A longitudinalidade do cuidado na atenção básica à luz da experiência dos usuários com hipertensão arterial
Crysthianne Cônsolo de Almeida Baricati, Elisabete de Fátima Polo de Almeida Nunes
Data da defesa: 28/01/2016
A longitudinalidade ou vínculo longitudinal do cuidado, um dos atributos da atenção básica à saúde, consiste no acompanhamento do usuário ao longo do tempo, na qual se espera uma relação terapêutica que envolva a responsabilidade por parte do profissional de saúde e a confiança por parte do usuário. Este atributo é constituído por três elementos: a existência e o reconhecimento de uma fonte regular de cuidados, o estabelecimento de vínculo terapêutico duradouro entre os usuários e os profissionais de saúde da equipe local e a continuidade informacional. Este estudo teve como objetivo compreender a longitudinalidade do cuidado na atenção básica a partir da vivência do usuário com hipertensão arterial. Trata-se de pesquisa de natureza qualitativa, com abordagem descritivo-exploratória, realizada com treze pessoas com quarenta anos ou mais, residentes na zona urbana do município de Cambé/PR, com hipertensão arterial e que utilizavam exclusivamente os serviços do Sistema Único de Saúde. A coleta de dados ocorreu entre novembro de 2014 e janeiro de 2015, realizada por meio de entrevista com a questão norteadora: Conteme como tem sido o cuidado da hipertensão arterial na unidade básica de saúde. Para analisar os dados, foi utilizada a técnica de análise de conteúdo com base em duas categorias analíticas: a unidade básica de saúde como fonte regular de cuidados e relação interpessoal para o estabelecimento do vínculo duradouro entre o usuário e os profissionais. Os depoimentos dos usuários com doenças crônicas revelam aspectos que apontam a longitudinalidade do cuidado na atenção básica do município. Os usuários utilizam a unidade básica de saúde como fonte regular do cuidado, mas não a reconhecem como tal porque há fragilidades quantitativas e qualitativas nos serviços. Em relação ao estabelecimento do vínculo entre o usuário e os profissionais, verificou-se que decorreu das relações interpessoais influenciadas: pelo tempo de moradia na área, pela alta rotatividade dos profissionais, pela qualidade do processo de comunicação verbal e não verbal entre os usuários e a equipe, pela permanência do modelo biomédico na atenção básica e pela dificuldade do usuário reconhecer as categorias profissionais atuantes e suas atribuições. Conclui-se que exercer o atributo do vínculo longitudinal, embora esteja relacionado às práticas profissionais, depende da união dos esforços direcionados à melhoria da quantidade e da qualidade dos serviços ofertados e das estratégias de valorização dos profissionais.
Integração ensino-serviço de saúde: uma compreensão por meio da fenomenologia heideggeriana
Lucimar Aparecida Britto Codato, Mara Lúcia Garanhani, Alberto Durán González
Data da defesa: 15/06/2015
Trata-se de estudo que buscou compreender os significados da integração ensinoserviço para a formação profissional em saúde, suas interfaces e o modo de 'ser-com-ooutro' em Unidades Básicas de Saúde (UBS). Pesquisa de natureza qualitativa, com abordagem fenomenológica hermenêutica, apoiada no referencial teórico filosófico de Martin Heidegger. Foi realizada com coordenadores de colegiados de cursos da área da saúde de uma universidade pública, com gestores municipais, estudantes, profissionais da rede de serviços e docentes que acompanham estudantes em atividades realizadas em UBS da região metropolitana de um município de grande porte do sul do Brasil. Os participantes foram selecionados intencionalmente, totalizando 33 entrevistados. Os resultados desvelaram que a aproximação entre o mundo ôntico do ensino e o do serviço de saúde favorece o alcance dos pressupostos das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN). Houve reconhecimento da complementaridade entre o mundo do ensino e o do trabalho, embora o entendimento que cabe mais a um mundo pensar e ao outro executar também esteve presente. A parceria entre o mundo do ensino com o do serviço de saúde foi reconhecida como importante para cuidado da população, a qual foi compreendida como beneficiária dessa relação. 'Ser-com-o-outro' na ocupação do espaço existencial compartilhado entre o ensino-serviço de saúde nas UBS mostrou-se permeado por modos próprios e impróprios de ser. Nele, desvelaram-se conflitos ligados à linguagem, mais precisamente na verbalização e na escuta. Também foi reconhecido como importante para a formação dos 'ser-aí' que coabitam este espaço existencial, a qual mostrou-se dependente da postura ativa, da curiosidade e da criatividade do estudante, do vínculo que o docente estabelece com o campo, da preocupação dos profissionais, da abertura, disposição e da compreensão de todos os 'ser-aí' que coexistem na UBS. A integração ensino-serviço de saúde revelou-se mais atrelada às posturas ativas de gestores e docentes da universidade, possivelmente por serem os mais dependentes dessa aproximação para o alcance de formação mais condizente com as orientações das DCN. A integração ensino-serviço de saúde acontece, porém num estágio que possibilita mais fortemente o 'ser-com' entre profissionais e estudantes e o 'ser-com' entre estudantes e a população. A presença tênue do 'ser-com-outro' envolvendo simultaneamente docentes, estudantes e profissionais demonstra que a integração ensino-serviço de saúde ainda está sendo construída, principalmente quando pensada em termos de trabalho realizado em conjunto. A ausência do 'ser-com-outro' envolvendo docente-docente foi percebida como limitação para trabalhos interdisciplinares neste espaço existencial. A integração ensino-serviço de saúde desvelou-se dependente das relações que ocorrem nos espaços micros de cada UBS, as quais foram percebidas como estruturantes e fundamentais para que esses espaços existenciais sejam criados e mantidos. Os diferentes modos de 'ser-com-outro' foram reconhecidos como facilitadores ou dificultadores dessa parceira. Os resultados apontam para reflexões acerca das oportunidades que ainda precisam ser alcançadas para operacionalizações, avaliações, planejamentos conjuntos e, consequentemente, para a adoção de práticas mais integrativas.