Violência escolar contra professores da Rede Estadual de Ensino de Londrina: caracterização e fatores associados
Francine Nesello, Selma Maffei de Andrade
Data da defesa: 30/04/2014
O objetivo deste estudo foi caracterizar manifestações de violência escolar contra professores e verificar fatores associados a esses eventos. Trata-se de um estudo epidemiológico do tipo transversal. A população de estudo foi composta por 789 professores das 20 maiores escolas da Rede Estadual de Ensino do município de Londrina, que atuavam no ensino fundamental ou médio por pelo menos um ano. Foram obtidas informações por entrevistas e por um questionário autorrespondido, no período de agosto de 2012 a junho de 2013. Os dados foram duplamente digitados em banco criado no programa Epi Info versão 3.5.4 e tabulados usando o programa Statistical Package for the Social Sciences, versão 19.0. A análise descritiva foi realizada por meio de frequências absolutas e relativas, medidas de tendência central e de dispersão. Realizou-se regressão de Poisson pelo método forward, com cálculos de razão de prevalência e intervalo de confiança de 95% para cada um dos grupos de violência relatada (psicológica, física e sexual), tendo como variáveis independentes características sociodemográficas e do trabalho. Dos professores entrevistados, 71,1% relataram ter sofrido algum tipo de violência na escola nos 12 meses anteriores à pesquisa. A forma de violência mais relatada foram insultos e gozações de alunos (55,4%), seguidos de ameaças (21,4%) e exposição a situações humilhantes ou constrangedoras por colegas ou superiores (17,5%). As formas menos mencionadas foram agressões (ocorridas ou tentativas) físicas (7,9%), com armas brancas (0,8%) ou de fogo (0,5%). Entre os grupos de violência, a psicológica foi a mais frequentemente reportada (64,1%) e associou-se, após ajustes, à total ou parcial falta de realização profissional e ao relacionamento ruim ou regular com superiores e alunos. O grupo de violência física (8,4%) apresentou associação com as variáveis: lecionar para o nível fundamental, ter contrato do tipo não estatutário com o Estado e já ter sofrido violência fora da escola. Por fim, a violência sexual (14,1%) associou-se às características ser do sexo masculino, mais jovem (< 35 anos), não ter companheiro e ter carga horária elevada com alunos (≥ 32 horas). Os fatores associados à violência psicológica e física estão mais relacionados às características do trabalho, enquanto que aqueles associados à violência sexual, mais às características sociodemográficas. Essas características podem ser expressão das condições concretas de trabalho e de vida dos professores estudados e revelam um perfil de docentes mais vulneráveis à violência, que muitas vezes extrapola o ambiente escolar.
Violência e burnout em professores da educação básica de Londrina
Francine Nesello Melanda, Selma Maffei de Andrade
Data da defesa: 12/03/2018
O objetivo deste estudo foi analisar se a exposição prévia à violência no ambiente escolar aumenta o risco de os professores sofrerem novamente violência após dois anos e identificar relações transversais e longitudinais entre violência psicológica e burnout. Trata-se de um estudo de coorte com dois anos de seguimento realizado com 430 professores do ensino fundamental e médio da rede pública de Londrina, Paraná. As informações foram obtidas em 2012- 2013 (T1) e 2014-2015 (T2) por entrevista face a face realizada por entrevistadores treinados e preenchimento, pelo próprio professor, de um questionário. As formas de violências investigadas foram violências psicológicas (relatos de insultos de alunos, humilhações ou constrangimentos por colegas ou superiores e ameaças recebidas) e violências físicas, nos 12 meses anteriores à pesquisa. Para mensurar burnout, utilizou-se o Maslach Burnout Inventory, sendo consideradas apenas as dimensões de exaustão emocional e despersonalização. Características sociodemográficas, relacionadas ao trabalho e à saúde foram incluídas como covariáveis. Para a análise da recorrência de violência foram utilizados o teste de McNemar e a regressão de Poisson com variância robusta, com apresentação do risco relativo (RR), intervalo de confiança de 95% (IC95%) e valor de p, considerando nível de significância de 5%. A relação entre violência psicológica e burnout foi verificada por modelos de equações estruturais. Violência psicológica, exaustão emocional e despersonalização foram consideradas variáveis latentes. Após dois anos, observou-se redução de 65,4% (T1) para 56,9% (T2) de violência reportada por professores (p=0,003), porém devido apenas à diminuição da frequência de relatos de humilhações ou constrangimentos por colegas ou superiores. Ter sofrido uma determinada forma de violência aumentou em até três vezes o risco de sofrê-la novamente em dois anos. Além disso, professores que relataram três ou quatro formas de violências em T1 apresentaram RR de 2,23 (IC95%1,70-2,93) de sofrer qualquer violência em T2, em comparação àqueles que não sofreram qualquer forma de violência em T1. Não foram encontradas evidências de que estar exposto à violência psicológica em T1 aumenta o risco de sofrer violência física em T2 ou que violência física em T1 aumenta o risco de violência psicológica em T2. Violência psicológica apresentou efeito direto sobre exaustão emocional e despersonalização, quando analisados transversalmente. Longitudinalmente, não foram observados efeitos diretos significativos. No entanto, observou-se um efeito indireto da violência psicológica em T1 sobre ambas as dimensões de burnout em T2. Este estudo mostrou que a violência contra professores, exceto a referente a humilhações ou constrangimentos por colegas ou superiores, é recorrente e que tem efeito sobre o burnout. Tendo em vista o impacto destrutivo da violência e do burnout no ambiente de trabalho, ressalta-se a importância da identificação da ocorrência desses eventos no ambiente escolar e no estabelecimento de políticas de prevenção e gerenciamento da violência e do esgotamento no trabalho.