Teses e Dissertações
Palavra-chave: Saúde do trabalhador
Acidentes de trabalho com material biológico na equipe de enfermagem de Hospital Escola Público
Iara Aparecida de Oliveira Sêcco, Paulo Roberto Gutierrez
Data da defesa: 05/07/2002
Notificações de acidentes de trabalho (AT) são instrumentos de vigilância epidemiológica e avaliação da situação de saúde do trabalhador, dos riscos ocupacionais e dos processos de trabalho em que esses estão inseridos, possibilitando implementação de estratégias de promoção à sua saúde. Este estudo descritivo, sob o referencial teórico da Epidemiologia, objetivou analisar os acidentes de trabalho com material biológico (ATMB) notificados entre trabalhadores de enfermagem do Hospital Universitário Regional do Norte do Paraná, no período de 1995 a 2000, segundo as variáveis ligadas à pessoa, tempo e espaço, caracterizar esses acidentes em relação aos AT de outra natureza ocorridos no mesmo período do estudo, estimar indicadores de risco (coeficiente de risco – CR e risco relativo - RR) para as variáveis estudadas, estudar relações entre as cargas de trabalho presentes nos processos de trabalho e a ocorrência dos acidentes; também, avaliar o impacto das estratégias educativas desenvolvidas na Instituição e a implantação do Programa de ATMB ocorridos no segundo triênio do estudo. A coleta de dados foi realizada através das Comunicações de Acidentes de Trabalho do ano de 1995 a 2000, Notificações de Acidentes de Trabalho com Material Biológico de 1998 a 2000, documentos estes obtidos no Serviço Especializado em Segurança e Medicina do Trabalho, Unidade de Pronto Socorro e 17º. Regional de Saúde. Para a tabulação e análise estatística foi utilizado o Programa Epi-Info e a Planilha Eletrônica Excel. Constatou-se que, dos 421 acidentes notificados, 53,4% (225) referiram-se a ATMB; os acidentes envolvendo materiais biológicos apresentaram o maior risco para os profissionais de enfermagem em todos os anos do estudo, com CR médio anual de 5,9 acidentes para cada 100 trabalhadores, e RR médio anual de 1,2 em relação aos AT de outra natureza. Embora a freqüência de ATMB entre as mulheres tenha sido de 85,8% (193), superior às ocorrências entre os homens em todos os anos, o CR para o ano 2000 mostrou valores semelhantes para ambos os sexos, sendo de 8,1 para o feminino e 8,8 para o masculino. A faixa etária com maior número de ocorrências foi a de 30 a 40 anos incompletos, com 47,1% (106) dos casos; entretanto, para o ano 2000, o risco esteve inversamente proporcional à idade dos trabalhadores, com maior valor entre aqueles de 20 a menos de 30 anos, igual a 15,1. Os auxiliares de enfermagem foram acometidos por 90,2% (203) dos ATMB notificados e o maior CR médio anual, igual a 6,8. A parte do corpo mais atingida e com maior risco para os acidentes foram as mãos, apresentando freqüência de 82,8% dos casos e CR médio anual de 4,9. As perfurações representaram o total de 70,7% (159) dos ATMB e mostraram CR médio anual de 4,2. Os acidentes estiveram associadas, principalmente, às tarefas de punções venosas, manuseio de materiais contaminados e administração de medicamentos. Em 11,6% (26) dos ATMB houve exposição ocupacional a pacientes soropositivos para HIV. O setor com maior número de ocorrências foi o Pronto Socorro (23,1%), apresentando CR médio anual de 13,8. Ainda, 73,3% (165) dos ATMB deram-se no período diurno, especialmente nas segundas e quintas-feiras. Verificou-se aumento do número de notificações após a implantação do PATMB, que passou de 4,3 para 7 notificações ao mês, sinalizando o seu impacto positivo para a equipe, estando esse resultado, possivelmente, associado às demais estratégias educativas desenvolvidas. Constatou-se a necessidade de manutenção de ações de educação para os profissionais de enfermagem, bem como revisão dos processos de trabalho a que esses estão expostos, a partir dos riscos e cargas de trabalho identificadas, promovendo a prevenção de doenças ocupacionais graves como a AIDS e Hepatite B. Também, da necessidade de orientação à equipe quanto à legislação vigente, com vistas a melhorar o fluxo das notificações para a maior segurança do trabalhador, conferindo-lhe o amparo legal necessário.
