Teses e Dissertações
Palavra-chave: Docentes
Violência escolar contra professores da Rede Estadual de Ensino de Londrina: caracterização e fatores associados
Francine Nesello, Selma Maffei de Andrade
Data da defesa: 30/04/2014
O objetivo deste estudo foi caracterizar manifestações de violência escolar
contra professores e verificar fatores associados a esses eventos. Trata-se de
um estudo epidemiológico do tipo transversal. A população de estudo foi
composta por 789 professores das 20 maiores escolas da Rede Estadual de
Ensino do município de Londrina, que atuavam no ensino fundamental ou
médio por pelo menos um ano. Foram obtidas informações por entrevistas e
por um questionário autorrespondido, no período de agosto de 2012 a junho de
2013. Os dados foram duplamente digitados em banco criado no programa Epi
Info versão 3.5.4 e tabulados usando o programa Statistical Package for the
Social Sciences, versão 19.0. A análise descritiva foi realizada por meio de
frequências absolutas e relativas, medidas de tendência central e de dispersão.
Realizou-se regressão de Poisson pelo método forward, com cálculos de razão
de prevalência e intervalo de confiança de 95% para cada um dos grupos de
violência relatada (psicológica, física e sexual), tendo como variáveis
independentes características sociodemográficas e do trabalho. Dos
professores entrevistados, 71,1% relataram ter sofrido algum tipo de violência
na escola nos 12 meses anteriores à pesquisa. A forma de violência mais
relatada foram insultos e gozações de alunos (55,4%), seguidos de ameaças
(21,4%) e exposição a situações humilhantes ou constrangedoras por colegas
ou superiores (17,5%). As formas menos mencionadas foram agressões
(ocorridas ou tentativas) físicas (7,9%), com armas brancas (0,8%) ou de fogo
(0,5%). Entre os grupos de violência, a psicológica foi a mais frequentemente
reportada (64,1%) e associou-se, após ajustes, à total ou parcial falta de
realização profissional e ao relacionamento ruim ou regular com superiores e
alunos. O grupo de violência física (8,4%) apresentou associação com as
variáveis: lecionar para o nível fundamental, ter contrato do tipo não estatutário
com o Estado e já ter sofrido violência fora da escola. Por fim, a violência
sexual (14,1%) associou-se às características ser do sexo masculino, mais
jovem (< 35 anos), não ter companheiro e ter carga horária elevada com alunos
(≥ 32 horas). Os fatores associados à violência psicológica e física estão mais
relacionados às características do trabalho, enquanto que aqueles associados
à violência sexual, mais às características sociodemográficas. Essas
características podem ser expressão das condições concretas de trabalho e de
vida dos professores estudados e revelam um perfil de docentes mais
vulneráveis à violência, que muitas vezes extrapola o ambiente escolar.
Condutas alimentares e fatores associados em professores da Rede Estadual de Ensino de Londrina-PR
Ana Luísa Dias, Arthur Eumann Mesas, Alberto Duran González
Data da defesa: 30/05/2014
A profissão docente é reconhecida por sua importância na formação da
sociedade, porém vem sofrendo grande desvalorização, caracterizando-se como
profissão de ritmo acelerado e estressante e, em alguns casos, de pluriemprego,
resultando em menos tempo para questões relacionadas à saúde como
alimentação, atividade física, sono e lazer. Nesse contexto, evitar certas condutas
alimentares não recomendadas e adotar outras condutas tidas como
recomendadas pode ser difícil tarefa no cotidiano de professores. Vista a
importância social e escassez de trabalhos que estudem as características do
perfil das condutas alimentares adotadas por essa população, objetivou-se
caracterizar as condutas alimentares de professores de Escolas Estaduais de
Londrina, Paraná, e os fatores associados. Realizou-se estudo transversal com
todos os professores atuantes nas 20 escolas estaduais com maior número de
professores de Londrina. Informações foram coletadas por meio de entrevista
individual que incluiu questões sobre alimentação, atividade física, hábitos de
vida, aspectos sociodemográficos e condições de trabalho. Os dados foram
analisados de forma descritiva e as associações estudadas mediante regressão
logística multinomial não ajustada para estimação das odds ratio. Foram incluídos
978 professores, com 68,5% do sexo feminino e média de idade (± desvio padrão)
de 41,5 ± 10 anos, variando de 19 a 68 anos. Quatro em cada dez professores
atuavam em dois vínculos empregatícios, a média de carga horária semanal total
de trabalho foi de 37 horas e 54 minutos, e a maior parte (42,0%) atuava de 40 a
49 horas semanais. Em relação às condutas alimentares, verificou-se que grande
parte dos professores adotava condutas não recomendadas com média
frequência, variando de 40,6% (comer assistindo televisão ou em frente ao
computador) a 58,0% (comer salgadinhos ou doces entre as refeições principais).
