Teses e Dissertações
Palavra-chave: Condições de trabalho
Condições de trabalho, cargas de trabalho e absenteísmo em professores da rede pública do Paraná
Natália Paludeto Guerreiro, Elisabete de Fátima Polo de Almeida Nunes, Alberto Durán González
Data da defesa: 28/03/2014
Cada vez mais é necessário aprofundamento e compreensão da dinâmica entre
trabalho e saúde, e na profissão docente não é diferente. Apesar de ser considerado
trabalho intelectual, ele demanda uma série de exigências físicas e psíquicas que
somadas às condições de trabalho desfavoráveis, podem desencadear o
adoecimento e ter como consequência o absenteísmo. Este estudo teve como
objetivo analisar condições de trabalho, cargas de trabalho e absenteísmo em
professores. Trata-se de um estudo observacional do tipo transversal quantitativo e
integrou um projeto chamado “Saúde, Estilo de Vida e Trabalho de Professores da
Rede Pública do Paraná” PRÓ-MESTRE. A população de estudo foi constituída por
1061 professores do ensino fundamental e/ou ensino médio das 20 maiores escolas
da rede estadual de ensino da cidade de Londrina - PR, sendo entrevistados 978
professores. A coleta de dados foi realizada entre agosto de 2012 e julho de 2013
por estudantes de graduação, mestrado e doutorado envolvidos no projeto,
utilizando um formulário de entrevista e um questionário. A maioria dos professores
entrevistados era do sexo feminino (68,5%), viviam com companheiros (60%), com
média de idade de 41,5 anos (DP 10) e possuíam pós-graduação nível
especialização (73,1%). Quanto às características profissionais, 68,7% eram
estatutários e 31,3% não estatutários, 42,9% trabalhavam em até dois locais de
trabalho, 64,2% lecionavam em pelo menos dois turnos e 41,7% atuavam tanto no
ensino fundamental quanto no ensino médio. Mais de 80% dos professores
relataram bom relacionamento com os superiores, professores e alunos. Aspectos
como remuneração (62,8%), quantidade de alunos por sala (68,4%), manutenção e
conservação de equipamentos (50,8%), infraestrutura para preparo de atividades
(52,5%) e infraestrutura predial (51,5%) foram relatados como negativos
(ruim/regular). Em relação às cargas de trabalho, a exposição ao ruído dentro da
sala de aula (61,5%), o tempo que permanece em pé (52,7%), as condições para
escrever no quadro de giz (42,6%), o ritmo e a intensidade do trabalho (50,3%), o
número de tarefas realizadas e a atenção e responsabilidades exigidas (51,4%),
assim como o tempo disponível para preparar as atividades (60,9%), afeta muito sua
saúde e condições de trabalho. O absenteísmo foi referido por 51,9% dos
entrevistados, e os principais motivos de afastamento foram: problemas respiratórios
(20,7%), problemas osteomusculares (13,8%) e transtornos mentais (10,8%). Estes
fatores sinalizaram sobre as condições de trabalho e saúde dos professores da rede
Estadual do Paraná, podendo servir como subsídio para o desenvolvimento de
políticas públicas que visem melhorias, modificando não só o cenário em que estão
inseridos, como também, valorizando seu papel e sua importância perante a
sociedade.
Depressão em professores da rede estadual de ensino de Londrina/PR: caracterização e fatores associados
Nathalia K. A. Guimarães de Faria, Alberto Durán González, Camilo Molino Guidoni
Data da defesa: 29/02/2016
A depressão afeta 350 milhões de pessoas mundialmente e é uma doença
importante que reflete na família, no trabalho e nas relações pessoais do indivíduo
bem como, em casos extremos, pode levar ao suicídio. O desenvolvimento da
depressão é influenciado por fatores genéticos, características de personalidade e o
meio em que se vive. Condições adversas de trabalho podem contribuir para o
desenvolvimento da depressão, bem como por agravos relacionados a ele. A
profissão docente apresenta muitos desafios e condições adversas de trabalho. Em
diversos países, os transtornos mentais são o principal motivo causador de
absenteísmo entre docentes. Pensando na importância dos professores para a
sociedade, no ônus relacionado à depressão e na condição adversa de trabalho vivida
por muitos professores, o objetivo do estudo foi conhecer a prevalência de depressão
e de sintomas depressivos, de acordo com o Inventário de Beck-II (BDI-II), e os fatores
associados à depressão em professores da Rede Estadual de Ensino de Londrina/PR.
