Interação com os Serviços e com a Comunidade durante a formação médica: o que pensam os professores?
Bárbara Turini, Marcio José de Almeida
Data da defesa: 20/04/2000
Este estudo analisa o conhecimento e a opinião dos docentes do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da Universidade Estadual de Londrina (UEL) sobre os módulos de Práticas Interdisciplinares de Interação entre Ensino, Serviços de Saúde e Comunidades (módulos PIN), implantados no novo curso de medicina da UEL em 1998. A coleta de dados ocorreu por meio de um questionário encaminhado aos docentes e de entrevistas semi-estruturadas com docentes que ocupam cargos no CCS ou exercem liderança no processo de implantação do novo currículo. Os resultados demonstram, entre outros aspectos, que: a) pouco mais da metade dos docentes participantes da pesquisa haviam se envolvido, até setembro de 1999, com atividades do novo currículo; b) há docentes, inclusive entre os que ocupam cargos de direção, que questionam a validade e a eficácia dos novos métodos pedagógicos; c) o conhecimento dos módulos PIN no novo currículo do curso de medicina e a aceitação de seus propósitos são bastante heterogêneos entre os docentes pesquisados; d) embora grande parte dos docentes afirme considerar as atividades práticas em serviços de saúde e junto às comunidades como fundamentais para a formação do profissional médico, muitos consideram a sua execução inviável; e) apenas uma minoria dos professores médicos dispõe-se a atuar como instrutores nos módulos PIN, e estes, ainda, manifestam a sua preferência por fazê-lo sem necessidade de “ir a campo”. O estudo conclui que os docentes podem ser categorizados em defensores, apoiadores, opositores e indiferentes aos módulos PIN e discute a dificuldade que cerca metade dos docentes apresentou para emitir opinião sobre o assunto. Propõe a adoção de medidas especialmente adaptadas aos interesses dos docentes da área clínica, relacionadas à humanização da atenção e à revisão das práticas não só de ensino, mas também de assistência. Considera que só assim a mudança curricular não se manterá apenas no plano fenomênico mas também poderá chegar a planos mais profundos, alcançando inclusive as relações sociais e políticas dos atores institucionais e sujeitos sociais envolvidos.
Experiências vivenciadas pelos familiares de crianças que se intoxicaram no município de Maringá-PR.
Éllen Cristina Santana Aleixo, Ana Maria Itinose
Data da defesa: 15/05/2000
Este é um estudo exploratório descritivo e tem o objetivo de apreender aspectos da experiência vivenciada pelos familiares por ocasião da intoxicação por medicamentos, agrotóxicos de uso doméstico e domissanitários. em crianças de 0 a 6 anos completos, residentes em Maringá. Foi realizado a partir do registro de intoxicações notificadas no Centro de Controle de Intoxicações (CCI-Maringá) localizado no Hospital Universitário Regional de Maringá durante o período de outubro a dezembro de 1999. Foram entrevistadas 13 famílias. Utilizamos para a coleta dos dados as fichas de Ocorrências Toxicológicas (OT), e um formulário elaborado pela pesquisadora para a entrevista domiciliar. Após a coleta os dados foram transcritos e categorizados. Identificamos uma categoria central “experiência de intoxicação do meu filho” a qual foi subdividida em quatro eixos temáticos para facilitar a discussão e análise: conhecendo as famílias e aspectos de suas experiências; a experiência dos familiares durante a ocorrência do episódio da intoxicação; atendimento oferecido pelos serviços de saúde; e mudanças de comportamentos em relação aos hábitos, atitudes dos familiares e de alterações voltados ao armazenamento e aquisição dos produtos tóxicos em suas residências. Este estudo demonstrou, que mesmo com os avanços científicos e tecnológicos hoje existentes, as famílias continuam a ter um papel de suma importância para os membros que delas fazem parte, ressaltando também a importância do cuidado feminino na prestação do cuidado no momento que algum membro adoece. A exploração do primeiro eixo temático permiti-nos conhecer informações relevantes sobre as características das famílias entrevistadas e nos possibilitou uma contextualização de suas realidade e compreensão de suas atitudes além do estabelecimento de uma interação efetiva. No segundo eixo tivemos a oportunidade de conhecer aspectos