Quanto às condutas alimentares recomendadas, uma considerável parcela dos
entrevistados as adotava com alta frequência (sempre ou diariamente), variando
de 44,9% (consumir frutas) a 60,0% (retirar a pele da carne de frango). Com
relação aos fatores associados, observou-se que, de maneira geral, professores
com até 50 anos de idade e que referiram consumo de álcool apresentaram
menor chance de adotar condutas alimentares recomendadas e maior chance de
seguir condutas não recomendadas quando comparado com professores com
idade acima de 50 anos e com os que não consumiam álcool, respectivamente.
Concluiu-se que professores da Rede Estadual que atuam na educação básica
referiram adotar com maiores frequências condutas alimentares que influenciem
positivamente em sua saúde. Além disso, características sociodemográficas e de
estilo de vida parecem ser fatores mais importantes para compreender o
comportamento alimentar desses professores que as condições de trabalho.
Satisfação no trabalho e absenteísmo entre professores da rede estadual de ensino básico de Londrina
Adrieli de Fátima Massaro Levorato, Selma Maffei de Andrade, Edmarlon Girotto
Data da defesa: 29/06/2016
Devido às reformas educacionais e intensificação do trabalho, professores têm
enfrentado inúmeros obstáculos na profissão docente. Assim, muitos experimentam
insatisfação no trabalho, com prejuízo à sua saúde física e mental, o que pode
contribuir para o absenteísmo. Nesse sentido, este estudo objetivou analisar a
relação entre satisfação no trabalho e absenteísmo em professores da educação
básica. Trata-se de estudo epidemiológico do tipo transversal, com população de
estudo composta por professores das 20 escolas da Rede Estadual de Ensino de
Londrina-PR com maior número de docentes. A coleta de dados ocorreu entre
agosto de 2012 a junho de 2013, por entrevista e preenchimento de um questionário
pelos professores. A satisfação no trabalho foi avaliada por meio da escala
Occupational Stress Indicator, utilizando o percentil 25 como ponto de corte para
definição de menor satisfação. O absenteísmo foi considerado presente quando o
professor referiu ter faltado ao trabalho por problema de saúde nos 12 meses
anteriores à entrevista. Foram realizadas análises descritivas e por regressão de
Poisson, com cálculo de razão de prevalência (RP) e intervalo de confiança (IC) de
95%. Participaram deste estudo 899 professores, com idade média de 42 anos e a
maior parte composta por mulheres (68,3%). Os componentes com menores níveis
de satisfação foram salário (46,9%), volume de trabalho (29,6%) e oportunidades
para atingir aspirações e ambições (21,5%). Os componentes da escala de
satisfação no trabalho mais bem avaliados foram: conteúdo do trabalho (58,4%) e
relacionamentos (58,1%). Metade dos professores (50,4%) referiu absenteísmo por
problema de saúde, com duração principalmente entre 1 e 3 dias (37,5%). Os
principais motivos de falta ao trabalho foram doenças respiratórias (22,3%),
problemas osteomusculares (14,1%) e transtornos mentais (11,0%). Após análise
ajustada, o absenteísmo associou-se com a menor satisfação no trabalho (RP=1,21;
IC=1,05-1,39), independentemente das variáveis sexo, idade, tempo de profissão,
carga horária de trabalho, percepção quanto ao equilíbrio entre a vida profissional e
pessoal, dor crônica, doença crônica, capacidade física e mental para o trabalho e
qualidade do sono. Também se apresentaram associadas ao absenteísmo a idade
superior a 40 anos (RP=1,19; IC=1,01-1,39) e presença de doença crônica
(RP=1,65; IC=1,27-2,15). Os resultados mostram associação entre absenteísmo e
menor satisfação no trabalho no exercício da profissão docente, independentemente
de outras variáveis. Desta forma, tornam-se necessárias medidas para melhorar a
satisfação no trabalho docente, como a melhoria das condições e redução da carga
de trabalho.