Trezentos e oito professores foram entrevistados, dos quais 34,7% foram
considerados depressivos, de acordo com os preceitos previstos pelo BDI-II. A maioria
dos considerados depressivos era do sexo, tinham entre 25 e 39 anos de idade, eram
casados, possuiam especialização e renda familiar mensal entre R$ 3001,00 e R$
5000,00. Os principais sintomas assinalados pelos entrevistados foram falta de
energia, alterações no padrão do sono, cansaço ou fadiga e autocrítica. As seguintes
variáveis relacionadas ao trabalho se mostraram associadas à presença de
depressão: ter menos de dez anos de profissão, relatar relacionamento com
superiores ou alunos, motivação para chegar ao trabalho e equilíbrio entre vida
profissional e pessoal como ruim ou regular e relatar ter sofrido qualquer tipo de
violência.
Insatisfação no trabalho e transtorno mental comum em agentes de segurança penitenciária do estado de São Paulo
Daiane Suele Bravo, Arthur Eumann Mesas, Renne Rodrigues
Data da defesa: 16/04/2021
Introdução: O trabalho do agente de segurança penitenciária (ASP) no interior do
cárcere caracteriza-se pela exposição a situações de perigo, intimidações e
distanciamento social durante a jornada laboral, além da condição de estar em
contínuo alerta devido ao risco de rebeliões e de outras incidências. Objetivo:
Analisar os fatores ocupacionais associados aos transtornos mentais comuns (TMC)
e à insatisfação no trabalho (IT) em ASP. Métodos: Os estudos que compõem esta
tese fazem parte do projeto de pesquisa “AGEPEN: Condições de Trabalho, Saúde
Mental e Sono em Agentes Penitenciários do Estado de São Paulo”. Para mensurar a
presença de TMC, utilizou-se o instrumento Self-Reporting Questionnaire (SRQ-20),
com ponto de corte ≥7 para indicativo de TMC. A IT foi mensurada por meio do
instrumento Occupational Stress Indicator (OSI), empregando o percentil 75 para
identificar insatisfação (≥78 pontos). As associações entre as variáveis ocupacionais
com TMC e IT foram analisadas separadamente por meio de modelos de regressão
logística binária para obtenção da odds ratio (OR) e respectivos intervalos de
confiança (IC) a 95% ajustadas pelos principais fatores de confusão. Resultados: A
análise dos fatores associados ao TMC incluiu 331 ASP, entre os quais 33,5%
apresentaram TMC. A presença de TMC entre os ASP se associou com a pior
percepção sobre as condições de trabalho (OR: 2,67; IC 95%: 1,19 - 6,05; p=0,018),
ter sofrido insulto (OR: 4,07; IC95%: 1,76 - 9,41; p<0,001) e assédio moral (OR: 8,01;
IC95%: 2,42 - 26,52; p<0,001), nos últimos 12 meses. Nas análises dos fatores
associados à IT, 27,2% dos 301 ASP apresentaram IT. Verificou-se que a IT entre os
ASP se associou com pior percepção sobre as condições de trabalho (OR: 3,19;
IC95%: 1,64 - 6,20; p<0,001), ter sofrido insulto (OR: 2,38; IC95%: 1,27 - 4,47;
p=0,007), assédio moral (OR: 4,18; IC95%: 1,61 - 10,86; p=0,003) nos últimos 12
meses, pensar em mudar de profissão (OR: 2,41; IC95%: 1,20 - 4,83; p=0,013) e TMC
(OR: 2,22; IC 95%: 1,18 - 4,20; p=0,014). Conclusão: Os transtornos mentais comuns
e a insatisfação no trabalho afetam um a cada quatro agentes de segurança
penitenciária. Piores condições do ambiente de trabalho, sofrer insultos e assédio
moral se associaram com as presenças de TMC e de IT. Adicionalmente, a IT se
associou com pensar em mudar de profissão. Embora os ASP trabalhem em um
ambiente periculoso e inseguro, foram variáveis relacionadas ao ambiente físico e às
violências psicológicas que se associaram com TMC e com IT, e não variáveis
relacionadas às violências físicas ou à maior proximidade com os apenados. Dado
que tanto os TMC quanto a IT podem impactar a saúde mental desses trabalhadores,
considera-se de fundamental importância o desenvolvimento de estratégias que visem
reduzir a violência psicológica sofrida pelos ASP no interior do cárcere.
