Avaliação da atenção às pessoas com hipertensão e ou diabetes no município de Cambé – PR
Bárbara Radigonda, Regina Kazue Tanno de Souza, Luiz Cordoni Junior
Data da defesa: 27/02/2014
Introdução: O perfil de morbidade e de mortalidade caracterizado pelas doenças crônicas não transmissíveis como hipertensão arterial e diabetes mellitus, que são eventos significativos à demanda dos serviços de saúde, exige a adoção de ações adequadas e oportunas. Objetivo: Este estudo buscou avaliar a atenção às pessoas com diabetes mellitus e/ou hipertensão arterial pelas Unidades Básicas de Saúde (UBS) do Município de Cambé – PR. Material e métodos: A população de estudo foi constituída por 687 pessoas com hipertensão arterial e/ou diabetes mellitus identificados em estudo de base populacional (VIGICARDIO). Determinou-se como dimensões de avaliação: o reconhecimento do indivíduo pela unidade, o acompanhamento e atendimento prestado e o controle da pressão arterial e/ou da glicemia. Para avaliar as dimensões foram analisados o prontuário, as Fichas A e B do Sistema de Informação da Atenção Básica, o cartão de aprazamento e a ficha do SIS HiperDia. Foi construída uma matriz de indicadores cujos resultados verificados foram comparados ao padrão estabelecido. Os resultados foram julgados de acordo com os percentuais obtidos: excelente (100-90%), satisfatório (89-70%), regular (69-50%) e crítico (<50%). Realizou-se também análise dos fatores associados ao reconhecimento, cobertura de consulta médica e controle da pressão arterial. Resultados: Verificou-se reconhecimento abaixo do desejável (63,7%). A frequência de reconhecimento foi mais elevada entre as mulheres, indivíduos com 60 anos ou mais, com baixa escolaridade, pertencentes à classe econômica C, D ou E, que não trabalham, consideram seu estado de saúde regular, ruim ou muito ruim e que utilizam a UBS. O acompanhamento foi caracterizado pela consulta médica com baixo registro de consulta de enfermagem. Observou-se que a proporção de realização de pelo menos uma consulta médica nos últimos 12 meses foi significativamente mais elevada entre as mulheres, nos indivíduos com baixa escolaridade, pertencentes à classe econômica C, D ou E e que utilizam a UBS. A análise do atendimento revelou registro precário de atividades técnicas e orientações. A frequência de controle da pressão arterial foi significativamente maior entre as mulheres, indivíduos com baixa escolaridade e em pessoas com baixo risco cardiovascular. A maioria dos indicadores de todas as dimensões obtiveram resultados considerados regulares ou críticos. Conclusão: Os resultados indicam que o processo de atenção às pessoas com hipertensão e/ou diabetes está direcionado principalmente aos indivíduos que utilizam a UBS e apontam a necessidade de outras estratégias para melhorar a qualidade da atenção e ampliar a inserção da população ainda não contemplada pelo serviço.
Processo de trabalho do Núcleo de Apoio à Saúde da Família e o desenvolvimento matricial para a produção do cuidado
Kátia Santos de Oliveira, Regina Melchior, Rossana Staevie Baduy
Data da defesa: 29/05/2014
A Atenção Básica (AB) tem a Saúde da Família como estratégia prioritária para a expansão e a consolidação da atenção à saúde no Brasil. Embora considerada de baixa complexidade tecnológica, as necessidades de saúde trazidas pelos usuários são extremamente complexas. Diante dessa complexidade e a fim de alcançar a integralidade da atenção e a interdisciplinaridade das ações, foi proposta pelo Ministério da Saúde a implantação do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), para atuar junto às equipes de saúde da família (eSF), com o intuito de transpor a lógica hegemônica e fragmentada do cuidado à saúde. O NASF é constituído por equipes, com profissionais de diferentes áreas, que devem utilizar ferramentas, como o apoio matricial, para oferecer tanto retaguarda assistencial quanto suporte técnicopedagógico às eSF. No entanto, esse é um processo em construção, que demanda mudanças de práticas de todos os profissionais envolvidos em sua implementação. Este estudo teve o objetivo de compreender como vem se estruturando o processo de trabalho do NASF no município de Londrina e, em especial, como vem se dando o desenvolvimento do apoio matricial para a produção do cuidado em saúde. Para tanto, desenvolveu-se uma pesquisa exploratória, de abordagem qualitativa, com uma equipe NASF do referido município, integrada por profissional de educação física, farmacêutico, fisioterapeuta, nutricionista e psicólogo. Os instrumentos de investigação foram a observação, o grupo focal e a análise documental, colocados em prática de setembro de 2012 a fevereiro de 