A influência das Novas Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação em Atenção Primária à Saúde em cursos de Medicina do Paraná
Luciana Osorio Cavalli, Brígida Gimenez Carvalho
Data da defesa: 21/07/2021
Introdução: Mudanças na formação profissional médica vêm sendo discutidas nas últimas décadas, entre elas, a superação do modelo de formação biomédico, fragmentado, com enfoque na especialização e hospitalocêntrico, que motivou várias entidades e instituições nacionais e internacionais a proporem recomendações para um novo modelo de formação, voltado para inserção na Atenção Primária à Saúde (APS). No Brasil, as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) de 2001 e 2014, principalmente, propõem a inserção nos primeiros anos e longitudinal na APS para desenvolver as habilidades e competências dos egressos dos cursos de Medicina. Objetivo: Analisar a formação para a APS, dos cursos de Medicina, no estado do Paraná, relacionado às últimas DCNs. Metodologia: A metodologia utilizada foi um estudo desenvolvido em três fases: 1) Scoping Review para verificar o que já havia sido descrito pela literatura sobre o assunto; 2) Exploratório e descritivo – levantamento das escolas e das grades curriculares, avaliando-as de acordo com a diretriz curricular; 3) Qualitativo – Entrevista com coordenadores de cursos para compreender como foi construído e está sendo implementado o projeto político-pedagógico (PPP). Os dados foram analisados subsidiados pelo referencial teórico de Bourdieu. Resultados: Os resultados foram apresentados em formato de três artigos científicos: 1) A Formação Médica na APS: Uma Revisão de Literatura 2) A Formação Médica na APS no Paraná; 3) A Formação Médica para a APS em quatro escolas do Paraná: a percepção dos coordenadores de curso. O primeiro artigo tratou de uma scoping review e identificou uma maioria de artigos publicados a partir de 2015, sendo que, as DCNs aparecem como principal motivador para mudança curricular, com 100% das escolas apresentando inserção precoce, 76,5% no primeiro semestre, 47,1% ao longo de oito semestres e com objetivo de aprendizado que vai ao encontro das diretrizes. Porém, a falta de estrutura das unidades, da formação dos preceptores e convênios precários apareceram como aspectos negativos. O segundo artigo retrata a análise dos PPPs de dez cursos de Medicina do Paraná, apresenta que 100% dos currículos analisados referem inserção na APS, sendo 80% por oito semestres, 100% inserem durante o internato, porém em 30% não acontece pelo período preconizado pelas DCNs; os objetivos da inserção, no entanto, obedecem às DCNs. O terceiro artigo apresenta que em 100% dos PPPs analisados também há a inserção na APS ainda no primeiro ano, sendo que em 75% deles por oito semestres, porém verifica-se na entrevista que em 50% destas o tempo de inserção prática é inferior ao descrito no PPP. Conclusão: Percebe-se, nos artigos brasileiros estudados e nos PPPs avaliados, que a formação médica na graduação atende ao preconizado pelas DCNs de 2014, pelos autores e pelas experiências internacionais. Verificam-se avanços importantes em relação ao ensino para a APS nos cursos estudados em relação à adequação ao preconizado nas diretrizes, mas há algumas divergências entre o que aparece no PPPs dos cursos e a inserção dos estudantes em estágios práticos. Reforça-se a importância da valorização desses espaços para os docentes e discentes.
Formação do enfermeiro para educação em saúde em um currículo integrado: interfaces com o pensamento complexo
Andréia Bendine Gastadi , Mara Lúcia Garanhani
Data da defesa: 16/02/2017
As práticas educativas, dentre elas a educação em saúde, constituem uma das principais dimensões do processo de trabalho do enfermeiro. Apesar do desenvolvimento e de uma reorientação crescente no campo das reflexões teóricas e metodológicas da educação em saúde, há ainda avanços a serem alcançados, principalmente na realidade dos serviços de saúde. Um dos desafios consiste na formação de recursos humanos orientada pela educação popular e respeito aos saberes da comunidade, em busca de uma cidadania compartilhada. O curso de Enfermagem da Universidade Estadual de Londrina desenvolve, desde o ano 2000, o Currículo Integrado, utilizando a problematização e metodologias ativas de ensino e aprendizagem. O projeto pedagógico propõe 12 temas transversais, compreendidos como dinamizadores das atividades acadêmicas, articulados de forma crescente aos conteúdos específicos e desempenhos essenciais dos módulos. A educação em saúde constitui um desses temas transversais. O objetivo geral deste estudo foi compreender como o tema transversal educação em saúde está sendo desenvolvido na formação do enfermeiro em um currículo integrado. Trata-se de um estudo compreensivo, do tipo estudo de caso. As fontes de dados foram constituídas de 17 cadernos de planejamento e desenvolvimento dos módulos interdisciplinares; 23 estudantes que participaram de grupos focais e 22 estudantes que responderam a um questionário; 11 professores que foram entrevistados; observação de duas atividades de ensino-aprendizagem envolvendo a temática em estudo. A coleta de dados ocorreu de novembro de 2013 a fevereiro de 2016. A análise documental pautou-se nas leituras exploratória, seletiva, analítica e interpretativa. O material obtido dos grupos focais e entrevistas foi audiogravado e transcrito na íntegra. O corpus foi produzido por triangulação de dados e analisado na perspectiva do pensamento complexo de Edgar Morin por meio do círculo hermenêutico crítico. