Teses e Dissertações
Palavra-chave: Pesquisa qualitativa
A Fisioterapia no Programa Saúde da Família: percepções em relação à atuação profissional e formação universitária
Douglas Gallo, Márcio José de Almeida
Data da defesa: 20/12/2005
Para consolidação do Programa Saúde da Família (PSF) faz-se necessária uma
adequação dos profissionais de saúde à nova estratégia, considerando-se a
integralidade como eixo estrutural e a saúde vista em sua positividade. A
Fisioterapia historicamente admitiu como objeto de trabalho o indivíduo doente,
porém com sua inclusão gradual no PSF também torna-se co-responsável pela
mudança na abordagem. Este estudo teve por objetivo analisar a inserção e a
prática do fisioterapeuta no PSF do município de Londrina e as adequações da
formação universitária a essa atuação. Tendo em vista a natureza do objeto de
pesquisa adotou-se uma metodologia de pesquisa qualitativa, configurando-se como
um estudo aplicado às ciências sociais. Como instrumento de coleta de dados foi
utilizada a entrevista semi-estruturada e os informantes-chave foram oito
fisioterapeutas que trabalhavam no PSF em Londrina e seis professores de três
instituições de ensino superior com formação em Fisioterapia (três coordenadores
de curso e três professores responsáveis pela disciplina de Saúde Pública)
existentes no mesmo município. O corpus de pesquisa foi submetido à análise de
conteúdo, sendo desenvolvidas três categorias: a) A fisioterapia no Programa Saúde
da Família em Londrina; b) A fisioterapia no Sistema Único de Saúde (SUS); c) A
formação do fisioterapeuta. Na primeira categoria analisou-se a estruturação do
serviço de fisioterapia no PSF em Londrina, como se dá a atuação do fisioterapeuta
e qual o seu perfil para atuar no PSF. Na segunda categoria, as percepções dos
fisioterapeutas e professores em relação à atuação da fisioterapia no SUS e suas
visões do SUS. Na terceira e última categoria analisou-se como é o ensino em
fisioterapia e sua adequação ao perfil profissional requerido para o fisioterapeuta no
PSF. Concluiu-se que a inserção do fisioterapeuta se deu de maneira pouco
organizada e objetivando uma demanda específica, a do acamado, porém os
profissionais foram se adequando, passando a novas linhas de atuação. O perfil
profissional requerido para atuação no PSF incluiu: formação generalista,
flexibilidade e criatividade, empatia, autonomia e iniciativa, capacidade de trabalho
em equipe e conhecimento sobre o SUS. A formação ainda não estaria adequada a
estas exigências, embora algumas iniciativas tenham surgido decorrentes dessas
necessidades, como é o caso de uma instituição que possui estágio em PSF aos
seus alunos.
O Acolhimento no Cotidiano dos Profissionais das Unidades de Saúde da Família em Londrina-Paraná
Sônia Nery, Regina Melchior, Elisabete de Fátima Polo de Almeida Nunes
Data da defesa: 23/02/2006
Analisa-se o acolhimento no cotidiano do trabalho de profissionais que atuam em
três unidades de saúde da família no município de Londrina, Paraná. Adotou-se a
pesquisa qualitativa e os dados foram coletados utilizando-se a técnica de grupo
focal. Os sujeitos que compõem o universo desta pesquisa foram 12 agentes
comunitários de saúde, nove auxiliares de enfermagem, cinco enfermeiras e seis
médicos, num total de 32 profissionais. A análise de conteúdo possibilitou a
definição de duas categorias temáticas: o acolhimento e o modelo predominante de
atenção em saúde e a organização e os métodos de trabalho. Na primeira categoria,
analisou-se a escuta, a construção da autonomia do usuário, a responsabilização e
a resolutividade pelo trabalhador dos problemas/necessidades de saúde do usuário
e comunidade. Na segunda categoria, destacam-se as facilidades e dificuldades
relacionadas à organização da demanda, à atenção domiciliar e ao trabalho em
equipe. A escuta foi considerada um elemento importante na acolhida, mas não
ocorre de forma plena. A promoção da autonomia do usuário encontra-se
relacionada à transmissão de informações, não se concretizando a perspectiva de
ampliar a compreensão das pessoas sobre o processo de adoecer e seu autocuidado. A resolutividade depende do acolhimento e responsabilização clínica e
sanitária dos profissionais no desenvolvimento de ações envolvendo o coletivo da
equipe de saúde da família e demais serviços de saúde. A estratégia saúde da
família levou ao aumento da demanda espontânea nas unidades e não se conseguiu
ainda compatibilizar esta demanda com as atividades programáticas. Quanto à
atenção domiciliar, a visita propiciou maior conhecimento dos problemas de saúde
do território/famílias, mas esta atividade não foi incorporada por todos os
profissionais. O trabalho em equipe foi considerado como um processo que está em
construção, demandando novas práticas em saúde, visando superar a fragmentação
no cotidiano do trabalho. A educação permanente apresenta-se como possibilidade
para que os diferentes atores sociais envolvidos no processo de atenção em saúde
questionem sua própria maneira de agir na atenção individual e ou coletiva. Assim, o
acolhimento constitui um importante elemento no atendimento às necessidades de
saúde das pessoas, mas na realidade analisada ainda não ocorre de forma plena,
tendo como referência o modelo de atenção voltado à integralidade das ações em
saúde.
