O papel do professor no processo ensino-aprendizagem: percepção de professores e alunos de odontologia
Helen Cristina Lazzarin, Luiza Nakama
Data da defesa: 12/12/2005
Há uma necessidade de rever a qualidade das estratégias de ensino-aprendizagem utilizadas no ensino superior em decorrência das demandas da sociedade em mudança e da implantação das diretrizes curriculares nacionais. Dentro da estrutura político-institucional, sabe-se que a qualidade do graduando está diretamente relacionada ao corpo docente e a um adequado modelo pedagógico da universidade. Assim, a qualificação e a atualização permanente (tanto técnica quanto didático-pedagógica) do corpo docente são essenciais para a formação integral do cirurgião-dentista. Este trabalho teve por objetivo analisar a percepção de alunos e professores do curso de graduação em odontologia a respeito do papel do professor no processo ensino-aprendizagem. Adotou-se a abordagem qualitativa, utilizando-se da análise de conteúdo temática. A geração de dados se deu por meio de entrevista semi-estruturada com 12 professores e 10 alunos. O estudo revelou que o professor tem um papel fundamental no processo de ensino-aprendizagem, sendo considerado responsável pela transmissão do conhecimento, tanto na teoria quanto na prática. Revelou, ainda, que o ensino de graduação em odontologia pode ser compreendido como um sistema formador de profissionais liberais, onde se privilegia uma formação extremamente biologista e tecnicista de profissionais para o mercado de trabalho, atendendo somente as necessidades mais imediatas da população. Neste sistema de ensino predomina a prática pedagógica tradicional com ênfase na transmissão oral de conhecimentos, na maioria das vezes, ilustrada com projeção de slides e multimídia, realização de algumas atividades práticas, sendo o professor o centro maior das informações a serem aprendidas. Os entrevistados apontam a avaliação como elemento de pressão e instrumento de poder do professor sobre os alunos e cobrança do que foi transmitido, por meio de provas tradicionais e de avaliação prática. Para a maioria dos entrevistados, o aluno foi considerado o agente principal e responsável pelo seu processo de aprendizagem tendo o professor como facilitador e orientador do processo. Pôde-se constatar, ainda, que grande parte dos professores só teve formação didático-pedagógica nos cursos de mestrado e/ou doutorado e que, por serem cursos voltados à pesquisa, não capacitam adequadamente os docentes para o exercício do magistério. A maioria dos professores não possui formação específica em educação. A grande ênfase dada ao processo de ensino e o sistema de ensino de graduação em odontologia voltado à formação de profissionais liberais mostra a necessidade de mudanças na graduação do cirurgião-dentista para que se possa buscar uma formação generalista, humanista, crítica e reflexiva do estudante.
A Rede UNIDA e o Movimento de Mudança na Formação dos Profissionais de Saúde
Fernanda Barbieri, Marcio José de Almeida
Data da defesa: 03/04/2006
Este estudo teve como objetivo principal fazer um resgate histórico da REDE UNIDA, identificando suas principais estratégias para a mudança na formação dos profissionais de saúde no Brasil, no período de 1985 a 2004. Esta é uma pesquisa qualitativa, utilizando dados primários e secundários de informação para análise. Foi feito um levantamento dos documentos oficiais da Rede UNIDA: boletins informativos, revistas e outras publicações da mesma e entrevistas com participantes deste movimento. Aborda a trajetória do movimento desde a sua constituição em 1985 em uma reunião de coordenadores de projetos de integração docente-assistencial, na cidade de Belo Horizonte. Registra as inovações trazidas pelos projetos UNI no início da década de 90 e suas principais diferenças com os projetos de integração docente-assistencial. A percepção dos entrevistados num momento marcante na história da Rede - a união entre a Rede IDA e os Projetos UNI. Após uma análise das conjunturas político-sanitárias e educacionais na formação de profissionais de saúde, é realizado uma abordagem crítica estabelecendo relação das contribuições da Rede UNIDA neste cenário de construção e princípios do SUS, destacando um dos maiores exemplos de mudança: a proposta de diretrizes curriculares para as profissões da saúde. Assim, pretendeu-se conhecer os principais marcos na história da Rede UNIDA, que teve início num período de grandes discussões e mudanças na saúde brasileira, e hoje reúne pessoas e instituições de vários lugares do país em torno do movimento de mudança na formação dos profissionais de saúde, numa trajetória que completa 20 anos.