Dor em professores da educação básica: associação com atividade física e tempo vendo televisão
Mayara Cristina da Silva Santos, Arthur Eumann Mesas, Edmarlon Girotto
Data da defesa: 04/02/2020
Introdução: Os sintomas dolorosos, quer sejam de caráter crônico ou agudo,
têm consequências para a saúde individual e os serviços de saúde. Certos
comportamentos, como a inatividade física e o tempo vendo televisão, estão
potencialmente relacionados à etiologia e cronificação desses sintomas. No
entanto, não está claro como as mudanças ou a manutenção desses
comportamentos podem afetar a incidência, a persistência ou a frequência de
dor geral ou da dor crônica musculoesquelética. Objetivo: Investigar a
associação entre dor crônica musculoesquelética e percepção de dor, durante
o dia ou antes de dormir, com a prática de atividade física e o tempo vendo
televisão em professores da educação básica. Objetivos específicos: 1)
Analisar a associação longitudinal da mudança na prática de atividade física no
lazer e do tempo vendo televisão com a incidência e a persistência de dor
crônica musculoesquelética; e 2) Analisar a relação entre a prática de atividade
física no tempo livre, autorreferida em entrevista pessoal, e a sensação de dor
durante o dia ou antes de dormir, registrada pelo próprio indivíduo ao longo de
sete dias consecutivos. Métodos: Os objetivos específicos foram
contemplados na forma de dois estudos, com resultados e discussões
abordados separadamente. A população estudada fez parte do projeto PróMestre, que aborda questões de saúde, estilo de vida e trabalho de professores
da rede pública. Professores das 20 escolas de maior porte do município de
Londrina, PR, Brasil, que atuavam em sala de aula ao menos um período da
semana e eram responsáveis por uma ou mais disciplinas foram incluídos no
estudo e entrevistados em duas ocasiões: entre 2012 e 2013 (baseline) e após
24 meses (follow-up). No follow-up, uma subamostra de professores preencheu
um diário de atividades durante sete dias consecutivos. Para o desfecho dor
crônica musculoesquelética considerou-se a percepção de sintomas dolorosos
há 6 meses ou mais nas seguintes regiões: ombros, braços, costas, joelhos,
pernas e pés. Definiu-se como dor durante o dia e dor antes de dormir quando
esse sintoma era reportado ao menos uma vez ao longo de sete dias. As
variáveis independentes foram a atividade física no lazer (ou no tempo livre) e
o tempo vendo televisão diariamente. Para as análises de associação, utilizouse a regressão logística. Resultados: Um total de 527 professores foram
estudados para contemplar o primeiro objetivo. Aumentar o tempo de lazer
dedicado à prática de atividade física (mudar ≤120 para >120 minutos de AFL
semanalmente) associou-se com menor chance de dor crônica
musculoesquelética persistente (odds ratio, OR=0,30; intervalo de confiança de
95%, IC95%=0,11-0,79) em comparação com manter-se fisicamente inativo.
Um total de 141 professores foram estudados para contemplar o segundo
objetivo. Entre esses, praticar mais de 240 minutos por semana de atividade
física no tempo livre associou-se com uma chance menor de reportar dor
durante o dia (OR=0,18; IC95%=0,06-0,54) e antes de dormir (OR=0,28;
IC95%=0,10-0,79), entretanto, as associações perderam significância
estatística após o ajuste pelo escore de sintomas depressivos. Conclusões:
Em síntese, este estudo mostrou que, comparado com se manter inativo,
passar a praticar mais de duas horas de atividade física no lazer semanalmente
é um comportamento associado com menor chance de persistência de dor
crônica musculoesquelética. Além disso, praticar mais de quatro horas
semanais de atividade física no tempo livre está relacionado com menor
frequência de dor durante o dia ou antes de dormir, independente dos
principais confundidores, exceto sintomas depressivos.
