Dengue em Londrina, Paraná: conhecimento sobre a doença, opiniões e adesão a medidas preventivas
Nadia Souza Takemura, Selma Maffei de Andrade
Data da defesa: 09/06/2004
No Brasil, o dengue tem se apresentado sob a forma de epidemias explosivas. Sua incidência está relacionada, principalmente, à densidade do mosquito vetor (Aedes aegypti), constituindo-se em importante problema de saúde pública não só no Brasil, mas nas Américas e no mundo. Para o seu controle, além de medidas relacionadas ao ambiente, o conhecimento da população sobre a doença e a adesão a medidas preventivas são fundamentais. O presente trabalho teve como objetivos descrever o conhecimento sobre a doença, opiniões e a adesão a medidas preventivas em relação ao agravo, no primeiro semestre de 2003, entre residentes da Região Norte de Londrina que tiveram a doença confirmada no ano anterior. O conhecimento sobre a doença e seu vetor foi avaliado por meio de entrevistas, realizadas por agentes de controle do dengue previamente treinados, com as pessoas que haviam adquirido dengue em 2002, ou com familiares próximos. A adesão a medidas preventivas foi avaliada por meio de inspeção nos domicílios, para verificar possíveis criadouros do Aedes aegypti. As visitas domiciliárias ocorreram de fevereiro a maio de 2003 e os dados foram obtidos com utilização de formulário pré-testado. Em 2002, foram confirmados casos de dengue em 165 domicílios da Região Norte de Londrina e em 152 (92,1%) foram realizadas as visitas domiciliárias. A maioria dos entrevistados foi o próprio caso (53,3%) e dona-de-casa (76,3%). Grande parte (62,5%) tinha o primeiro grau incompleto ou nenhuma escolaridade. Foram relatadas boas coberturas de abastecimento de água e de coleta de esgoto e de lixo pela rede pública (96,7%, 71,7% e 98,0% respectivamente). A maioria dos entrevistados afirmou que dengue era uma doença (77,6%), transmitida por mosquito (94,0%) e referiu o papel da água no nascimento desse inseto (90,8%). No entanto, somente 44,1% identificaram os dois exemplares do Aedes aegypti em um mostruário de dois Aedes e quatro pernilongos comuns e parcela expressiva não soube informar a quantidade do vetor em seu bairro (44,7%). A maioria acreditava que existia risco de ocorrer dengue hemorrágico em Londrina (90,1%), mas 33,6% não sabiam explicar ou erraram o que era dengue hemorrágico. A televisão (78,9%) e os agentes de controle de dengue (63,8%) foram as principais fontes de informações citadas. Estes últimos também foram os mais referidos quanto à atuação em trabalhos de prevenção na comunidade (96,1%), em comparação a uma pequena participação do conselho de saúde local (3,3%) e dos técnicos do Programa Saúde da Família (18,4%). Apesar de 94,1% considerarem que a melhor forma de prevenção era manter o quintal limpo e sem água parada, e de afirmarem que não mudaram de comportamento após a doença, pois já tomavam os devidos cuidados (57,2%), foram encontrados recipientes que representavam risco para a criação do vetor do dengue (passíveis de acumular água, com água ou com larvas) em 82,2% dos domicílios, denotando baixa adesão a medidas preventivas na população pesquisada. Estes resultados indicam que os entrevistados possuem informações sobre alguns aspectos do dengue, mas não construíram conhecimento suficiente acerca da doença que resulte em adoção de um comportamento preventivo efetivo, apesar de já terem vivenciado a experiência da doença. Há necessidade, portanto, de uma reflexão sobre o processo de trabalho e de mudanças no processo educativo dos profissionais de saúde, que contribuam para uma conseqüente transformação na relação dos serviços com a população.