Teses e Dissertações
Palavra-chave: Doenças cardiovasculares
Caracterização dos usuários de medicamentos cardiovasculares e antidiabéticos em uma Unidade Básica de Saúde: análise do uso irregular de medicamentos e das condições de saúde bucal
Ana Carolina Bertin de Almeida Lopes, Marcos Aparecido Sarria Cabrera
Data da defesa: 26/05/2010
A Organização Mundial da Saúde considera que as doenças crônicas, como as
doenças cardiovasculares e o diabetes mellitus assumiram caráter epidêmico,
acompanhado pelo aumento no consumo de medicamentos para sua prevenção e
tratamento. As doenças periodontais, especialmente a periodontite, têm sido
relacionadas à presença e à evolução do diabetes mellitus e das doenças
cardiovasculares. Este estudo teve como objetivos caracterizar os usuários de
medicamentos cardiovasculares e antidiabéticos de uma Unidade Básica de Saúde
(UBS) e avaliar as condições de saúde bucal desses usuários. Realizou-se um
estudo transversal com 397 indivíduos maiores de 18 anos que retiraram
medicamentos cardiovasculares e antidiabéticos na UBS Centro Social Urbano
(CSU), no município de Londrina, PR. As informações foram obtidas através de
formulário com questões estruturadas, semi-estruturadas e abertas com dados autoreferidos. A média de idade encontrada foi de 63,9 anos, a maioria do sexo feminino
(65,5%), com escolaridade de um a quatro anos (44,6%), e classes
socioeconômicas (ABEP) predominantes C1, C2 e D (78,4%). Os anti-hipertensivos
mais utilizados foram os inibidores da enzima de conversão de angiotensina (IECA)
(63,5%), os diuréticos tiazídicos (54,9%) e os betabloqueadores (27,7%). Entre os
antidiabéticos o mais consumido foi o cloridrato de metformina (23,2%). A
prevalência de uso irregular de medicamentos cardiovasculares e antidiabéticos foi
de 35,8% e teve como principal motivo relatado o esquecimento. Os diabéticos
consumiram em média 3,9 medicamentos cardiovasculares e antidiabéticos e os
hipertensos 1,6. Na análise multivariada o trabalho remunerado (não exercer) e a
coexistência da hipertensão arterial e do diabetes mellitus apresentaram associação
independente ao uso irregular de medicamentos cardiovasculares e antidiabéticos.
Em relação às condições de saúde bucal identificou-se 35% de prevalência de
edentulismo e associação das variáveis faixa etária (ser idoso) e ter hipertensão
arterial e diabetes mellitus com o risco periodontal (sangramento gengival e/ou
mobilidade dentária). Apesar da amostra estudada representar uma população
específica que utiliza medicamentos e que recebeu diagnóstico de hipertensão
arterial e/ou de diabetes mellitus, os resultados apresentados evidenciaram que uma
proporção significativa dos usuários fazia uso irregular de medicamentos
cardiovasculares e antidiabéticos e que as condições de saúde bucal analisadas
foram insatisfatórias. Dessa forma, a promoção do uso racional de medicamentos,
das medidas não medicamentosas e a atenção à saúde bucal devem ser priorizadas
em portadores de doenças crônicas.