Análise dos fatores ocupacionais associados ao estresse e à qualidade do sono em agentes de segurança penitenciária
Soraya Geha Gonçalves, Arthur Eumann Mesas
Data da defesa: 15/04/2021
Os Agentes de Segurança Penitenciária (ASP) são os trabalhadores responsáveis
pela gestão e operação das penitenciárias, sofrendo com os problemas do sistema
penitenciário, como superlotação e dificuldades de implementar políticas adequadas
à ressocialização das pessoas privadas de liberdade. Como consequência, esses
trabalhadores são expostos a condições de trabalho inadequadas, que podem resultar
em problemas como estresse ocupacional e má qualidade do sono. Em razão da
importância desses profissionais para o sistema penitenciário e dos possíveis
impactos das condições de trabalho sobre a saúde destes, a presente tese teve como
objetivo analisar a associação entre as condições de trabalho com o estresse
ocupacional e a qualidade do sono em ASP. Trata-se de um estudo de corte
transversal realizado com ASP do sexo masculino atuantes em quatro penitenciárias
do Estado de São Paulo, no período de janeiro a agosto de 2019. O estresse
ocupacional, obtido por meio do Swedish Demand-Control-Support Questionnaire
(DCSQ), e a pior qualidade do sono, obtida pelo Índice de Qualidade do Sono de
Pittsburgh (PSQI) > 5 pontos, constituíram desfechos analisados em estudos
independentes em relação às variáveis ocupacionais. O trabalho de alta exigência foi
identificado em 24,3% dos 321 ASP incluídos no primeiro estudo. Análises ajustadas
demonstraram maior chance para o trabalho de alta exigência: turno diarista (ORaj=
5,00; IC 95%: 1,65 – 15,13) e vontade de mudar de profissão (ORaj= 3,75; IC 95%:
1,56 – 9,03) e maior chance para o trabalho ativo: turno diarista (ORaj= 8,19; IC 95%:
2,93 – 22,90) e maiores exigências mentais (ORaj= 4,82; IC 95%: 1,60 – 14,47). A pior
qualidade do sono foi observada em 57,8% dos 256 ASP incluídos no segundo estudo,
associando-se, em análises ajustadas, a maiores exigências mentais (ORaj= 3,10; IC
95%: 1,40 – 6,85), à insatisfação profissional (ORaj= 4,52; IC 95%: 1,32 – 15,46), à
dificuldade para deixar de pensar no trabalho durante o tempo livre (ORaj= 5,13; IC
95%: 1,26 – 20,78) e com a vontade de mudar de profissão (ORaj= 3,20; IC 95% 1,53
– 6,71). Com base nos resultados encontrados, é possível verificar que o ambiente
laboral dos ASP, seja pelas condições ou pela organização do processo de trabalho,
aumentam as chances da associação com estresse ocupacional e pior qualidade do
sono. Desta forma, constata-se a necessidade de estratégias organizacionais e
estruturais que possam contribuir para amenizar os principais fatores ocupacionais
relacionadas a alta demanda do trabalho, assim como a implantação de programas
para a promoção da qualidade do sono, visando saúde e bem-estar dos ASP e
garantia de segurança para o processo de trabalho.
Associação entre ensino em saúde e percepção de trabalho de alta frequência com práticas relacionadas à alimentação em professores de educação básica de Londrina, Paraná
Renne Rodrigues, Arthur Eumann Mesas
Data da defesa: 20/04/2018
A docência possui diversos desafios e responsabilidades, e fatores pessoais,
como o letramento em saúde, e ocupacionais, como o trabalho de alta exigência
(categoria de maior risco do modelo demanda-controle), podem predispor à
realização de condutas alimentares não recomendáveis. Em razão da
importância dos professores para a sociedade, considera-se essencial o
aprofundamento de questões pessoais e laborais com condutas alimentares.
