Gênero e fatores associados aos comportamentos de saúde: estudo com amostras das capitais dos estados brasileiros e do Distrito Federal
André Ulian Dall Evedove, Mathias Roberto Loch
Data da defesa: 22/02/2022
OBJETIVO: Analisar gênero e os fatores associados à adoção dos comportamentos de saúde em adultos brasileiros (≥18 anos) das 26 capitais brasileiras e do Distrito Federal, mediante a dois objetivos específicos: 1.Verificar a desigualdade na prática de atividade física no tempo livre entre homens e mulheres (≥18 anos) das capitais brasileiras de 2010 a 2019; 2.Comparar a prevalência de comportamentos de risco (CR) à saúde em homens idosos (≥60 anos) viúvos com as de idosos com companheira, solteiros e divorciados/separados, bem como a prevalência de CR em idosos viúvos conforme faixa etária, escolaridade e raça/cor. MÉTODOS: Tese estruturada conforme modelo escandinavo onde para cada objetivo específico construiu-se um artigo com métodos, resultados e conclusões próprias. Os dados utilizados foram da Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (VIGITEL). O primeiro, com dados de uma década (2010 a 2019), teve como tema a desigualdade da prática de atividade física no tempo livre entre homens e mulheres (n=512.968). Em ambos os estudos foi calculada a Razão de Prevalência (RP) a partir da regressão de Poisson. Para o artigo um, foram ainda calculadas a medida de desigualdade absoluta em pontos percentuais e a regressão de Prais-Winsten para verificar a tendência ao longo do período estudado. Com dados de 2016 e 2017, o segundo teve como tema a viuvez em homens idosos (n=11.185) e comportamentos de risco à saúde: inatividade física no tempo livre; consumo irregular de frutas, verduras e legumes; tabagismo e consumo abusivo de álcool. RESULTADOS: Artigo 1) A desigualdade relativa da prática da atividade física no tempo livre foi maior nos mais jovens (18 a 24 anos; RP média=2,09) e menor nos sujeitos de 45 a 64 anos (RP média=1,14). Na escolaridade, foi maior no grupo intermediário (9 a 11 anos; RP média=1,67) e menor no mais baixo (0 a 8 anos; RP média=1,41). Houve diminuição das desigualdades relativas no geral (-0,72 pontos percentuais (p.p/ano), nos grupos etários de 18 a 24 anos (-0,74 p.p/ano), 25 a 34 anos (-0,73 p.p/ano), 35 a 44 anos (-0,82 p.p/ano) e no grupo de escolaridade intermediária (-0,86 p.p/ano). Apesar dessa redução, tanto a desigualdade absoluta como a relativa se mantiveram maiores nesses grupos. Artigo 2) Comparando com idosos viúvos o tabagismo foi menor nos com companheira (RP=0,68; IC95%:0,52-0,90). Quando considerados somente os viúvos, na comparação com os de 60 a 69 anos, observou-se menor inatividade física no tempo livre nos de 70 a 79 anos (RP=0,86; IC95%:0,74-0,98), menor consumo irregular de frutas, verduras e legumes (RP=0,78; IC95%:0,66-0,93), tabagismo (RP=0,32; IC95%:0,15-0,65) e consumo abusivo de álcool (RP=0,35; IC95%:0,15-0,83) nos mais velhos (≥80 anos). Na comparação com viúvos de maior escolaridade (≥12 anos), os dos grupos intermediário e mais baixo foram mais inativos no tempo livre (RP=1,16; IC95%:1,00-1,35 e RP=1,15; IC95%:1,00-1,31, respectivamente) e tiveram maior consumo irregular de frutas, verduras e legumes (RP=1,31; IC95%:1,04-1,65 e RP=1,60; IC95%:1,31-1,94, respectivamente). CONSIDERAÇÕES FINAIS: No primeiro artigo, apesar da redução significativa da desigualdade nos sujeitos de 18 a 44 anos e nos de escolaridade intermediária, as diferenças permaneceram maiores nesses grupos. No segundo artigo observou-se relação moderada da viuvez na comparação com outras situações conjugais. Considerando somente idosos viúvos, os mais velhos e de maior escolaridade tiveram menores CR. Sugere-se que ações e políticas de promoção de comportamentos saudáveis devem ser planejadas considerando a relação da desigualdade de gênero com outros fatores, como a situação conjugal, faixa etária e escolaridade.
