Teses e Dissertações
Palavra-chave: Dor crônica musculoesquelética
ASSOCIAÇÃO ENTRE PARÂMETROS DO SONO E ATIVIDADE FÍSICA, DOR CRÔNICA MUSCULOESQUELÉTICA E TRATAMENTOS NÃO FARMACOLÓGICOS DA FIBROMIALGIA
Mayara Cristina da Silva Santos, Arthur Eumann Mesas
Data da defesa: 29/04/2024
Introdução: Os problemas relacionados ao sono têm consequências para a
saúde individual e para os serviços de saúde. Estão potencialmente
relacionados com a etiologia e a cronificação da dor musculoesquelética e da
fibromialgia. A manutenção ou mudanças de certos comportamentos e
tratamentos não farmacológicos podem auxiliar na prevenção e controle
desses desfechos. No entanto, não está clara a direção da associação entre os
problemas relacionados com o sono e a dor crônica, assim como a influência
de tratamentos não farmacológicos da dor e as consequências na qualidade do
sono. Objetivo: Investigar a associação entre os parâmetros do sono e a
atividade física, a dor crônica musculoesquelética e os tratamentos não
farmacológicos para fibromialgia em adultos. Objetivos específicos: 1) Analisar
a associação entre a prática de atividade física no tempo livre (AFTL) e a
qualidade do sono em estudantes universitários; 2) Sintetizar a evidência
científica sobre as associações bidirecionais prospectivas entre problemas
relacionados com o sono e dor crônica musculoesquelética; e 3) Sistematizar a
evidência científica acerca dos efeitos de tratamentos não farmacológicos da
fibromialgia sobre parâmetros do sono. Métodos: Os objetivos específicos
foram contemplados na forma de três estudos, com resultados e discussões
abordados separadamente. O objetivo 1 foi contemplado na forma de um
estudo transversal da relação entre atividade física no tempo livre e qualidade
do sono. Um questionário online foi aplicado em estudantes de uma
universidade pública do sul do Brasil em 2019. Modelos estatísticos de
regressão logística e análise de covariância foram desenvolvidos e ajustados
por fatores de confusão. Para contemplar o objetivo 2, foi realizada uma
revisão sistemática com meta-análise de estudos de coorte disponíveis nas
bases PubMed, Scopus, Web of Science, PsycINFO e Cochrane Library desde
seu início até 19 de julho de 2022. As diretrizes da guia Meta-analysis Of
Observational Studies in Epidemiology foram rigorosamente seguidas. Por fim,
o objetivo 3 foi contemplado na forma de uma revisão sistemática de estudos
experimentais e quase-experimentais disponíveis nas bases PubMed, Scopus,
Web of Science, PsycINFO e Cochrane Library, desde seu início até 05 de
novembro de 2023. As recomendações do Preferred Reporting Items for
Systematic reviews and Meta-Analyses for Protocols foram fielmente
observadas. Resultados: Objetivo 1) Foram analisados 2.626 estudantes
universitários. Nas análises ajustadas, praticar AFTL de 4 a 7 vezes/semana
associou-se com menor probabilidade de má qualidade do sono (odds ratio, OR=0,71; intervalo de confiança, IC 95%=0,52–0,97) em comparação com não
praticar AFTL. Ademais, aqueles que praticavam AFTL tiveram médias
significativamente menores nas pontuações do Pittsburgh Sleep Quality Index
global, duração e qualidade subjetiva do sono, e pontuações de disfunção
diurna comparado com os que não praticavam AFTL. Objetivo 2) Dezesseis estudos, com um total de 153.187 indivíduos, foram incluídos na meta-análise.
Indivíduos com problemas relacionados ao sono (PRS) no baseline
apresentaram incidência 1,79 vezes maior (OR=1,79; IC 95%=1,55–2,08;
I
2=84,7%; p<0,001) e persistência 2,04 vezes maior (OR=2,04; IC 95%=1,42–
2,94; I2=88,5%; p<0,005) de dor crônica musculoesquelética (DCME) do que
aqueles sem PRS. Por outro lado, indivíduos com DCME no baseline
apresentaram incidência 1,83 vezes maior de PRS (OR=1,83; IC 95%=1,49–
2,26; I2=89,4%; p<0,001) do que aqueles sem DCME. Objetivo 3) Noventa e
cinco estudos experimentais e quase-experimentais com um total de 6.137
adultos com idade média de 48,7 anos foram incluídos. Os parâmetros do sono
foram avaliados em 45,3% dos estudos com o Pittsburgh Sleep Quality Index.