Qualidade do sono em professores de educação básica: correlação entre métodos subjetivos e objetivos e sua relação com dor lombar crônica e uso de medicamentos
Marcela Zambrim Campanini, Arthur Eumann Mesas
Data da defesa: 18/04/2018
OBJETIVO: Examinar a correlação entre medidas subjetivas e objetivas do sono, bem
como a relação entre sono, dor lombar crônica (DLC) e o uso de medicamentos em
professores da educação básica. Objetivos específicos: 1) Analisar a correlação e
concordância entre parâmetros subjetivos (diário) e objetivos (actigrafia) do sono; 2)
Analisar a associação bidirecional e prospectiva entre sono e dor lombar crônica; 3)
Investigar a associação entre o número de medicamentos de uso contínuo e parâmetros
do sono. MÉTODOS: Para a estruturação desta tese, uma introdução abordando os
temas de interesse foi elaborada. Em seguida, os objetivos específicos 1, 2 e 3 foram
contemplados na forma de 3 estudos, cujos resultados e discussões foram abordados
separadamente. A população estudada faz parte do projeto Saúde, Estilo de Vida e
Trabalho de Professores da Rede Pública do Paraná (Pró-Mestre), no qual professores
das 20 maiores escolas estaduais de Londrina (PR) foram entrevistados individualmente
em dois momentos: baseline (nos anos de 2012 e 2013) e seguimento (após 24 meses).
No seguimento, uma subamostra de professores (n=168) utilizou um actígrafo para
registro do ritmo vigília-sono e preencheu um diário de atividades durante 7 dias.
RESULTADOS: A concordância (coeficiente de correlação intraclasse – ICC) e a
correlação (coeficiente de correlação de Pearson ou Spearman - r) entre actígrafo e
diário foram de moderadas a altas para o tempo total de sono (ICC= 0,70; r= 0,60),
tempo total de cama (ICC= 0,83; r= 0,73), horário de dormir (ICC= 0,95; r= 0,91), hora
de início do sono (ICC= 0,94; r= 0,88) e hora de despertar (ICC= 0,87; r= 0,78).
Entretanto, a latência do sono (ICC= 0,49; r= 0,38) e a eficiência do sono (ICC= 0,16;
r= 0,22) demonstraram baixa concordância e correlação. O sono de pior qualidade
(PSQI>5) foi um fator preditor para dor lombar crônica persistente após 2 anos de
seguimento (Risco Relativo [RR]= 2,98, Intervalo de Confiança [IC] de 95%= 1,19-
7,48) mas não para novos casos dessa dor (RR= 1,09, IC 95%= 0,57-2,07). Não foram
encontradas associações entre a dor lombar crônica no baseline e a qualidade do sono
no seguimento. Nos participantes que tinham dor lombar crônica, a duração do sono ≤6
horas (RR= 1,54, IC 95%= 1,06; 2,25) e a eficiência do sono <85% (RR= 1,42, IC
95%= 1,07-1,89) medidas por actigrafia, e a hora de deitar reportada no diário >23h30m
(RR= 1,54, IC 95%= 1,06; 2,24) foram associadas ao relato de dor no dia seguinte. O
uso de ≥3 medicamentos foi associado com menor duração do sono (Odds ratio [OR]=
2,51; IC 95%= 1,01-6,21), maior latência do sono (OR= 2,65; IC 95%= 1,00-7,02) e
maior número de despertares durante a noite (OR= 3.30; IC 95%= 1,32-8,28), medidos
por actigrafia; e com maior latência (OR= 3,76; IC 95%= 1,36-10,5) e menor eficiência
do sono (OR=11,6; IC 95% =2,92-46,1), medidos pelo diário. O incremento de 1
medicamento foi associado a maior latência e menor eficiência autorreportados.
CONCLUSÕES: A actigrafia e o diário do sono demonstraram variados graus de
concordância nos parâmetros do sono, sugerindo que esses métodos medem diferentes
dimensões do sono, especialmente em relação à latência e à eficiência do sono. Os
parâmetros do sono podem desempenhar o papel de preditores de dor lombar crônica a
longo e a curto prazo. O uso contínuo de ≥3 medicamentos está associado a piores
parâmetros objetivos e subjetivos do sono em professores.
