Teses e Dissertações
Palavra-chave: Saúde mental
RELAÇÃO ENTRE BURNOUT E IDEAÇÃO SUICIDA EM ESTUDANTES DE GRADUAÇÃO
CAMILA CRISTINA LUNARDELLI ZANFRILLI, Edmarlon Girotto
Data da defesa: 25/07/2024
Introdução: Os estudantes universitários vivem situações estressantes com
especificidades desta população, que muitas vezes inclui mudanças abruptas em sua
rotina, de locall de moradia, frustraçao ou desempenho insuficiente com o curso
escolhido, o que pode contribuir para o desenvolvimento de inúmeros problemas de
saúde, como o burnout. Este, por sua vez, tem se mostrado um importante fator ao
desenvolvimento de pensamentos e ideações suicidas (IS), além de constituir um
fator de risco para o suicídio propriamente dito. O aumento da prevalência de
burnout e IS na população universitária reforça a importância de entender a possível
relação entre estas duas variávies. Objetivo: analisar a associação entre burnout e
IS em estudantes de graduação de uma universidade pública. Métodos: Trata-se de
um estudo transversal com estudantes de todos os cursos de graduação de uma
universidade pública paranaense. A variável independente, burnout, foi aferida por
meio da escala Copenhagen burnout Inventory adaptada para estudantes brasileiros.
A variável dependente foi a IS, obtida da última questão do Patient Health
Questionnaire-9 (PHQ-9). As variáveis de caracterização e de ajuste foram: sexo,
idade, orientação sexual, raça/cor, tabagismo, consumo de bebidas alcoólicas,
prática de atividade física, uso de substâncias ilícitas, diagnóstico médico de
depressão e de ansiedade, índice de massa corporal, violência ou assédio sexual no
ambiente acadêmico, violência verbal no ambiente acadêmico e violência sexual na
infância ou adolescência. A associação entre IS e o burnout - total e seus domínios
(contínua) – foi medida pela regressão logística multinomial. Para delinear os fatores
fortemente associados com a IS, foi realizada regressão logística binária. Para
avaliar a contribuição das variáveis sociodemográficas na escala de burnout
(pontuação total), a análise de regressão linear utilizou o método de ajuste pelo
AICC. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa. Resultados:
Dos 3.058 estudantes avaliados, 32,4% (n=992) apresentaram IS, sendo que destes,
7,9% (n=242) relataram IS quase todos os dias. A média da escala de burnout nos
estudantes que relataram ausência de IS foi de 75,55 (EP = 0,73), estatisticamente
superior ao dos estudantes que relataram IS, média de 85,79 (EP = 0,70).
Observou-se que o burnout total e suas dimensões (pessoal, acadêmico,
relacionados a colegas e aos professores) apresentaram associação
estatisticamente significativa com IS em todos os modelos de análise. As variáveis
associadas à IS foram ser não heterossexual, autorrelato de diagnóstico médico de
depressão, tabagismo, ausência de atividade física, cor da pele não-branca e
maiores pontuações na escala de burnout. Foram associadas ao burnout a violência
verbal, ser do sexo feminino, autorrelato de diagnóstico médico de ansiedade,
ausência de atividade física, violência sexual na universidade, ser não-heterossexual
e autorrelato de diagnóstico médico de depressão. Conclusão: Ainda há
necessidade de aprofundamento no estudo da associação entre burnout e IS em
estudantes de graduação, porém, ainda é necessário compreender mais
profundamente os efeitos que as variáveis exercem umas sobre as outras através de
estudos com diferentes delineamentos e populações.
CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL – CAPS: UMA CARTOGRAFIA
LAUANE RAFAELA DE BRITO CAMPOS, Regina Melchior
Data da defesa: 05/04/2024
O panorama que temos hoje no que se refere à política pública e ao entendimento -
mais ou menos coletivo - do campo da Saúde Mental é fruto de um processo cujas
raízes históricas e políticas podem ser encontradas em uma série de
acontecimentos que, articulados e entrelaçados com a efervescência do período de
redemocratização e principalmente com a Reforma Sanitária, fundaram a Reforma
Psiquiátrica no Brasil. De toda uma série de acontecimentos históricos para o
cenário da Luta Antimanicomial, a criação do primeiro CAPS do país, chamado de
Professor Luís da Rocha Cerqueira, inaugurado em 1987 na cidade de São Paulo,
foi o grande marco da concretização da nova proposta de atendimento à saúde
mental. A partir de então, o CAPS passou a figurar como elemento central na
organização do novo modelo de atenção à saúde mental, até os dias atuais. Esta
pesquisa qualitativa, de abordagem cartográfica, teve por objetivo mapear a relação
entre a oferta de serviços do CAPS e a necessidade dos usuários, trazendo para a
análise a afetação do sujeito-pesquisador quando do encontro com seu objeto-
pesquisado. Os resultados, a começar pela análise da dificuldade de acesso ao
campo para realizar da pesquisa, passando pela observação das relações entre os
atores desta cena e chegando, finalmente, à observação e escuta dos usuários,
apontaram uma multiplicidade de fatores que, na constituição do serviço, podem
constituir barreiras em vez de instituir cuidado em saúde: a insuficiência numérica do
serviço diante da demanda; o arranjo escolhido pela gestão para a organização do
serviço; o esvaziamento da proposta terapêutica do CAPS. Apesar, destas
barreiras, no entanto, foi possível perceber que o encontro é o verdadeiro locus de
produção de cuidado, pois neste espaço, a despeito dos entraves da macropolítica,
é possível estabelecer vínculo, reconhecer e recolher os afetos que se organizam
sob a forma de discurso e de demanda e organizar uma oferta, qualquer que seja
ela, pensada e dirigida para aquela necessidade de saúde que se apresenta.
ASSOCIAÇÃO ENTRE O CONSUMO DE ÁLCOOL E ASPECTOS RELACIONADOS AO SONO
Rafaela Sirtoli, Camilo Molino Guidoni
Data da defesa: 26/02/2024
O consumo de álcool permeia toda a história da humanidade, mas o uso nocivo desta
substância tem se associado a diversas alterações fisiológicas, como transtornos
relacionados ao sono. Embora muito tenha se investigado a respeito do tema, ainda
existem lacunas a respeito da influência de características biológicas e sociais em relação
a essa associação. Objetivo: Investigar a associação entre o consumo de álcool e o sono
em adultos. Métodos: tese de doutorado elaborada em modelo escandinavo, originando
dois artigos científicos como resultados. O primeiro artigo é uma revisão sistemática da
literatura com metanálise a respeito da associação entre cronotipo e consumo de álcool.
Realizou-se uma busca sistemática de estudos observacionais em cinco bases de dados:
PubMed, Scopus, Web of Science, Cochrane Library e PsycINFO. Modelos de efeitos
aleatórios foram utilizados para estimar a odds ratio conjunta (OR) e IC95% de consumo
de álcool de acordo com o cronotipo. A revisão foi elaborada de acordo com as
recomendações do Meta-analysis of Observational Studies in Epidemiology (MOOSE) e
do Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and Meta-Analyses (PRISMA). O
segundo artigo é um estudo quantitativo, com dados primários de três bancos de dados de
grupos de pesquisa do Brasil, Chile e Espanha. Modelos de regressão logística foram
elaborados para analisar de forma independente a associação entre risk of alcohol-related
problems (RARP) e qualidade e duração de sono nos bancos de dados dos três países.