Doenças cardiovasculares em adultos: fatores de risco e utilização de serviços preventivos
Mara Cristina Nishikawa Yagi, Regina Kazue Tanno de Souza, Marcos Aparecido Sarria Cabrera
Data da defesa: 30/06/2010
As doenças cardiovasculares representam a primeira causa de morbimortalidade no Brasil e
no mundo. Apesar da alta incidência e da gravidade dessas doenças, grande parte poderia ser
evitada com medidas de controle e prevenção dos fatores de risco. Este estudo objetivou
caracterizar a prevenção às doenças cardiovasculares entre adultos residentes na área de
abrangência de uma unidade básica de saúde. Foi realizado inquérito domiciliar com 427
pessoas de idade igual ou superior a 40 anos, selecionadas aleatoriamente, sendo 238 do sexo
feminino e 189 do sexo masculino, residentes na área de abrangência de uma unidade básica
de saúde de Londrina-PR. Foram consideradas todas as microáreas da região. A seleção dos
entrevistados se deu por amostragem sistemática, utilizando-se de dados do Sistema de
Informação de Atenção Básica (SIAB). Foram definidas cotas para cada microárea
assegurando-se a mesma proporção por sexo e faixa etária. Entre os principais resultados,
observou-se que a média de idade foi de 57,6 anos. Dos entrevistados, 66,7% eram casados e
66,0% pertenciam às classes econômicas B2, C1 e C2 segundo o critério de classificação
econômica da Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa. Quanto à prevalência de
fatores de risco para doenças cardiovasculares, 72,1% não realizavam atividade física ou o
faziam menos de três vezes por semana, 60,9% apresentavam sobrepeso ou obesidade, 42,4%
referiram diagnóstico médico de hipertensão arterial e 14,1, de diabetes. Em relação ao
consumo alimentar, 60,9% relataram consumir frutas e 73,8%, verduras ou legumes cinco ou
mais vezes por semana, e 41,0% referiram consumir carne vermelha diariamente. Os homens
apresentaram significativamente maior prevalência dos fatores de risco do que as mulheres no
tocante ao tabagismo (23,8% e 12,2%), o consumo de bebidas alcoólicas (35,4% e 9,2%), o
consumo de carne vermelha com gordura (44,9% e 19,7%); e por outro lado, menor
frequência de consumo de verduras ou legumes (64,6% e 81,1%) e de frutas (55,0% e 65,5%).
Por faixa etária, observou-se maior prevalência de tabagismo (20,6%) e consumo de álcool
(26,3%) entre os entrevistados de 40 a 59 anos em comparação às pessoas com 60 anos e mais
(12,1% para tabagismo e para o consumo de álcool). As pessoas que mencionaram
diagnóstico médico de hipertensão arterial e ou diabetes apresentaram significativamente
menor prevalência de tabagismo e de consumo de carne vermelha com gordura, além de terem
referido com mais frequência o consumo habitual de frutas. Verificou-se uma tendência
crescente do tabagismo com a piora da situação econômica e um maior consumo de verduras
ou legumes quanto melhor esta situação. Em relação à utilização dos serviços de saúde, as
mulheres tiveram maior frequência de consultas médicas (84,0%) e dosagem de colesterol
(88,7%). Os filiados a planos privados consultaram mais o médico (84,6%), aferiram mais a
pressão arterial (46,3% com intervalo inferior a 1 mês), realizaram mais dosagem de
colesterol (89,4%), receberam mais orientação profissional (33,5%) e tiveram maior
participação em cursos (20,8%). Conclui-se que as pessoas do sexo masculino, as de faixa
etária mais jovem e as de mais baixa classe econômica utilizam menos os serviços de saúde.
Internações por doenças do aparelho circulatório sensíveis à atenção primária: tendência das taxas no estado do Paraná
Flavia Guilherme Gonçalves, Ana Maria Rigo Silva
Data da defesa: 18/06/2014
As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) são consideradas globalmente uma ameaça
ao desenvolvimento humano. Algumas doenças do aparelho circulatório como a hipertensão
arterial (HA) e insuficiência cardíaca (IC), além de serem classificadas como DCNT, também
são consideradas como condições sensíveis à atenção primária (CSAP), ou seja, internações e
óbitos podem ser evitados se a doença for diagnosticada e tratada oportunamente. As taxas de
internação por CSAP podem ser utilizadas para avaliar indiretamente o funcionamento e a
efetividade do primeiro nível de atenção. O objetivo deste estudo foi analisar a tendência das
taxas de internação por agravos do aparelho circulatório, classificados como CSAP, em
adultos de 40 a 74 anos, residentes no Estado do Paraná entre 2000 e 2012. Realizou-se um
estudo de tendência tanto para o Paraná quanto para as suas macrorregionais de saúde. Os
dados das internações foram obtidos no Sistema de Internação Hospitalar (SIH-SUS) e os de
população foram estimados por interpolação intercensitária dos censos de 2000 e 2010 para o
período de 2001 a 2009, e por projeção demográfica para os anos de 2011 e 2013. Foram
calculadas taxas anuais de internação por sexo para as faixas etárias de 40 a 59 anos e de 60 a
74, bem como para grupos específicos de agravos cardiovasculares. Para a análise da
tendência, foi realizada a regressão polinomial utilizando-se o programa estatístico R.
