Teses e Dissertações
Palavra-chave: Cuidado Centrado no Paciente
DA ATENÇÃO BÁSICA A UMA REDE DE CUIDADOS PALIATIVOS
BEATRIZ ZAMPAR, Regina Melchior, Josiane Vivian Camargo de Lima
Data da defesa: 24/06/2025
Cuidados paliativos são compreendidos como uma modalidade de cuidado voltada
ao alívio do sofrimento e à promoção de conforto e qualidade de vida a pessoas que
convivem com doenças que ameaçam a continuidade da vida, bem como às suas
famílias, considerando todas as dimensões do sofrimento humano: física, emocional,
social-familiar e espiritual. Esta tese tem como objetivo mapear a construção de uma
rede de cuidados paliativos a partir da Atenção Básica (AB), no contexto do Sistema
Único de Saúde (SUS), situando-se em uma experiência no município de
Londrina/PR. A pesquisa está fundamentada nos referenciais da micropolítica do
cuidado e do trabalho em saúde, especialmente nas contribuições de Emerson
Merhy, Laura Feuerwerker, Michel Foucault, Gilles Deleuze, Félix Guattari e Baruch
Espinosa. Esse percurso se fez por meio da cartografia, acompanhando processos
vivos de produção do cuidado, captando o vivido, o sensível e o singular que
atravessa os sujeitos implicados na construção de uma rede viva. O cuidado
paliativo é analisado como uma prática ética, coletiva e situada, que tensiona
regimes de verdade instituídos pela racionalidade biomédica e abre espaço para
novas formas de viver, cuidar e resistir. Nesse contexto, propõe-se o conceito de
cuidado total como prática que ultrapassa o atendimento das dimensões da dor total,
ao integrar uma postura radical de reconhecimento da vida em sua integralidade —
articulando escuta, vínculo, desejo, espiritualidade, política, território e redes vivas,
especialmente diante da finitude. A análise inclui registros de encontros com
usuários, trabalhadores, gestores e estudantes; os movimentos de construção de
coletivos; a articulação da rede por meio de um grupo de trabalho intersetorial; a
implementação de um programa municipal e as estratégias de educação
permanente. Evidenciam-se os desafios políticos, institucionais e subjetivos que
atravessam a consolidação de uma política pública de cuidados paliativos a partir da
Atenção Básica, bem como a potência dos encontros e das tecnologias leves como
disparadoras de novos modos de produzir cuidado. O foco está na cartografia dos
territórios produzidos, desfeitos e refeitos nos processos de adoecer e de morrer —
e na possibilidade de continuar existindo, resistindo e cuidando enquanto há vida, e
de ressignificar o que existe depois dela para quem fica.