Relação indivíduo-corpo na obesidade: análise sob o olhar de Merleau-Ponty
Flávia Maria Araújo, Mara Lúcia Garanhanhi
Data da defesa: 25/02/2016
A obesidade é uma questão de saúde pública no mundo. É um fenômeno que gera complicações, tanto em nível coletivo como individual. A vivência do fenômeno “ser obeso” vem acompanhada de dificuldades nas atividades cotidianas e sentimentos como ansiedade, culpa, tristeza etc. É considerada fator de risco para diabetes mellitus, hipertensão, câncer, entre outras. Tem uma complexa trama de fatores como etiologia, variando entre fatores: genéticos, estilo de vida, questões psíquicas, sociais, culturais e econômicas, além de impactar a forma corporal. A respeito da temática corpo, temos a fenomenologia de Maurice Merleau-Ponty que coloca o corpo em um papel central. Para ele, por meio do corpo o indivíduo existe e se coloca no mundo, com o corpo ele tem sensações e percepções acerca de si mesmo e do mundo. Não é simplesmente o corpo biológico, tem mais de uma expressão, carrega significados e valores individuais e culturais. Cada pessoa vive e sente seu corpo a sua maneira, formando assim seu “corpo vivido”, também agrupa valores e significados no corpo, constituindo assim seu “corpo próprio”. Refletindo sobre a fenomenologia de Merleau-Ponty e obesidade, interrogamos: Qual é o lugar que pessoas obesas dão a seu corpo? Como se relacionam com ele? Assim, o objetivo desta pesquisa foi compreender como indivíduos obesos se relacionam com o seu próprio corpo. Realizada pesquisa qualitativa, analítica e reflexiva, de abordagem fenomenológica. Fizemos entrevistas com cinco mulheres e sete homens, obesos de grau I e II, provenientes do projeto VigiCardio, desenvolvido dentro do Programa de PósGraduação em Saúde Coletiva da UEL. Realizamos análise de discurso, individualmente e, depois, coletivamente. Construímos três categorias: 1- Corpo obeso como algo não refletido: aborda o momento em que as pessoas não refletem sobre o próprio corpo e não acompanham as mudanças que as tornaram obesas. Foi perpassado por sentimentos como invulnerabilidade, ansiedade e revolta. 2- Corpo obeso como corpo obeso: mostra o momento em que a consciência se volta ao corpo, e as pessoas passam a viver como obesas. Revelou sentimentos como vergonha, tristeza e desânimo. 3- Corpo obeso como potencialidade de cuidados: evidencia as diferentes maneiras de executar ações para a melhora das condições de seu corpo, e também a possibilidade de não fazê-lo. Apesar de muito sofrimento, as pessoas obesas tiveram experiências de superação no momento do cuidado, como controle de doenças associadas, ou pelo simples fato de continuar vivendo com o corpo que tem. Nossas reflexões finais apontam para: forma de vida atual desfavorece o cuidado com o corpo, há dificuldade de várias ordens para o cuidado, mesmo com dificuldades as pessoas continuam tentando cuidar-se e perder peso. Alterar a forma do corpo interfere na identidade, pois a obesidade está próxima a fatos marcantes que geram sofrimento. Para os profissionais de saúde, o desafio é oferecer tratamento sem desprezar a subjetividade das pessoas obesas.