Teses e Dissertações
Palavra-chave: Emendas Parlamentares
AS EMENDAS PARLAMENTARES FEDERAIS NO FINANCIAMENTO DA ATENÇÃO PRIMÁRIA À SAÚDE: REPERCUSSÕES PARA A GESTÃO MUNICIPAL DO SUS
KARLA GIOVANA BAVARESCO ULINSKI, Brigida Gimenez Carvalho
Data da defesa: 31/03/2025
Desde a impositividade do orçamento federal, iniciada em 2014, tornou-se obrigatória
a execução de parte das emendas parlamentares (EPs), e definiram-se percentuais
mínimos a serem gastos em ações e serviços públicos de saúde com esses recursos.
Com isso, essa fonte de financiamento passou a ocupar lugar de destaque nas
despesas do Ministério da Saúde (MS), especialmente na modalidade de
transferências aos municípios. Tais fatos, aliados a um contexto de austeridade fiscal,
condicionaram as EPs como uma importante estratégia para o custeio do Sistema
Único de Saúde (SUS) e da Atenção Primária à Saúde (APS) no âmbito local. Frente
a esse cenário, o objetivo principal desta tese foi analisar os efeitos da alocação de
recursos federais por EPs para o financiamento da atenção primária e para a gestão
financeira do SUS no âmbito municipal. O método envolveu duas etapas: uma, de
abrangência nacional e caráter quantitativo, consistiu na análise de dados secundários
sobre a execução das despesas em saúde do MS com foco nas transferências
federais por EPs aos municípios. Nessa etapa, o efeito do repasse das EPs sobre o
financiamento municipal foi verificado de forma estratificada por porte populacional
dos municípios, por meio de modelos de equações de estimativas generalizadas. A
outra etapa, de caráter qualitativo, compreendeu um estudo de caso, de cunho
exploratório, desenvolvido em nove municípios da Macrorregião Norte do Paraná, por
meio de entrevistas com equipes gestoras, realizadas entre julho e setembro de 2022,
cujos resultados foram submetidos à análise hermenêutica crítica. A análise dos
resultados apontou que o repasse de EPs para a APS apresentou: grande
discrepância nos valores per capita entre os municípios de diferentes portes
populacionais; inexistência de correlação com a despesa municipal em ASPS
naqueles com mais de 10.000 habitantes; e associação inversa com a despesa em
atenção primária à saúde (p < 0,050) em todos os grupos avaliados. O estudo de caso
demonstrou que as EPs restringem a autonomia da gestão local do SUS,
comprometem o processo de planejamento e a execução orçamentária-financeira.
Conclui-se que as EPs não garantem maiores investimentos na APS no âmbito
municipal; mas sim, substituem fontes de investimento, permitindo que recursos próprios, anteriormente planejados para essa área, sejam destinados a outros fins. A
coexistência de fragilidades estruturais de gestão - predominantes em grande parte
dos municípios –, somada à escassez de recursos financeiros e à elevada demanda
assistencial, favorece a configuração de uma lógica impulsiva na execução das EPs,
em detrimento de ações planejadas e sustentáveis em áreas estruturantes da saúde,
como é o caso da APS.