Representações do Trabalho Multiprofissional em um Serviço Público de Saúde Municipal
Cristiane Corsini Medeiros Otencio, Luiza Nakama , Ana Maria Cavalcanti Lefèvre
Data da defesa: 17/12/2007
Este estudo tem como objetivo conhecer as representações sociais dos profissionais
de saúde sobre o trabalho multiprofissional no Serviço Público de Saúde no
município de Bandeirantes – Paraná. Foram entrevistados 44 profissionais de saúde
de nível superior, com 4 questões abertas que abordaram aspectos de interesse
para o tema. Para análise e processamento dos dados, utilizou-se a técnica do
Discurso do Sujeito Coletivo, por meio do qual se construiram os discursos síntese
com auxílio do programa Qualiquantisoft. Nos discursos obtidos os profissionais de
saúde entrevistados consideram seu trabalho como uma rotina de atendimento
programado, determinado pela demanda, desgastante, porém vocacionado.
Destacam que o trabalho multiprofissional é a integração de vários campos da área
da saúde, entre profissionais de outras áreas e de outras especialidades para ter
uma equipe formada para solucionar os problemas. Relatam que para o
desenvolvimento do trabalho multiprofissional deveria acontecer maior interação
entre os gestores e os profissionais; recursos materiais e físicos para a melhoria do
atendimento; capacitação, conscientização, contratação de profissionais para o
serviço; remuneração salarial e organização do serviço de saúde. Os conteúdos
revelam barreiras para o desenvolvimento do trabalho multiprofissional, como a
ausência de novas formas de gestão, flexibilização das relações de trabalho e ainda
a necessidade de resolução de questões antigas, como remuneração salarial, planos
de cargos e carreiras, e organização do serviço com instalação de mecanismos que
possam evitar a intensa rotatividade de profissionais.
A violência e suas possibilidades de enfrentamento: o olhar de lideranças comunitárias
Márcia Caroline Portela Amaro, Selma Maffei de Andrade, Mara Lúcia Garanhani
Data da defesa: 29/02/2008
Desde a década de 80 assistimos a uma escalada da violência urbana no Brasil. A
violência tornou-se hoje um dos mais sérios problemas da Saúde Coletiva,
chegando a ser, em alguns locais do país, juntamente com outras causas
externas, a segunda causa de mortes. A cidade de Londrina – PR vem assistindo
a um preocupante aumento dos índices de violência, que tem levado lideranças da
cidade a se mobilizarem. O objetivo desta pesquisa foi identificar qual o olhar que
lideranças comunitárias têm sobre a violência e quais estratégias de
enfrentamento visualizam nas suas realidades. Abordou-se também a visão das
lideranças sobre a atuação do setor saúde no problema. Foram entrevistadas 25
lideranças de duas regiões periféricas da cidade, diferentes sob o aspecto da
mobilização popular. Foi um estudo exploratório, de abordagem qualitativa, com
entrevistas semi-estruturadas. As lideranças foram escolhidas a partir do processo
chamado de “bola de neve” ou amostragem em rede. Foram realizadas entrevistas
até que se atingiu a saturação das convergências entre as respostas. A técnica de
análise dos dados foi a de Bardin. Entre os resultados, levantou-se que a visão
das lideranças sobre a violência está permeada de contradições e mecanismos de
defesa, como a naturalização e a negação da violência. Entre as estratégias de
enfrentamento, na comunidade menos mobilizada predomina a reivindicação
dirigida às autoridades. Na mais mobilizada, o que se destaca é a prática de
parcerias com outros setores da sociedade, inclusive com o governo. A atuação
dos profissionais de saúde é vista como precária, porém com possibilidades de
melhora através da formação de parcerias com a comunidade. Este estudo
contribuiu para identificar as estratégias que a comunidade pode utilizar para
prevenir a violência, ajudando assim a reduzir as mazelas deixadas por esta na
sociedade.