Ocorreram no Paraná, de 2000 a 2012, 3.754.214 internações pelo SUS, destas, 14,2% foram
classificadas como doenças do aparelho circulatório sensíveis à atenção primária. Quanto à
distribuição proporcional destas internações no Estado e em suas macrorregionais, a IC foi a
causa mais frequente, seguida pela angina, doenças cerebrovasculares e hipertensão arterial.
As taxas médias de internação por angina, doença cerebrovascular e insuficiência cardíaca
para o sexo masculino foram maiores que as do sexo feminino para o Paraná e
macrorregionais de saúde. Já o sexo feminino apresentou maior taxa média de internação por
HA. A faixa etária de 60 a 74 anos foi a que apresentou as maiores taxas de internação para
doenças do aparelho circulatório, com média no Estado de 300,46/104
. Quanto à tendência das
taxas por causas específicas, a angina apresentou tendência crescente, estabilização e novo
período de crescimento para o Paraná e macrorregionais. As doenças cerebrovasculares e a IC
tiveram tendência decrescente seguida de estabilização para o Estado e macrorregionais. Já a
tendência das taxas de internação por HA apresentou comportamentos variados entre as
macrorregionais de saúde e o Estado, como por exemplo: decrescente para a macro CentroLeste-Sul e ascendente, decrescente e estável para as macro Norte e Noroeste. Neste estudo
verificou-se redução das taxas de internação por hipertensão, doença cerebrovascular e IC e
aumento das taxas de internação por angina. Tais constatações indicam que houve melhorias,
porém, ainda há necessidade de ampliar o acesso e a qualidade da atenção prestada pela
atenção primária, bem como fortalecer o trabalho em redes de atenção, especialmente nos
cuidados das doenças cardiovasculares consideradas CSAP.
Tratamento de dislipidemias em usuários de alto risco pelo SUS: não adesão e efetividade em coorte populacional de pacientes
Felipe Assan Remondi, Marcos Aparecido Sarria Cabrera
Data da defesa: 26/03/2019
O objetivo do trabalho foi analisar a não adesão e a efetividade da terapêutica com
hipolipemiantes fornecidos pelo Sistema Único de Saúde para usuários de alto risco
do estado do Paraná, entre 2008 e 2013. Para tanto, foi realizada uma coorte
retrospectiva com o universo de pacientes assistidos no período de 2008 a 2012,
acompanhados até 2013 para avaliação da adesão e do controle laboratorial. As
informações foram obtidas no sistema eletrônico da Secretaria de Estado para o
gerenciamento do fornecimento destes medicamentos. O cálculo da não adesão foi
realizado a partir da combinação da taxa de posse, proporção de dias cobertos e
média de dias entre as dispensações, sendo caracterizados como não aderentes os
indivíduos que tiveram resultados insatisfatórios em ao menos duas das três medidas
realizadas. O controle laboratorial foi avaliado pelos resultados categorizados da
lipoproteína de baixa densidade (LDL), liproproteína de alta densidade (HDL)
colesterol total (CT) e triglicerídeos (TG). As análises de associação foram realizadas
por meio da comparação de médias, correlação e regressão multivariada com
distribuição de Poisson ou de Cox. Foram analisados 6751 usuários, sendo que a
caracterização da não adesão restringiu-se a 5697 que tiveram quatro ou mais
dispensações no período e, paralelamente, a de controle laboratorial para 5596
usuários que possuíam informações deste desfecho passível de avaliação. A
população de análise foi composta principalmente por mulheres, indivíduos entre 50
e 59 anos de idade e com predominância de uso da atorvastatina. Observou-se que
as regionais de saúde com maior porte populacional apresentaram maior número de
usuários vinculados ao programa e, ao mesmo tempo, maior taxa de descontinuidade.