da experiência dos familiares quanto –a identificação da intoxicação, aos cuidados prestados na residência e após a alta dos serviços de saúde, os sentimentos experenciados e a compreensão da causa do acidente. Constatamos à necessidade de trabalhar com a prevenção de intoxicações, pois vários pais sentem dificuldade em agir perante estas ocorrências, e nem sempre conseguem reconhecer situações facilitadoras de acidentes. No terceiro eixo abordarmos questões relacionadas ao atendimento nos serviços de saúde, - a maioria dos familiares revelaram aspectos positivos do atendimento prestado. Quanto aos aspectos que mais os marcou durante o atendimento prestado alguns ressaltaram o fato de serem bem atendidos pelos profissionais; outros destacaram o sofrimento de seu filho, suas preocupações em relação à criança e seu estado emocional. No quarto eixo os familiares relataram que as atitudes foram modificadas, mesmo que discretamente, seja em relação ao armazenamento ou aquisição de produtos tóxicos ou em relação ao diálogo, supervisão e vigilância das crianças. Além disso eles reconheceram a necessidade de mudança de comportamento e terão que trabalhar para que eles próprios consigam realizá-las, com base na experiência que vivenciaram. Acreditamos que este trabalho contribuirá para uma atuação mais efetiva dos profissionais junto a famílias de indivíduos que se intoxicam, especificamente as crianças, pois é um dos poucos estudos sobre intoxicação voltado para a assistência a partir das perspectivas das pessoas envolvidas.
Conselhos Locais de Saúde: Um Estudo Sobre Participação e Controle Social.
Maria Lúcia da Silva Lopes, Marcio José de Almeida
Data da defesa: 22/05/2000
Esta pesquisa teve por objetivo geral estudar os Conselhos Locais de Saúde da zona urbana do município de Londrina – Paraná, e por objetivos específicos: caracterizar os Conselhos Locais de Saúde existentes; descrever o perfil de seus conselheiros, sua opinião sobre as funções de um conselho local, bem como o conceito de saúde adotado por cada um deles; relatar as ações que vêm sendo desenvolvidas por estas entidades e as dificuldades enfrentadas para a sua consolidação e analisar as relações existentes entre os conselhos locais, regionais, municipal e instituições de ensino superior. Na Introdução foi feita uma abordagem sobre a importância dos movimentos populares no país e na área da saúde, tendo sido identificadas as recomendações aprovadas na 8ª, 9ª e 10ª Conferências Nacionais de Saúde sobre a importância dos conselhos locais e a Lei 8142/90, que estabelece as formas de participação popular e controle social no SUS. Nos capítulos seguintes foi realizada uma retrospectiva histórica da participação social em saúde no Brasil e a trajetória do envolvimento popular na estruturação e manutenção dos serviços de saúde do município de Londrina, desde a sua fundação até a atualidade. Nesse contexto foi enfocada a Lei Municipal 5119/92, que cria as Comissões Locais de Saúde, designadas neste trabalho como Conselhos Locais de Saúde. Para o cumprimento dos objetivos estabelecidos foram entrevistados todos os membros das diretorias dos conselhos, num total de 183 pessoas. As questões fechadas foram analisadas quantitativamente e as abertas qualitativamente, através da análise de discurso baseada na fenomenologia estrutural. Os resultados obtidos demonstraram que das 38 UBS da zona urbana, 25 possuem conselhos considerados atuantes, 90% dos conselheiros são usuários, 50% deles participaram de cursos de capacitação, a maioria conceitua saúde de acordo com a Lei 8080/90, porém as ações desenvolvidas ainda estão voltadas para a solicitação de mais serviços de saúde, médicos e remédios e a quase totalidade referiu ter dificuldades para a execução dessas atividades. Quanto às relações dos conselhos locais com as demais entidades, as falas revelaram fragmentação e os conselheiros verbalizaram sugestões que poderiam contribuir com os conselhos ou a comunidade. A análise deste cenário permitiu concluir que existem avanços no processo de estruturação dos CLS, porém foi possível identificar inúmeras lacunas, como a necessidade de ampliação do número de conselhos e o fortalecimento dos existentes. Constatou-se que há um longo caminho a ser percorrido até que os CLS possam contribuir de maneira efetiva na inversão do modelo assistencial vigente.
