Adesão ao tratamento anti-hipertensivo e fatores associados na área de abrangência de uma Unidade de Saúde da Família, Londrina, PR
Edmarlon Girotto, Selma Maffei de Andrade, Marcos Aparecido Sarria Cabrera
Data da defesa: 17/06/2008
A hipertensão arterial é o principal fator de risco para doenças cardiovasculares. Para o seu controle são necessárias medidas farmacológicas e não-farmacológicas, como alimentação e atividade física. Contudo, a adesão ao tratamento é o grande desafio dos profissionais e serviços de saúde, especialmente na atenção básica. Nesse sentido, este estudo teve por objetivo determinar a adesão ao tratamento anti-hipertensivo e identificar fatores associados a esta condição. A população de estudo foi composta por hipertensos de 20 a 79 anos, cadastrados na Unidade de Saúde da Família Vila Ricardo, no município de Londrina, Paraná. A coleta de dados ocorreu de janeiro a junho de 2007, com amostra sistemática e aleatória de hipertensos. Foram colhidas informações auto-referidas, além das medidas de pressão arterial e das circunferências abdominal e do quadril. Foram entrevistados 385 hipertensos, sendo 62,6% mulheres e 37,4% homens, com idade média de 58,9 anos. Cerca de 50,0% dos entrevistados tinham no máximo 3ª série do ensino fundamental completa, 46,0% pertenciam à classificação econômica D ou E e 57,4% referiram não possuir trabalho remunerado. Entre os entrevistados, 84,2% relataram utilizar medicamentos para controle da hipertensão, 8,3% abandonaram o tratamento e 7,5% alegaram que não houve prescrição de medicamentos. A adesão ao tratamento farmacológico foi encontrada em 59,0% dos hipertensos. O esquecimento (32,2%), a normalização da pressão arterial (21,2%) e os efeitos adversos (13,7%) foram os principais motivos alegados para a não-adesão. Com relação ao tratamento não-farmacológico, 17,7% e 69,1% dos hipertensos referiram ser aderentes à atividade física regular e a mudanças na alimentação, respectivamente. A adesão à atividade física regular associou-se ao sexo masculino, à maior escolaridade, à presença de diabetes, à ausência de colesterol elevado, à relação cintura-quadril e circunferência abdominal normais, ao índice de massa corporal < 25 kg/m2 , ao mínimo de uma consulta ao ano e a uma medida da pressão arterial ao mês. A adesão a modificações na alimentação esteve associada ao sexo feminino, à menor escolaridade, ao acesso a plano de saúde, ao não-tabagismo ou ex-tabagismo, ao não-consumo ou consumo irregular de bebidas alcoólicas, ao nãoabandono do tratamento medicamentoso, ao mínimo de uma consulta ao ano e a uma medida da pressão arterial ao mês. Na análise multivariada, os fatores independentemente associados à adesão ao tratamento farmacológico foram: a faixa etária de 50 a 79 anos (Razão de Chances [OR]=4,673), o não-consumo ou consumo irregular de bebidas alcoólicas (OR=4,608), a realização de consultas médicas em intervalos máximos de um ano (OR=1,908) e a ausência de trabalho remunerado (OR=1,792). Os resultados indicam uma baixa adesão ao tratamento anti-hipertensivo, especialmente à atividade física regular, e sugerem a implantação de estratégias que visem estimular a adesão às medidas de controle da hipertensão arterial.
Pessoas vivendo com HIV/aids: vivências do tratamento anti-retroviral
Gisele dos Santos Carvalho, Regina Melchior
Data da defesa: 02/07/2008
O tratamento anti-retroviral atual tornou a aids uma doença crônica. Apesar desta conquista, a adesão à terapia anti-retroviral ainda sofre influência de vários fatores, que devem ser analisados para o desenvolvimento de novas estratégias de adesão e para o aprimoramento daquelas já existentes. Este estudo teve por objetivo compreender a vivência das pessoas infectadas pelo HIV com o tratamento antiretroviral. Foram realizadas entrevistas individuais semi-estruturadas com dez usuários de um centro de doenças infecciosas em uma cidade de médio porte do Paraná. Os discursos, após serem transcritos, foram analisados pela análise de conteúdo proposta por Bardin. Os resultados foram apresentados em quatro categorias: Descobrir-se HIV positivo, “E agora?” – Vivendo e convivendo com o HIV, Interação com o tratamento anti-retroviral e Estratégias de adesão ao tratamento. A primeira categoria descreve como se deu a descoberta do vírus e quais sentimentos estiveram envolvidos com este momento. Na segunda categoria, desvela-se a relação da pessoa infectada pelo HIV com o próprio vírus e com as pessoas de seu cotidiano. A categoria Interação com o tratamento anti-retroviral incorpora as experiências com as medicações, no início e no decorrer do tratamento, e o papel do serviço de saúde diante as dificuldades vivenciadas pelas pessoas infectadas pelo vírus e quanto à adesão à terapia. A última categoria traz as estratégias desenvolvidas pelos entrevistados que ajudam a aderir ao tratamento. Concluiu-se que, apesar da diminuição do número de doses e comprimidos – em comparação com os esquemas terapêuticos anteriores – ter minimizado em muito as dificuldades relacionadas à tomada da medicação, a adesão aos anti-retrovirais ainda representa a superação de obstáculos relacionados aos medicamentos e à convivência com o HIV. As estratégias para aderir ao tratamento levantadas pelas pessoas que fazem uso das medicações podem fornecer aos profissionais de saúde meios para auxiliar outros pacientes a adaptarem o tratamento ao seu estilo de vida. O investimento do poder público em estratégias de intervenção tem resultado em melhoras na adesão. O fortalecimento da relação entre os profissionais de saúde e as pessoas que vivem com o HIV constitui outro ponto decisivo na adesão ao tratamento.