Teses e Dissertações
Palavra-chave: Direitos Nutricionais
Insegurança alimentar de beneficiários de programas de transferência de renda
Francielle Richetti Anschau, Tiemi Matsuo
Data da defesa: 30/01/2008
O quadro de insegurança alimentar do Brasil é um dos mais preocupantes do mundo
e sua superação deve-se pautar na elaboração de políticas públicas intersetoriais.
Este estudo teve por objetivo determinar a prevalência de insegurança alimentar de
famílias beneficiárias de programas de transferência de renda e estabelecer
associações entre a insegurança alimentar e as características sócio-demográficas
das famílias. A população de estudo foi constituída por 421 famílias beneficiárias de
programas de transferência de renda, residentes no município de Toledo-PR. Os
dados foram coletados entre dezembro de 2006 e fevereiro de 2007, em visitas
domiciliares com entrevista, mediante consentimento livre e esclarecido. Os
instrumentos de coleta de dados foram a Escala Brasileira de Insegurança Alimentar
(EBIA), Questionário de Classificação Econômica (ABEP) e um questionário
complementar. A presença de 4 a 6 moradores no domicílio foi observada em 69,1%
dos casos e 94,3% apresentaram 1 ou mais moradores com idade inferior a 18 anos.
Em 29,4% dos domicílios a renda per capita foi de R$ 150,01 ou mais e 88,6% dos
entrevistados se disseram cadastrados em algum programa de transferência de
renda; destes, 86,9% são beneficiários do Bolsa Família. Segundo a classificação
econômica, 67,9% se enquadraram nas Classes D ou E. Em relação aos chefes de
domicílio, 75,1% são do sexo masculino. A 4ª série não foi concluída por 45,6% dos
chefes e cerca de 50% trabalhavam de maneira informal ou estavam
desempregados. A insegurança alimentar esteve presente em 74,6% das famílias,
das quais 5,9% apresentaram insegurança severa e 23,8% moderada. Quanto maior
a renda média per capita, mais distante a família se apresenta da insegurança
alimentar (p<0,0001). Conforme análise bivariada, as demais variáveis relacionadas
à insegurança alimentar moderada ou severa foram: classe econômica D ou E
(p<0,0001), presença de moradores menores de 18 anos no domicílio (p=0,0017),
famílias que se dizem beneficiárias de programas de transferência de renda
(p=0029), baixa escolaridade (p=0,0176) e o trabalho informal ou o desemprego
(p=0,0003) do chefe do domicílio. Após o controle das variáveis na análise
multivariada, mantiveram a associação a classificação econômica D ou E (OR=2,74
– I.C.1,57 a 4,80), a presença 5 ou mais moradores no domicílio (OR=1,83 - I.C.
1,15 a 2,89) e o trabalho informal ou desemprego do responsável pelo domicílio
(OR=1,81 – I.C. 1,14 a 2,86). A elevada prevalência de insegurança alimentar
moderada ou severa indica a necessidade de maior atenção às políticas públicas, de
forma a auxiliar na melhoria da geração de emprego e renda, na inclusão de bens de
consumo e serviços para as famílias e, no acesso a alimentos em quantidade e
qualidade adequadas, de forma a garantir a segurança alimentar.