenvolvida por seus agentes como constitutiva da sociedade, apreendendo-a como trabalho, sendo seu desenvolvimento influenciado pelas transformações da sociedade ao longo do tempo. Essa investigação focalizou-se no trabalho da enfermeira do Serviço Municipal de Saúde de Londrina e teve, como interesse principal, conhecer a visão que essas profissionais têm sobre sua inserção e sua prática no processo de construção e expansão desse Serviço, no período de 1977 a 2000. Desta forma, optou-se por uma pesquisa de natureza qualitativa, com informações obtidas por meio de entrevistas abertas, organizadas sob a forma de história de vida tópica. Para a análise e discussão dos resultados foi utilizada a análise temática, com a construção das seguintes categorias: o fazer cotidiano, o trabalho em equipe, a participação no Sistema Único de Saúde (SUS) e os sentimentos em relação à profissão. Os resultados revelaram que as enfermeiras consideram seu trabalho como estratégico e fundamental para a construção do SUS. Indicaram, ainda, uma prática inicialmente norteada pela concepção de trabalho em equipe, e que tinha o coletivo como objeto de intervenção do processo de trabalho. O trabalho da enfermeira passa por transformações no decorrer da trajetória do Serviço, resultando em uma prática orientada pelo modelo clínico de saúde na década de 1990. Os depoimentos revelaram satisfação com a profissão, principalmente pela participação no processo de construção do Serviço, mas, também, descontentamento, relacionado principalmente à falta de valorização social da profissão. Algumas possibilidades se apresentaram na perspectiva de uma transformação qualitativa da situação.
Estudo do conhecimento sobre donças sexualmente transmissíveis e comportamento sexual dos adolescentes no ensino médio de escolas públicas de Londrina/PR
Regina Lúcia César de Oliveira, Zuleika Thomson
Data da defesa: 21/06/2002
Os adolescentes constituem população vulnerável às DST/Aids. O presente trabalho teve como principal objetivo investigar o conhecimento de adolescentes sobre DST/Aids e seu comportamento sexual, identificando possíveis diferenças entre gênero e turno cursado. Realizou-se um “survey”, no ano de 2001, a partir de uma amostra aleatória de 1642 alunos de 15 a 19 anos, em 13 escolas públicas do ensino médio, na cidade de Londrina. Para a obtenção dos dados, os adolescentes responderam um questionário autoaplicável, anônimo, elaborado a partir de estudo exploratório com grupos focais. A amostra constituiu-se de 51,2% de adolescentes do sexo feminino e 48,8% do sexo masculino, a maior parte solteira. Dessa população, 51% cursavam o período noturno e 49% o matutino. A média de idade foi de 16,2 anos. Entre os alunos, 50% identificaram pelo menos quatro DST (aids, herpes simples, gonorréia, e sífilis), sendo a aids a mais referida (97%). A infecção por clamídia foi a DST menos citada, 12,9% e 14,4% respectivamente para o sexo masculino e feminino. A maioria dos adolescentes identificou os principais sinais e sintomas das DST. A relação sexual com o uso de preservativo foi citada por 99% da amostra como forma de evitar as DST/Aids. A principal fonte de informação sobre DST/Aids referida pelos adolescentes foi revistas/jornais, seguidos de TV/rádio e escola. Em relação ao comportamento sexual houve diferenças significativas. Entre os adolescentes, 55,1% dos rapazes e 36% das moças relataram iniciação sexual. A média de idade dessa iniciação foi de 14,2 anos para os alunos e de 15,1 anos para as alunas. O sexo masculino apresentou maior número de parceiros sexuais e a primeira relação sexual foi com amiga ou conhecida em 61% dos casos. Para 85,3% das adolescentes, a iniciação sexual foi com o namorado. O uso do preservativo foi maior entre os rapazes (60,5%) quando comparados às moças (44,3%). Houve diferença significativa em relação ao uso do álcool antes das relações sexuais, mais referido pelos adolescentes masculinos e por alunos do período noturno. Em relação ao uso de drogas ilícitas, 94,6% dos adolescentes declararam nunca ter experimentado. A maioria dos que admitiram o uso constituiu-se de adolescentes masculinos e de alunos do período noturno. Entre os adolescentes, 1,7% referiram experiência anterior de DST, mais citada pelo sexo feminino e entre os estudantes do período noturno.