Organização do trabalho em uma Unidade de Urgência: percepção dos enfermeiros a partir da implantação do acolhimento com avaliação e classificação de risco
Fernanda da Silva Floter Godoy, Mara Lucia Garanhani
Data da defesa: 12/07/2010
Trata-se de uma pesquisa qualitativa que teve por objetivos conhecer o trabalho de
uma unidade de urgência após a implantação do Acolhimento com Avaliação e
Classificação de Risco (AACR), as repercussões sobre o processo de trabalho do
enfermeiro, os sentimentos vivenciados e as estratégias defensivas utilizadas por
estes profissionais. Participaram da pesquisa dez enfermeiros de um hospital
universitário localizado no interior do Estado do Paraná. A coleta de dados ocorreu
nos meses de julho e agosto de 2009. Foram realizadas entrevistas
semiestruturadas, que continham questões norteadoras fundamentadas no
referencial teórico. Optou-se pela gravação em fita cassete e, em seguida, as falas
foram transcritas na íntegra. Para a análise dos discursos e construção das
categorias, utilizou-se a técnica fundamentada na estrutura do fenômeno situado, e
a discussão foi realizada utilizando algumas contribuições da Psicodinâmica do
Trabalho. A análise das dez entrevistas desvelou quatro categorias, sendo três
analíticas e uma empírica. As categorias versam sobre os temas: processo de
trabalho e as repercussões do AACR em uma unidade de urgência, os sentimentos
vivenciados por estes profissionais, as estratégias defensivas utilizadas pelos
enfermeiros e as atitudes necessárias para o trabalho em uma unidade de urgência
com AACR. O ambiente da unidade de urgência mostrou-se similar às outras
realidades vivenciadas e descritas em literatura. O AACR trouxe modificações
significativas para o processo de trabalho dos enfermeiros, permitindo organizar a
fila de espera e priorizando os casos mais graves. Os sentimentos de prazer foram
identificados como contribuição para o diagnóstico precoce, alívio da dor e na
recuperação do paciente e no relacionamento com a equipe de enfermagem. As
vivências de sentimentos de sofrimento estão relacionadas com a intensificação do
trabalho, o relacionamento com a equipe médica, o medo e a insegurança em fazer
a contra-referência dos usuários. As estratégias defensivas utilizadas pelos
enfermeiros evidenciaram essencialmente ações individuais: buscar apoio na prática
religiosa, o convívio com familiares e amigos e a prática de esportes. Observou-se,
nesta pesquisa, a presença de ambiguidade de sentimentos de prazer e sofrimento
na vivência do AACR. Os resultados deste estudo mostram as repercussões que o
AACR proporciona em unidades de urgência, no que diz respeito à organização da
demanda e à priorização dos casos com critérios baseados na gravidade, ou seja,
no risco de vida. O conhecimento dos fatores que levam aos sentimentos de prazer
e sofrimento neste trabalho pode abrir novas possibilidades para refletir sobre esta
prática, contribuindo para a realização de um processo mais participativo e inovador.