Violência e burnout em professores da educação básica de Londrina
Francine Nesello Melanda, Selma Maffei de Andrade
Data da defesa: 12/03/2018
O objetivo deste estudo foi analisar se a exposição prévia à violência no
ambiente escolar aumenta o risco de os professores sofrerem novamente
violência após dois anos e identificar relações transversais e longitudinais entre
violência psicológica e burnout. Trata-se de um estudo de coorte com dois anos
de seguimento realizado com 430 professores do ensino fundamental e médio
da rede pública de Londrina, Paraná. As informações foram obtidas em 2012-
2013 (T1) e 2014-2015 (T2) por entrevista face a face realizada por
entrevistadores treinados e preenchimento, pelo próprio professor, de um
questionário. As formas de violências investigadas foram violências
psicológicas (relatos de insultos de alunos, humilhações ou constrangimentos
por colegas ou superiores e ameaças recebidas) e violências físicas, nos 12
meses anteriores à pesquisa. Para mensurar burnout, utilizou-se o Maslach
Burnout Inventory, sendo consideradas apenas as dimensões de exaustão
emocional e despersonalização. Características sociodemográficas,
relacionadas ao trabalho e à saúde foram incluídas como covariáveis. Para a
análise da recorrência de violência foram utilizados o teste de McNemar e a
regressão de Poisson com variância robusta, com apresentação do risco
relativo (RR), intervalo de confiança de 95% (IC95%) e valor de p,
considerando nível de significância de 5%. A relação entre violência psicológica
e burnout foi verificada por modelos de equações estruturais. Violência
psicológica, exaustão emocional e despersonalização foram consideradas
variáveis latentes. Após dois anos, observou-se redução de 65,4% (T1) para
56,9% (T2) de violência reportada por professores (p=0,003), porém devido
apenas à diminuição da frequência de relatos de humilhações ou
constrangimentos por colegas ou superiores. Ter sofrido uma determinada
forma de violência aumentou em até três vezes o risco de sofrê-la novamente
em dois anos. Além disso, professores que relataram três ou quatro formas de
violências em T1 apresentaram RR de 2,23 (IC95%1,70-2,93) de sofrer
qualquer violência em T2, em comparação àqueles que não sofreram qualquer
forma de violência em T1. Não foram encontradas evidências de que estar
exposto à violência psicológica em T1 aumenta o risco de sofrer violência física
em T2 ou que violência física em T1 aumenta o risco de violência psicológica
em T2. Violência psicológica apresentou efeito direto sobre exaustão emocional
e despersonalização, quando analisados transversalmente. Longitudinalmente,
não foram observados efeitos diretos significativos. No entanto, observou-se
um efeito indireto da violência psicológica em T1 sobre ambas as dimensões
de burnout em T2. Este estudo mostrou que a violência contra professores,
exceto a referente a humilhações ou constrangimentos por colegas ou
superiores, é recorrente e que tem efeito sobre o burnout. Tendo em vista o
impacto destrutivo da violência e do burnout no ambiente de trabalho, ressalta-se
a importância da identificação da ocorrência desses eventos no ambiente escolar e
no estabelecimento de políticas de prevenção e gerenciamento da
violência e do esgotamento no trabalho.
Impacto do burnout na saúde de professores da rede pública do Paraná
Denise Albieri Jodas Salvagioni, Selma Maffei de Andrade
Data da defesa: 04/12/2017
Burnout é um fenômeno complexo e multidimensional resultante da interação entre
aspectos individuais e ambiente de trabalho. É a resposta ao estresse crônico do
trabalho definida por três dimensões: exaustão emocional, despersonalização e
reduzida realização profissional. Objetivo: Analisar se professores com maior nível de
burnout estão submetidos a maior risco de acidentes de trânsito, depressão e
afastamento da função docente por problemas de saúde. Método: Trata-se de estudo
de coorte prospectiva com dois anos de seguimento. Foram investigados 509
professores do ensino básico estadual do Paraná. Utilizou-se o Maslach Burnout
Inventory. Altos níveis de exaustão emocional e despersonalização (valores acima do
percentil 75) e baixos níveis de realização profissional (valores abaixo do percentil 25)
foram estabelecidos. Os acidentes de trânsito e os motivos de afastamento da função
docente foram autorreferidos pelos entrevistados. Considerou-se depressão o relato de
diagnóstico médico pelo professor. Usou-se Regressão de Poisson com variância
robusta para cálculo do risco relativo. Resultados: A incidência de acidentes de trânsito
entre professores foi de 11%. Após ajustes, a exaustão emocional e a reduzida
realização profissional não influenciaram na incidência de acidente de trânsito. No
entanto, despersonalização foi preditora desse desfecho – RR=1,73 (IC 95%: 1,05-2,86,
p=0,03). A incidência de depressão foi de 38 casos (9%). Exaustão emocional e
despersonalização influenciaram novos casos de depressão, após ajustes por sexo e
idade, mas perderam significância estatística quando variáveis relacionadas ao
ambiente de trabalho e às condições de saúde foram adicionadas ao modelo. A
incidência de afastamento da função docente por problemas de saúde foi de 31 casos
(6%). Desses, 13 estavam de licença médica (41,9%), 11 foram readaptados (35,5%),
um foi aposentado compulsoriamente (3,2%) e seis abandonaram definitivamente a
docência (19,4%). Após ajustes, a exaustão emocional não influenciou no afastamento
da função docente. No entanto, despersonalização foi preditora desse desfecho –
RR=2,62 (IC95%: 1,30-5,25, p<0,01). Baixos níveis de realização profissional
apresentaram relação com o afastamento da função docente por problemas de saúde,
porém sem significância estatística – RR=1,90 (IC95%: 0,93-3,87, p=0,08).