Mudança na situação conjugal e associação com a incidência e manutenção de comportamentos positivos de saúde: Estudo Vigicardio (2011-2015)
André Ulian Dall Evedove, Mathias Roberto Loch
Data da defesa: 22/02/2018
trodução: Algumas evidências apontam que a situação conjugal está associada a indicadores de saúde, em geral, indicando que pessoas com companheiros/as (casadas ou em união estável) possuem menores taxas de morbimortalidade se comparadas às pessoas sem companheiros/as (solteiras, divorciadas/separadas ou viúvas). Entretanto, existem poucos estudos epidemiológicos e longitudinais que associam a transição conjugal com comportamentos de saúde, principalmente na América Latina. Objetivo: Verificar a associação entre mudança na situação conjugal com a incidência e a manutenção de comportamentos positivos de saúde. Métodos: Estudo longitudinal prospectivo, que faz parte do projeto: ―Incidência de mortalidade, morbidade, internações e modificações nos fatores de risco para doenças cardiovasculares em amostra de residentes com 40 anos ou mais de idade em um município de médio porte do Sul do Brasil: Estudo coorte Vigicardio 2011-2015‖ realizado com indivíduos de 40 anos (em 2011) ou mais residentes em Cambé/PR. Para este estudo, participaram 883 pessoas nos dois momentos da pesquisa. As variáveis dependentes foram: atividade física no tempo livre, consumo de frutas, consumo de verduras e legumes, tabagismo e consumo abusivo de álcool. Foram ainda realizadas análises com a combinação (análise de simultaneidade) dos comportamentos relacionados à saúde considerados. A variável independente foi a situação conjugal, comparando-se a situação de cada sujeito nos quatro anos do estudo. Assim, os sujeitos foram divididos em quatro grupos. Grupo 1: pessoas que tinham companheiro(a) nos dois momentos (n=583); Grupo 2: pessoas que tinham companheiro(a) em 2011, mas não em 2015 (n=72); Grupo 3: pessoas que não tinham companheiro(a) nos dois momentos (n=204); Grupo 4 (n=24): pessoas que não tinham companheiro(a) em 2011 mas tinham em 2015. Assim, o grupo 1 e 3 manteve a mesma situação conjugal, enquanto os grupos 2 e 4 teve transição na sua situação conjugal. A análise dos dados, foi feita aos pares (grupo 1 x grupo 3; e grupo 2 x grupo 4), de modo a melhor explorar a possível associação da manutenção ou incidência de comportamentos positivos com a mudança na situação conjugal. Além das variáveis dependentes e a independente, foram consideradas as seguintes variáveis de confusão: sexo, faixa etária, classe econômica e escolaridade. Os dados foram analisados no Programa SPSS vs. 19, através da regressão de Poisson bruta e ajustada. Resultados: Os participantes que deixaram de ter companheiro(a) apresentaram menor incidência de abandono ao tabaco (RR:0,29,IC95%:0,12-0,68), de consumo regular de frutas (RR:0,43,IC95%:0,20-0,90) e de manutenção de pelo menos dois comportamentos positivos de saúde (RR:0,80,IC95%:0,70-0,92) do que os sujeitos que tinham companheiro(a) nas duas coletas. Já os participantes que passaram a ter companheiro(a) tiveram maior incidência de pelo menos um comportamento positivo de saúde (RR:1,76,IC95%:1,07-2,88) e maior incidência de consumo regular de frutas (RR:2,42,IC95%:1,40-4,18) comparados com aqueles que não tinham companheiro(a) em 2011 e 2015. Por outro lado, vale mencionar que algumas variáveis dependentes, especificamente: atividade física no tempo livre e consumo de verduras e legumes não se mostraram associadas à mudança na situação conjugal. Conclusão: Tais resultados são importantes para um melhor planejamento do cuidado à saúde.