Teses e Dissertações
Palavra-chave: Cuidados paliativos
CUIDADOS PALIATIVOS NA ATENÇÃO BÁSICA: PRODUÇÃO DE UM CORPO CARTOGRÁFICO
EMILLY PENNAS MARCIANO MARQUES, Regina Melchior
Data da defesa: 21/02/2024
Os cuidados paliativos podem ser definidos como um cuidado integral aos indivíduos frente a uma doença grave com ameaça da continuidade da vida, objetivando o alívio do sofrimento biopsicossocial e espiritual para melhora da qualidade de vida do indivíduo e seus familiares. Não estamos falando sobre a possibilidade de cura ou não, mas do cuidado na finitude, considerando a morte como parte da vida. Trata-se da conexão entre a ciência e a humanidade, da integralidade do cuidado sob todas as suas dimensões, centrado no usuário e respeitando sua autonomia. O trabalho em saúde é em fundamento coletivo e os cuidados paliativos colocam em evidência essa característica e apresenta inúmeros desafios. É uma situação delicada, de nossa finitude, que é um tema sensível tanto para os trabalhadores como para os usuários, para que se alcance e promova o apoio e conforto necessário, decompondo o ordinário e compondo-se do singular. Por se tratar de um processo eminentemente longitudinal, os CP guardam estreita relação com a Atenção Básica (AB), que tem como uma de suas características acompanhar seus usuários na horizontalidade de seus cuidados, No entanto, o CP muitas vezes é compreendido como uma especialidade ou uma assistência restrita ao âmbito hospitalar, o que o coloca de certa forma distante da AB ou apenas alvo de ações pontuais. Assim, os usuários em cuidado paliativo frequentemente enfrentam um vazio assistencial, com dificuldades de acesso e de um cuidado realizado em rede. Desta maneira, o objetivo desta pesquisa foi cartografar a produção dos cuidados paliativos na AB e dar visibilidade às possibilidades e barreiras para sua produção. Para isso, recorremos a cartografia como intercessor metodológico, que possibilitou o tracejo de mapas da produção viva do trabalho e do cuidado em seu espaço micropolítico, por meio da estratégia do usuário-guia, que é como um fio condutor nos guiando pela rede de cuidado. A pesquisa aconteceu de dezembro de 2022 à maio de 2023, em uma unidade básica de saúde do município de Londrina. Durante essa cartografia, foi possível observar que o cuidado paliativo está presente, mesmo que não intencionalmente no território e de alguma forma alguns usuários entraram na linha de produção do cuidado da AB. Outros tiveram suporte familiar, especialmente no luto e apesar de algumas ofertas de suporte da Unidade Básica de Saúde, alguns usuários não foram alcançados pelo cuidado da equipe. Nos encontros com os usuários, foi possível observar o quão reconfortante é, a segurança que traz para a família e para o usuário, ter sua rede de cuidados organizada, saber quando e para onde vai se algo acontecer. Sobre o Processo de Trabalho, os trabalhadores enfrentam diversos atravessamentos que endurecem a produção do cuidado enquanto trabalho vivo. Conversas com os trabalhadores nos deram pistas dessa captura e algumas repercussões das forças biopolíticas e mercadológicas que operam em uma lógica de linha de produção no processo de trabalho dos serviços de saúde, que frequentemente resultam em sobrecarga aos trabalhadores que desejam ofertar uma boa assistência, mas não conseguem pois são interceptados pelo modelo hegemônico compartimentalizado do cuidado. Diante disso, nossas conclusões tornam-se provisórias, uma vez que o trabalho em saúde é um processo intensamente relacional e orgânico, mas marcado por apostas e disputas de projetos mais ou menos produtores de vida. Os trabalhadores podem ser dispositivos potentes para disputar outras agendas e modos de cuidado, que problematizam e dão visibilidade às múltiplas possibilidades de arranjos, no entanto, enfrentam diariamente um grande desafio com a falta de recursos, perda de integrantes da equipe por diversos motivos, dificuldade do cuidado compartilhado com outros serviços e pontos da rede e a grande demanda gerencial e territorial, gerando sobrecarga e adoecimento da equipe. É de extremamente importante e urgente que haja espaços que possibilitem a reflexão da prática e das apostas feitas no espaço micropolítico que ocupamos, que sejam investidas forças e recursos financeiros, institucionais, políticos, processuais ou não, sejam eles governamentais ou instituído pelas próprias equipes na disputa de uma AB mais forte.