Conhecimento de um Grupo de Mulheres Sobre Sinais e Sintomas do Trabalho de Parto.
Evanira Luisa Janjacomo Chiquetti, Zuleika Thomson
Data da defesa: 26/05/2000
O objetivo deste estudo foi de caracterizar o conhecimento sobre trabalho de parto em mulheres atendidas em uma maternidade pública e sua relação com variáveis socioeconômicas e obstétricas. Analisou-se, também, a fonte do conhecimento, o motivo que levou essas mulheres a comparecer aos serviço de saúde suspeitando trabalho de parto e a freqüência desses comparecimentos. A população de estudo foi composta por um grupo de 349 puérperas que tiveram seus partos normais ou cirúrgicos na referida maternidade da cidade de Londrina, no período de 14 de julho a 13 de agosto de 1999, entrevistadas pela autora. As puérperas pesquisadas se encontravam principalmente na faixa etária de 20 a 30 anos (54,1%) e na adolescência (30,1%). A grande maioria mantinha vínculo conjugal (83,7%), havia cursado menos que o primeiro grau do ensino formal (53,9%) e 66,2% não trabalhavam extra-domicílio. A renda percapita não ultrapassava a 1 salário mínimo para 69,9% das puérperas e quase a totalidade delas pertencia às classes sociais proletariado típico e subproletariado. Realizaram pré-natal 98,3% das puérperas pesquisadas, sendo alto também o percentual de mulheres que realizaram mais de 5 consultas(86,5%) , incluindo o terceiro trimestre de gestação. Essa assistência foi prestada principalmente nas UBS do Município de Londrina. As multíparas foram representadas por 55,9% da amostra estudada onde 95,1% atingiram o termo da gestação e 72,8% realizaram o parto normal. A grande maioria das puérperas manifestou conhecimento sobre a contração uterina (98,0%) e sobre a rotura da bolsa das águas (89,7%). A perda do tampão mucoso foi o sinal menos conhecido pelas puérperas (55,6%). Ao verificar-se a adequação do conhecimento sobre a sintomatologia do trabalho de parto, um número expressivo de puérperas apresentou conhecimento classificado como inadequado ou sem conhecimento manifestado para a perda do tampão mucoso (33,5% e 44,4% respectivamente) e a rotura da bolsa das águas (64,2% e 10,3% respectivamente). As puérperas referiram os profissionais de saúde como a principal fonte de conhecimento sobre a sintomatologia do trabalho de parto, seguida dos leigos. A experiência anterior e o cartão de pré-natal foram pouco valorizados. O motivo que mais levou as gestantes até o serviços de saúde suspeitando o início do TP foi a contração uterina (60,6%), seguido da perda do tampão mucoso (16,8%) e rotura da bolsa das águas (14,7%), sendo que quase a totalidade delas (94,6%) procurou o hospital. As variáveis idade, grau de instrução, número de consultas pré-natais e paridade, não estiveram estatisticamente associadas ao conhecimento das puérperas sobre a contração uterina, enquanto que o maior número de comparecimentos aos serviços de saúde se mostrou significativamente associado a esse conhecimento para primíparas quando comparadas às multíparas. Salienta-se a necessidade de esforços dos profissionais de saúde que atuam com as gestantes, no sentido de prepará-las para o reconhecimento dos sinais e sintomas do trabalho de parto, bem como a necessidade de estudos mais aprofundados sobre o tema.