A não adesão foi registrada em 37,0% dos usuários, com maior risco no caso do sexo
feminino, idade entre 40 e 70 anos residência em regionais de saúde de 300 a 500 mil
habitantes. A taxa de desistência na obtenção dos medicamentos em até um ano foi
de 29,3%, sendo a persistência inicial (até três dispensações) preponderante (15,6%)
em comparação a persistência tardia (até 12 meses; 13,7%). O controle laboratorial
inadequado, por sua vez, foi de LDL (>100mg/dL): 45,9%; HDL (<40mg/dL para
homens ou <50mg/dL para mulheres): 31,1%; CT (>190mg/dL): 28,0%; e TG
(>150mg/dL): 32,3%. Tanto na comparação de médias entre aderentes e não
aderentes, quanto na análise multivariada com o controle por fatores de confusão
(sexo, idade, medicamento, dose, densidade populacional do local de residência), a
não adesão esteve associada a piores taxas de controle para LDL (HR=2,34; IC95%
2,14-2,54), HDL (HR=3,28; IC95% 2,97-3,63), CT (HR=2,99, IC95% 2,69-3,32) e TG
(HR=2,34; IC95% 2,13-2,59). As diferenças nos padrões de obtenção, elevada taxa
de desistência em um ano, não adesão superior a um terço dos usuários e sua
correlação com a falta de controle laboratorial apontam para a necessidade de
reconhecer a problemática no sistema de saúde brasileiro e adoção de medidas de
aprimoramento das políticas instituídas visando melhor controle das doenças crônicas
não transmissíveis no Brasil.
Mortes por doenças cerebrovasculares como eventos sentinelas de doenças cardiovasculares na Atenção Básica
Cristhiane Yumi Yonamine, Ana Maria Rigo Silva , Regina Kazue Tanno de Souza
Data da defesa: 26/02/2018
O uso da técnica de evento sentinela, no cotidiano dos serviços de saúde, vem
contribuindo para maior conhecimento sobre a qualidade da atenção à saúde
prestada às populações, permitindo instaurar mecanismos de vigilância e
intervenção precoces. Relativamente às doenças crônicas não transmissíveis,
que são as principais causas de morbimortalidade e afetam negativamente a
qualidade de vida da população, destacam-se as doenças cerebrovasculares. O
presente estudo visa a analisar a assistência prestada pela Atenção Básica às
pessoas, de 74 anos ou menos, que faleceram por doenças cerebrovasculares,
na perspectiva do evento sentinela. Trata-se de um estudo observacional, com
série de casos, utilizando a técnica de investigação de evento sentinela. A
população do estudo correspondeu às pessoas residentes em Cambé, no ano
de 2013, cujas causas descritas nas declarações de óbito foram codificadas
como doenças cerebrovasculares (Capítulo IX da CID10 – Doenças do Aparelho
Circulatório que englobam os diagnósticos I60 a I69). Foram utilizados dados do
Laboratório de Vigilância das Doenças Crônicas Não Transmissíveis da
Secretaria de Saúde do município de Cambé, PR. O Laboratório dispõe de dados
registrados em formulário próprio, advindos das declarações de óbito, dos
prontuários dos serviços de saúde utilizados nos dois anos que antecederam o
óbito e das entrevistas domiciliárias e semiestruturadas com familiares. Cada
caso foi analisado, tendo por referência um modelo lógico elaborado
especificamente para este fim, contendo os componentes utilização da Unidade
Básica de Saúde, reconhecimento, acompanhamento, atendimento e controle da
Hipertensão Arterial. Conforme os componentes do modelo lógico, observou-se
que todos os portadores de Hipertensão Arterial foram reconhecidos como tal
pelas unidades básicas de saúde. Verificaram-se a falta ou a incoerência de
informação em alguns registros, a não utilização de instrumentos oficiais de
acompanhamento, a não cobertura integral pela Estratégia Saúde da Família e
a concentração de ações dos profissionais, elevada em alguns casos e abaixo
da preconizada em outros. Além disso, observou-se que poucos casos
apresentaram dificuldade do controle dos níveis pressóricos devido à não
adesão à terapia medicamentosa. Dessa maneira, pode-se inferir que as mortes
por doenças cerebrovasculares podem servir como eventos sentinela para
avaliar a Atenção Básica, mas destaca-se a ausência de registro, ou subregistro, como a principal falha a ser corrigida na promoção da longitudinalidade
do cuidado, primordial no contexto das doenças crônicas. Além disso, o uso da
tecnologia de eventos sentinela possibilitou analisar aspectos não contemplados
na avaliação quantitativa, contribuindo, dessa maneira, para o planejamento, o
fornecimento de informações e a elaboração de intervenções mais efetivas nos
serviços de saúde.