Conclusões: Este estudo encontrou que (1) despersonalização é fator de risco para
acidentes de trânsito, com risco 73% maior de professores em burnout sofrerem o
desfecho, independente de sexo, idade e maior exposição ao trânsito; (2) nenhuma
dimensão de burnout foi associada à incidência de depressão, após ajustes e, (3)
despersonalização e reduzida realização profissional mostraram-se indicadoras de
maior risco de afastamento da função docente por problemas de saúde.
Percepção de distúrbios de voz relacionados ao trabalho em professores da rede estadual de ensino e fatores ocupacionais associados
Michelle Moreira Abujamra Fillis, Arthur Eumann Mesas
Data da defesa: 26/05/2017
A profissão de professor é considerada de alto risco para a presença do distúrbio de
voz. Além das características do vínculo de trabalho, como carga horária e
quantidade de alunos por sala de aula, certas condições estruturais da escola, a
exposição a cargas físicas e psíquicas e o risco de sofrer violência escolar são
aspectos que merecem destaque na prevenção e no tratamento de problemas
vocais. Objetivos: Analisar as relações entre fatores ocupacionais e condição vocal
em professores da rede estadual de ensino de Londrina, Paraná. Para isso,
consideraram-se os seguintes objetivos específicos: 1) Analisar a associação entre
fatores ocupacionais e percepção de distúrbio de voz em professores de escolas
públicas estaduais 2) Analisar os fatores de risco ocupacionais para percepção de
distúrbio de voz nesses professores. MÉTODOS: Para a estruturação da presente
tese, cada objetivo específico foi apresentado no formato de um estudo com
metodologia, resultados e conclusões próprias. Esses objetivos foram explorados no
âmbito do projeto de pesquisa Saúde, Estilo de Vida e Trabalho de Professores da
Rede Pública do Paraná (PRÓ-MESTRE), o qual permitiu a obtenção das
informações necessárias analisadas nesta tese, além de outras investigações
exploradas pela equipe do projeto. A coleta de dados do PRÓ-MESTRE deu-se em
duas etapas. Para se alcançar o primeiro objetivo específico, realizou-se um estudo
transversal (Estudo 1) com dados coletados na etapa denominada baseline, entre
agosto de 2012 e junho de 2013, em entrevistas individuais de professores com
atuação em sala de aula nos níveis fundamental e/ou médio das 20 maiores escolas
Estaduais de Londrina. Para o segundo objetivo específico, um estudo de
delineamento do tipo coorte (Estudo 2) foi realizado com base em dados do baseline
e, ainda, de novos dados coletados no seguimento dos participantes após o período
de 24 meses (2014-2015). Especificamente para essa análise, consideraram-se
dados do seguimento apenas de participantes que continuavam exercendo a função
de professor da educação básica em escolas públicas. O instrumento para a coleta
de dados foi elaborado com base na literatura e previamente testado em estudo
piloto e após ajustes, a versão definitiva foi constituída por um formulário para
entrevista, cujas respostas eram anotadas pelo entrevistador, com questões
majoritariamente objetivas referentes à percepção de frequência de problemas
vocais, condições de trabalho, estilo de vida, saúde e violência escolar, entre outras
variáveis. Os dados foram duplamente digitados em banco criado no programa Epi
Info, versão 3.5.4 e analisados usando o programa SPSS, versão 19.0. A análise
descritiva foi realizada por meio de frequências absolutas e relativas, medidas de
tendência central e de dispersão. Para a análise bivariada, no estudo 1, utilizou-se a
razão de prevalência (RP) como medida de associação, e foi adotado nível de
significância de 5%. Para as análises ajustadas, construíram-se modelos de
regressão de Poisson. Já no estudo 2, para a análise bivariada, utilizou-se o odds
ratio como medida de associação, e foi adotado nível de significância de 5% (Teste
Qui-quadrado de Wald com apresentação do p-valor e do intervalo de confiança (IC)
de 95%) e para as análises ajustadas, construíram-se modelos de regressão
logística. Resultados: No Estudo 1, a percepção de problemas vocais frequentes foi
de 25,7%. Análises ajustadas mostraram associação desses problemas com
características do vínculo de trabalho (≥40 horas/semana, percepção ruim da
remuneração e dos benefícios de saúde), características do ambiente de trabalho
(quantidade de alunos por sala, exposição a pó de giz e microorganismos), aspectos
psicológicos (menor realização profissional, baixa oportunidade de expressar
opiniões, pior relacionamento com superiores e equilíbrio entre vida profissional e
pessoal) e situações de violência (insultos e assédio moral). No Estudo 2, a
manutenção/piora de percepção de distúrbios de voz frequentes (GPDVF) foi de
19,7% em 24 meses e tal condição associou-se ao sexo feminino, idade mais
elevada, tempo de profissão maior que 12 anos, exposição ao pó de giz, não se
sentir realizado profissionalmente e referir exposição a insultos e a violência física.