O Ensino Odontológico e a Infecção HIV/AIDS: análise de uma experiência
Lázara Regina Rezende, Márcio José de Almeida
Data da defesa: 21/01/2004
A infecção pelo HIV é a primeira pandemia da era moderna que suscita questões com exigências amplas nas respostas. Isto acaba por revelar sérios desequilíbrios e inadequações nos sistemas de saúde e social de todos os países. Dentre as inadequações observa-se as lacunas existentes no processo de formação dos profissionais de saúde. Dentre os trabalhadores do setor da saúde, os odontólogos são os profissionais que apresentam maior dificuldade em assistir o paciente que convive com HIV/aids. Neste contexto o estudo tem como objetivo central apreender e analisar as contribuições do projeto de extensão universitária: Implantação de assistência odontológica ao portador do HIV/aids na formação profissional dos acadêmicos de Odontologia da Universidade Estadual de Londrina - UEL.O estudo é justificado pela construção do novo paradigma – saúde-doença, pela implantação do modelo de assitência à saúde proposto pelo Sistema Único de Saúde - SUS, pela busca por que vem passando a Odontologia, na procura de alternativas que possam contribuir para a implantação das novas diretrizes curriculares e pela falta de estudos que relatem a experiência no ensino odontológico, empregando os princípios de metodologia problematizadora. Nesta perspectiva, usou-se a metodologia qualitativa em saúde, sendo a pesquisa um estudo exploratório qualitativo. Os dados foram coletados entre os dezenove alunos participantes do projeto através de entrevistas gravadas e transcritas que posteriormente foram trabalhadas pelo método de análise de conteúdo - modalidade análise temática proposto por Bardin. A análise e a interpretação dos dados permitiram constatar: insuficiência do conhecimento sobre o tema pelos alunos, levando-os a avaliarem sua participação no projeto como a possibilidade de maior compreensão das dimensões biológicas, epidemiológicas, ético/moral e sociais que envolvem a pandemia da aids. A participação no projeto permitiu elucidar as mudanças nas características das lesões bucais, tão características no início da epidemia. O paciente deve ser tratado com respeito, sendo o diálogo a peça fundamental para o estabelecimento de uma relação de confiança entre o profissional e o paciente. No decorrer das atividades as medidas de biossegurança são avaliadas e são consideradas necessárias para todos os pacientes. O sangue que pode ter origem em alguns dos procedimentos técnicos da prática odontológica, durante as sessões de tratamento do paciente HIV/aids, produz preocupação e medo entre os alunos. Os alunos foram unanimes ao consideram, que há muito preconceito da sociedade contra a pessoa portadora do HIV e que a categoria odontológica apresenta dificuldade em assistir o paciente que convive com o HIV/aids. A responsabilidade diante da infecção pelo HIV é apontada, pois os alunos projetam-se na imagem do profissional de saúde que tem o dever de esclarecer e orientar as medidas de prevenção. A participação no projeto possibilita aos alunos o conhecimento e o contato com as diferentes facetas da nossa sociedade, desconhecidas pela grande maioria dos alunos. Este conhecer contribui para redução do estigma e do preconceito sobre a doença. Após análise dos dados foi possível concluir que a participação no projeto contribui para a formação profissional dos alunos de Odontologia tanto nas questões técnicas e éticas da prática profissional, na valorização da relação profissional/paciente e na reconstrução de novas representações sociais a respeito da pessoa que convive com o HIV/AIDS.