Teses e Dissertações
Palavra-chave: Doença crônica
NÃO ADESÃO AO USO DE MEDICAMENTOS E INSATISFAÇÃO COM OS SERVIÇOS DE ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA POR USUÁRIOS DE MEDICAMENTOS PARA DOENÇAS CRÔNICAS NÃO TRANSMISSÍVEIS: EVIDÊNCIAS DA PESQUISA NACIONAL SOBRE ACESSO, UTILIZAÇÃO E PROMOÇÃO DO USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS (PNAUM)
POLIANA VIEIRA DA SILVA MENOLLI, Edmarlon Girotto
Data da defesa: 10/03/2023
A maneira como o paciente percebe ou julga a sua interação com os produtos e ou
serviços de saúde provoca pressão na decisão sobre seguir o tratamento prescrito.
Nesse contexto, torna-se importante estudar o quanto a percepção dos pacientes
sobre produtos e serviços de saúde tem influenciado a não adesão ao uso de
medicamentos no Brasil. Objetivo: Analisar a relação entre insatisfação dos usuários
com os serviços de assistência farmacêutica do SUS e a não adesão ao uso de
medicamentos por pacientes de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT).
Métodos: Tese em modelo escandinavo composta por dois estudos transversais com
dados da “Pesquisa Nacional Sobre Acesso, Utilização e Promoção do Uso Racional
de Medicamentos (PNAUM)”. No artigo 1 foram utilizadas informações do banco de
dados de medicamentos de uso contínuo do componente populacional da PNAUM
para identificar a associação entre a percepção dos pacientes sobre medicamentos
para DCNT e a não adesão por regiões do Brasil. A variável dependente foi a não
adesão ao tratamento e a percepção do paciente sobre a medicação foi a variável
independente. O artigo 2 utilizou dados do componente de avaliação de serviços da
PNAUM para analisar a associação entre insatisfação dos usuários com os serviços de
Assistência Farmacêutica (AF) e a não adesão ao uso de medicamentos por pacientes
de DCNT. A variável dependente foi construída por meio de três medidas (não
mutuamente exclusivas): não adesão por falta do medicamento, não adesão nos
últimos 7 dias e não adesão declarada. A variável independente foi a insatisfação com
as AF obtida por meio da teoria de resposta ao item. A regressão logística foi realizada
para calcular os odds ratios (ORs) brutos e ajustados para os dois artigos por meio dos
comandos para amostras complexas. Resultados: No artigo 1 a não adesão foi
observada em 6,6% dos 16.491 medicamentos estudados. Na análise ajustada,
percepção de eficácia de medicamentos considerada regular ou ruim (OR 3,025; IC
95% 1,672-5,473), percepção que causou desconforto (OR 2,731; IC 95% 1,464-5,092)
e medicamentos usados por menos de seis meses (OR 1,557; IC 95% 1,089-2,227)
tiveram maiores chances de não adesão no Brasil (todas as regiões). No artigo 2 foram
avaliadas entrevistas de 2.248 usuários da APS em tratamento para DCNT e que
usaram as farmácias do SUS. A não adesão por falta do medicamento foi de 31,6%, a
não adesão nos últimos 7 dias de 11,5% e a não adesão declarada de 13,0% dos
entrevistados. Na análise ajustada a insatisfação com a dimensão da AF
Disponibilidade esteve associada à não adesão por falta (OR 1,872; IC 95% 1,477-
2,373) e não adesão nos últimos 7 dias (OR 1,637; IC 95% 1,172-2,286) e a dimensão
Adequação à não adesão declarada (OR 3,270; IC 95% 2,308-4,634). Conclusão: A
insatisfação com os serviços de AF e a percepção de ineficácia, insegurança e tempo
de uso dos medicamentos são fatores-chave associados à não adesão aos
tratamentos farmacológicos de DCNT.
Histórias e trajetórias de pessoas com úlcera de perna em busca de tratamento
Maria Regiane Trincaus, Regina Melchior
Data da defesa: 30/07/2015
As úlceras, mais especificamente as de perna, levam os indivíduos a passar
por uma experiência de enfermidade que abrange múltiplos aspectos (físicos,
sociais, cognitivos, culturais e psicológicos) necessitando de abordagens mais
amplas para que o problema/aflição deles seja resolvido ou pelo menos amenizado.