Com base nos resultados dos modelos ajustados de cada país, os valores de cada OR e
seus respectivos IC95% foram transformados em escala logarítmica, para possibilitar o
cálculo da OR conjunta (p-OR) e IC95%. Resultados: No primeiro artigo, um total de 33
estudos envolvendo 28.207 indivíduos foram incluídos na revisão sistemática. De forma
geral, os indivíduos vespertinos apresentaram maior frequência e volume de consumo de
álcool, quando comparados aos indivíduos de outros cronotipos. Ainda, uma metanálise
de 13 estudos evidenciou que indivíduos com cronotipo vespertino apresentam uma
chance 41% maior de consumir álcool do que aqueles com outros cronotipos (OR: 1.41;
IC95%: 1.16–1.66). No segundo artigo, 1.830 estudantes foram incluídos na análise
(31,2% brasileiros, 42,2% chilenos e 26,6% espanhois). De forma geral, 25,0% dos
estudantes foram classificados com RARP intermediário, enquanto que 9,9%
apresentaram RARP alto. Na análise conjunta dos três países, RARP intermediário a alto
se mostrou associado a qualidade de sono subótima (p-OR: 1.24; IC95%: 1.00-1.52).
Frequência de consumo de álcool não se mostrou associada à qualidade ou duração do
sono. Conclusão: O cronotipo vespertino e uma qualidade subótima do sono estão
associados ao consumo de álcool. Acredita-se que, devido ao fato de pessoas com
cronotipo vespertino apresentarem uma menor quantidade e qualidade do sono, há um
aumento da impulsividade e da propensão ao risco, resultando na adoção de
comportamentos não saudáveis, e, dentre eles, o consumo de álcool. Em contrapartida,
indivíduos com risco de problemas relacionados ao álcool também apresentam uma
menor qualidade subjetiva de sono.
Associação entre qualidade do sono e características sociodemográficas, acadêmicas e uso de mídias sociais em universitários
Rafaela Sirtoli, Camilo Molino Guidoni
Data da defesa: 16/03/2020
O sono exerce importante função restauradora, de conservação de energia e de proteção.
Um indivíduo pode se adaptar a um padrão de privação do sono, porém há o
comprometimento de funções cognitivas e do bom funcionamento do organismo. Devido
às particularidades do ambiente acadêmico, os estudantes de graduação constituem uma
população de risco para transtornos mentais – inclusive os transtornos do sono. Nesse
sentido, o objetivo desta dissertação foi analisar a qualidade do sono dos estudantes
universitários e sua associação com variáveis sociodemográficas, acadêmicas e o uso de
mídias sociais. Trata-se de um estudo transversal e analítico, realizado por meio de um
questionário online. A população consistiu em estudantes de graduação da Universidade
Estadual de Londrina com matrícula ativa no primeiro semestre de 2019. Dos 13.339
estudantes matriculados na universidade em 2019, 12.536 foram considerados elegíveis
para a pesquisa. A coleta de dados ocorreu no período de 29 de abril a 28 de junho de
2019. Realizou-se intensa atividade de divulgação por meios de comunicação diversos,
além de divulgação presencial para todas as 259 turmas de graduação. Utilizou-se o
Pittsburgh Sleep Quality Index (PSQI) para a avaliação da qualidade do sono. Foram
analisadas variáveis acadêmicas, sociodemográficas e relacionadas à dependência
autorreferida de mídias sociais. Constatou-se que 71,1% dos 2.736 respondentes
atingiram escore global > 5 pontos no PSQI, caracterizando uma má qualidade do sono.
A má qualidade do sono se associou ao sexo feminino (Razão de Prevalência, RP: 1,171;
Intervalo de Confiança, IC95%: 1,106-1,239), a estar entre o 4º a 6º ano do curso (RP:
1,114; IC95%: 1,041-1,192), a estudar no turno integral (RP: 1,159; IC95%: 1,007-1,334)
ou matutino (RP: 1,195; IC95%: 1,035-1,380), a sentir-se insatisfeito com o seu
desempenho acadêmico (RP: 1,366; IC95%: 1,292-1,445), ao maior tempo de
deslocamento até a universidade (RP: 1,214; IC95%: 1,088-1,354), e à dependência
autorreferida de mídias sociais (RP: 1,073; IC95%: 1,010-1,140). Os resultados
encontrados indicam alta prevalência de má qualidade do sono, relacionada a diversos
fatores inerentes ao ambiente universitário. Espera-se que os resultados desse estudo
possam embasar ações a nível local, além de chamar atenção para discussões mais amplas
e intersetoriais.