Exposição ambiental ao chumbo e pressão arterial em população urbana: estudo de base populacional
Ana Carolina Bertin de Almeida Lopes, Mônica Maria Bastos Paoliello
Data da defesa: 15/01/2015
A exposição ambiental e ocupacional ao chumbo representa um importante problema de
saúde pública. O acúmulo do chumbo no organismo pode levar ao desenvolvimento de
diferentes morbidades, como aumento na pressão arterial sistólica (PAS) e diastólica (PAD),
hipertensão arterial, arteriosclerose, disfunção renal, entre outras. Dessa forma, este estudo
objetivou verificar os determinantes socioeconômicos, ambientais, de estilo de vida e de
condições de saúde relacionados aos níveis de chumbo em sangue em adultos com 40 anos ou
mais de idade. Além disso, examinou-se a associação entre os níveis de chumbo em sangue e
alterações na PAS e PAD e hipertensão arterial. Realizou-se um estudo transversal de base
populacional, com 959 adultos residentes na região urbana de um município de médio porte
no Sul do Brasil. Os dados foram obtidos por meio de entrevistas, exame físico e exames de
laboratório. Foram incluídas variáveis socioeconômicas, de estilo de vida, condições de saúde,
dieta, e sobre exposição ocupacional ao chumbo. Os níveis de chumbo em sangue foram
medidos pela técnica da espectrometria de massa com plasma de argônio indutivamente
acoplado (ICP-MS). Considerou-se como PAS elevada valores 140 mmHg e PAD elevada
90 mmHg. A hipertensão arterial foi definida como PAS 140 mmHg e/ou PAD 90 mmHg
ou uso de medicação antihipertensiva. As análises estatísticas foram realizadas nos programas
Stata versão 13.1 e SPSS versão 20. A média geométrica dos níveis de chumbo em sangue foi
1,97 g/dL (95% CI: 1,90-2,04 g/dL). No Modelo 1 da análise de regressão linear múltipla
ajustou-se por sexo, idade, cor da pele, educação, classe socioeconômica, tabagismo, consumo
de álcool, exposição ocupacional ao chumbo, consumo de carne vermelha e de leite de vaca.
O Modelo 2 foi ajustado para sexo e exposição ocupacional ao chumbo. Os níveis mais
elevados de chumbo em sangue foram associados ao sexo masculino, à idade avançada, ao
tabagismo, ao consumo de álcool e ao menor consumo de leite de vaca. No Modelo 2, os
níveis de chumbo em sangue foram maiores nos participantes não brancos em relação ao
brancos, em ex-fumantes e naqueles expostos ocupacionalmente ao chumbo. Participantes
vivendo em área onde foram identificadas mais indústrias que utilizam chumbo apresentaram
níveis de chumbo em sangue mais elevados (3,30 g/dL) comparados aqueles vivendo em
outras áreas com menor número de indústrias (1,95 g/dL). Os níveis de chumbo em sangue
foram associados à PAS e PAD na análise de regressão linear múltipla. A análise de regressão
logística mostrou que os indivíduos do mais alto quartil de concentração de chumbo em
sangue apresentaram odds ratio (OR) para hipertensão arterial significativamente elevado em
relação aos participantes do quartil 1, com aumento gradativo entre os quartis (quartil 2: OR,
1,16 (0,77-1,74); quartil 3: OR, 1,15 (0,76-1,74); quartil 4: OR, 1,82 (1,17-2,82), p-trend =
0,011). O OR ajustado para PAD elevada foi mais alto para os participantes do maior quartil
de chumbo em sangue em relação aos participantes do quartil 1 (OR: 2,31; IC 95%: 1,21-
4,41). A análise de clusters revelou que os participantes com níveis de chumbo em sangue
mais elevados (2,99 g/dL), eram geralmente hipertensos, com PAS e PAD elevadas, do sexo
masculino, com média de idade de 54,92 anos e com sobrepeso (IMC de 25 a >30). O
cluster dos participantes com níveis de chumbo em sangue mais baixos (2,16 g/dL) eram
geralmente não hipertensos, com PAS e PAD normais, do sexo feminino, com média de idade
de 50,89 anos e com IMC normal (de 0 a <25). Conclui-se que os níveis de chumbo em
sangue foram associados ao sexo masculino, à idade avançada e a hábitos como tabagismo,
consumo de álcool e menor consumo de leite de vaca. Além disso, indivíduos com níveis de
chumbo mais elevados têm mais chances de apresentarem hipertensão arterial. Finalmente, apesar dos baixos níveis de chumbo em sangue encontrados nos adultos desta área urbana, é
importante que a exposição ao chumbo seja monitorada e que leis regulatórias sejam
decretadas com o objetivo de prevenir a contaminação de chumbo em ambientes urbanos.