O tempo médio de acompanhamento da intervenção foi de 8,7 semanas. Entre
os 91 artigos com indivíduos subdivididos por grupos, 11,1% foram alocados na
intervenção ou terapia cognitiva comportamental, 10,9% eletroestimulação
craniana ou transcraniana ou transcutânea, 5,4% exercícios aeróbicos, 4,3%
Tai Chi e 4,3% mindfulness. Entre os 35 artigos que contemplam as
intervenções predominantes, 65,7% apresentaram melhora significativa nos
parâmetros do sono comparado com os alocados nos grupos controle (p<0,05).
Conclusões: Em síntese, em grupos populacionais específicos, como o de
estudantes universitários, a prática de AFTL pode contribuir para a melhor
qualidade do sono. Evidências robustas reforçam a associação longitudinal
entre PRS e incidência e persistência de DCME em adultos, assim como
estudos prospectivos suportam a existência de uma relação bidirecional entre
DCME e PRS. Por fim, a evidência disponível sugere que tratamentos não
farmacológicos para a fibromialgia podem resultar em uma melhora do sono
em adultos.
Comportamentos posturais de professores do ensino básico do município de Londrina, Paraná
Marcelly Barreto Correa, Arthur Eumann Mesas
Data da defesa: 23/05/2016
Introdução: Ao desempenhar seu papel fundamental no processo educacional da sociedade,
os professores adotam comportamentos posturais que podem gerar consequências para sua
saúde. Objetivo: Caracterizar a percepção de comportamentos posturais e fatores associados
em professores do ensino básico da rede estadual de Londrina, Paraná. Métodos: Trata-se de
um estudo transversal que incluiu professores que atuavam como docente em sala de aula,
lecionavam para nível fundamental (anos finais), médio e/ou educação profissional integrada,
e que participaram da primeira etapa do estudo PRÓ-MESTRE. A coleta de dados foi
realizada em entrevista pré-agendada, com duração de aproximadamente uma hora,
constituída por formulário e questionário, contendo questões sobre características
sociodemográficas, de estilo de vida, saúde, ocupacionais, ergonômicas, além de perguntas
sobre a percepção de comportamentos posturais nas atividades de escrever no quadro,
trabalhar sentado e permanecer em postura ortostática (postura em pé). O presente estudo foi
aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Londrina. Foram
entrevistados 335 professores no período entre agosto e dezembro de 2014. Os dados foram
analisados utilizando-se o programa computacional IBM SPSS, por meio de análise descritiva
mediante a distribuição de frequência de variáveis categóricas e análise de associação por
meio do Teste de Qui-quadrado. Foram adotados os níveis de significância estatística de
p<0,20 (indicativo de possível associação) e p<0,05 (associação estatisticamente
significativa). Resultados: A percepção de comportamento postural não recomendado
frequente foi identificada em 3,5% dos professores para a posição da coluna ao escrever no
quadro, 7,0% para a posição da coluna ao trabalhar sentado, 10% para a posição das pernas ao
escrever no quadro e 20% para a posição das pernas ao trabalhar sentado. Em relação à
percepção da postura ortostática, 67,5% dos professores referiram adotar com alta frequência
postura diferente da considerada como de referência. De maneira geral, os resultados quanto
às características sociodemográficas, de estilo de vida e de saúde mostraram que ter idade
menor de 43 anos, não praticar atividade física regularmente, avaliar a própria saúde como
ruim ou muito ruim, presença de dor crônica musculoesquelética geral ou específica para
determinada região do corpo e sentir dor devido à postura tiveram associação significativa
(p<0,05) com a adoção de comportamento postural não recomendado frequente em ao menos
uma das posições analisadas. Quanto às condições ocupacionais, lecionar em apenas um
colégio, apresentar carga horária superior a 20 horas semanais, atuar somente no ensino
fundamental, possuir contrato do tipo estatutário, referir absenteísmo por motivo de saúde nos
últimos 12 meses e baixa capacidade atual para o trabalho associaram-se com a adoção
frequente de pior comportamento postural em ao menos uma das posições analisadas. Já em
relação às condições ergonômicas, considerar o desempenho pessoal no trabalho dificultado
pela postura, considerar a infraestrutura ruim para o descanso e ser afetado pela posição do
corpo em relação ao mobiliário tiveram associação com a adoção do pior comportamento
postural. Conclusões: Entre 7% e 67,5% dos professores analisados referiram adotar, com
alta frequência, comportamento postural não recomendado em ao menos uma situação
habitual no exercício da atividade docente. Os resultados sugerem que certas características
individuais, comportamentais e relacionadas com o trabalho podem contribuir para a
caracterização dos professores que adotam posturas não recomendadas com maior frequência.