Prevalência e Fatores Associados à Dor Crônica em Professores da Rede Estadual de Londrina-PR
Alessandra Domingos Silva, Arthur Eumann Mesas, Mara Solange Gomes Dellaroza
Data da defesa: 16/05/2014
A sobrecarga do trabalho docente, marcada por longas jornadas de permanência em
pé, muitas vezes em posturas inadequadas, somada a aspectos psicossociais
desfavoráveis da atividade, podem predispor os professores à dor crônica, condição
que interfere na qualidade de vida e do trabalho. Diante disso, o objetivo deste
estudo foi caracterizar os professores da rede estadual de Londrina em relação à
ocorrência de dor crônica, ou seja, que ocorre há 6 meses ou mais, e analisar sua
associação com fatores sociodemográficos, de estilo de vida e de saúde, além de
características profissionais. Os dados utilizados foram obtidos no estudo transversal
PRÓ-MESTRE, cuja população constituiu-se por professores do ensino fundamental
e médio das 20 escolas com maior número de professores da rede estadual de
ensino da cidade de Londrina, entrevistados no período de agosto de 2012 a junho
de 2013. Entre os 964 professores incluídos, 42,6% referiram dor crônica. A
prevalência foi maior entre as mulheres, professores viúvos/divorciados/separados,
que assistiam televisão por mais tempo durante a semana, inativos no tempo livre,
com relato de maior esforço físico em casa e no trabalho, com pior qualidade do
sono, obesos, e que referiram ter diagnóstico de depressão, ansiedade ou de
alguma doença musculoesquelética. Quanto aos fatores relacionados ao trabalho,
associaram-se à dor crônica o maior tempo de atuação na profissão, tipo de contrato
estatutário, absenteísmo por problemas de saúde nos últimos 12 meses, e a menor
capacidade referida para o trabalho. Quando comparadas as associações segundo o
gênero, apenas entre as mulheres observou-se associação entre dor crônica e
situação conjugal, maior tempo assistindo televisão, inatividade física, maior esforço
físico no trabalho, obesidade, maior tempo de profissão, tipo de contrato estatutário,
maior carga horária semanal de trabalho docente e menor capacidade geral e física
para o trabalho. A prevalência de dor crônica foi considerada elevada entre
professores. Ainda que o desenho transversal não permita estabelecer relação
causal entre a dor crônica e os fatores associados, tais características podem
subsidiar a elaboração de estratégias para a redução da incidência e do impacto da
dor crônica em professores, seja mediante orientações de estilo de vida ou
adequações nas condições de trabalho.
Condutas alimentares e fatores associados em professores da Rede Estadual de Ensino de Londrina-PR
Ana Luísa Dias, Arthur Eumann Mesas, Alberto Duran González
Data da defesa: 30/05/2014
A profissão docente é reconhecida por sua importância na formação da
sociedade, porém vem sofrendo grande desvalorização, caracterizando-se como
profissão de ritmo acelerado e estressante e, em alguns casos, de pluriemprego,
resultando em menos tempo para questões relacionadas à saúde como
alimentação, atividade física, sono e lazer. Nesse contexto, evitar certas condutas
alimentares não recomendadas e adotar outras condutas tidas como
recomendadas pode ser difícil tarefa no cotidiano de professores. Vista a
importância social e escassez de trabalhos que estudem as características do
perfil das condutas alimentares adotadas por essa população, objetivou-se
caracterizar as condutas alimentares de professores de Escolas Estaduais de
Londrina, Paraná, e os fatores associados. Realizou-se estudo transversal com
todos os professores atuantes nas 20 escolas estaduais com maior número de
professores de Londrina. Informações foram coletadas por meio de entrevista
individual que incluiu questões sobre alimentação, atividade física, hábitos de
vida, aspectos sociodemográficos e condições de trabalho. Os dados foram
analisados de forma descritiva e as associações estudadas mediante regressão
logística multinomial não ajustada para estimação das odds ratio. Foram incluídos
978 professores, com 68,5% do sexo feminino e média de idade (± desvio padrão)
de 41,5 ± 10 anos, variando de 19 a 68 anos. Quatro em cada dez professores
atuavam em dois vínculos empregatícios, a média de carga horária semanal total
de trabalho foi de 37 horas e 54 minutos, e a maior parte (42,0%) atuava de 40 a
49 horas semanais. Em relação às condutas alimentares, verificou-se que grande
parte dos professores adotava condutas não recomendadas com média
frequência, variando de 40,6% (comer assistindo televisão ou em frente ao
computador) a 58,0% (comer salgadinhos ou doces entre as refeições principais).
Quanto às condutas alimentares recomendadas, uma considerável parcela dos
entrevistados as adotava com alta frequência (sempre ou diariamente), variando
de 44,9% (consumir frutas) a 60,0% (retirar a pele da carne de frango). Com
relação aos fatores associados, observou-se que, de maneira geral, professores
com até 50 anos de idade e que referiram consumo de álcool apresentaram
menor chance de adotar condutas alimentares recomendadas e maior chance de
seguir condutas não recomendadas quando comparado com professores com
idade acima de 50 anos e com os que não consumiam álcool, respectivamente.
Concluiu-se que professores da Rede Estadual que atuam na educação básica
referiram adotar com maiores frequências condutas alimentares que influenciem
positivamente em sua saúde. Além disso, características sociodemográficas e de
estilo de vida parecem ser fatores mais importantes para compreender o
comportamento alimentar desses professores que as condições de trabalho.