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da universidade em estudo. Os resultados evidenciaram o tema educação em saúde na formação do enfermeiro sob três perspectivas: a trajetória do desenvolvimento do tema transversal na formação do enfermeiro, as concepções de educação em saúde para estudantes e professores e, desafios, potencialidades e sugestões. No que tange à perspectiva transversal a educação em saúde vem sendo desenvolvida em todas as séries do currículo em estudo sob diferentes contextos, sendo ainda um desafio alcançar a multidimensionalidade e a globalidade para a pertinência do conhecimento. No que tange à perspectiva conceitual os professores contemplam diferentes dimensões que envolvem, para alguns, o referencial da educação popular em saúde, que, todavia, não se mostra no conceito dos estudantes, que apresentam conceitos mais voltados ao modelo tradicional. Os estudantes apresentaram lacunas em relação à compreensão intelectual de educação em saúde, somando-se a isso o desafio da compreensão humana. No que tange à perspectiva operacional, na visão dos professores, os desafios estão ligados ao próprio docente e a questões estruturais e administrativas. Entretanto elencaram como potencialidades o próprio currículo e o perfil do corpo docente. Conclui-se que as vivências ancoradas nos princípios da educação popular configuraram boas práticas pedagógicas e que a formação para a educação em saúde se faz em um processo contínuo de construção do conhecimento e escolhas em meio a um universo complexo e permeado por incertezas. Acredita-se que as escolhas devem ser pautadas no respeito, na ética e na humanização, com práticas educativas baseadas no compartilhamento de saberes e experiências para o desenvolvimento da autonomia e da cidadania de todos os envolvidos.
Aprendizagem para o trabalho em equipe: reflexões na perspectiva do estudante de enfermagem e do pensamento complexo
Fernanda da Silva Floter, Mara Lúcia Garanhani
Data da defesa: 31/08/2015
O Currículo Integrado (CI) do curso de enfermagem da Universidade Estadual de Londrina (UEL) foi implantado no ano de 2000 com uma organização pedagógica diferenciada. Sua estrutura curricular é composta por módulos interdisciplinares e por temas transversais que devem perpassar os módulos de todas as séries do curso. Um desses temas é o Trabalho em Equipe. O objetivo desse estudo foi compreender o processo de ensino e aprendizagem de habilidades para o trabalho em equipe em um CI de Enfermagem, na percepção dos estudantes. Trata-se de um estudo exploratório compreensivo, com abordagem qualitativa, do tipo estudo de caso, realizado no curso de enfermagem da UEL. As fontes de dados foram constituídas pelos cadernos de planejamento e desenvolvimento dos módulos interdisciplinares e pelos estudantes que participaram de grupos focais. Os encontros com os estudantes foram gravados, transcritos na íntegra e submetidos à análise temática. A coleta de dados ocorreu de novembro de 2012 a dezembro de 2013. Participaram do estudo 25 estudantes. A pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética desta universidade em estudo. Os resultados foram organizados em quatro momentos e as discussões apoiadas em elementos do pensamento complexo de Edgar Morin. No primeiro momento foi realizada a analise documental de 16 módulos interdisciplinares. No segundo momento, apresenta as estratégias de ensino e aprendizagem utilizadas nas quatro séries do curso de enfermagem para o desenvolvimento de habilidades para o trabalho em equipe. Buscou-se analisar a explicação que os estudantes fizeram de seus desenhos, estes utilizados como estímulo para desencadear o conceito de equipe. Em seguida os resultados foram discutidos na perspectiva da espiral complexa de Morin. A análise documental possibilitou verificar que a temática vem sendo trabalhada de nas quatro séries em vários momentos durante a formação. As estratégias de ensino e aprendizagem elencadas pelos estudantes abrangem os seminários, os tutoriais, os módulos de Práticas Interdisciplinares e Interação Ensino, Serviço e Comunidade (PIN 1, 2) e as atividades práticas em estágios e no Internato de Enfermagem. O tema transversal que trata do trabalho em equipe esta sendo desenvolvido nos diferentes módulos interdisciplinares de maneira crescente. Os resultados da análise dos desenhos realizados revelaram que os estudantes compreendem o trabalho em equipe como pessoas unidas que buscam um objetivo comum, que possuem papéis complementares, que se ajudam e que buscam harmonia e necessitam de companheirismo. Os resultados apontaram que a estrutura curricular do curso em estudo oportuniza o desenvolvimento de determinadas habilidades para o trabalho em equipe desde o início do curso.