Teses e Dissertações
Palavra-chave: Autopercepção de saúde
Incidência de autopercepção negativa e positiva de saúde: estudo Vigicardio (2011-2015)
Giovana Frazon de Andrade, Mathias Roberto Loch
Data da defesa: 28/02/2018
Incorporada como medida epidemiológica desde a década de 1950, um dos
indicadores do estado geral de saúde mais utilizados na atualidade é a
autopercepção de saúde. Considerando que a forma como os indivíduos percebem
sua saúde é influenciada por diversos aspectos, investigar estes fatores auxilia a
compreensão das classificações positivas e negativas do estado de saúde. O
objetivo deste estudo foi analisar se alterações nos comportamentos relacionados à
saúde se associam a incidência de autopercepção positiva e negativa de saúde. Foi
realizado um estudo de coorte prospectivo, de base populacional no baseline (2011)
com seguimento realizado em 2015. Foram entrevistados 883 indivíduos de 40 anos
ou mais residentes no município de Cambé-PR. Ambas as coletas de dados foram
por meio de visitas domiciliares com aplicação de questionário semiestruturado. A
variável dependente foi a autopercepção de saúde, mensurada através da pergunta
“Como o(a) senhor(a) classifica seu estado de saúde? Aqueles que responderam
“muito bom” ou “bom” foram considerados com autopercepção positiva de saúde, os
que responderam “regular”, “ruim” ou “muito ruim” com autopercepção negativa. As
variáveis independentes foram mudanças de alguns comportamentos relacionados à
saúde: atividade física no tempo livre (AFTL), consumo de frutas e hortaliças (CFH),
consumo abusivo de álcool (CAA) e tabagismo. A análise de dados foi realizada no
programa Statistical Package for the Social Sciences – SPSS® , onde se calculou o
Risco Relativo (RR) pela regressão de Poisson bruta e ajustada por variáveis
sociodemográficas (modelo 1), sociodemográficas e de saúde (modelo 2) e
sociodemográficas, de saúde e comportamentais (modelo 3). A incidência de
autopercepção negativa de saúde foi de 27,2% e de autopercepção positiva de
saúde foi de 27, 7%. A incidência de autopercepção negativa de saúde associou-se
aos indivíduos que se tornaram inativos (RR=1,74; IC95%1,08–2,80), mantendo-se
no modelo 1 (RR=1,65; IC95%1,04-2,62), modelo 2 (RR=1,92; IC95%1,19-3,10) e
modelo 3 (RR=1,88; IC95%1,17-3,05), aos que deixaram de consumir regularmente
frutas e hortaliças (RR=1,84; IC95%1,16-2,92), mantendo-se no modelo 1 (RR=1,85;
IC95%1,14-3,01), modelo 2 (RR=2,03; IC95%1,25-3,30) e modelo 3 (RR=1,95;
IC95%1,15-3,28) e aos que deixaram de consumir álcool abusivamente (RR=2,29;
IC95%1,03-5,08), mantendo-se no modelo 2 (RR= 2,42; IC95% 1,12-5,25). A
incidência de autopercepção positiva de saúde associou-se aos indivíduos que se
tornaram ativos (RR= 1,48; IC95% 1,03-2,15), mantendo-se no modelo 2 (RR= 1,47;
IC95%1,02-2,13) e aos que deixaram de ser tabagistas no modelo 1 (RR=2,58;
IC95%1,16-5,71), modelo 2 (RR=5,78; 2,18-15,36) e modelo 3 (RR=8,37;
IC95%2,79-25,09). Os indivíduos que passaram a consumir irregularmente frutas e
hortaliças apresentaram menor incidência de autopercepção positiva de saúde no
modelo 1 (RR=0,52; IC95%0,29-0,94), modelo 2 (RR=0,54; IC95%0,31-0,97) e
modelo 3 (RR=0,29; IC95%0,29-0,90). Conclui-se que as mudanças nos
comportamentos relacionados à saúde se associam a mudança na autopercepção
de saúde, fato importante que reforça a orientação de possíveis soluções para
melhora da saúde e bem-estar dos indivíduos e populações.