Satisfação no trabalho e absenteísmo entre professores da rede estadual de ensino básico de Londrina
Adrieli de Fátima Massaro Levorato, Selma Maffei de Andrade, Edmarlon Girotto
Data da defesa: 29/06/2016
Devido às reformas educacionais e intensificação do trabalho, professores têm
enfrentado inúmeros obstáculos na profissão docente. Assim, muitos experimentam
insatisfação no trabalho, com prejuízo à sua saúde física e mental, o que pode
contribuir para o absenteísmo. Nesse sentido, este estudo objetivou analisar a
relação entre satisfação no trabalho e absenteísmo em professores da educação
básica. Trata-se de estudo epidemiológico do tipo transversal, com população de
estudo composta por professores das 20 escolas da Rede Estadual de Ensino de
Londrina-PR com maior número de docentes. A coleta de dados ocorreu entre
agosto de 2012 a junho de 2013, por entrevista e preenchimento de um questionário
pelos professores. A satisfação no trabalho foi avaliada por meio da escala
Occupational Stress Indicator, utilizando o percentil 25 como ponto de corte para
definição de menor satisfação. O absenteísmo foi considerado presente quando o
professor referiu ter faltado ao trabalho por problema de saúde nos 12 meses
anteriores à entrevista. Foram realizadas análises descritivas e por regressão de
Poisson, com cálculo de razão de prevalência (RP) e intervalo de confiança (IC) de
95%. Participaram deste estudo 899 professores, com idade média de 42 anos e a
maior parte composta por mulheres (68,3%). Os componentes com menores níveis
de satisfação foram salário (46,9%), volume de trabalho (29,6%) e oportunidades
para atingir aspirações e ambições (21,5%). Os componentes da escala de
satisfação no trabalho mais bem avaliados foram: conteúdo do trabalho (58,4%) e
relacionamentos (58,1%). Metade dos professores (50,4%) referiu absenteísmo por
problema de saúde, com duração principalmente entre 1 e 3 dias (37,5%). Os
principais motivos de falta ao trabalho foram doenças respiratórias (22,3%),
problemas osteomusculares (14,1%) e transtornos mentais (11,0%). Após análise
ajustada, o absenteísmo associou-se com a menor satisfação no trabalho (RP=1,21;
IC=1,05-1,39), independentemente das variáveis sexo, idade, tempo de profissão,
carga horária de trabalho, percepção quanto ao equilíbrio entre a vida profissional e
pessoal, dor crônica, doença crônica, capacidade física e mental para o trabalho e
qualidade do sono. Também se apresentaram associadas ao absenteísmo a idade
superior a 40 anos (RP=1,19; IC=1,01-1,39) e presença de doença crônica
(RP=1,65; IC=1,27-2,15). Os resultados mostram associação entre absenteísmo e
menor satisfação no trabalho no exercício da profissão docente, independentemente
de outras variáveis. Desta forma, tornam-se necessárias medidas para melhorar a
satisfação no trabalho docente, como a melhoria das condições e redução da carga
de trabalho.
Comportamentos posturais de professores do ensino básico do município de Londrina, Paraná
Marcelly Barreto Correa, Arthur Eumann Mesas
Data da defesa: 23/05/2016
Introdução: Ao desempenhar seu papel fundamental no processo educacional da sociedade,
os professores adotam comportamentos posturais que podem gerar consequências para sua
saúde. Objetivo: Caracterizar a percepção de comportamentos posturais e fatores associados
em professores do ensino básico da rede estadual de Londrina, Paraná. Métodos: Trata-se de
um estudo transversal que incluiu professores que atuavam como docente em sala de aula,
lecionavam para nível fundamental (anos finais), médio e/ou educação profissional integrada,
e que participaram da primeira etapa do estudo PRÓ-MESTRE. A coleta de dados foi
realizada em entrevista pré-agendada, com duração de aproximadamente uma hora,
constituída por formulário e questionário, contendo questões sobre características
sociodemográficas, de estilo de vida, saúde, ocupacionais, ergonômicas, além de perguntas
sobre a percepção de comportamentos posturais nas atividades de escrever no quadro,
trabalhar sentado e permanecer em postura ortostática (postura em pé). O presente estudo foi
aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Londrina. Foram
entrevistados 335 professores no período entre agosto e dezembro de 2014. Os dados foram
analisados utilizando-se o programa computacional IBM SPSS, por meio de análise descritiva
mediante a distribuição de frequência de variáveis categóricas e análise de associação por
meio do Teste de Qui-quadrado. Foram adotados os níveis de significância estatística de
p<0,20 (indicativo de possível associação) e p<0,05 (associação estatisticamente
significativa). Resultados: A percepção de comportamento postural não recomendado
frequente foi identificada em 3,5% dos professores para a posição da coluna ao escrever no
quadro, 7,0% para a posição da coluna ao trabalhar sentado, 10% para a posição das pernas ao
escrever no quadro e 20% para a posição das pernas ao trabalhar sentado. Em relação à