Insatisfação no trabalho e transtorno mental comum em agentes de segurança penitenciária do estado de São Paulo
Daiane Suele Bravo, Arthur Eumann Mesas, Renne Rodrigues
Data da defesa: 16/04/2021
Introdução: O trabalho do agente de segurança penitenciária (ASP) no interior do
cárcere caracteriza-se pela exposição a situações de perigo, intimidações e
distanciamento social durante a jornada laboral, além da condição de estar em
contínuo alerta devido ao risco de rebeliões e de outras incidências. Objetivo:
Analisar os fatores ocupacionais associados aos transtornos mentais comuns (TMC)
e à insatisfação no trabalho (IT) em ASP. Métodos: Os estudos que compõem esta
tese fazem parte do projeto de pesquisa “AGEPEN: Condições de Trabalho, Saúde
Mental e Sono em Agentes Penitenciários do Estado de São Paulo”. Para mensurar a
presença de TMC, utilizou-se o instrumento Self-Reporting Questionnaire (SRQ-20),
com ponto de corte ≥7 para indicativo de TMC. A IT foi mensurada por meio do
instrumento Occupational Stress Indicator (OSI), empregando o percentil 75 para
identificar insatisfação (≥78 pontos). As associações entre as variáveis ocupacionais
com TMC e IT foram analisadas separadamente por meio de modelos de regressão
logística binária para obtenção da odds ratio (OR) e respectivos intervalos de
confiança (IC) a 95% ajustadas pelos principais fatores de confusão. Resultados: A
análise dos fatores associados ao TMC incluiu 331 ASP, entre os quais 33,5%
apresentaram TMC. A presença de TMC entre os ASP se associou com a pior
percepção sobre as condições de trabalho (OR: 2,67; IC 95%: 1,19 - 6,05; p=0,018),
ter sofrido insulto (OR: 4,07; IC95%: 1,76 - 9,41; p<0,001) e assédio moral (OR: 8,01;
IC95%: 2,42 - 26,52; p<0,001), nos últimos 12 meses. Nas análises dos fatores
associados à IT, 27,2% dos 301 ASP apresentaram IT. Verificou-se que a IT entre os
ASP se associou com pior percepção sobre as condições de trabalho (OR: 3,19;
IC95%: 1,64 - 6,20; p<0,001), ter sofrido insulto (OR: 2,38; IC95%: 1,27 - 4,47;
p=0,007), assédio moral (OR: 4,18; IC95%: 1,61 - 10,86; p=0,003) nos últimos 12
meses, pensar em mudar de profissão (OR: 2,41; IC95%: 1,20 - 4,83; p=0,013) e TMC
(OR: 2,22; IC 95%: 1,18 - 4,20; p=0,014). Conclusão: Os transtornos mentais comuns
e a insatisfação no trabalho afetam um a cada quatro agentes de segurança
penitenciária. Piores condições do ambiente de trabalho, sofrer insultos e assédio
moral se associaram com as presenças de TMC e de IT. Adicionalmente, a IT se
associou com pensar em mudar de profissão. Embora os ASP trabalhem em um
ambiente periculoso e inseguro, foram variáveis relacionadas ao ambiente físico e às
violências psicológicas que se associaram com TMC e com IT, e não variáveis
relacionadas às violências físicas ou à maior proximidade com os apenados. Dado
que tanto os TMC quanto a IT podem impactar a saúde mental desses trabalhadores,
considera-se de fundamental importância o desenvolvimento de estratégias que visem
reduzir a violência psicológica sofrida pelos ASP no interior do cárcere.