Qualidade do sono em professores de educação básica: correlação entre métodos subjetivos e objetivos e sua relação com dor lombar crônica e uso de medicamentos
Marcela Zambrim Campanini, Arthur Eumann Mesas
Data da defesa: 18/04/2018
OBJETIVO: Examinar a correlação entre medidas subjetivas e objetivas do sono, bem como a relação entre sono, dor lombar crônica (DLC) e o uso de medicamentos em professores da educação básica. Objetivos específicos: 1) Analisar a correlação e concordância entre parâmetros subjetivos (diário) e objetivos (actigrafia) do sono; 2) Analisar a associação bidirecional e prospectiva entre sono e dor lombar crônica; 3) Investigar a associação entre o número de medicamentos de uso contínuo e parâmetros do sono. MÉTODOS: Para a estruturação desta tese, uma introdução abordando os temas de interesse foi elaborada. Em seguida, os objetivos específicos 1, 2 e 3 foram contemplados na forma de 3 estudos, cujos resultados e discussões foram abordados separadamente. A população estudada faz parte do projeto Saúde, Estilo de Vida e Trabalho de Professores da Rede Pública do Paraná (Pró-Mestre), no qual professores das 20 maiores escolas estaduais de Londrina (PR) foram entrevistados individualmente em dois momentos: baseline (nos anos de 2012 e 2013) e seguimento (após 24 meses). No seguimento, uma subamostra de professores (n=168) utilizou um actígrafo para registro do ritmo vigília-sono e preencheu um diário de atividades durante 7 dias. RESULTADOS: A concordância (coeficiente de correlação intraclasse – ICC) e a correlação (coeficiente de correlação de Pearson ou Spearman - r) entre actígrafo e diário foram de moderadas a altas para o tempo total de sono (ICC= 0,70; r= 0,60), tempo total de cama (ICC= 0,83; r= 0,73), horário de dormir (ICC= 0,95; r= 0,91), hora de início do sono (ICC= 0,94; r= 0,88) e hora de despertar (ICC= 0,87; r= 0,78). Entretanto, a latência do sono (ICC= 0,49; r= 0,38) e a eficiência do sono (ICC= 0,16; r= 0,22) demonstraram baixa concordância e correlação. O sono de pior qualidade (PSQI>5) foi um fator preditor para dor lombar crônica persistente após 2 anos de seguimento (Risco Relativo [RR]= 2,98, Intervalo de Confiança [IC] de 95%= 1,19- 7,48) mas não para novos casos dessa dor (RR= 1,09, IC 95%= 0,57-2,07). Não foram encontradas associações entre a dor lombar crônica no baseline e a qualidade do sono no seguimento. Nos participantes que tinham dor lombar crônica, a duração do sono ≤6 horas (RR= 1,54, IC 95%= 1,06; 2,25) e a eficiência do sono <85% (RR= 1,42, IC 95%= 1,07-1,89) medidas por actigrafia, e a hora de deitar reportada no diário >23h30m (RR= 1,54, IC 95%= 1,06; 2,24) foram associadas ao relato de dor no dia seguinte. O uso de ≥3 medicamentos foi associado com menor duração do sono (Odds ratio [OR]= 2,51; IC 95%= 1,01-6,21), maior latência do sono (OR= 2,65; IC 95%= 1,00-7,02) e maior número de despertares durante a noite (OR= 3.30; IC 95%= 1,32-8,28), medidos por actigrafia; e com maior latência (OR= 3,76; IC 95%= 1,36-10,5) e menor eficiência do sono (OR=11,6; IC 95% =2,92-46,1), medidos pelo diário. O incremento de 1 medicamento foi associado a maior latência e menor eficiência autorreportados. CONCLUSÕES: A actigrafia e o diário do sono demonstraram variados graus de concordância nos parâmetros do sono, sugerindo que esses métodos medem diferentes dimensões do sono, especialmente em relação à latência e à eficiência do sono. Os parâmetros do sono podem desempenhar o papel de preditores de dor lombar crônica a longo e a curto prazo. O uso contínuo de ≥3 medicamentos está associado a piores parâmetros objetivos e subjetivos do sono em professores.