Nesse sentido, o presente estudo tem como objetivos investigar a associação do
letramento em saúde e das exigências para o trabalho com condutas
alimentares. Para a estruturação desta tese, cada objetivo foi apresentado no
formato de um estudo com métodos, resultados e conclusões próprias. Os
objetivos foram explorados no âmbito do projeto Saúde, Estilo de Vida e Trabalho
de Professores da Rede Pública do Paraná (PRÓ-MESTRE), no qual
professores das 20 maiores escolas estaduais de Londrina foram entrevistados
individualmente em dois momentos: baseline (nos anos de 2012 e 2013) e
seguimento (após 24 meses). Desse modo, o primeiro estudo é um recorte
transversal, com dados obtidos no baseline, investigando a associação entre o
letramento em saúde (obtido por meio da ferramenta Newest Vital Sign – NVS)
e condutas alimentares. O segundo estudo é uma coorte prospectiva que
investiga a influência do trabalho de alta exigência em condutas alimentares. O
letramento em saúde inadequado foi observado em 62,6% dos 927 professores
incluídos no primeiro estudo, associando-se com menor frequência de consulta
a informações nutricionais em professores mais jovens, e com maior chance de
consumo de alimentos pré-preparados frequentemente entre os professores de
meia idade. O trabalho de alta exigência medido no baseline foi identificado em
39,2% dos 502 professores incluídos no segundo estudo, associando-se com
maior chance de manutenção do consumo não frequente de frutas, maior chance
de diminuição do consumo de frutas e verduras/legumes e com menor chance
de diminuição do consumo de gordura visível de carne vermelha, após 24 meses
de seguimento. Com base nos resultados encontrados é possível identificar que
tanto o letramento em saúde inadequado (em recorte transversal) quanto o
trabalho de alta exigência (em recorte longitudinal) estão implicados na maior
chance de manutenção de condutas alimentares não recomendados e piora de
condutas alimentares, bem como na menor chance de melhora de condutas
alimentares. É importante ressaltar que diversas associações esperadas entre
letramento em saúde e condutas alimentares não se confirmaram na presente
população. Desse modo, sugere-se a discussão sobre as condições de trabalho
e ações integradas que visem o incentivo à alimentação saudável.
Percepção de distúrbios de voz relacionados ao trabalho em professores da rede estadual de ensino e fatores ocupacionais associados
Michelle Moreira Abujamra Fillis, Arthur Eumann Mesas
Data da defesa: 26/05/2017
A profissão de professor é considerada de alto risco para a presença do distúrbio de
voz. Além das características do vínculo de trabalho, como carga horária e
quantidade de alunos por sala de aula, certas condições estruturais da escola, a
exposição a cargas físicas e psíquicas e o risco de sofrer violência escolar são
aspectos que merecem destaque na prevenção e no tratamento de problemas
vocais. Objetivos: Analisar as relações entre fatores ocupacionais e condição vocal
em professores da rede estadual de ensino de Londrina, Paraná. Para isso,
consideraram-se os seguintes objetivos específicos: 1) Analisar a associação entre
fatores ocupacionais e percepção de distúrbio de voz em professores de escolas
públicas estaduais 2) Analisar os fatores de risco ocupacionais para percepção de
distúrbio de voz nesses professores. MÉTODOS: Para a estruturação da presente
tese, cada objetivo específico foi apresentado no formato de um estudo com
metodologia, resultados e conclusões próprias. Esses objetivos foram explorados no
âmbito do projeto de pesquisa Saúde, Estilo de Vida e Trabalho de Professores da
Rede Pública do Paraná (PRÓ-MESTRE), o qual permitiu a obtenção das
informações necessárias analisadas nesta tese, além de outras investigações