percepção da postura ortostática, 67,5% dos professores referiram adotar com alta frequência
postura diferente da considerada como de referência. De maneira geral, os resultados quanto
às características sociodemográficas, de estilo de vida e de saúde mostraram que ter idade
menor de 43 anos, não praticar atividade física regularmente, avaliar a própria saúde como
ruim ou muito ruim, presença de dor crônica musculoesquelética geral ou específica para
determinada região do corpo e sentir dor devido à postura tiveram associação significativa
(p<0,05) com a adoção de comportamento postural não recomendado frequente em ao menos
uma das posições analisadas. Quanto às condições ocupacionais, lecionar em apenas um
colégio, apresentar carga horária superior a 20 horas semanais, atuar somente no ensino
fundamental, possuir contrato do tipo estatutário, referir absenteísmo por motivo de saúde nos
últimos 12 meses e baixa capacidade atual para o trabalho associaram-se com a adoção
frequente de pior comportamento postural em ao menos uma das posições analisadas. Já em
relação às condições ergonômicas, considerar o desempenho pessoal no trabalho dificultado
pela postura, considerar a infraestrutura ruim para o descanso e ser afetado pela posição do
corpo em relação ao mobiliário tiveram associação com a adoção do pior comportamento
postural. Conclusões: Entre 7% e 67,5% dos professores analisados referiram adotar, com
alta frequência, comportamento postural não recomendado em ao menos uma situação
habitual no exercício da atividade docente. Os resultados sugerem que certas características
individuais, comportamentais e relacionadas com o trabalho podem contribuir para a
caracterização dos professores que adotam posturas não recomendadas com maior frequência.
Violência e burnout em professores da educação básica de Londrina
Francine Nesello Melanda, Selma Maffei de Andrade
Data da defesa: 12/03/2018
O objetivo deste estudo foi analisar se a exposição prévia à violência no
ambiente escolar aumenta o risco de os professores sofrerem novamente
violência após dois anos e identificar relações transversais e longitudinais entre
violência psicológica e burnout. Trata-se de um estudo de coorte com dois anos
de seguimento realizado com 430 professores do ensino fundamental e médio
da rede pública de Londrina, Paraná. As informações foram obtidas em 2012-
2013 (T1) e 2014-2015 (T2) por entrevista face a face realizada por
entrevistadores treinados e preenchimento, pelo próprio professor, de um
questionário. As formas de violências investigadas foram violências
psicológicas (relatos de insultos de alunos, humilhações ou constrangimentos
por colegas ou superiores e ameaças recebidas) e violências físicas, nos 12
meses anteriores à pesquisa. Para mensurar burnout, utilizou-se o Maslach
Burnout Inventory, sendo consideradas apenas as dimensões de exaustão
emocional e despersonalização. Características sociodemográficas,
relacionadas ao trabalho e à saúde foram incluídas como covariáveis. Para a
análise da recorrência de violência foram utilizados o teste de McNemar e a
regressão de Poisson com variância robusta, com apresentação do risco
relativo (RR), intervalo de confiança de 95% (IC95%) e valor de p,
considerando nível de significância de 5%. A relação entre violência psicológica
e burnout foi verificada por modelos de equações estruturais. Violência
psicológica, exaustão emocional e despersonalização foram consideradas
variáveis latentes. Após dois anos, observou-se redução de 65,4% (T1) para
56,9% (T2) de violência reportada por professores (p=0,003), porém devido
apenas à diminuição da frequência de relatos de humilhações ou
constrangimentos por colegas ou superiores. Ter sofrido uma determinada
forma de violência aumentou em até três vezes o risco de sofrê-la novamente
em dois anos. Além disso, professores que relataram três ou quatro formas de
violências em T1 apresentaram RR de 2,23 (IC95%1,70-2,93) de sofrer
qualquer violência em T2, em comparação àqueles que não sofreram qualquer
forma de violência em T1. Não foram encontradas evidências de que estar
exposto à violência psicológica em T1 aumenta o risco de sofrer violência física
em T2 ou que violência física em T1 aumenta o risco de violência psicológica
em T2. Violência psicológica apresentou efeito direto sobre exaustão emocional
e despersonalização, quando analisados transversalmente. Longitudinalmente,
não foram observados efeitos diretos significativos. No entanto, observou-se
um efeito indireto da violência psicológica em T1 sobre ambas as dimensões
de burnout em T2. Este estudo mostrou que a violência contra professores,
exceto a referente a humilhações ou constrangimentos por colegas ou
superiores, é recorrente e que tem efeito sobre o burnout. Tendo em vista o
impacto destrutivo da violência e do burnout no ambiente de trabalho, ressalta-se
a importância da identificação da ocorrência desses eventos no ambiente escolar e
no estabelecimento de políticas de prevenção e gerenciamento da
violência e do esgotamento no trabalho.