Prevalência e fatores associados à síndrome metabólica na população adulta em Cambé (PR), 2011. Vigicardio.
Maira Sayuri Sakay Bortoletto, Regina Kazue Tanno de Souza , Marcos Aparecido Sarria Cabrera
Data da defesa: 27/05/2014
A síndrome metabólica (SM) confere um alto risco para ocorrência de doenças
cardiovasculares dado à sua combinação de intolerância à glicose, hipertensão, triglicerídeos
elevados e HDL-C baixo. Destaca-se que o risco global de complicação cardiovascular é o
triplo entre os portadores de SM comparativamente aos não portadores. Dessa maneira, este
estudo tem como objetivo determinar a prevalência de síndrome metabólica e fatores
associados a essa condição na população acima de 40 anos. Trata-se de um estudo transversal
de base populacional realizado em todos os setores censitários do município de Cambé-PR;
este estudo faz parte de um estudo mais abrangente denominado Vigicardio. No presente
estudo participaram 959 indivíduos. Foram realizados entrevistas, exame físico e exames
laboratoriais. Entre as variáveis do estudo incluíram-se as socioeconômicas e demográficas,
de estilo de vida, sobre comorbidades, de utilização de medicamentos e de serviços de saúde.
Foram realizadas a aferição da pressão arterial, medidas antropométricas e exames
laboratoriais (colesterol, triglicerídeos e glicemia). A SM foi determinada de acordo com a
definição harmonizada (presença de pelo menos três das seguintes condições; TG ≥150
mg/dL; HDL-C<40 mg/dL em homens ou <50 mg/dL em mulheres; pressão sistólica ≥ 130
mmHg e/ou pressão diastólica ≥85 mmHg ou uso de medicamentos anti-hipertensivas;
glicemia ≥100 mg/dL ou uso de medicamento para tratamento do diabetes e perímetro
abdominal ≥88 nas mulheres e ≥102 nos homens). A análise dos dados foi realizada no
programa SPSS versão19 e os testes utilizados foram o qui-quadrado ou exato de Fisher, e
regressão de Poisson. A prevalência de SM foi de 53,7% e, nas mulheres, essa prevalência foi
superior em relação aos homens (p=0,003). Entre os componentes, a obesidade abdominal
(p<0,001) e baixo HDL-C (p<0,001) foram superiores nas mulheres e entre os homens a
elevação da pressão (p=0,004) e dos níveis glicêmicos (p=0,006). A prevalência da SM
elevou-se com o aumento da idade, a elevação dos níveis pressóricos foi o componente mais
frequente nos diferentes sexos e faixas etárias, seguido pela obesidade abdominal nas
mulheres e pelo baixo HDL-C e elevação dos níveis glicêmicos nos homens. A presença dos
cinco componentes da SM foi de 12,0% (mulheres-15,8%, homens-7,3%). A classe
econômica de menor poder de compra esteve associada à maior prevalência de SM entre as
mulheres (p<0,001) e isso foi mais ocorrente entre as de maior idade. O fator associado a SM
foi o aumento da idade em ambos os sexos. Os resultados revelaram elevadas prevalências de
SM entre indivíduos com 40 anos ou mais, sugerindo a necessidade de formulação de
políticas mais amplas no sentido de favorecer a adoção de comportamentos saudáveis. As
diferenças observadas nos diferentes sexos, grupos etários e classes econômicas apontam para
a necessidade de melhor conhecer o padrão da SM nesses grupos objetivando compreender os
determinantes dessa distribuição e favorecer a implementação de políticas mais adequadas de
enfrentamento dos componentes da SM