exploradas pela equipe do projeto. A coleta de dados do PRÓ-MESTRE deu-se em
duas etapas. Para se alcançar o primeiro objetivo específico, realizou-se um estudo
transversal (Estudo 1) com dados coletados na etapa denominada baseline, entre
agosto de 2012 e junho de 2013, em entrevistas individuais de professores com
atuação em sala de aula nos níveis fundamental e/ou médio das 20 maiores escolas
Estaduais de Londrina. Para o segundo objetivo específico, um estudo de
delineamento do tipo coorte (Estudo 2) foi realizado com base em dados do baseline
e, ainda, de novos dados coletados no seguimento dos participantes após o período
de 24 meses (2014-2015). Especificamente para essa análise, consideraram-se
dados do seguimento apenas de participantes que continuavam exercendo a função
de professor da educação básica em escolas públicas. O instrumento para a coleta
de dados foi elaborado com base na literatura e previamente testado em estudo
piloto e após ajustes, a versão definitiva foi constituída por um formulário para
entrevista, cujas respostas eram anotadas pelo entrevistador, com questões
majoritariamente objetivas referentes à percepção de frequência de problemas
vocais, condições de trabalho, estilo de vida, saúde e violência escolar, entre outras
variáveis. Os dados foram duplamente digitados em banco criado no programa Epi
Info, versão 3.5.4 e analisados usando o programa SPSS, versão 19.0. A análise
descritiva foi realizada por meio de frequências absolutas e relativas, medidas de
tendência central e de dispersão. Para a análise bivariada, no estudo 1, utilizou-se a
razão de prevalência (RP) como medida de associação, e foi adotado nível de
significância de 5%. Para as análises ajustadas, construíram-se modelos de
regressão de Poisson. Já no estudo 2, para a análise bivariada, utilizou-se o odds
ratio como medida de associação, e foi adotado nível de significância de 5% (Teste
Qui-quadrado de Wald com apresentação do p-valor e do intervalo de confiança (IC)
de 95%) e para as análises ajustadas, construíram-se modelos de regressão
logística. Resultados: No Estudo 1, a percepção de problemas vocais frequentes foi
de 25,7%. Análises ajustadas mostraram associação desses problemas com
características do vínculo de trabalho (≥40 horas/semana, percepção ruim da
remuneração e dos benefícios de saúde), características do ambiente de trabalho
(quantidade de alunos por sala, exposição a pó de giz e microorganismos), aspectos
psicológicos (menor realização profissional, baixa oportunidade de expressar
opiniões, pior relacionamento com superiores e equilíbrio entre vida profissional e
pessoal) e situações de violência (insultos e assédio moral). No Estudo 2, a
manutenção/piora de percepção de distúrbios de voz frequentes (GPDVF) foi de
19,7% em 24 meses e tal condição associou-se ao sexo feminino, idade mais
elevada, tempo de profissão maior que 12 anos, exposição ao pó de giz, não se
sentir realizado profissionalmente e referir exposição a insultos e a violência física.
Após análise ajustada por sexo e idade, associou-se ao GPDVF a não realização
profissional e a exposição a insultos e violência física. Conclusão: O Estudo 1
permitiu concluir que a percepção de transtornos vocais frequentes afeta um em
cada quatro professores da educação básica e está associada a diversas
características da atividade docente, tanto estruturais como referentes ao processo
de trabalho. No Estudo 2, concluiu-se que um de cada 5 professores mantiveram ou
pioraram a percepção de distúrbio de voz relazionado ao trabalho em 24 meses de
seguimento. Evidenciou-se, ainda, que a insatisfação profissional e a exposição a
condições adversas do trabalho, como a violência, são fatores de risco para a
manutenção ou piora da percepção de distúrbio de voz frequentes.
