Teses e Dissertações
Palavra-chave: Esgotamento Profissional
Violência e burnout em professores da educação básica de Londrina
Francine Nesello Melanda, Selma Maffei de Andrade
Data da defesa: 12/03/2018
O objetivo deste estudo foi analisar se a exposição prévia à violência no
ambiente escolar aumenta o risco de os professores sofrerem novamente
violência após dois anos e identificar relações transversais e longitudinais entre
violência psicológica e burnout. Trata-se de um estudo de coorte com dois anos
de seguimento realizado com 430 professores do ensino fundamental e médio
da rede pública de Londrina, Paraná. As informações foram obtidas em 2012-
2013 (T1) e 2014-2015 (T2) por entrevista face a face realizada por
entrevistadores treinados e preenchimento, pelo próprio professor, de um
questionário. As formas de violências investigadas foram violências
psicológicas (relatos de insultos de alunos, humilhações ou constrangimentos
por colegas ou superiores e ameaças recebidas) e violências físicas, nos 12
meses anteriores à pesquisa. Para mensurar burnout, utilizou-se o Maslach
Burnout Inventory, sendo consideradas apenas as dimensões de exaustão
emocional e despersonalização. Características sociodemográficas,
relacionadas ao trabalho e à saúde foram incluídas como covariáveis. Para a
análise da recorrência de violência foram utilizados o teste de McNemar e a
regressão de Poisson com variância robusta, com apresentação do risco
relativo (RR), intervalo de confiança de 95% (IC95%) e valor de p,
considerando nível de significância de 5%. A relação entre violência psicológica
e burnout foi verificada por modelos de equações estruturais. Violência
psicológica, exaustão emocional e despersonalização foram consideradas
variáveis latentes. Após dois anos, observou-se redução de 65,4% (T1) para
56,9% (T2) de violência reportada por professores (p=0,003), porém devido
apenas à diminuição da frequência de relatos de humilhações ou
constrangimentos por colegas ou superiores. Ter sofrido uma determinada
forma de violência aumentou em até três vezes o risco de sofrê-la novamente
em dois anos. Além disso, professores que relataram três ou quatro formas de
violências em T1 apresentaram RR de 2,23 (IC95%1,70-2,93) de sofrer
qualquer violência em T2, em comparação àqueles que não sofreram qualquer
forma de violência em T1. Não foram encontradas evidências de que estar
exposto à violência psicológica em T1 aumenta o risco de sofrer violência física
em T2 ou que violência física em T1 aumenta o risco de violência psicológica
em T2. Violência psicológica apresentou efeito direto sobre exaustão emocional
e despersonalização, quando analisados transversalmente. Longitudinalmente,
não foram observados efeitos diretos significativos. No entanto, observou-se
um efeito indireto da violência psicológica em T1 sobre ambas as dimensões
de burnout em T2. Este estudo mostrou que a violência contra professores,
exceto a referente a humilhações ou constrangimentos por colegas ou
superiores, é recorrente e que tem efeito sobre o burnout. Tendo em vista o
impacto destrutivo da violência e do burnout no ambiente de trabalho, ressalta-se
a importância da identificação da ocorrência desses eventos no ambiente escolar e
no estabelecimento de políticas de prevenção e gerenciamento da
violência e do esgotamento no trabalho.
Impacto do burnout na saúde de professores da rede pública do Paraná
Denise Albieri Jodas Salvagioni, Selma Maffei de Andrade
Data da defesa: 04/12/2017
Burnout é um fenômeno complexo e multidimensional resultante da interação entre
aspectos individuais e ambiente de trabalho. É a resposta ao estresse crônico do
trabalho definida por três dimensões: exaustão emocional, despersonalização e
reduzida realização profissional. Objetivo: Analisar se professores com maior nível de
burnout estão submetidos a maior risco de acidentes de trânsito, depressão e
afastamento da função docente por problemas de saúde. Método: Trata-se de estudo
de coorte prospectiva com dois anos de seguimento. Foram investigados 509
professores do ensino básico estadual do Paraná. Utilizou-se o Maslach Burnout
Inventory. Altos níveis de exaustão emocional e despersonalização (valores acima do
percentil 75) e baixos níveis de realização profissional (valores abaixo do percentil 25)
foram estabelecidos. Os acidentes de trânsito e os motivos de afastamento da função
docente foram autorreferidos pelos entrevistados. Considerou-se depressão o relato de
diagnóstico médico pelo professor. Usou-se Regressão de Poisson com variância
robusta para cálculo do risco relativo. Resultados: A incidência de acidentes de trânsito
entre professores foi de 11%. Após ajustes, a exaustão emocional e a reduzida
realização profissional não influenciaram na incidência de acidente de trânsito. No
entanto, despersonalização foi preditora desse desfecho – RR=1,73 (IC 95%: 1,05-2,86,
p=0,03). A incidência de depressão foi de 38 casos (9%). Exaustão emocional e
despersonalização influenciaram novos casos de depressão, após ajustes por sexo e
idade, mas perderam significância estatística quando variáveis relacionadas ao
ambiente de trabalho e às condições de saúde foram adicionadas ao modelo. A
incidência de afastamento da função docente por problemas de saúde foi de 31 casos
(6%). Desses, 13 estavam de licença médica (41,9%), 11 foram readaptados (35,5%),
um foi aposentado compulsoriamente (3,2%) e seis abandonaram definitivamente a
docência (19,4%). Após ajustes, a exaustão emocional não influenciou no afastamento
da função docente. No entanto, despersonalização foi preditora desse desfecho –
RR=2,62 (IC95%: 1,30-5,25, p<0,01). Baixos níveis de realização profissional
apresentaram relação com o afastamento da função docente por problemas de saúde,
porém sem significância estatística – RR=1,90 (IC95%: 0,93-3,87, p=0,08).
Conclusões: Este estudo encontrou que (1) despersonalização é fator de risco para
acidentes de trânsito, com risco 73% maior de professores em burnout sofrerem o
desfecho, independente de sexo, idade e maior exposição ao trânsito; (2) nenhuma
dimensão de burnout foi associada à incidência de depressão, após ajustes e, (3)
despersonalização e reduzida realização profissional mostraram-se indicadoras de
maior risco de afastamento da função docente por problemas de saúde.