Avaliação do Programa de Alimentação Escolar no Município de Londrina/PR
Cristina Simões de Carvalho Tomasetti, Marcelo de Souza Tavares
Data da defesa: 16/06/2000
O Programa de Merenda Escolar, que é uma das mais abrangentes intervenções oficiais no Brasil, tem por principal meta, teoricamente, a melhoria das condições nutricionais de crianças e adolescentes em todo o país. Os parâmetros técnicos que ainda norteiam o planejamento deste programa foram adotados há aproximadamente cinqüenta anos, quando de sua criação. Entretanto, o estado nutricional de seu público-alvo passa por um processo de transição, marcado pela redução da prevalência de desnutrição e pelo aumento dos índices de sobrepeso e de obesidade. E é nesta perspectiva que o presente estudo buscou se situar, analisando também a contribuição do sistema municipalizado da merenda – recém-implantado na cidade de Londrina/Pr – ao atendimento das necessidades específicas dos escolares e sua adequação às particularidades locais. Objetivou-se, em suma, verificar a qualidade nutricional das refeições servidas, avaliar o estado nutricional dos escolares, identificando, porém, suas possíveis associações com o consumo da merenda. Para tanto, foram avaliados 640 alunos de 1ª a 4ª série de três escolas estaduais do município. O valor nutritivo da merenda distribuída nas escolas foi determinado com sabe nos per capitas médios obtidos por pesagem e mensuração de volumes. Os cálculos foram efetuados com a utilização do software Virtual Nutri, e os resultados comparados aos parâmetros do Programa e às recomendações do NAS, para verificação de adequação energético-protéica e de micronutrientes. Avaliou-se o estado nutricional por meio de antropometria, considerando-se os decis do NCHS para os diagnósticos populacional e individual. O consumo, aproveitamento e aceitação dos alimentos foram verificados por método específico com a utilização de volumes. Os principais resultados revelaram que o valor energético observado foi inferior ao estipulado pelo Programa, com um déficit de 31,43%. O teor protéico foi elevado e a maioria dos cardápios mostrava-se desequilibrado em seus macronutrientes. Notou-se uma acentuada insuficiência de cálcio e também das vitaminas A e C; com teores de ferro e fósforo proporcionalmente adequados. A avaliação do estado nutricional dos escolares indicou uma prevalência de 19,39% de excesso de peso e 4,08% de déficit ponderal. A ingestão foi seletiva, e apenas 9,18% das crianças tomaram a merenda diariamente. Os escolares eutróficos e com excesso de peso consumiram um número médio de porções superior ao ingerido pelas crianças de baixo peso. Os índices de consumo e de aproveitamento das preparações foram baixos, caracterizando grande desperdício de alimentos e diluição do Programa. Por fim, considerou-se que são necessários a readequação dos parâmetros e o ajuste dos objetivos – do Programa de Alimentação Escolar de Londrina – às reais necessidades de seus beneficiários.