Prevalência de dor crônica e associação com percepções e condições de trabalho dos professores da rede estadual de ensino de Londrina (PR)
Flávia Lopes Gabani, Selma Maffei de Andrade
Data da defesa: 26/04/2017
As condições de trabalho estão relacionadas à ocorrência de dor em professores, a
qual resulta em limitação das atividades diárias, maior número de consultas
médicas, afastamento do trabalho e pior qualidade de vida. O processo álgico pode
ser deflagrado e perpetuado por diversos motivos, que podem diferir de acordo com
as características laborais e as regiões do corpo afetadas. Elucidar esse fenômeno
de forma mais detalhada pode reduzir danos adicionais à saúde do professor. Este
estudo teve por objetivo caracterizar a dor crônica, prevalência e regiões do corpo
mais afetadas, e associar com percepções e condições de trabalho de professores
da rede estadual de ensino de Londrina (PR). Tratou-se de estudo transversal
realizado no período de 2012 a 2013 com professores do ensino fundamental e
médio. Foram excluídos os educadores readaptados ou afastados de função, com
menos de um ano de serviço e com diagnóstico de neoplasia maligna. O desfecho
dor crônica foi dividido em três regiões do corpo: membros superiores, coluna lombar
e membros inferiores. A análise estatística ocorreu por meio de três modelos de
regressão de Poisson e cálculo da razão de prevalência ajustados por variáveis
sociodemográficas, de estilo de vida e comorbidades. Para comparação das
proporções de professores com e sem dor crônica utilizou-se o teste Qui-quadrado
com correção de Yates, considerando nível de significância de 5% (p < 0,05). A
amostra final correspondeu a 958 professores. Dor crônica foi referida por 408
(42,6%) docentes, com maior frequência em mulheres, na faixa etária acima de 40
anos, da raça/cor branca e amarela/indígena, entre aqueles que não realizavam
atividade física pelo menos uma vez por semana ou realizavam de forma
insuficiente, e não consumidores de álcool. Também foi mais frequente na
população com vínculo empregatício tipo estatutário e com tempo de atuação como
professor acima de 20 anos. As regiões reportadas como mais dolorosas foram
membros superiores, cabeça, membros inferiores e coluna lombar. No modelo final
da regressão de Poisson, dor nos membros superiores foi significativamente mais
frequente entre professores que consideravam que as seguintes situações afetavam
seu trabalho: condições para escrever no quadro e para carregar o material didático,
tempo que permanecia em pé e posição do corpo em relação ao mobiliário e
equipamentos. Também houve associação da dor em membros superiores com a
percepção regular/ruim sobre a quantidade de alunos em sala de aula e o equilíbrio
entre vida pessoal e profissional. A dor na coluna lombar associou-se à percepção
de que escrever no quadro afetava seu trabalho. A dor em membros inferiores
associou-se ao tempo de profissão > 20 anos, à percepção regular/ruim quanto ao
equilíbrio pessoal e profissional e à percepção de que o tempo que permanecia em
pé afetava o trabalho. Foram evidenciadas percepções e codições relativas ao
trabalho docente associadas a diferentes regiões corpóreas afetadas por dor crônica
em professores.
Atividade física no tempo livre e fatores ocupados em professores de educação básica da rede pública
Douglas Fernando Dias, Arthur Eumann Mesas, Mathias Roberto Loch
Data da defesa: 24/03/2017
OBJETIVO: Aprofundar a compreensão sobre a relação trabalho e atividade física no
tempo livre (AFTL) em professores da educação básica. Para isso, consideraram-se
os seguintes objetivos específicos: 1) Sintetizar as evidências científicas sobre fatores
ocupacionais e atividade física (AF) em professores da educação básica no Brasil; 2)
Analisar a associação entre fatores ocupacionais e atividade física insuficiente no
tempo livre (AFI) (<150min/sem) em professores da educação básica da rede pública;
e 3) Analisar a associação entre mudanças autorreferidas nas condições de trabalho
e incidência e manutenção de níveis recomendados de AFTL (≥150min/sem) em
professores da educação básica da rede pública. MÉTODOS: Para a estruturação
desta tese, cada objetivo específico foi apresentado no formato de um artigo científico
com metodologia, resultados e conclusões próprias, conforme descrito na sequência.
Objetivo 1) Revisão sistemática sem restrição de idioma ou de data de publicação com
base nos descritores "professor", "atividade física" e termos relacionados. Os demais
objetivos específicos foram explorados no âmbito do projeto Saúde, Estilo de Vida e
Trabalho de Professores da Rede Pública do Paraná (PRÓ-MESTRE), no qual
professores das 20 maiores escolas estaduais de Londrina, atuantes em sala de aula
e responsáveis por uma ou mais disciplinas foram entrevistados individualmente em
dois momentos: baseline (nos anos de 2012 e 2013) e seguimento (após 24 meses).
Objetivo 2) Estudo transversal com dados obtidos no baseline. Objetivo 3) Estudo do
tipo coorte prospectiva, mediante análise de dados do baseline e do seguimento.