Após análise ajustada por sexo e idade, associou-se ao GPDVF a não realização
profissional e a exposição a insultos e violência física. Conclusão: O Estudo 1
permitiu concluir que a percepção de transtornos vocais frequentes afeta um em
cada quatro professores da educação básica e está associada a diversas
características da atividade docente, tanto estruturais como referentes ao processo
de trabalho. No Estudo 2, concluiu-se que um de cada 5 professores mantiveram ou
pioraram a percepção de distúrbio de voz relazionado ao trabalho em 24 meses de
seguimento. Evidenciou-se, ainda, que a insatisfação profissional e a exposição a
condições adversas do trabalho, como a violência, são fatores de risco para a
manutenção ou piora da percepção de distúrbio de voz frequentes.
Atividade física no tempo livre e fatores ocupados em professores de educação básica da rede pública
Douglas Fernando Dias, Arthur Eumann Mesas, Mathias Roberto Loch
Data da defesa: 24/03/2017
OBJETIVO: Aprofundar a compreensão sobre a relação trabalho e atividade física no
tempo livre (AFTL) em professores da educação básica. Para isso, consideraram-se
os seguintes objetivos específicos: 1) Sintetizar as evidências científicas sobre fatores
ocupacionais e atividade física (AF) em professores da educação básica no Brasil; 2)
Analisar a associação entre fatores ocupacionais e atividade física insuficiente no
tempo livre (AFI) (<150min/sem) em professores da educação básica da rede pública;
e 3) Analisar a associação entre mudanças autorreferidas nas condições de trabalho
e incidência e manutenção de níveis recomendados de AFTL (≥150min/sem) em
professores da educação básica da rede pública. MÉTODOS: Para a estruturação
desta tese, cada objetivo específico foi apresentado no formato de um artigo científico
com metodologia, resultados e conclusões próprias, conforme descrito na sequência.
Objetivo 1) Revisão sistemática sem restrição de idioma ou de data de publicação com
base nos descritores "professor", "atividade física" e termos relacionados. Os demais
objetivos específicos foram explorados no âmbito do projeto Saúde, Estilo de Vida e
Trabalho de Professores da Rede Pública do Paraná (PRÓ-MESTRE), no qual
professores das 20 maiores escolas estaduais de Londrina, atuantes em sala de aula
e responsáveis por uma ou mais disciplinas foram entrevistados individualmente em
dois momentos: baseline (nos anos de 2012 e 2013) e seguimento (após 24 meses).
Objetivo 2) Estudo transversal com dados obtidos no baseline. Objetivo 3) Estudo do
tipo coorte prospectiva, mediante análise de dados do baseline e do seguimento.