Representações Sociais Sobre o Risco: mães adolescentes de crianças em situação de risco
Liza Holzmann Mass, Sebastião Jorge Chammé
Data da defesa: 27/06/2000
O presente estudo teve como objetivo a identificação das competências essenciais requeridas para o gerenciamento das Unidades Básicas de Saúde pelo enfermeiro. A abordagem conceitual visualiza as competências essenciais como fundamentos para a gestão das organizações. O conceito de competência essencial é baseado em três dimensões - conhecimento, habilidade e atitude e engloba as questões técnicas, a cognição e as atitudes relacionadas ao trabalho. O desenvolvimento da competência ocorre por meio da aprendizagem individual e coletiva, e pela assimilação de conhecimentos, integração de habilidades e adoção de atitudes no desempenho no trabalho. As competências essenciais nas organizações (core competences) são aquelas que conferem vantagem competitiva, e são difíceis de serem imitadas. As habilidades favorecem a aplicação das competências e da aptidão. As habilidades interpessoais assumem um caráter importante nas organizações. As atitudes permitem fazer uso do conhecimento, com orientação para a inovação e aprendizagem permanentes, integrando aspectos técnicos, sociais e atitudes relacionadas ao trabalho. A metodologia utilizada foi descritiva, exploratória e transversal, com a aplicação de uma escala diferencial semântico. A amostra constituiu-se de sete professores enfermeiros docentes no Curso de Enfermagem da Universidade Estadual do Oeste do PR, onze enfermeiros que gerenciam as UBS e 400 usuários que freqüentam as Unidades Básicas de Saúde. A análise dos dados ocorreu de forma qualitativa e descritiva. Os resultados, advindos do estudo, identificaram na categoria dos professores 02 competências do conhecimento, 05 das habilidades e 03 das atitudes. Na categoria dos enfermeiros foram descritas 02 competências do conhecimento, 01 das habilidades. Os resultados com usuários constatou-se que 80% deles destacaram que todas as variáveis, conhecimento, habilidades e atitudes, são muitos importantes. A pesquisa assinalou a necessidade da formação e reorganização das competências essenciais para o gerenciamento das Unidades Básicas de Saúde. O desenvolvimento das competências essenciais propicia a aquisição e atualização contínua dos conhecimentos, habilidades e atitudes, permitindo alcançar um desempenho gerencial com eficiência e qualidade nas Unidades Básicas de Saúde.
Amamentação e Trabalho Feminino: a Contribuição das Leis e das Empresas.
Kátia Mara Kreling Vezozzo, Zuleika Thomson
Data da defesa: 29/06/2000
Leis de proteção à maternidade e ao aleitamento materno existem em todo o mundo, para que mulheres trabalhadoras registradas não tenham que optar entre atender e amamentar o seu filho ou garantir a sobrevivência, através de seu trabalho. Com o objetivo de analisar o cumprimento dessas leis e a contribuição das mesmas para a prática do aleitamento materno, foram entrevistadas 108 empresas da cidade de Londrina, com pelo menos 30 empregadas, e 70 mulheres que retornaram da licença-maternidade no período de 01 de janeiro a 31 de maio de 1999, funcionárias de empresas daquele grupo, que cumpriam o item creche ou convênio com creche ou reembolso-creche.Verificou-se que, dentre os principais benefícios previstos na legislação, a licença-maternidade e a licença-paternidade eram cumpridos adequadamente pela maioria das empresas (97,2% e 85,7% respectivamente). Intervalos para amamentação eram cumpridos, de maneira adequada, por mais de 70% das empresas, tanto em relação à forma - 2 vezes de 30 minutos - (71,3%), quanto em relação à duração - até 6 meses da criança - (77,8%). O benefício creche, ou suas variações, convênio com creche e reembolso-creche, previstas em lei, era cumprido por somente 38,9% das empresas. Em relação ao total de empresas, apenas 3,7% possuía creche, 13,9% possuía convênio com creche e 21,3%, reembolso-creche.Quanto ao conhecimento das leis, a maioria das mulheres (77,1%) citou a licença-maternidade e nenhuma delas se lembrou da licença-paternidade, como um benefício de proteção à maternidade ou ao aleitamento materno. Quase todas (98,6%) sabiam da existência dos intervalos para amamentação, porém somente 25,7% soube citá-los conforme especifica a lei. O direito a creche, convênio ou reembolso foi lembrado por apenas 7,1% das entrevistadas. Colegas de trabalho foram a principal fonte de informação (44,3%) sobre os direitos. Todas as mulheres utilizaram a licença-maternidade, bem como a maioria (85,4%) dos pais que tinham direito à licença-paternidade. Ambos os benefícios contribuíram muito para o aleitamento materno, na opinião de mais de 80% das mulheres. Intervalos para