RESULTADOS: Objetivo 1) Na revisão sistemática foram identificados 17 artigos que
abordaram a AF em professores, todos publicados nos últimos dez anos, com
delineamento transversal e avaliação da AF realizada por meio de
questionários/formulários/escalas. A prevalência de AF variou de 19,3% a 62,4% e
apenas seis estudos verificaram sua associação com fatores ocupacionais. No total,
seis variáveis ocupacionais associaram-se à maior prática de atividade física. Objetivo
2) A prevalência de AFI entre os professores entrevistados foi de 71,9%, condição
associada de maneira independente à percepção de equilíbrio entre vida pessoal e
profissional ruim ou regular, percepção de que o tempo de permanência em pé afeta
o trabalho, percepção de capacidade atual para as exigências físicas do trabalho baixa
ou muito baixa e contrato de trabalho temporário. Objetivo 3) A incidência e
manutenção de níveis recomendados de AFTL ao longo de 24 meses foi de 23,2% e
63,6%, respectivamente. A análise ajustada mostrou que a incidência de níveis
recomendados de AFTL associou-se com a manutenção de bom equilíbrio entre vida
pessoal e profissional, manutenção da percepção de que raramente trabalha demais
e manutenção da percepção de que o trabalho raramente desgasta. CONCLUSÕES:
Com base nos estudos encontrados sobre o trabalho docente e a AF em professores
da educação básica no Brasil, as evidências ainda são insuficientes e os resultados
inconclusivos sobre tal relação. Por outro lado, dois estudos originais incluídos nesta
tese apresentaram evidências de que melhores condições de trabalho associam-se
com menor prevalência de AFI e com maior incidência de níveis recomendados de
AFTL.
Qualidade do sono entre professores e fatores associados
Denise Andrade Pereira Meier, Selma Maffei de Andrade
Data da defesa: 09/11/2016
O sono desempenha função notável na prevenção de doenças, manutenção e
recuperação da saúde física e mental. Como processo reparador, sofre influências de
fatores determinantes e condicionantes, que o tornam complexo e multifacetado. As
condições adversas de trabalho enfrentadas por professores podem prejudicar sua
qualidade de vida e, consequentemente, seu padrão de sono. Este estudo objetivou
analisar a qualidade do sono e fatores associados em professores da educação
básica. Trata-se de um estudo transversal com professores do ensino fundamental e
médio, alocados nas 20 escolas com maior número de docentes da rede estadual de
Londrina-PR. A coleta de dados, de agosto de 2012 a junho de 2013, deu-se por
entrevistas e aplicação de um questionário respondido pelo professor. Foi analisada a
associação entre pior qualidade do sono e características sociodemográficas, de estilo
de vida, condições de saúde e percepções sobre o trabalho. A qualidade do sono foi
obtida por meio do Pittsburgh Sleep Quality Index, considerando-se a pior qualidade do
sono escores superiores a cinco pontos. Os dados foram digitados e tabulados no
programa Epi Info e Statistical Package for the Social Sciences, respectivamente.
Participaram da pesquisa 972 professores e a taxa de resposta foi de 86,3%. Com
idade média de 41,5 anos, a maioria era do sexo feminino (68,3%), da raça/cor branca
(74,5%), vivia com companheiro (59,1%), tinha renda familiar mensal de até R$ 5 mil
(59,1%) e pós-graduação (87,5%). Mais da metade (52,9%) referiu inatividade física,
8,0% relataram fumar e metade consumia bebida alcoólica. Cerca de 70% citaram o
consumo diário de café. As condições de saúde mais frequentemente referidas foram:
dor crônica (42,1%), ansiedade (25,1%) e depressão (15,4%). A prevalência de pior
qualidade do sono foi de 54,3%. Associaram-se à pior qualidade do sono nas análises
bivariadas: renda mensal familiar de até R$ 5 mil, inatividade física, relatos de
diagnóstico de hipertensão, depressão, ansiedade e dor crônica, ter três vínculos de
trabalho, ter sofrido violência física ou psicológica e percepção negativa em relação a:
remuneração, equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, tempo para lazer e família,
quantidade de alunos por sala de aula, ritmo e intensidade do trabalho, número de
tarefas realizadas e tempo disponível para preparar atividades. Entre as variáveis de
condições de trabalho, após análises ajustadas, permaneceram associadas à pior
qualidade do sono: ter sofrido violência física ou psicológica no trabalho como
professor, percepção negativa em relação ao tempo para lazer e para a família e ao
equilíbrio entre vida pessoal e profissional. A análise detalhada da violência revelou
que todos os tipos permaneceram associados à pior qualidade do sono mesmo após
ajustes. Os dados identificados indicam aspectos importantes sobre a qualidade do
sono e sua associação com algumas características do trabalho docente. Espera-se
que os resultados despertem reflexões para formular políticas públicas que melhorem
as condições laborais desses profissionais, minimizando os efeitos sobre sua
qualidade de vida, incluído o sono.