Impacto do burnout na saúde de professores da rede pública do Paraná
Denise Albieri Jodas Salvagioni, Selma Maffei de Andrade
Data da defesa: 04/12/2017
Burnout é um fenômeno complexo e multidimensional resultante da interação entre
aspectos individuais e ambiente de trabalho. É a resposta ao estresse crônico do
trabalho definida por três dimensões: exaustão emocional, despersonalização e
reduzida realização profissional. Objetivo: Analisar se professores com maior nível de
burnout estão submetidos a maior risco de acidentes de trânsito, depressão e
afastamento da função docente por problemas de saúde. Método: Trata-se de estudo
de coorte prospectiva com dois anos de seguimento. Foram investigados 509
professores do ensino básico estadual do Paraná. Utilizou-se o Maslach Burnout
Inventory. Altos níveis de exaustão emocional e despersonalização (valores acima do
percentil 75) e baixos níveis de realização profissional (valores abaixo do percentil 25)
foram estabelecidos. Os acidentes de trânsito e os motivos de afastamento da função
docente foram autorreferidos pelos entrevistados. Considerou-se depressão o relato de
diagnóstico médico pelo professor. Usou-se Regressão de Poisson com variância
robusta para cálculo do risco relativo. Resultados: A incidência de acidentes de trânsito
entre professores foi de 11%. Após ajustes, a exaustão emocional e a reduzida
realização profissional não influenciaram na incidência de acidente de trânsito. No
entanto, despersonalização foi preditora desse desfecho – RR=1,73 (IC 95%: 1,05-2,86,
p=0,03). A incidência de depressão foi de 38 casos (9%). Exaustão emocional e
despersonalização influenciaram novos casos de depressão, após ajustes por sexo e
idade, mas perderam significância estatística quando variáveis relacionadas ao
ambiente de trabalho e às condições de saúde foram adicionadas ao modelo. A
incidência de afastamento da função docente por problemas de saúde foi de 31 casos
(6%). Desses, 13 estavam de licença médica (41,9%), 11 foram readaptados (35,5%),
um foi aposentado compulsoriamente (3,2%) e seis abandonaram definitivamente a
docência (19,4%). Após ajustes, a exaustão emocional não influenciou no afastamento
da função docente. No entanto, despersonalização foi preditora desse desfecho –
RR=2,62 (IC95%: 1,30-5,25, p<0,01). Baixos níveis de realização profissional
apresentaram relação com o afastamento da função docente por problemas de saúde,
porém sem significância estatística – RR=1,90 (IC95%: 0,93-3,87, p=0,08).
Conclusões: Este estudo encontrou que (1) despersonalização é fator de risco para
acidentes de trânsito, com risco 73% maior de professores em burnout sofrerem o
desfecho, independente de sexo, idade e maior exposição ao trânsito; (2) nenhuma
dimensão de burnout foi associada à incidência de depressão, após ajustes e, (3)
despersonalização e reduzida realização profissional mostraram-se indicadoras de
maior risco de afastamento da função docente por problemas de saúde.