amamentar foram utilizados por cerca de dois terços (67,1%) das entrevistadas e contribuíram pouco ou nada na amamentação de 57,4% delas. Creche e suas variações foram utilizadas por apenas 25,7% do grupo estudado. A creche contribuiu muito para o aleitamento materno, na opinião da maior parte (87,5%) das mulheres que a utilizaram e o reembolso-creche, contribuiu pouco ou nada na amamentação, para a maioria (77,8%) que o recebeu. O convênio contribuiu pouco para a única mulher que o utilizou. A prática do aleitamento materno entre as mulheres trabalhadoras estudadas é bastante difundida . Embora não tenham atingido os índices recomendados pela OMS, 97% iniciou a amamentação e a duração mediana encontrada foi de 90 dias para o aleitamento materno exclusivo e 180 dias para o aleitamento materno. Várias características da população estudada podem ter contribuído para os índices verificados: maior escolaridade da mãe e melhor nível socioeconômico, presença de um companheiro, idade materna acima de 24 anos, tipo de função desenvolvida, menos ligada à área de produção ou vendas e o tempo total de afastamento do trabalho.
Análise do processo de planejamento em saúde implementado pela Secretaria de Saúde do Município de Curitiba entre 1996 e 1999.
Dirceu Krainski Pinto, Luiz Cordoni Júnior
Data da defesa: 18/08/2000
Este estudo consiste em uma análise do processo de planejamento em saúde implementado pela Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba no período 1996-99. Esta análise foi baseada no método qualitativo de obtenção de dados a partir dos documentos produzidos nesse período, da observação participante e das falas dos gestores de saúde dos níveis central, distrital e local. Foram utilizadas, como referencial, as categorias situação e poder/conflito. Evidenciou-se que o planejamento, enquanto ferramenta de intervenção na realidade, constrói uma cultura institucional ainda fortemente hierarquizada, com autonomia relativa para se planejar. Ficou evidente a escassa circulação de informações no sentido lateral entre os distritos e nível local. Além disso, percebeu-se que os atores referenciam o planejamento estratégico como fundamento metodológico para o planejamento em saúde, sem, no entanto, explicitar os elementos essenciais da concepção desse referencial.
LER/DORT em fisioterapeutas da cidade de Londrina
Celita Salmaso Trelha, Paulo Roberto Gutierrez
Data da defesa: 22/02/2002
A Lesão por Esforço Repetitivo (LER) / Distúrbio Osteomuscular Relacionado ao Trabalho (DORT) está sendo considerada um sério problema de saúde pública e caracterizada como uma epidemia. Com uma prevalência alta e crescente, a LER/DORT tem incapacitado um grande número de trabalhadores de várias categorias e em plena idade produtiva e de experiência profissional. A temática tem sido bastante discutida principalmente em bancários, digitadores e operadores de linha de montagem. O foco desse estudo foi o acometimento da LER/DORT em fisioterapeutas. Profissionais que previnem e tratam seus clientes/pacientes e que também podem ser acometidos pelo mesmo agravo, em decorrência do seu próprio trabalho. Este estudo tem o propósito de determinar a prevalência de LER/DORT em fisioterapeutas da cidade de Londrina, identificar possíveis cargas de trabalho responsáveis pelo aparecimento do agravo e verificar a percepção dos profissionais fisioterapeutas em relação às cargas que suas atividades e condições determinam para o aparecimento dos sintomas. Participaram do estudo 170 fisioterapeutas da cidade de Londrina, que responderam um questionário auto aplicável apresentando questões estruturadas e semi estruturadas abordando os seguintes aspectos: dados pessoais; atividades profissionais; sintomatologia relacionada ao trabalho nos últimos doze meses, e nos últimos sete dias, tratamento realizado e conseqüências da sintomatologia. Dos 170 profissionais estudados 136 (80%) constituíram-se indivíduos do sexo feminino e com uma média de idade de 30,5 anos. Do total de fisioterapeutas pesquisados, 160 (96%) relataram algum sintoma de dor ou desconforto nos últimos doze meses e 128 (75%) nos últimos sete dias. As regiões anatômicas mais acometidas foram coluna cervical (70%), coluna lombar (70%), ombros (45,4%) e coluna dorsal (42,4%). A neurologia foi a área de atuação que apresentou associação significativa (p<0,01) com os sintomas. O profissional fisioterapeuta encontra-se exposto a cargas físicas e emocionais em seu trabalho. O predomínio de população feminina, jovem e a atividade profissional favorecem o aparecimento de sintomas músculo-esqueléticos. Este estudo mostra a necessidade de trabalhos preventivos para os fisioterapeutas que tratam de LER/DORT e que não estão imunes a esse agravo.