Organização do trabalho em uma Unidade de Urgência: percepção dos enfermeiros a partir da implantação do acolhimento com avaliação e classificação de risco
Fernanda da Silva Floter Godoy, Mara Lucia Garanhani
Data da defesa: 12/07/2010
Trata-se de uma pesquisa qualitativa que teve por objetivos conhecer o trabalho de
uma unidade de urgência após a implantação do Acolhimento com Avaliação e
Classificação de Risco (AACR), as repercussões sobre o processo de trabalho do
enfermeiro, os sentimentos vivenciados e as estratégias defensivas utilizadas por
estes profissionais. Participaram da pesquisa dez enfermeiros de um hospital
universitário localizado no interior do Estado do Paraná. A coleta de dados ocorreu
nos meses de julho e agosto de 2009. Foram realizadas entrevistas
semiestruturadas, que continham questões norteadoras fundamentadas no
referencial teórico. Optou-se pela gravação em fita cassete e, em seguida, as falas
foram transcritas na íntegra. Para a análise dos discursos e construção das
categorias, utilizou-se a técnica fundamentada na estrutura do fenômeno situado, e
a discussão foi realizada utilizando algumas contribuições da Psicodinâmica do
Trabalho. A análise das dez entrevistas desvelou quatro categorias, sendo três
analíticas e uma empírica. As categorias versam sobre os temas: processo de
trabalho e as repercussões do AACR em uma unidade de urgência, os sentimentos
vivenciados por estes profissionais, as estratégias defensivas utilizadas pelos
enfermeiros e as atitudes necessárias para o trabalho em uma unidade de urgência
com AACR. O ambiente da unidade de urgência mostrou-se similar às outras
realidades vivenciadas e descritas em literatura. O AACR trouxe modificações
significativas para o processo de trabalho dos enfermeiros, permitindo organizar a
fila de espera e priorizando os casos mais graves. Os sentimentos de prazer foram
identificados como contribuição para o diagnóstico precoce, alívio da dor e na
recuperação do paciente e no relacionamento com a equipe de enfermagem. As
vivências de sentimentos de sofrimento estão relacionadas com a intensificação do
trabalho, o relacionamento com a equipe médica, o medo e a insegurança em fazer
a contra-referência dos usuários. As estratégias defensivas utilizadas pelos
enfermeiros evidenciaram essencialmente ações individuais: buscar apoio na prática
religiosa, o convívio com familiares e amigos e a prática de esportes. Observou-se,
nesta pesquisa, a presença de ambiguidade de sentimentos de prazer e sofrimento
na vivência do AACR. Os resultados deste estudo mostram as repercussões que o
AACR proporciona em unidades de urgência, no que diz respeito à organização da
demanda e à priorização dos casos com critérios baseados na gravidade, ou seja,
no risco de vida. O conhecimento dos fatores que levam aos sentimentos de prazer
e sofrimento neste trabalho pode abrir novas possibilidades para refletir sobre esta
prática, contribuindo para a realização de um processo mais participativo e inovador.
Compreensão do sentido de ser professor readaptado por transtornos psíquicos à luz da fenomenologia heideggeriana
Ana Claudia Petryszyn Assis , Alberto Durán González
Data da defesa: 26/02/2016
Ao longo dos anos, o trabalho docente vem acumulando muitas mudanças as
quais tem repercutido negativamente na saúde psíquica e física dos mesmos.