Análise da estrutura dimensional do Demand Control Support Questionnaire e fatores ocupacionais associados às demandas psicológicas, ao controle e ao trabalho de alta exigência em professores do ensino básico de Londrina (PR)
Marcela Maria Birolim, Selma Maffei de Andrade, Arthur Eumann Mesas
Data da defesa: 25/02/2015
A docência é considerada uma profissão estressante e seu exercício é permeado por condições
de trabalho adversas. O Demand Control Support Questionnaire (DCSQ) considera o trabalho
de alta exigência como decorrente da combinação entre altas demandas psicológicas e baixo
controle no processo de trabalho e tem sido utilizado para investigar associação entre estresse
e desfechos negativos em saúde. Este estudo tem como objetivo analisar a estrutura
dimensional do Demand Control Support Questionnaire e fatores ocupacionais associados às
demandas psicológicas, ao controle e ao trabalho de alta exigência em professores do ensino
básico de Londrina (PR). Trata-se de um estudo transversal. A população foi composta por
842 professores das 20 escolas com maior número de docentes da rede estadual do município.
Informações ocupacionais foram obtidas por meio de entrevistas no período de agosto de
2012 a junho de 2013. Dados sociodemográficos e o DCSQ faziam parte de um questionário
autorrespondido. Análises fatoriais confirmatórias e exploratórias foram utilizadas na
avaliação da dimensionalidade do DSCQ. Para o estudo de associação das dimensões e
subdimensões do DSCQ com fatores ocupacionais foi utilizada a análise de regressão
logística com cálculo das razões de odds (OR) e respectivos intervalos de confiança (IC 95%).
Nos modelos multivariados finais permaneceram as variáveis com p < 0,05. Os resultados da
análise fatorial confirmatória apoiaram o intrumento formado por quatro dimensões:
demandas psicológicas, uso de habilidades, autonomia para decisão e apoio social, com
melhor ajuste do modelo com exclusão do item “trabalho repetitivo”. No estudo de
associação, após ajustes, altas demandas psicológicas foram associadas (p<0,05) com idade
mais jovem, maior tempo de trabalho na docência, percepção regular/ruim sobre a
remuneração, sobre a quantidade de alunos por sala de aula e sobre o equilíbrio entre a vida
profissional e pessoal, além de à violência sofrida nos 12 meses anteriores à entrevista. Para a
dimensão controle foram observadas diferenças nas associações em sua forma combinada
(uso de habilidades e autonomia de decisão) e naquelas que consideraram separadamente
estas duas subdimensões. Carga horária maior que 40 horas (OR=1,72; IC 95%=1,05-2,82),
percepção negativa em relação à remuneração (OR=1,93; IC 95%=1,41-2,65), à quantidade
de alunos por sala de aula (OR=1,43; IC 95%=1,03-1,99), ao equilíbrio entre a vida pessoal e
profissional (OR=2,36; IC 95%=1,71-3,26) e ter sofrido violência na escola nos 12 meses
anteriores à entrevista (OR=1,84; IC 95%=1,31-2,58) foram significativamente associados ao
trabalho de alta exigência. No entanto, após análise estratificada por grupos de maior e menor
apoio social no trabalho, as variáveis carga horária acima de 40 horas e percepção
regular/ruim em relação à quantidade de alunos por sala foram significativas apenas no grupo
de menor apoio social. Os resultados revelam que condições específicas de trabalho e
percepções dos professores sobre seu ambiente laboral estão associadas a altas demandas
psicológicas, baixo controle e ao trabalho de alta exigência e que o apoio social no trabalho
atua como moderador em algumas dessas associações