Identificação e caracterização dos indivíduos com indicação de cuidados paliativos cadastrados na Estratégia Saúde da Família
Fernando Cesar Iwamoto Marcucci, Marcos Aparecido Sarria Cabrera
Data da defesa: 22/08/2016
Introdução: Os Cuidados Paliativos (CP) buscam melhorar a qualidade de vida dos
pacientes com doença em fase avançada ou sem possibilidade de cura, mas há
poucos dados relacionados às características e necessidades destes indivíduos no
contexto da atenção primária. Objetivos: Busca-se identificar os indivíduos com
indicação para CP na Estratégia Saúde da Família (ESF); caracterizar suas
condições clínicas e sociodemográficas, os principais sintomas e a capacidade
funcional; e identificar quais serviços estes pacientes receberam da Unidade Básica
de Saúde (UBS). Método: Realizou-se um estudo transversal, de cunho
exploratório, em Londrina-PR. A amostra foi obtida a partir de UBSs que possuíam
equipes da ESF, e estas foram orientadas a indicarem os indivíduos cadastrados
que apresentavam as condições associadas aos CP. Os indivíduos indicados foram
triados pela escala Palliative Care Screening Tool (PCST) e, aqueles incluídos,
foram avaliados por: Questionário de dados sociodemográficos e clínicos; Escala de
Performance de Karnofsky (EPK); Escala Sintomas de Edmonton; e Palliative care
Outcome Scale (POS). Os resultados foram analisados por estatísticas descritiva e
analítica. Resultados: Seis equipes de ESF indicaram 238 pacientes. Destes, 13
faleceram e 38 não foram localizados. Foram triados 187 pacientes pela PCST, 114
foram excluídos, por não preencherem os critérios de inclusão, e 73 foram incluídos.
A frequência de pacientes com indicação de CP foi de 456/100 mil pessoas
registradas na ESF. Daqueles incluídos, 41% eram homens e 59% mulheres, com
média de idade de 77 anos. As doenças demenciais e cerebrovasculares foram os
quadros mais frequentes. A maioria tinha condições crônicas e limitação funcional
importante (média da EPK de 47,9 pontos). Os sintomas mais frequentes foram o
comprometimento do bem-estar, dor, cansaço e sonolência, de intensidade leve.
Houve correlação positiva entre a EPK e os sintomas de dor, cansaço e falta de ar.
A maioria dos pacientes utiliza a UBS para a obtenção de medicamentos e
orientação técnica de enfermeiros, médicos e agentes comunitários. Poucos tiveram atendimento de outros profissionais. Outros problemas percebidos foram a falta de
visita domiciliar e a demora no atendimento. A escala POS indicou maior
comprometimento nos aspectos de informação recebida, no valor próprio e na
ansiedade familiar. Os cuidadores tiveram uma média de idade de 61 ano, a maioria
era mulher, em geral, filhas e cônjuges dos pacientes. Dez indivíduos sem
cuidadores tiveram maior funcionalidade (p<0,01), mas a intensidade de sintomas de
dor (p=0,04) e cansaço (p=0,03), e o escore na escala POS (p=0,01) foram maiores,
indicando maior dificuldade no controle de sintomas e maior limitação na assistência
em CP que o grupo com cuidadores. Discussão: Os casos com necessidade de CP
estão presentes na ESF, mas há limitações na sua assistência. A formulação de
políticas de saúde e a capacitação dos profissionais envolvidos são aspectos
fundamentais para incluir o acesso aos CP no sistema de saúde, especialmente
neste nível de atenção, o que poderia melhorar a qualidade de vida destes pacientes
e seus familiares. Conclusão: Há necessidade de ofertar CP no contexto da ESF.
Para isto, é necessário treinamento, planejamento e políticas específicas nesta área.