Levando a um intenso sofrimento nesta categoria profissional,
consequentemente, tem se tornado frequente a readaptação funcional de
professores a qual afasta, temporário ou definitivo, o trabalhador de sua função,
realocando-o em outro cargo. Com base nisso, o objetivo dessa pesquisa foi
compreender o significado do retorno à escola após afastamento definitivo como
professor-readaptado por transtornos psíquicos. Trata-se de um estudo
qualitativo, realizado com professores readaptados definitivos de diferentes
escolas da rede pública de um munícipio de grande porte do sul do Brasil. A
coleta de dados foi realizada no período de dezembro de 2014 e finalizada em
junho de 2015. Os dados foram coletados por meio de entrevistas semiestruturadas e submetidos à análise de discurso proposta por Martins e Bicudo,
como forma de extração e organização dos dados. Em seguida, foram
analisados a luz do referencial filosófico de Martin Heidegger. Também, foram
utilizados outros autores, tendo em vista a convergência entre eles. Da análise
das entrevistas emergiram quatro categorias: Processo de ruptura do trabalho
docente em sala de aula; Retorno ao trabalho como professor readaptado; Serno-mundo como professor readaptado e Ser-com-o-outro no mundo da
readaptação. Os entrevistados revelaram que o trabalho antes da readaptação
estava sendo marcado pela intensificação do trabalho como docentes, refletido
por condições de trabalho ruins, excesso de burocracia e outros levando a um
período de afastamentos os quais foram tidos como momentos de quebra do
cotidiano dos professores. Após os afastamentos temporários de sala de aula, o
habitar o mundo da educação sob nova condição foi marcado por incertezas e
sentimentos como o medo frente a essa transição, já que não tinham referências
construídas sobre esse ser-no-mundo, pois foram lançados no mundo da
educação sob nova condição, se ocupando e preocupando de modos diferentes.
Dessa forma, aos que construíram uma nova identidade esta foi marcada por
uma utilidade para o coletivo, no qual assumem múltiplas funções para serem
reconhecidos. Passando a existir de modo impróprio, retirando, dessa forma, a
possibilidade de refletirem sobre esse agir para os outros. O ser-com dos
professores readaptados revelaram modos deficientes com-colegas; comoutros-funcionários, com-alunos e com-família, suscitando, portanto, um ser-com
inautêntico. Visto que estas relações se demostraram em atitudes
preconceituosas, com forte estigma e de exclusão. Também, esta pesquisa
permitiu tecer algumas reflexões sobre o processo de readaptação vivenciado
pelos professores na qual evidenciou-se a falta de políticas que visem este
profissional, tanto no processo quanto no acompanhamento do mesmo nesta
situação. Espera-se que os resultados desse estudo possam fornecer subsídios
para o conhecimento dessa realidade, buscando ampliar as discussões e
alternativas para o atual contexto que esses professores vivenciam.
Organização do processo de trabalha vivenciado durante um programa de qualificação da Atenção Primária à Saúde
Mariana Lectícia Beraldi, Fernanda de Freitas Mendonça
Data da defesa: 06/03/2020
A Educação Permanente em Saúde (EPS) constitui-se em uma estratégia que busca
transformar as práticas profissionais e a organização do processo de trabalho a
partir das demandas do próprio trabalho. Ela atua como componente do Programa
de Qualificação da Atenção Primária à Saúde (APSUS), ocorrido no ano de 2011 a
2018, que corresponde a um programa do governo do Estado do Paraná que propõe
a melhoria da Atenção Primária à Saúde (APS) em todo o Estado para que ela
possa exercer seu papel de coordenadora do cuidado. Como segunda etapa do
programa, ocorre a tutoria, que busca contribuir com as equipes de saúde a
incorporar mudanças e adequações do processo de trabalho e para isso utiliza-se de
um instrumento norteador que impulsiona a prática dos profissionais, o Selo da
Qualidade. O selo da qualidade em sua segunda etapa, etapa prata, visa aferir o
gerenciamento dos processos. O objetivo deste estudo foi analisar a organização do
processo de trabalho vivenciada durante um programa de qualificação da APS. A
pesquisa ocorreu com profissionais de uma Unidade de Saúde da Família (USF),
localizada no município de Londrina, Paraná, participante do processo de tutoria,
buscando a certificação da qualidade do nível prata. O estudo foi feito com todos os
trabalhadores da unidade, incluindo profissionais residentes que atuavam
juntamente a equipe e tutores do programa. A pesquisa tem caráter qualitativo,
descritivo e exploratório, do tipo estudo de caso. Utilizou-se como ferramenta de
coleta de dados observação-participante, realizada no período de julho a outubro de
2018, e entrevistas semiestruturadas com os profissionais da USF, feitas em
dezembro de 2018 até abril de 2019. Os dados foram analisados de acordo com a
proposta de Martins e Bicudo. Da análise dos resultados emergiram três
manuscritos: Reflexos de um processo de qualificação da Atenção Primária à Saúde
na rotina e no cuidado produzido pelos trabalhadores; Estratégias de gestão do
trabalho durante um processo de qualificação da Atenção Primária à Saúde;
Resultados de um processo de qualificação da Atenção Primária à Saúde. Os
resultados apontaram para organização do processo de trabalho, oportunidade de
refletir sobre a prática, sobrecarga física e mental dos profissionais, ênfase em
questões burocráticas em detrimento do cuidado e dificuldade do programa em
contemplar as singularidades do território e possibilitou. Diversas estratégias foram
desenvolvidas pela equipe: reuniões de equipe e gerais, mutirões de estratificação
de risco e criação atendimentos coletivos em formato de grupo, que possibilitaram a
organização do processo e melhoria da qualidade da atenção. A participação no selo
permitiu melhor conscientização do processo de trabalho, organização do fluxo e
sistematização de atividades, resgate de populações negligenciadas e
monitoramento da população com condições crônicas. A EPS mostrou-se como eixo
transversal que percorreu todo o processo de trabalho, permitindo problematizações,
trabalho em equipe e reflexão sobre a prática profissional. A EPS desenvolvida pelos
próprios profissionais possibilitou sair da lógica da captura impositiva do processo e
dar qualidade a gestão do trabalho.
