O USO PROBLEMÁTICO DE INTERNET E A SUA RELAÇÃO COM TRANSTORNOS ALIMENTARES EM ESTUDANTES UNIVERSITÁRIOS
PATRÍCIA DE JESUS SOUZA , Camilo Molino Guidoni
Data da defesa: 13/08/2024
Introdução: A internet é necessária para vida cotidiana contemporânea. Porém a literatura científica traz evidências de que o uso excessivo de internet pode trazer prejuízos para a saúde. Entres os tipos de uso disfuncional de internet, o uso problemático de internet é considerado um tipo de dependência digital que pode trazer prejuízos para a saúde física e mental, e para o desempenho no trabalho e nos estudos. O uso problemático de internet está associado ao desenvolvimento de algumas enfermidades, como doenças psiquiátricas, tais como os transtornos alimentares. Objetivo: Investigar a relação do uso problemático de internet e de transtornos alimentares em estudantes universitários. Casuística e métodos: Foi realizado um estudo transversal e descritivo a partir da aplicação de um questionário online. A população de estudo foi composta pelos estudantes de graduação da Universidade Estadual de Londrina que participaram da primeira fase do Projeto GraduaUEL que foi um estudo transversal realizado no ano de 2019 com objetivo de estudar as condições de vida e saúde desses estudantes. A coleta dos dados foi realizada através de um questionário online enviado em 2023 para 2.565 alunos, destes 214 responderam e após aplicação dos critérios de exclusão, 74 alunos compuseram a amostra estudada. Para medir o uso problemático de internet foi utilizado a versão brasileira do instrumento “Questionário de Uso Problemático de Internet” ou “PIQUE-SF-9/UPI-9” e para a triagem da presença de transtornos alimentares foi utilizada a versão brasileira para o questionário “SCOOF”. Foram coletadas variáveis sociodemográficas e do estado de saúde dos estudantes além do tempo de uso de rede social. Para classificação dos estudantes que apresentaram uso problemático de internet foi realizado o cálculo de percentil. Os alunos que obtiveram pontuação acima do percentil 75 (pontuações maiores que 24 pontos na escala “PIQUE-SF-9/UPI-9”) foram considerados usuários problemáticos de internet. Para verificar a associação entre o desfecho e as variáveis independentes foi feito o cálculo da medida de razão de prevalência (RP), através da regressão de Poisson com variância robusta. Resultados: O percentual de estudantes com o uso problemático de internet foi de 20,3%. Quanto a presença de transtorno alimentar, 33,8% alunos apresentaram triagem positiva. O uso problemático de internet associou-se positivamente com a presença de transtornos alimentares na população estudada (RP: 2,46; IC95%: 1,31 – 4,59; p = 0,005). Outra variável que apresentou associação com transtornos alimentares foi ter sentido vergonha do corpo frequentemente/muito frequentemente ou sempre (RP: 6,33; IC95%: 1,63 – 24,51; p = 0,008). Conclusão: Os resultados encontrados apontam para o uso problemático de internet como um fator importante que pode influenciar na construção de hábitos alimentares, e consequentemente, prejudicar o desenvolvimento de uma relação mais saudável com o corpo e com a comida na população jovem adulta.
(In)Satisfação com a imagem corporal e fatores associados em estudantes universitários
Adrieli de Fátima Massaro Levorato, Edmarlon Girotto
Data da defesa: 22/11/2021
Introdução: Sabe-se que adultos jovens estão mais susceptíveis à desenvolverem maior preocupação com a forma corporal, e dentre este grupo destacam-se os estudantes universitários. Assim, torna-se relevante estudar os fatores associados à preocupação com a imagem corporal entre estudantes universitários, assim como as possíveis consequências que a distorção de imagem pode promover na vida destes estudantes. Objetivos: A presente tese tem como objetivo analisar os fatores que influenciam a preocupação com a forma corporal segundo o sexo (artigo 1), assim como as consequências para a saúde (artigo 2) entre estudantes de graduação de uma universidade pública paranaense. Métodos: Os estudos que compõem esta tese apresentam delineamento transversal e fazem parte do projeto de pesquisa “GraduaUEL -Análise da Saúde e Hábitos de Vida dos Estudantes de Graduação da UEL”. Poderiam participar do estudo alunos com matrícula ativa e com idade igual ou superior a 18 anos. O instrumento de pesquisa foi constituído por um questionário semiestruturado, disponibilizado de forma online aos participantes. Para o presente estudo, foram utilizados dados de caracterização acadêmica e sociodemográfica, índice de massa corporal (IMC), prática de atividade física, consumo de café, satisfação com desempenho acadêmico e com o curso, satisfação corporal (Body Shape Questionnaire), sintomas depressivos, qualidade do sono e utilização de medicamentos para emagrecer. A coleta de dados ocorreu entre os meses de abril e junho de 2019, perfazendo 60 dias corridos. Para a análise de dados, foi aplicada