FRAGILIDADE EM PESSOAS VIVENDO COM HIV COM 50 ANOS OU MAIS
Susana Lilian Wiechmann, Marcos Aparecido Sarria Cabrera
Data da defesa: 04/07/2023
Pessoas vivendo com HIV (PVHIV) estão envelhecendo e sua expectativa de vida tem se aproximado daquela observada na população geral. Entretanto, PVHIV costumam ser mais precocemente acometidas por condições relacionadas à idade do que as não infectadas pelo HIV. A fragilidade, síndrome geriátrica caracterizada por um estado de vulnerabilidade a eventos estressores e associada a desfechos adversos como quedas, internações e óbito, pode ser mais prevalente e precoce nas PVHIV do que na população geral. A maioria dos estudos sobre fragilidade e HIV é proveniente de países desenvolvidos. No entanto, o aprofundamento sobre esse tema é igualmente necessário nos países em desenvolvimento, para auxiliar na elaboração de estratégias para o manejo dessa importante condição pelos serviços públicos de saúde. Nesse sentido, o objetivo deste estudo foi analisar a prevalência e os fatores associados à fragilidade em PVHIV com 50 anos ou mais atendidos nos serviços públicos de atenção especializada em HIV/Aids do Município de Londrina- PR. Trata-se de um estudo transversal, realizado por meio de entrevista pessoal e de avaliação clínica e do prontuário de 670 PVHIV em uso de terapia antirretroviral (TARV). A coleta de dados ocorreu entre novembro de 2019 e março de 2020 e setembro de 2020 e novembro de 2021. A variável dependente correspondeu à fragilidade, avaliada por meio do fenótipo de fragilidade de Fried. As variáveis independentes incluíram: características sociodemográficas, hábitos de vida, variáveis clínicas e as relacionadas ao HIV e à TARV. Estatística descritiva foi utilizada para caracterizar a população, segundo o fenótipo de fragilidade, em robusta, pré-frágil e frágil. Variáveis independentes que se mostraram significativamente associadas com a presença de pré-fragilidade e fragilidade na análise bivariada foram incluídas em modelos de regressão logística multinomial. Do total de indivíduos avaliados, 91 (13,6%) foram considerados frágeis, 340 (50,7%) pré-frágeis e 239 (35,7%) robustos. A prevalência de fragilidade e pré-fragilidade foi maior nas mulheres (16,2% e 56,2%, respectivamente) do que nos homens (11,5% e 46,4%, respectivamente). Multimorbidade, depressão, queixas cognitivas subjetivas e pontuação do Mini Exame do Estado Mental (MEEM) associaram-se (p≤0,05) à fragilidade em ambos os gêneros. Enquanto tabagismo (OR=3,66; IC95%: 1,58- 8,48) e histórico de baixa adesão à TARV (OR=3,10; IC95%: 1,33-7,23) estiveram associados à fragilidade em homens, depressão (OR=3,39; IC95%: 1,36-8,44) e ausência de dentição funcional (OR=3,77; IC95%: 1,36-10,43) associaram-se à fragilidade em mulheres. Baixa atividade física foi o critério mais prevalente (50,9%), seguido de exaustão (28,1%), fraqueza (24,0%), perda de peso não intencional (6,6%) e lentidão de marcha (6,3%). Exaustão, lentidão de marcha e baixa atividade física foram mais prevalentes entre as mulheres (p≤0,05). Fraqueza, lentidão de marcha e baixa atividade física foram mais prevalentes nos indivíduos com ≥ 60 anos (p≤0,05). Todos os critérios, exceto a perda de peso, foram mais prevalentes entre indivíduos com menor escolaridade e todos eles foram mais prevalentes nos indivíduos de nível socioeconômico mais baixo (p≤0,05). Este estudo acrescenta queixas cognitivas autorreferidas como um potencial preditor de fragilidade em ambos os gêneros, além de apoiar o conhecido efeito deletério da multimorbidade na fragilidade em PVHIV. Sugere, ainda, que outros possíveis preditores, como depressão, estado de saúde bucal e adesão à TARV, podem ser específicos de gênero. Baixa atividade física foi o componente mais prevalente nas PVHIV pré- frágeis ou frágeis. Medidas direcionadas a esse critério podem resultar em melhora da fragilidade dessa população. A prevalência e a distribuição dos componentes do fenótipo da fragilidade podem variar entre homens e mulheres vivendo com HIV e tais diferenças devem ser consideradas na abordagem dessa população.
Pessoas vivendo com HIV/aids: vivências do tratamento anti-retroviral
Gisele dos Santos Carvalho, Regina Melchior
Data da defesa: 02/07/2008
O tratamento anti-retroviral atual tornou a aids uma doença crônica. Apesar desta conquista, a adesão à terapia anti-retroviral ainda sofre influência de vários fatores, que devem ser analisados para o desenvolvimento de novas estratégias de adesão e para o aprimoramento daquelas já existentes. Este estudo teve por objetivo compreender a vivência das pessoas infectadas pelo HIV com o tratamento antiretroviral. Foram realizadas entrevistas individuais semi-estruturadas com dez usuários de um centro de doenças infecciosas em uma cidade de médio porte do Paraná. Os discursos, após serem transcritos, foram analisados pela análise de conteúdo proposta por Bardin. Os resultados foram apresentados em quatro categorias: Descobrir-se HIV positivo, “E agora?” – Vivendo e convivendo com o HIV, Interação com o tratamento anti-retroviral e Estratégias de adesão ao tratamento. A primeira categoria descreve como se deu a descoberta do vírus e quais sentimentos estiveram envolvidos com este momento. Na segunda categoria, desvela-se a relação da pessoa infectada pelo HIV com o próprio vírus e com as pessoas de seu cotidiano. A categoria Interação com o tratamento anti-retroviral incorpora as experiências com as medicações, no início e no decorrer do tratamento, e o papel do serviço de saúde diante as dificuldades vivenciadas pelas pessoas infectadas pelo vírus e quanto à adesão à terapia. A última categoria traz as estratégias desenvolvidas pelos entrevistados que ajudam a aderir ao tratamento. Concluiu-se que, apesar da diminuição do número de doses e comprimidos – em comparação com os esquemas terapêuticos anteriores – ter minimizado em muito as dificuldades relacionadas à tomada da medicação, a adesão aos anti-retrovirais ainda representa a superação de obstáculos relacionados aos medicamentos e à convivência com o HIV. As estratégias para aderir ao tratamento levantadas pelas pessoas que fazem uso das medicações podem fornecer aos profissionais de saúde meios para auxiliar outros pacientes a adaptarem o tratamento ao seu estilo de vida. O investimento do poder público em estratégias de intervenção tem resultado em melhoras na adesão. O fortalecimento da relação entre os profissionais de saúde e as pessoas que vivem com o HIV constitui outro ponto decisivo na adesão ao tratamento.