Perfil Epidemiológico das vítimas de acidentes de trânsito: 1997 a 2000
Yara Gerber Lima Bastos, Selma Maffei de Andrade
Data da defesa: 26/04/2002
Os acidentes de trânsito (AT) e os traumas deles resultantes constituem um importante problema social e de saúde pública, podendo ser considerados uma grave epidemia do século XX. O presente trabalho teve como principal objetivo analisar o perfil epidemiológico das vítimas de AT atendidas pelo único serviço de atenção pré-hospitalar de Londrina, o Serviço Integrado de Atendimento ao Trauma e Emergências (SIATE), de 1997 a 2000, visando contribuir para sua prevenção e controle. Foram estudadas todas as vítimas registradas no banco de dados do SIATE num total de 3568 vítimas em 1997; 3464 vítimas em 1998; 3571 vítimas em 1999 e 3871 vítimas em 2000. A taxa de mortalidade e o coeficiente de letalidade foram calculados com base nos óbitos registrados pelo SIATE (ocorridos antes da internação hospitalar). A mortalidade apresentou-se em declínio, com uma redução de 33,8% no ano 2000 em relação a 1997. O coeficiente de letalidade também apresentou pequena redução passando de 1,7% em 1997 para 1,1% em 2000. Em relação à taxa de ocorrência de vítimas por 100 mil habitantes, observamos pequenas reduções nos anos de 1998 e 1999 seguidas por um aumento em 2000 (de 3,7%, quando comparado a 1997). Mais de 70% das vítimas, em todos os anos de estudo, eram do sexo masculino e tinham de 10 a 39 anos. Os motociclistas foram o principal tipo de vítima, com valores superiores a 40%, seguidos pelos ocupantes de auto/caminhonete, ciclistas e pedestres. A maioria das vítimas acidentou-se no mês de dezembro, nos finais de semana, principalmente no sábado, durante a noite (das 18:00 às 23:59 horas) e na região Centro da cidade, em todos os anos de estudo. Foram também analisados alguns comportamentos de risco para a ocorrência de AT ou para aumento da gravidade das lesões. Observou-se redução estatisticamente significativa (p < 0,05), ao longo dos anos de estudo, para a proporção de ciclistas, motociclistas e condutores de auto/caminhonete com hálito etílico perceptível no momento do acidente; para a proporção de motociclistas não usuários de capacete (de 62,5% em 1997 para 13,9% em 2000); para a proporção de condutores de motocicletas menores de 18 anos; para a proporção de menores de 7 anos transportados em motocicleta; para a proporção de ocupantes de auto/caminhonete não utilizando o cinto de segurança e para a proporção de menores de 10 anos sendo transportados no banco dianteiro de automóvel. Apesar das reduções encontradas nas taxas de mortalidade e letalidade e nos comportamentos de risco para AT e lesões, em alguns tipos de vítimas, estes ainda apresentam uma freqüência elevada, o que evidencia a necessidade da implantação urgente de ações educativas, de fiscalização e punição desses comportamentos para diminuir ainda mais a sua incidência.