a regressão logística bruta e ajustada, com cálculo da Odds Ratio (OR). Foram consideradas significativas associações com p<0,05.Resultados: Na análise ajustada do estudo 1, os fatores que se mostraram associados à preocupação moderada ou alta com a forma corporal entre as mulheres foram: menor idade, maior IMC, ter companheiro(a), homossexualidade, estudantes de período integral e estudantes que possuíam algum grau de insatisfação com o curso. No caso dos estudantes do sexo masculino, mostraramse associados à preocupação moderada ou alta com a forma corporal a menor idade, maior IMC, homossexualidade ou bissexualidade, e cursar graduação fora da área da saúde. Para o artigo 2, os principais achados apontam que os estudantes universitários com preocupação moderada ou alta com a forma corporal apresentam maiores chances de má qualidade de sono (OR=2,39; IC95% 2,00-2,86), de indicativo de depressão (OR= 3,97; IC95% 3,31-4,76) e de utilização de medicamentos para emagrecer (OR= 6,47; IC95% 4,76-8,80), em relação àqueles com muito baixa ou baixa preocupação com a forma corporal. Na estratificação por sexo não foram observadas diferenças quando comparadas às relações da população geral, exceto para a qualidade do sono, a qual perdeu significância estatística entre o sexo masculino. Conclusão: Os achados da presente tese identificaram que fatores sociodemográficos e acadêmicos mostraram-se associados à preocupação com a imagem corporal, e que esta tem relação com algumas consequências para a saúde, como a qualidade de sono, os sintomas depressivos e a utilização de medicamentos para emagrecer.
Violência contra estudantes universitários no ambiente acadêmico: uma análise por sexo
Elidiane Mattos Rickli, Selma Maffei de Andrade
Data da defesa: 26/05/2020
A violência acarreta grandes prejuízos para a sociedade, acometendo principalmente os mais jovens. Alguns grupos são mais vulneráveis a sofrer violência. Pessoas de raça/cor preta, parda ou indígena, com baixo poder socioeconômico, mulheres, jovens, não heterossexuais e com sobrepeso ou obesidade estão sob maior risco. Contudo, é possível que as causas da violência sejam diferentes conforme o sexo. Diante disso, o presente estudo teve como objetivo analisar a violência ocorrida no ambiente acadêmico de acordo com o sexo de estudantes de graduação da Universidade Estadual de Londrina. Foram analisadas as violências psicológica, física e sexual, ocorridas no ambiente acadêmico, incluindo eventos acadêmicos e festivos, nos 12 meses anteriores à pesquisa. Para análise de associações, focou-se na violência psicológica (VP), por sexo. Na investigação sobre VP foram consideradas situações como humilhação, sentir-se excluído, ameaças, discriminação por raça/cor ou orientação sexual. A análise foi feita segundo variáveis sociodemográficas, acadêmicas e de saúde, além do local da agressão e agressor. A coleta de dados ocorreu entre abril e junho de 2019 por meio de questionário online. Os dados foram armazenados diariamente em arquivo Excel. A análise descritiva foi realizada por meio de frequências absolutas e relativas. Para verificar as associações, para cada sexo, utilizou-se teste qui-quadrado de Pearson, com nível de significância de 0,05. A regressão de Poisson com variância robusta foi usada para análises ajustadas, incluindo nos modelos as variáveis com p-valor < 0,20 nas análises bivariadas. A maior parte dos estudantes tinha idade entre 18 a 21 anos (60,5%), era do sexo feminino (68,6%) e de raça/cor branca (69,8%). As prevalências de violência psicológica, física e sexual foram, respectivamente, de 43,8%, 1,0% e 9,4%. A violência física foi proporcionalmente mais relatada por estudantes do sexo masculino, enquanto as violências psicológica e sexual pelo sexo feminino. O local mais frequente de ocorrência de VP foi a sala de aula, e, no caso das violências física e sexual, os eventos festivos. O principal agressor foi outro estudante da universidade, independente da natureza da violência. Após ajustes, observou-se maior frequência de VP contra estudantes de ambos os sexos que se declararam não heterossexuais. Entre as do sexo feminino, a frequência de VP foi maior entre as mais jovens (RP na faixa de 18 a 21 anos=1,25; IC95% 1,01-1,54 e RP de 22 a 25 anos=1,32; IC95% 1,06-1,64) em comparação à faixa de 26 anos ou mais, e entre as que consumiam álcool semanalmente/diariamente (RP= 1,29; IC95% 1,01-1,66). Entre os do sexo masculino, o ingresso na Universidade pelo sistema de cotas (RP=1,27; IC95% 1,01- 1,60) e ser da raça/cor preta/parda/indígena (RP=1,19; IC95% 1,01-1,39) associaramse à VP. Este estudo confirma que alguns estudantes são mais vulneráveis à violência, com destaque para a orientação sexual, em ambos os sexos, e condições socioeconômicas, no sexo masculino. Medidas de combate ao preconceito e discriminação precisam ser ampliadas no ambiente acadêmico a fim de reduzir a violência e suas consequências.