Percepção de distúrbios de voz relacionados ao trabalho em professores da rede estadual de ensino e fatores ocupacionais associados
Michelle Moreira Abujamra Fillis, Arthur Eumann Mesas
Data da defesa: 26/05/2017
A profissão de professor é considerada de alto risco para a presença do distúrbio de
voz. Além das características do vínculo de trabalho, como carga horária e
quantidade de alunos por sala de aula, certas condições estruturais da escola, a
exposição a cargas físicas e psíquicas e o risco de sofrer violência escolar são
aspectos que merecem destaque na prevenção e no tratamento de problemas
vocais. Objetivos: Analisar as relações entre fatores ocupacionais e condição vocal
em professores da rede estadual de ensino de Londrina, Paraná. Para isso,
consideraram-se os seguintes objetivos específicos: 1) Analisar a associação entre
fatores ocupacionais e percepção de distúrbio de voz em professores de escolas
públicas estaduais 2) Analisar os fatores de risco ocupacionais para percepção de
distúrbio de voz nesses professores. MÉTODOS: Para a estruturação da presente
tese, cada objetivo específico foi apresentado no formato de um estudo com
metodologia, resultados e conclusões próprias. Esses objetivos foram explorados no
âmbito do projeto de pesquisa Saúde, Estilo de Vida e Trabalho de Professores da
Rede Pública do Paraná (PRÓ-MESTRE), o qual permitiu a obtenção das
informações necessárias analisadas nesta tese, além de outras investigações
exploradas pela equipe do projeto. A coleta de dados do PRÓ-MESTRE deu-se em
duas etapas. Para se alcançar o primeiro objetivo específico, realizou-se um estudo
transversal (Estudo 1) com dados coletados na etapa denominada baseline, entre
agosto de 2012 e junho de 2013, em entrevistas individuais de professores com
atuação em sala de aula nos níveis fundamental e/ou médio das 20 maiores escolas
Estaduais de Londrina. Para o segundo objetivo específico, um estudo de
delineamento do tipo coorte (Estudo 2) foi realizado com base em dados do baseline
e, ainda, de novos dados coletados no seguimento dos participantes após o período
de 24 meses (2014-2015). Especificamente para essa análise, consideraram-se
dados do seguimento apenas de participantes que continuavam exercendo a função
de professor da educação básica em escolas públicas. O instrumento para a coleta
de dados foi elaborado com base na literatura e previamente testado em estudo
piloto e após ajustes, a versão definitiva foi constituída por um formulário para
entrevista, cujas respostas eram anotadas pelo entrevistador, com questões
majoritariamente objetivas referentes à percepção de frequência de problemas
vocais, condições de trabalho, estilo de vida, saúde e violência escolar, entre outras
variáveis. Os dados foram duplamente digitados em banco criado no programa Epi
Info, versão 3.5.4 e analisados usando o programa SPSS, versão 19.0. A análise
descritiva foi realizada por meio de frequências absolutas e relativas, medidas de
tendência central e de dispersão. Para a análise bivariada, no estudo 1, utilizou-se a
razão de prevalência (RP) como medida de associação, e foi adotado nível de
significância de 5%. Para as análises ajustadas, construíram-se modelos de
regressão de Poisson. Já no estudo 2, para a análise bivariada, utilizou-se o odds
ratio como medida de associação, e foi adotado nível de significância de 5% (Teste
Qui-quadrado de Wald com apresentação do p-valor e do intervalo de confiança (IC)
de 95%) e para as análises ajustadas, construíram-se modelos de regressão
logística. Resultados: No Estudo 1, a percepção de problemas vocais frequentes foi
de 25,7%. Análises ajustadas mostraram associação desses problemas com
características do vínculo de trabalho (≥40 horas/semana, percepção ruim da
remuneração e dos benefícios de saúde), características do ambiente de trabalho
(quantidade de alunos por sala, exposição a pó de giz e microorganismos), aspectos
psicológicos (menor realização profissional, baixa oportunidade de expressar
opiniões, pior relacionamento com superiores e equilíbrio entre vida profissional e
pessoal) e situações de violência (insultos e assédio moral). No Estudo 2, a
manutenção/piora de percepção de distúrbios de voz frequentes (GPDVF) foi de
19,7% em 24 meses e tal condição associou-se ao sexo feminino, idade mais
elevada, tempo de profissão maior que 12 anos, exposição ao pó de giz, não se
sentir realizado profissionalmente e referir exposição a insultos e a violência física.
