Teses e Dissertações
Palavra-chave: Hemovigilância
Hemovigilância: Eventos transfusionais adversos antes e após implantação de um Comitê Transfusional Hospitalar
Mariza Saito, Regina Kazue Tanno de Souza
Data da defesa: 30/08/2010
Os eventos adversos associados ao uso do sangue podem ocorrer mesmo que o sangue e
seus hemocomponentes sejam adequadamente coletados, processados, indicados e
preparados. A hemovigilância é uma ferramenta da segurança transfusional que visa reduzir
os riscos relacionados à transfusão sanguínea e o monitoramento do uso racional do
sangue, que no ambiente hospitalar cabe ao Comitê Transfusional Hospitalar (CTH). Tratase de um estudo avaliativo, tipo antes e após, realizado com o objetivo de analisar as
reações transfusionais notificadas antes e após implantação do CTH no Hemocentro
Regional / Hospital Universitário da Universidade Estadual de Londrina, Paraná. Foram
utilizados como fontes de dados os relatórios mensais de transfusões sanguíneas, gerados
pelo Sistema Automatizado de Informações do Hospital Universitário (SADIHU) no
Hemocentro e as fichas de notificação das reações transfusionais ao Sistema de
Notificações da Vigilância Sanitária (NOTIVISA). Foram caracterizadas as transfusões
sanguíneas e seus eventos adversos. Posteriormente, as diferenças nas taxas de incidência
das reações transfusionais (18 meses antes e 18 meses após implantação do CTH) foram
comparadas. Verificou-se que o número de transfusões reduziu em 9,0% e o de reações
transfusionais em 47,1%, no período após implantação do CTH. Não foram registradas
transfusões autólogas. O concentrado de hemácias (CH) e seus produtos (CH Filtrado e CH
Lavado) foram os mais utilizados (63%), com incremento no uso de CH Filtrado (8,7% para
17,9%) e decréscimo do uso de plasma (22,7% para 17,6%) no período pós-CTH. Os
setores onde mais ocorreram transfusões sanguíneas foram aqueles que receberam
pacientes de maior complexidade e a maioria dos receptores foi do sexo masculino (57,3%).
Quanto às reações, entre os hemocomponentes envolvidos, o CH foi responsável pela
grande maioria das reações (74,4%), sendo as reações febris não hemolíticas e as reações
alérgicas as mais frequentes (97%). As reações predominaram em receptores do sexo
feminino (55,6%) e mulheres na faixa etária acima de 60 anos. Quanto à classificação pela
tipagem sanguínea, de acordo com o fenótipo ABO/Rh(D), as reações transfusionais se
distribuíram de acordo com a frequência fenotípica da população geral. 68,4% dos pacientes
que apresentaram reação tinham histórico de transfusão anterior e 91,7% das reações
foram caracterizadas como leve. Apenas um evento foi considerado grave, a reação
hemolítica aguda por incompatibilidade ABO (0,8%). Nenhum óbito por transfusão foi
registrado. A taxa de incidência dos eventos transfusionais adversos foi significativamente
menor no período pós-implantação do CTH (RR: 0,58 IC 95%: 0,41-0,83). Com relação ao
tipo de reação, a taxa de incidência de reação febril não hemolítica foi significativamente
menor no período pós-CTH (RR: 0,55 IC 95%: 0,35-0,86). Embora as taxas de incidência
tenham sido menores, para as reações alérgicas e outros tipos de reações, as diferenças
não foram significativas. Observou-se redução significativa da taxa de incidência das
reações no sexo masculino, porém o risco de ocorrência de reação foi mais elevado entre as
mulheres, quando comparado entre os sexos. Os resultados obtidos reforçam a importância
do CTH, no contexto da hemovigilância, na implementação de estratégias que busquem o
uso racional do sangue, com o decréscimo das reações, como também o estímulo às
notificações de todas as reações transfusionais, preservando o caráter sigiloso, voluntário e
não punitivo do sistema de hemovigilância brasileiro.