Uso de fármacos anticolinérgicos em adultos de 44 anos ou mais em município de médio porte
Eliz Cassieli Pereira Pinto, Edmarlon Girotto, Ana Maria Rigo Silva
Data da defesa: 15/04/2020
Introdução: Anticolinérgicos (AC) são fármacos que bloqueiam a ação da acetilcolina e,
por fazê-lo, podem deflagrar diversas disfunções orgânicas. O uso de fármacos dessa
natureza tem sido associado a diversos desfechos clínicos desfavoráveis, especialmente
na população idosa. Embora essa faixa etária possa estar mais suscetível às reações
adversas a medicamentos (RAM), demais indivíduos em uso de AC também estão
expostos. Diversas pesquisas têm sido desenvolvidas ao redor do mundo, mas no Brasil,
pesquisas nesse campo são incipientes. Objetivos: Investigar o uso de fármacos
anticolinérgicos e fatores associados em adultos de 44 anos ou mais, de um município de
médio porte do sul do Brasil. Métodos: Trata-se de um estudo de delineamento
transversal e abordagem quantitativa, realizado a partir de dados primários do seguimento
de uma pesquisa matriz, de base populacional. Em 2015 (seguimento), participaram do
estudo 885 indivíduos, os quais foram caracterizados quanto as variáveis
sociodemográficas, de saúde e uso de medicamentos. A Carga Anticolinérgica (CAC) foi
determinada pela Anticholinergic Drug Scale (ADS). Cargas iguais ou superiores a três
foram consideradas significativas. Conduziu-se Regressão Logística de Poisson para
investigar a relação entre CAC e fatores associados, utilizando-se a Razão de Prevalência
(RP) como medida de associação. Resultados: Esta dissertação foi construída em formato
de dois artigos científicos. O primeiro descreve o uso de fármacos AC e investiga as
características sociodemográficas e de saúde relacionadas ao uso de CAC. No segundo
estudo explorou-se a relação entre CAC e a autopercepção de saúde. Encontrou-se uma
prevalência de 20,7% de CAC significativa entre os respondentes que utilizavam
medicamentos. No primeiro estudo, faixa etária não idosa (RP: 1,566; IC95%: 1,109-
2,211), polifarmácia (RP:1,519; IC95%: 1,099-2,100) e uso esporádico de dois ou mais
medicamentos (RP:2,941; IC95%: 2,102-4,111) estiveram associadas à maiores CAC.
Dentre os fármacos AC mais frequentemente utilizados estiveram os psicotrópicos e
cardiovasculares. No segundo estudo CAC significativa e autopercepção negativa de
saúde (APN) apresentaram associação positiva em todos os modelos estatísticos
realizados (<0,05). Conclusões: Os achados indicam alta prevalência de CAC na
população estudada, especialmente entre adultos de meia-idade, polimedicados e em uso
esporádico de medicamentos, o que sugere que a investigação de AC nessa faixa etária
demanda maior atenção. O uso de AC esteve associado a APN, um indicador de
mormibortalidade de fácil aplicação, que pode ser utilizado em diferentes contextos.
Associação entre capital social e comportamentos relacionados à saúde: estudo de base populacional
Mathias Roberto Loch, Regina Kazue Tanno de Souza
Data da defesa: 07/08/2013
Estudos que investigam a relação entre comportamentos relacionados à saúde com
o capital social (CS) são escassos, especialmente na América Latina. O objetivo
deste trabalho foi verificar a relação entre indicadores de CS e a prevalência de
determinados comportamentos relacionados à saúde. Realizou-se estudo
transversal, de base populacional, com indivíduos com 40 anos ou mais de um
município de médio porte da região Sul do Brasil. Os dados foram coletados no
primeiro semestre de 2011. Para este estudo, foram considerados dados de 1081
sujeitos. Os comportamentos investigados foram: inatividade física no lazer (INFL),
baixo consumo de frutas e/ou verduras (BCFV), tabagismo (TAB) e consumo
abusivo de álcool (CAA), além de análise de simultaneidade dos comportamentos
citados. A INFL foi avaliada a partir do modelo de estágio de mudança de
comportamento e as questões relacionadas aos demais comportamentos foram
retiradas do questionário aplicado pelo sistema de Vigilância de Fatores de Risco e
Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (VIGITEL) do Ministério da
Saúde do Brasil. Os indicadores de CS foram selecionados a partir do Questionário
Integrado para medir CS (QI-MCS): número de amigos e de pessoas que
emprestariam dinheiro em caso de necessidade, confiança nas pessoas do bairro,
frequência com que as pessoas no bairro se ajudam, segurança no bairro e
participação cívica ou comunitária. Foi ainda construído um escore de CS, baseado
nos indicadores isolados. Os dados foram analisados no Programa SPSS vs. 19, por
meio da regressão logística, realizando-se análise bruta e ajustada (p<0,05). Após
os ajustes, a INFL esteve associada ao número de amigos, confiança nas pessoas
do bairro, frequência com que as pessoas no bairro se ajudam, segurança no bairro,
participação comunitária e o escore de CS. O BCFV associou-se à participação
comunitária e ao escore de CS. O TAB se mostrou associado à frequência com que
as pessoas no bairro se ajudam e ao escore de CS. Apenas a frequência com que
as pessoas no bairro se ajudam esteve associada ao CAA. Em todas as
associações mencionadas, os sujeitos com menor CS tinham maior chance de
apresentarem os comportamentos negativos. Observou-se ainda que quanto maior o
CS, menor o número médio de comportamentos negativos. Sujeitos com maior CS
apresentaram em média 1,47 (DP=0,11) comportamentos negativos, enquanto os
com menor CS tinham média de 2,13 (DP=0,23) comportamentos negativos. Este
estudo mostrou uma associação moderada entre diferentes indicadores de CS e os
comportamentos relacionados à saúde investigados, sendo mais evidente a relação
com a INFL e em menor grau com o BCFV e o TAB. A relação do CS com o CAA foi
menos evidente. Recomenda-se que as políticas de promoção de comportamentos
saudáveis considerem o nível e as características do CS de cada lugar e busquem
implementar ações que contribuam para a criação de sociedades civis mais
organizadas, inclusive porque estas podem representar um aspecto positivo para a
adoção dos comportamentos considerados positivos para a saúde.