A pessoa com úlcera de perna sofre estigmatização, dor intensa e tende a isolar-se
socialmente com o intuito de autoproteger-se, além do longo período de evolução
destas lesões. O objetivo desta pesquisa foi compreender como as pessoas com
úlceras de perna constroem suas trajetórias na busca pelo tratamento destas
feridas. A metodologia escolhida foi a qualitativa. Foi utilizada a história de vida
como perspectiva de abordagem metodológica, a qual culminou na construção dos
itinerários terapêuticos. Foram realizadas entrevistas utilizando-se de uma questão
norteadora: Conte-me a sua história com esta ferida. Foram entrevistados nove
pacientes, em tratamento no Ambulatório de Feridas do CEDETEG, e três itinerários
foram analisados em profundidade. A presença da úlcera foi utilizada como situação
marcadora. Para análise do itinerário terapêutico foram utilizados os conceitos de
rizoma de Deleuze e Guatarri (2011), redes vivas de Merhy (2014) e redes de
Feuerwerker. A dor e o (auto)preconceito foram evidenciados nos relatos chegando
a interferir no cotidiano familiar. A análise do itinerário terapêutico nos leva a um
movimento rizomático pelo qual as pessoas constroem suas trajetórias em busca de
tratamento para estas feridas. Ferramentas como acolhimento, escuta, vínculo,
responsabilização, mostraram-se imprescindíveis para a relação profissional-usuário
e a manutenção do paciente no serviço, dando-lhe assim oportunidade digna de
tratamento. Compreendemos que os itinerários terapêuticos foram construídos
conforme novas entradas surgiam no rizoma, enquanto outras linhas mais frágeis
eram rompidas. A fragilização dos serviços de saúde e das condutas contribuíram
para a cronicidade deste agravo. A busca por melhor qualificação tende, além de
melhorar a autoestima do profissional, melhorar também a assistência prestada à
comunidade, mas necessita, contudo, do reconhecimento do gestor. A proximidade
dos serviços com Instituições de ensino pode ser uma alternativa para estimular a
busca por qualificação. A abertura do profissional para acolher e responsabilizar-se
pelas pessoas com feridas crônicas ou outros agravos são imprescindíveis para que
o cuidado ocorra. Verificamos que na maioria dos serviços de atenção básica e
especializada o modelo assistencial biomédico ainda é hegemônico. A
transformação das práticas em saúde passa pela formação dos profissionais, mas
também pela gestão dos serviços, que carecem de um trabalho integrado e
colaborativo em rede, onde Atenção Básica e Especializada se complementem e se
apoiem mutuamente. A reflexão pelos profissionais de saúde sobre essas práticas e
a educação permanente são essenciais para esse processo.
Bem-estar emocional e doenças crônicas: associação da autopercepção da felicidade, amor e bom humor à condição de saúde de adulto e idosos de Matinhos, Paraná
Milene Zanoni da Silva Vosgerau, Marcos Aparecido Sarria Cabrera
Data da defesa: 16/05/2012
Este estudo, de base populacional e delineamento transversal, teve como objetivo analisar a associação de desfechos relacionados ao bem-estar emocional como autopercepção
de felicidade, amor e bom humor à presença de hipertensão arterial, diabetes mellitus,
depressão e dor crônica. A população de estudo consistiu em adultos com 40 anos ou
mais residentes permanentemente no município de Matinhos/PR. A coleta de dados, que
utilizou dados dos setores censitários do IBGE, foi realizada por meio de entrevista semiestruturada com questões referentes às variáveis socioeconômicas e demográficas, estilo
de vida, fatores relacionados a emoções e situações positivas, religião, espiritualidade e
crenças pessoais, saúde autorreferida, consumo contínuo de medicamentos e uso dos serviços de saúde. Para análise estatística utilizou-se a regressão logística, cujos desfechos
foram os indicadores de bem estar emocional. Entrevistou-se 638 indivíduos entre abril e
julho de 2011. A perda foi de 4,5%. Como resultado, mais da metade dos entrevistados
tinham entre 40 e 59 anos (58,9%), não chegaram a concluir o primeiro grau (57,5%), não
tem vínculo empregatício (60,6%) e foram classificados no estrato C da ABEP (57,1%),
sendo que 29,8% das famílias tem renda inferior a R$ 600,00. Do total de entrevistados,
apenas 32,6% apresentaram escores ≥ 30, que segundo a classificação escala de satisfação
com vida (SWLS) são considerados como extremamente satisfeitos. A média do escore na
SWLS foi de 25,38 [dp=6,04], sendo que o maior preditor para a autopercepção positiva
da felicidade foi menor intensidade da dor crônica. Com relação ao amor, 82,1% referiram
se sentirem amados sempre por seus familiares e amigos. A frequência de bom humor,
ou seja, sorrir sempre ou na maior parte das vezes foi de 75,5%. No desfecho conjugado de bem-estar emocional – felicidade, amor e bom humor – a prevalência encontrada
foi 24,9%. Os fatores ‘dor crônica’ e ‘depressão’ se mantiveram associados inversamente
ao bem-estar emocional, o que aponta que estas patologias atuam como marcadores relevantes de baixa qualidade de vida, ao passo que, valores, crenças religiosas e renda
– questões vinculadas às dimensões espirituais, existenciais e materiais – se mostraram
como significativos indicadores positivos de bem-estar emocional. A partir dos achados
da investigação, foi possível identificar contribuições e desafios para concepção do objeto
saúde, prática clínica e políticas públicas da perspectiva positiva para o campo da saúde
coletiva. Sugere-se que seja inserida a reflexão acerca dos fatores de promoção da saúde e
indicadores positivos na formação permanente dos profissionais de saúde, com intuito de
consolidar movimentos importantes para o Sistema Único de Saúde, tais como Estratégia
Saúde da Família, Cidades Saudáveis e Redes de Cuidados em Saúde.