Integração ensino-serviço de saúde: uma compreensão por meio da fenomenologia heideggeriana
Lucimar Aparecida Britto Codato, Mara Lúcia Garanhani, Alberto Durán González
Data da defesa: 15/06/2015
Trata-se de estudo que buscou compreender os significados da integração ensinoserviço para a formação profissional em saúde, suas interfaces e o modo de 'ser-com-ooutro' em Unidades Básicas de Saúde (UBS). Pesquisa de natureza qualitativa, com
abordagem fenomenológica hermenêutica, apoiada no referencial teórico filosófico de
Martin Heidegger. Foi realizada com coordenadores de colegiados de cursos da área da
saúde de uma universidade pública, com gestores municipais, estudantes, profissionais
da rede de serviços e docentes que acompanham estudantes em atividades realizadas
em UBS da região metropolitana de um município de grande porte do sul do Brasil. Os
participantes foram selecionados intencionalmente, totalizando 33 entrevistados. Os
resultados desvelaram que a aproximação entre o mundo ôntico do ensino e o do
serviço de saúde favorece o alcance dos pressupostos das Diretrizes Curriculares
Nacionais (DCN). Houve reconhecimento da complementaridade entre o mundo do
ensino e o do trabalho, embora o entendimento que cabe mais a um mundo pensar e ao
outro executar também esteve presente. A parceria entre o mundo do ensino com o do
serviço de saúde foi reconhecida como importante para cuidado da população, a qual foi
compreendida como beneficiária dessa relação. 'Ser-com-o-outro' na ocupação do
espaço existencial compartilhado entre o ensino-serviço de saúde nas UBS mostrou-se
permeado por modos próprios e impróprios de ser. Nele, desvelaram-se conflitos ligados
à linguagem, mais precisamente na verbalização e na escuta. Também foi reconhecido
como importante para a formação dos 'ser-aí' que coabitam este espaço existencial, a
qual mostrou-se dependente da postura ativa, da curiosidade e da criatividade do
estudante, do vínculo que o docente estabelece com o campo, da preocupação dos
profissionais, da abertura, disposição e da compreensão de todos os 'ser-aí' que
coexistem na UBS. A integração ensino-serviço de saúde revelou-se mais atrelada às
posturas ativas de gestores e docentes da universidade, possivelmente por serem os
mais dependentes dessa aproximação para o alcance de formação mais condizente
com as orientações das DCN. A integração ensino-serviço de saúde acontece, porém
num estágio que possibilita mais fortemente o 'ser-com' entre profissionais e estudantes
e o 'ser-com' entre estudantes e a população. A presença tênue do 'ser-com-outro'
envolvendo simultaneamente docentes, estudantes e profissionais demonstra que a
integração ensino-serviço de saúde ainda está sendo construída, principalmente quando
pensada em termos de trabalho realizado em conjunto. A ausência do 'ser-com-outro'
envolvendo docente-docente foi percebida como limitação para trabalhos
interdisciplinares neste espaço existencial. A integração ensino-serviço de saúde
desvelou-se dependente das relações que ocorrem nos espaços micros de cada UBS,
as quais foram percebidas como estruturantes e fundamentais para que esses espaços
existenciais sejam criados e mantidos. Os diferentes modos de 'ser-com-outro' foram
reconhecidos como facilitadores ou dificultadores dessa parceira. Os resultados
apontam para reflexões acerca das oportunidades que ainda precisam ser alcançadas
para operacionalizações, avaliações, planejamentos conjuntos e, consequentemente,
para a adoção de práticas mais integrativas.