QUESTÕES DE GÊNERO QUE ATRAVESSAM AS HISTÓRIAS DE MULHERES COM DIAGNÓSTICO DE CÂNCER DE MAMA
JULIANA CAMILLA DOS SANTOS TOMIOTTO GIULIANI, Marselle Nobre de Carvalho
Data da defesa: 31/07/2024
O câncer de mama é indiscutivelmente um problema de saúde pública no Brasil, pois possui alta taxa de incidência e é a segunda causa de morte entre as mulheres. Trata-se de um agravo que traz um prejuízo por morte evitável e produz mutilações, deturpação de identidade, acometimento biopsicossocial e impacto econômico. Nesse sentido, a perspectiva hegemônica e patriarcal da mama como um símbolo de constituição da feminilidade e de construção social da mulher (subordinada ao homem) pode influenciar a maneira como as questões de gênero são consideradas no rastreamento e no diagnóstico precoce de câncer de mama. Isso posto, valendo se do método qualitativo do tipo história oral de vida, o objetivo geral desta dissertação é investigar as questões de gênero que atravessam a trajetória, o acesso e o cuidado das mulheres com câncer de mama. O estudo foi realizado a partir dos diagnósticos de câncer de mama da Unidade da mama, ambulatório do Consórcio Intermunicipal de Saúde do Médio Paranapanema (CISMEPAR) situado em Londrina, que atende os municípios das 17ª e 18ª Regionais de Saúde do Paraná. Desse modo, foram conduzidas sete entrevistas com apoio de um roteiro semiestruturado entre os meses de agosto e novembro de 2023, organizado em forma de contação de história a fim de trazer as narrativas das mulheres sobre as suas vivências em relação ao diagnóstico de câncer de mama. Convém mencionar que a pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da instituição na qual a pesquisadora está vinculada. Para as discussões, utilizaram-se três eixos de análise: a) o acesso e a assistência à saúde, destacando o papel da Atenção Primária à Saúde (APS) no auxílio das mulheres ao longo de seus percursos; b) a divisão sexual do trabalho e o papel social de gênero, abordando o cuidado com a casa e com os filhos somado aos trabalhos remunerados externos ao lar (por exemplo, cozinha, serviço doméstico, educação infantil, artesanato e costura) e a consequente sobrecarga feminina em atividades diárias e; c) os sentimentos frente ao diagnóstico, verificando como os medos e as angústias associados ao câncer de mama afetam a vida social das mulheres e sua busca pela identificação clínica da doença. Tais pilares se revelam aspectos dificultadores no que se refere ao cuidado da saúde da mulher e ao diagnóstico precoce de câncer de mama. Em vista disso, a elaboração e a implementação de políticas públicas voltadas para essa população, com metas e financiamentos, representam uma das propostas para melhoria desse cenário. Entre as medidas necessárias estão as garantias de: acesso à creche e à escola em horários alternativos; direitos para mães trabalhadoras; igualdade salarial entre gênero e raça; e direitos sexuais e reprodutivos. E também investimentos no setor saúde como financiamentos, qualificação da APS e educação permanente em saúde para detecção e rastreamento das condições de saúde, com foco no câncer de mama a fim de proporcionar identificação e agilidade no diagnóstico e tratamento.