Após análise ajustada por sexo e idade, associou-se ao GPDVF a não realização
profissional e a exposição a insultos e violência física. Conclusão: O Estudo 1
permitiu concluir que a percepção de transtornos vocais frequentes afeta um em
cada quatro professores da educação básica e está associada a diversas
características da atividade docente, tanto estruturais como referentes ao processo
de trabalho. No Estudo 2, concluiu-se que um de cada 5 professores mantiveram ou
pioraram a percepção de distúrbio de voz relazionado ao trabalho em 24 meses de
seguimento. Evidenciou-se, ainda, que a insatisfação profissional e a exposição a
condições adversas do trabalho, como a violência, são fatores de risco para a
manutenção ou piora da percepção de distúrbio de voz frequentes.
Atividade física no tempo livre e fatores ocupados em professores de educação básica da rede pública
Douglas Fernando Dias, Arthur Eumann Mesas, Mathias Roberto Loch
Data da defesa: 24/03/2017
OBJETIVO: Aprofundar a compreensão sobre a relação trabalho e atividade física no
tempo livre (AFTL) em professores da educação básica. Para isso, consideraram-se
os seguintes objetivos específicos: 1) Sintetizar as evidências científicas sobre fatores
ocupacionais e atividade física (AF) em professores da educação básica no Brasil; 2)
Analisar a associação entre fatores ocupacionais e atividade física insuficiente no
tempo livre (AFI) (<150min/sem) em professores da educação básica da rede pública;
e 3) Analisar a associação entre mudanças autorreferidas nas condições de trabalho
e incidência e manutenção de níveis recomendados de AFTL (≥150min/sem) em
professores da educação básica da rede pública. MÉTODOS: Para a estruturação
desta tese, cada objetivo específico foi apresentado no formato de um artigo científico
com metodologia, resultados e conclusões próprias, conforme descrito na sequência.
Objetivo 1) Revisão sistemática sem restrição de idioma ou de data de publicação com
base nos descritores "professor", "atividade física" e termos relacionados. Os demais
objetivos específicos foram explorados no âmbito do projeto Saúde, Estilo de Vida e
Trabalho de Professores da Rede Pública do Paraná (PRÓ-MESTRE), no qual
professores das 20 maiores escolas estaduais de Londrina, atuantes em sala de aula
e responsáveis por uma ou mais disciplinas foram entrevistados individualmente em
dois momentos: baseline (nos anos de 2012 e 2013) e seguimento (após 24 meses).
Objetivo 2) Estudo transversal com dados obtidos no baseline. Objetivo 3) Estudo do
tipo coorte prospectiva, mediante análise de dados do baseline e do seguimento.
RESULTADOS: Objetivo 1) Na revisão sistemática foram identificados 17 artigos que
abordaram a AF em professores, todos publicados nos últimos dez anos, com
delineamento transversal e avaliação da AF realizada por meio de
questionários/formulários/escalas. A prevalência de AF variou de 19,3% a 62,4% e
apenas seis estudos verificaram sua associação com fatores ocupacionais. No total,
seis variáveis ocupacionais associaram-se à maior prática de atividade física. Objetivo
2) A prevalência de AFI entre os professores entrevistados foi de 71,9%, condição
associada de maneira independente à percepção de equilíbrio entre vida pessoal e
profissional ruim ou regular, percepção de que o tempo de permanência em pé afeta
o trabalho, percepção de capacidade atual para as exigências físicas do trabalho baixa
ou muito baixa e contrato de trabalho temporário. Objetivo 3) A incidência e
manutenção de níveis recomendados de AFTL ao longo de 24 meses foi de 23,2% e
63,6%, respectivamente. A análise ajustada mostrou que a incidência de níveis
recomendados de AFTL associou-se com a manutenção de bom equilíbrio entre vida
pessoal e profissional, manutenção da percepção de que raramente trabalha demais
e manutenção da percepção de que o trabalho raramente desgasta. CONCLUSÕES:
Com base nos estudos encontrados sobre o trabalho docente e a AF em professores
da educação básica no Brasil, as evidências ainda são insuficientes e os resultados
inconclusivos sobre tal relação. Por outro lado, dois estudos originais incluídos nesta
tese apresentaram evidências de que melhores condições de trabalho associam-se
com menor prevalência de AFI e com maior incidência de níveis recomendados de
AFTL.