Teses e Dissertações
Palavra-chave: Motocicletas
Atuação profissional de motoboys e fatores associados à ocorrência de acidentes de trânsito em Londrina-PR
Daniela Wosiack da Silva, Darli Antonio Soares, Selma Maffei de Andrade
Data da defesa: 28/07/2006
Nos últimos anos, no Brasil, tem sido observada utilização crescente dos serviços de entrega
de mercadorias por motoboys, os quais são susceptíveis à ocorrência de acidentes de trânsito
devido à sua grande exposição nas vias públicas e à necessidade de realizarem o maior
número possível de entregas em curto intervalo de tempo. Há poucos estudos que abordam os
riscos de acidentes a que está exposta esta categoria profissional. Este estudo teve por objetivo
analisar o perfil de motoboys, sua atuação profissional e fatores associados com a ocorrência
de acidentes de trânsito durante o trabalho no município de Londrina. Trata-se de um estudo
transversal, tendo como unidade de análise motoboys que atuam em Londrina. A delimitação
da amostra deu-se após a realização de um estudo exploratório, por consultas telefônicas
buscando-se definir o número de motoboys atuantes nos sete principais tipos de empresas que
os empregam (restaurantes, farmácias, papelarias/copiadoras, empresas de tintas, gás, água e
entregas). A partir desse levantamento, visando garantir a proporcionalidade, as empresas
foram ordenadas por tipo e número de motoboys, sendo realizada amostragem sistemática de
aproximadamente 50%. A coleta de dados ocorreu de setembro a novembro de 2005,
utilizando um questionário auto-aplicável, desenvolvido após diversas etapas visando seu
aprimoramento. Com a finalidade de reduzir perdas, foram realizadas até cinco visitas à
mesma empresa nos três períodos do dia. A análise dos dados foi feita por meio de análises
descritivas, bivariadas e regressão logística. Foram entrevistados 377 motoboys (perda de 4%
em relação aos amostrados). Cerca de 75% dos motoboys apresentava tempo de atuação
profissional superior a dois anos. A maioria (68%) atuava em apenas um tipo de empresa,
havendo predomínio de restaurantes (48%). Em cerca de 65% dos casos, a remuneração
estava relacionada à quantidade de entregas feitas. Constatou-se que 36% dos motoboys
alternavam turnos de trabalho e que 42% referiram ter trabalhado mais do que dez horas por
dia na última semana. Cento e quarenta e sete motoboys (39%; intervalo de confiança de 95%
[IC95%]: 34,1-44,1%) relataram ter sofrido acidentes de trânsito nos doze meses anteriores à
realização da pesquisa, e 121 (32,1%; IC95%: 27,5-37,1%) durante o exercício profissional.
Foram relatados, no total, 257 episódios de acidentes de trânsito, o que equivale a uma taxa de
68,17 acidentes por 100 motoboys. Na análise multivariada, os fatores independentemente
associados, de forma direta, ao relato de ocorrência de acidentes de trânsito durante o trabalho
foram: a idade dos motoboys, sendo maior a taxa de acidentes na faixa etária de 18 a 24 anos
(Razão de Chances [OR]=1,74), a adoção de velocidades acima de 80 Km/h nas avenidas do
município (OR=1,64) e a alternância de turnos de trabalho (OR=1,77). Os resultados indicam
alta incidência de acidentes de trânsito no período analisado. A maior parte dos acidentes
ocorreu durante o trabalho, comprovando a maior exposição dos motoboys aos acidentes de
trânsito devido a características inerentes à profissão, sendo necessárias estratégias e políticas
específicas para a redução de acidentes envolvendo estes profissionais.
Motociclistas atendidos por serviços de atenção préhospitalar em Londrina (PR): características dos acidentes e das vítimas em 1998 e 2010
Flávia Lopes Gabani, Selma Maffei de Andrade
Data da defesa: 02/12/2011
Os acidentes com motociclistas crescem concomitantemente ao aumento da frota no
Brasil, tornando suas vítimas representativas na morbimortalidade por acidentes de
trânsito. Desde 1998, com a implantação do Código de Trânsito Brasileiro (CTB),
iniciativas foram tomadas na tentativa de modificar essa realidade, sendo oportunos
estudos que verifiquem mudanças nos perfis dos acidentes e das vítimas. Dessa
forma, o presente estudo teve por objetivo comparar características dos acidentes e
dos ocupantes de motocicletas atendidos por todos os serviços de atenção préhospitalar de Londrina (PR) em 1998 e 2010. Trata-se de estudo transversal, cujos
resultados foram comparados com pesquisa de 1998. Em ambos os estudos, a fonte
de dados constituiu-se do Registro de Atendimento do Socorrista (RAS). A
população foi composta por 1.576 e 3.968 vítimas em 1998 e 2010,
respectivamente. Houve incremento na frota de motocicletas no município, passando
de 69,9 para 128,1 por mil habitantes. Também aumentou o número de vítimas para
cada mil motos, de 53,1 para 61,1. Quanto às características dos acidentes,
observaram-se maiores proporções de quedas isoladas de moto e de acidentes
entre motocicletas em 2010. Houve maior frequência de vítimas nos dias úteis em
ambos os anos, com leve aumento percentual em 2010 (de 65,1% para 69,4%), e
reduziram-se as proporções de vítimas nos finais de semana (de 34,9% para
30,6%). Em relação ao período de ocorrência do acidente, prevaleceu o da noite nos
dois anos. Porém, houve incremento percentual de vítimas no período diurno (de
51,5% para 56,8%), refletindo maior frequência de acidentes no período da manhã.
O número de vítimas cresceu ao longo dos meses em ambos os anos. Em relação
às regiões de ocorrência, constatou-se leve descentralização pela diminuição da
frequência no Centro, contudo as regiões Norte e Centro abrangeram mais da
metade dos acidentes nos dois anos (de 53,2% para 51,0%). Quanto às
características das vítimas, houve pequeno aumento na proporção de motociclistas
mulheres (de 21,6% para 24,6%), as quais deixaram de predominar como
passageiras, tornando-se principalmente condutoras (de 42,8% para 54,6%). A faixa
etária mais acometida continuou sendo a de 20 a 34 anos. Aumentou a frequência
de informações ignoradas em relação ao uso do capacete (de 1,0% para 24,6%).
Houve redução da proporção na percepção de hálito etílico de 1998 (13,9%) para
2010 (7,1%). Entretanto, a proporção de detecção desse hálito ainda é mais
frequente entre homens, nos meses de janeiro e fevereiro, durante finais de semana
e no período noturno, destacando-se a madrugada. Quanto às lesões, aumentou a
proporção de traumatismos superficiais (de 66,4% para 71,1%) e fraturas (de 11,7%
para 13,5%), e diminuíram as frequências de ferimentos, traumatismos
intracranianos e intratorácicos. Houve redução na proporção de lesões na cabeça,
porém aumentaram as dos membros e múltiplas regiões. Apesar do elevado número
de vítimas em 2010, os acidentes foram, proporcionalmente, de menor gravidade,
evidenciada pelos melhores escores nas escalas de coma e de trauma, além de
menor necessidade de atendimento médico no local da ocorrência. Diminuiu o
coeficiente de letalidade imediato e aumentou a frequência de recusas de
atendimento e/ou encaminhamento. Os resultados apontam mudanças nas
características dos acidentes e das vítimas nos anos, servindo como possível
subsídio para direcionamento de novas ações e estratégias de intensificação das
fiscalizações no trânsito, principalmente em relação aos motociclistas.