Integração ensino-serviço de saúde: uma compreensão por meio da fenomenologia heideggeriana
Lucimar Aparecida Britto Codato, Mara Lúcia Garanhani, Alberto Durán González
Data da defesa: 15/06/2015
Trata-se de estudo que buscou compreender os significados da integração ensinoserviço para a formação profissional em saúde, suas interfaces e o modo de 'ser-com-ooutro' em Unidades Básicas de Saúde (UBS). Pesquisa de natureza qualitativa, com abordagem fenomenológica hermenêutica, apoiada no referencial teórico filosófico de Martin Heidegger. Foi realizada com coordenadores de colegiados de cursos da área da saúde de uma universidade pública, com gestores municipais, estudantes, profissionais da rede de serviços e docentes que acompanham estudantes em atividades realizadas em UBS da região metropolitana de um município de grande porte do sul do Brasil. Os participantes foram selecionados intencionalmente, totalizando 33 entrevistados. Os resultados desvelaram que a aproximação entre o mundo ôntico do ensino e o do serviço de saúde favorece o alcance dos pressupostos das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN). Houve reconhecimento da complementaridade entre o mundo do ensino e o do trabalho, embora o entendimento que cabe mais a um mundo pensar e ao outro executar também esteve presente. A parceria entre o mundo do ensino com o do serviço de saúde foi reconhecida como importante para cuidado da população, a qual foi compreendida como beneficiária dessa relação. 'Ser-com-o-outro' na ocupação do espaço existencial compartilhado entre o ensino-serviço de saúde nas UBS mostrou-se permeado por modos próprios e impróprios de ser. Nele, desvelaram-se conflitos ligados à linguagem, mais precisamente na verbalização e na escuta. Também foi reconhecido como importante para a formação dos 'ser-aí' que coabitam este espaço existencial, a qual mostrou-se dependente da postura ativa, da curiosidade e da criatividade do estudante, do vínculo que o docente estabelece com o campo, da preocupação dos profissionais, da abertura, disposição e da compreensão de todos os 'ser-aí' que coexistem na UBS. A integração ensino-serviço de saúde revelou-se mais atrelada às posturas ativas de gestores e docentes da universidade, possivelmente por serem os mais dependentes dessa aproximação para o alcance de formação mais condizente com as orientações das DCN. A integração ensino-serviço de saúde acontece, porém num estágio que possibilita mais fortemente o 'ser-com' entre profissionais e estudantes e o 'ser-com' entre estudantes e a população. A presença tênue do 'ser-com-outro' envolvendo simultaneamente docentes, estudantes e profissionais demonstra que a integração ensino-serviço de saúde ainda está sendo construída, principalmente quando pensada em termos de trabalho realizado em conjunto. A ausência do 'ser-com-outro' envolvendo docente-docente foi percebida como limitação para trabalhos interdisciplinares neste espaço existencial. A integração ensino-serviço de saúde desvelou-se dependente das relações que ocorrem nos espaços micros de cada UBS, as quais foram percebidas como estruturantes e fundamentais para que esses espaços existenciais sejam criados e mantidos. Os diferentes modos de 'ser-com-outro' foram reconhecidos como facilitadores ou dificultadores dessa parceira. Os resultados apontam para reflexões acerca das oportunidades que ainda precisam ser alcançadas para operacionalizações, avaliações, planejamentos conjuntos e, consequentemente, para a adoção de práticas mais integrativas.