RESULTADOS: Objetivo 1) Na revisão sistemática foram identificados 17 artigos que
abordaram a AF em professores, todos publicados nos últimos dez anos, com
delineamento transversal e avaliação da AF realizada por meio de
questionários/formulários/escalas. A prevalência de AF variou de 19,3% a 62,4% e
apenas seis estudos verificaram sua associação com fatores ocupacionais. No total,
seis variáveis ocupacionais associaram-se à maior prática de atividade física. Objetivo
2) A prevalência de AFI entre os professores entrevistados foi de 71,9%, condição
associada de maneira independente à percepção de equilíbrio entre vida pessoal e
profissional ruim ou regular, percepção de que o tempo de permanência em pé afeta
o trabalho, percepção de capacidade atual para as exigências físicas do trabalho baixa
ou muito baixa e contrato de trabalho temporário. Objetivo 3) A incidência e
manutenção de níveis recomendados de AFTL ao longo de 24 meses foi de 23,2% e
63,6%, respectivamente. A análise ajustada mostrou que a incidência de níveis
recomendados de AFTL associou-se com a manutenção de bom equilíbrio entre vida
pessoal e profissional, manutenção da percepção de que raramente trabalha demais
e manutenção da percepção de que o trabalho raramente desgasta. CONCLUSÕES:
Com base nos estudos encontrados sobre o trabalho docente e a AF em professores
da educação básica no Brasil, as evidências ainda são insuficientes e os resultados
inconclusivos sobre tal relação. Por outro lado, dois estudos originais incluídos nesta
tese apresentaram evidências de que melhores condições de trabalho associam-se
com menor prevalência de AFI e com maior incidência de níveis recomendados de
AFTL.
Qualidade do sono entre professores e fatores associados
Denise Andrade Pereira Meier, Selma Maffei de Andrade
Data da defesa: 09/11/2016
O sono desempenha função notável na prevenção de doenças, manutenção e
recuperação da saúde física e mental. Como processo reparador, sofre influências de
fatores determinantes e condicionantes, que o tornam complexo e multifacetado. As
condições adversas de trabalho enfrentadas por professores podem prejudicar sua
qualidade de vida e, consequentemente, seu padrão de sono. Este estudo objetivou
analisar a qualidade do sono e fatores associados em professores da educação
básica. Trata-se de um estudo transversal com professores do ensino fundamental e
médio, alocados nas 20 escolas com maior número de docentes da rede estadual de
Londrina-PR. A coleta de dados, de agosto de 2012 a junho de 2013, deu-se por
entrevistas e aplicação de um questionário respondido pelo professor. Foi analisada a
associação entre pior qualidade do sono e características sociodemográficas, de estilo
de vida, condições de saúde e percepções sobre o trabalho. A qualidade do sono foi
obtida por meio do Pittsburgh Sleep Quality Index, considerando-se a pior qualidade do
sono escores superiores a cinco pontos. Os dados foram digitados e tabulados no
programa Epi Info e Statistical Package for the Social Sciences, respectivamente.
Participaram da pesquisa 972 professores e a taxa de resposta foi de 86,3%. Com
idade média de 41,5 anos, a maioria era do sexo feminino (68,3%), da raça/cor branca
(74,5%), vivia com companheiro (59,1%), tinha renda familiar mensal de até R$ 5 mil
(59,1%) e pós-graduação (87,5%). Mais da metade (52,9%) referiu inatividade física,
8,0% relataram fumar e metade consumia bebida alcoólica. Cerca de 70% citaram o
consumo diário de café. As condições de saúde mais frequentemente referidas foram:
dor crônica (42,1%), ansiedade (25,1%) e depressão (15,4%). A prevalência de pior
qualidade do sono foi de 54,3%. Associaram-se à pior qualidade do sono nas análises
bivariadas: renda mensal familiar de até R$ 5 mil, inatividade física, relatos de
diagnóstico de hipertensão, depressão, ansiedade e dor crônica, ter três vínculos de
trabalho, ter sofrido violência física ou psicológica e percepção negativa em relação a:
remuneração, equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, tempo para lazer e família,
quantidade de alunos por sala de aula, ritmo e intensidade do trabalho, número de
tarefas realizadas e tempo disponível para preparar atividades. Entre as variáveis de
condições de trabalho, após análises ajustadas, permaneceram associadas à pior
qualidade do sono: ter sofrido violência física ou psicológica no trabalho como
professor, percepção negativa em relação ao tempo para lazer e para a família e ao
equilíbrio entre vida pessoal e profissional. A análise detalhada da violência revelou
que todos os tipos permaneceram associados à pior qualidade do sono mesmo após
ajustes. Os dados identificados indicam aspectos importantes sobre a qualidade do
sono e sua associação com algumas características do trabalho docente. Espera-se
que os resultados despertem reflexões para formular políticas públicas que melhorem
as condições laborais desses profissionais, minimizando os efeitos sobre sua
qualidade de vida, incluído o sono.