Dor em professores da educação básica: associação com atividade física e tempo vendo televisão
Mayara Cristina da Silva Santos, Arthur Eumann Mesas, Edmarlon Girotto
Data da defesa: 04/02/2020
Introdução: Os sintomas dolorosos, quer sejam de caráter crônico ou agudo,
têm consequências para a saúde individual e os serviços de saúde. Certos
comportamentos, como a inatividade física e o tempo vendo televisão, estão
potencialmente relacionados à etiologia e cronificação desses sintomas. No
entanto, não está claro como as mudanças ou a manutenção desses
comportamentos podem afetar a incidência, a persistência ou a frequência de
dor geral ou da dor crônica musculoesquelética. Objetivo: Investigar a
associação entre dor crônica musculoesquelética e percepção de dor, durante
o dia ou antes de dormir, com a prática de atividade física e o tempo vendo
televisão em professores da educação básica. Objetivos específicos: 1)
Analisar a associação longitudinal da mudança na prática de atividade física no
lazer e do tempo vendo televisão com a incidência e a persistência de dor
crônica musculoesquelética; e 2) Analisar a relação entre a prática de atividade
física no tempo livre, autorreferida em entrevista pessoal, e a sensação de dor
durante o dia ou antes de dormir, registrada pelo próprio indivíduo ao longo de
sete dias consecutivos. Métodos: Os objetivos específicos foram
contemplados na forma de dois estudos, com resultados e discussões
abordados separadamente. A população estudada fez parte do projeto PróMestre, que aborda questões de saúde, estilo de vida e trabalho de professores
da rede pública. Professores das 20 escolas de maior porte do município de
Londrina, PR, Brasil, que atuavam em sala de aula ao menos um período da
semana e eram responsáveis por uma ou mais disciplinas foram incluídos no
estudo e entrevistados em duas ocasiões: entre 2012 e 2013 (baseline) e após
24 meses (follow-up). No follow-up, uma subamostra de professores preencheu
um diário de atividades durante sete dias consecutivos. Para o desfecho dor
crônica musculoesquelética considerou-se a percepção de sintomas dolorosos
há 6 meses ou mais nas seguintes regiões: ombros, braços, costas, joelhos,
pernas e pés. Definiu-se como dor durante o dia e dor antes de dormir quando
esse sintoma era reportado ao menos uma vez ao longo de sete dias. As
variáveis independentes foram a atividade física no lazer (ou no tempo livre) e
o tempo vendo televisão diariamente. Para as análises de associação, utilizouse a regressão logística. Resultados: Um total de 527 professores foram
estudados para contemplar o primeiro objetivo. Aumentar o tempo de lazer
dedicado à prática de atividade física (mudar ≤120 para >120 minutos de AFL
semanalmente) associou-se com menor chance de dor crônica
musculoesquelética persistente (odds ratio, OR=0,30; intervalo de confiança de
95%, IC95%=0,11-0,79) em comparação com manter-se fisicamente inativo.
Um total de 141 professores foram estudados para contemplar o segundo
objetivo. Entre esses, praticar mais de 240 minutos por semana de atividade
física no tempo livre associou-se com uma chance menor de reportar dor
durante o dia (OR=0,18; IC95%=0,06-0,54) e antes de dormir (OR=0,28;
IC95%=0,10-0,79), entretanto, as associações perderam significância
estatística após o ajuste pelo escore de sintomas depressivos. Conclusões:
Em síntese, este estudo mostrou que, comparado com se manter inativo,
passar a praticar mais de duas horas de atividade física no lazer semanalmente
é um comportamento associado com menor chance de persistência de dor
crônica musculoesquelética. Além disso, praticar mais de quatro horas
semanais de atividade física no tempo livre está relacionado com menor
frequência de dor durante o dia ou antes de dormir, independente dos
principais confundidores, exceto sintomas depressivos.