DESIGUALDADES NO CONSUMO DE FRUTAS E HORTALIÇAS SEGUNDO CARACTERÍSTICAS SOCIOECONÔMICAS E ESPACIAIS: ESTUDOS COM AMOSTRAS REPRESENTATIVAS DA POPULAÇÃO ADULTA BRASILEIRA
NATHALIA ASSIS AUGUSTO, Mathias Roberto Loch
Data da defesa: 23/02/2024
Objetivo: Verificar fatores socioeconômicos e espaciais relacionados ao consumo de frutas e hortaliças (CFH) na população adulta brasileira, mediante dois objetivos específicos: 1. Analisar a relação entre o espaço geográfico urbano (capital, região metropolitana (RM) e interior) e o consumo regular de frutas e hortaliças no Brasil. 2. Analisar as desigualdades no CFH em adultos brasileiros a partir da intersecção de diferentes exposições a marcadores sociais relativos à gênero, raça/cor, renda e escolaridade. Métodos: Foram produzidos dois artigos científicos observacionais e em delineamento transversal, com dados de adultos (≥18 anos) da Pesquisa Nacional de Saúde de 2013 (n=60.202) e de 2019 (n=88.531), para o primeiro e segundo artigo, respectivamente. 1. No primeiro artigo o desfecho foi o consumo regular de fruas (CRF) e o consumo regular de hortaliças (CRH), considerando como variável independente o espaço geográfico urbano dividido em três categorias: capital, RM e interior. Para verificar a associação entre as variáveis foi realizada regressão logística com cálculo do Odds Ratio (OR) e Intervalo de Confiança 95% (IC95%) bruto e ajustado. 2. No segundo artigo o desfecho foi o CFH irregular, considerando como variável independente a intersecção dos marcadores sociais da diferença: sexo, raça/cor, renda e escolaridade. Para verificar a associação entre as variáveis foi realizada regressão logística com cálculo do OR e IC95% bruto e ajustado. Resultados: 1. O CRF foi menor na RM e no interior quando comparados à capital, tanto entre as mulheres (RM: OR= 0,83; IC95%: 0,73-0,94; interior: OR= 0,68; IC95%: 0,61-0,76), quanto entre os homens (RM: OR= 0,84; IC95%: 0,75-0,93; Interior: OR= 0,78; IC95%: 0,71-0,85), o mesmo ocorreu na maioria dos subgrupos de características socioeconômicas. Não houve associação do CRH com o espaço geográfico urbano de maneira geral, e nos subgrupos os resultados foram divergentes. 2. A prevalência do CFH irregular foi 38,1% no grupo de menor risco (mulheres brancas com maior renda e maior escolaridade), seguido por 47,5% no grupo com uma categoria de risco, 57,9% com duas categorias de risco, 67,6% com três categorias de risco e 74,4% no grupo de maior risco (homens negros com menor renda e menor escolaridade). O grupo de maior risco apresentou 4,36 (3,86-4,92) vezes maior chance de CFH irregular. Conclusão: Os resultados mostram que, no geral, foram encontradas associações significativas entre o espaço geográfico urbano e o CRF, porém não para o CRH; e associações significativas entre a intersecção de marcadores sociais da diferença e o CFH irregular. É possível perceber o caminho complexo a ser enfrentado para a promoção do CRFH na população brasileira, com a necessidade de políticas intersetoriais voltadas para redução de iniquidades.
Estratégias de Promoção da Saúde na Primeira Infância: Tecendo Redes Locais
Camila Sighinolfi de Moura, Mathias Roberto Loch
Data da defesa: 02/05/2022
Os primeiros anos de vida são como a fundação de uma casa e, ao investir na primeira infância, investimos na sociedade como um todo. Nesse sentido, essa pesquisa objetivou analisar intervenções, estratégias e recursos utilizados para a realização de ações de Promoção da Saúde na Primeira infância, à luz da intersetorialidade, em um território da Atenção Primária à Saúde (APS) em um município de grande porte do norte do Paraná. Foi realizada uma pesquisa de abordagem qualitativa exploratória na qual o percurso metodológico foi estruturado para que, cada momento da pesquisa, subsidiasse o melhor direcionamento para a realização do Grupo Focal. Dessa forma, utilizando-se de informações obtidas através de coleta de dados primários e secundários, a seleção dos atores sociais se deu a partir da delimitação do universo amostral, da seleção e caracterização do Território de estudo e, proveniente dessa análise foram selecionados os atores sociais que mantinham vínculos mais expressivos com o território. Assim, o grupo focal foi realizado com oito atores sociais da rede local e analisado à luz de Bardin (2011). O material coletado foi organizado a partir das falas dos participantes que compartilharam suas vivências e experiências e, derivadas de sua análise, emergiram quatro categorias: 1) Demanda “mais Pititiquinha” e a situação de saúde na primeira infância: da clínica ao social; 2) PueriCULTURA: Ritalina para Todo Mundo 3) Rede de Nó(s): criando laços intersetoriais e 4) MultiplicAÇÃO: estratégias locais de promoção da saúde na primeira infância. O conjunto de ideias centrais fez vir à tona a visão de uma Primeira Infância demarcada por barreiras relacionadas ao aumento das demandas de ordem sociais e clínicas; a eclosão de transtornos “psiquiátricos”; as repercussões das tecnologias e mídias digitais nas relações humanas; as dificuldades da rede para lidar com os pais na construção da parentalidade e no desenvolvimento infantil, principalmente diante do modelo biomédico e da lacuna de formação, da sobrecarga e do sucateamento do trabalho; dos recursos insuficientes e, da persistência mal sucedida de articulação com os conselhos e participação popular, dificultando iniciativas intersetoriais. Frente a essas adversidades, a pesquisa identificou dispositivos potencializadores de Saúde para fomentar o trabalho intersetorial e a realização de ações de Promoção da Saúde na Primeira Infância demonstradas por esforços incansáveis, coletivos e individuais, de forma intra e intersetorial, que foram desde uma sequência de encaminhamentos médicos, avaliações, ações clínico-assistenciais, vacinas, até ações lúdicas na puericultura, projetos de construção de hortas e compostagem e a proposição de grupos familiares intergeracionais na Educação, na Saúde, e na Assistência Social. As estratégias ratificam a importância do estabelecimento de redes locais de cogestão e a potência da Promoção da Saúde na Primeira Infância no enfrentamento dos Determinantes Sociais da Saúde.