2013. Para análise do material, foram utilizados referenciais teóricos de textos oficiais, relacionados ao trabalho do NASF, abrangendo apoio matricial, cuidado em saúde, trabalho em equipe e outros temas que surgiram durante a análise. Os resultados foram organizados em três principais categorias: 1. Organização do trabalho da equipe NASF; 2. Apoio Matricial: concepções, modos de produção, ferramentas e estratégias utilizadas pela equipe NASF; e 3. Atividades desenvolvidas pelo NASF. Na primeira categoria, foi descrito o processo vivenciado pelos profissionais do NASF para se inserir na rotina de trabalho da Unidade Básica de Saúde (UBS); as tensões existentes no cotidiano do trabalho do NASF na AB e as possibilidade de intercessão entre NASF e eSF, para o desenvolvimento do trabalho em equipe. Na segunda categoria, foram descritas as ferramentas utilizadas pelos profissionais do NASF para desenvolver o apoio matricial, destacando-se a necessidade de encontro entre os profissionais, propiciado pela criação da reunião de matriciamento, realizada uma vez por mês em cada unidade de atuação dessa equipe. Na reunião de matriciamento, baseada na discussão de casos, planos terapêuticos eram elaborados e assumidos como responsabilidade dos profissionais do NASF, havendo pouca apropriação desse espaço pelos profissionais da eSF. A terceira categoria descreve a organização do trabalho do NASF. Baseada em atividades centradas nos núcleos profissionais, a partir da realização de atendimentos individuais, e mesmo de atividades coletivas, eram determinadas pelas categorias profissionais que se responsabilizavam por sua condução. Na relação NASF e eSF predomina a lógica do encaminhamento, não havendo, na maioria das vezes, desenvolvimento conjunto das atividades. Com isso, a produção do cuidado mostrou-se fragmentada, representando um obstáculo a ser vencido pelas novas práticas. Há necessidade de apropriação da ferramenta do apoio matricial por parte dos trabalhadores, para ensejar um movimento em que profissionais das UBS e da equipe NASF atuem com corresponsabilidade, a fim de atingir a integralidade do cuidado em saúde, a partir de ações interdisciplinares voltadas, principalmente, às demandas e necessidades trazidas pelos usuários.
Apoio matricial na atenção primária à saúde na perspectiva dos profissionais da estratégia saúde da família
Melissa Aparecida Vernini Yamaguchi, Regina Melchior, Rossana Staevie Baduy
Data da defesa: 30/05/2014
O Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF), criado em 2008, é constituído por equipes com profissionais de diferentes áreas de conhecimento, que devem atuar em conjunto com as equipes de Saúde da Família (eSF), utilizando ferramentas como o apoio matricial, para oferecer tanto retaguarda assistencial quanto suporte técnico-pedagógico às eSF. Contudo, o matriciamento na atenção primária à saúde é um processo ainda em construção, demanda mudanças de práticas e apresenta obstáculos em sua implementação. Sendo assim, este estudo teve como objetivo compreender o apoio matricial desenvolvido pelo NASF sob a perspectiva dos profissionais das equipes Saúde da Família (eSF). Esta foi uma pesquisa exploratória, descritiva, do tipo qualitativa, realizada em quatro Unidades Básicas de Saúde (UBS) do município de Londrina – PR, vinculadas a um NASF. Os sujeitos foram integrantes das eSF de cada UBS, totalizando 15 participantes, sendo que em cada UBS foi entrevistado um de cada categoria profissional. Os instrumentos utilizados no trabalho de campo foram a observação, a entrevista e a análise documental, e para análise dos resultados foi realizada análise de conteúdo, segundo Bardin. Da análise das entrevistas emergiram as seguintes categorias: 1.Compreendendo a organização do NASF; 2.Concepção de apoio matricial; 3.Encontro NASF e equipes SF e 4.Aspectos facilitadores e dificultadores do trabalho do NASF. Os discursos evidenciaram que a organização do trabalho do NASF era reconhecida pelos profissionais da eSF, pelas agendas e visitas domiciliares individuais, responsabilização prioritária do NASF pelos grupos com a comunidade, raros momentos de encontros e interação entre os profissionais do NASF e eSF. Porém há certa tentativa de articulação de ações e interação entre esses profissionais. Na relação NASF e eSF ainda predomina a fragmentação do cuidado e a lógica do encaminhamento. Com relação ao matriciamento, houve avanço nessa prática, porém os participantes compreendem essa metodologia de trabalho como sinônimo de uma reunião mensal para discussão de casos somente, e havia pouca valorização desse espaço pelos profissionais das eSF. Havia dificuldade no processo de trabalho matricial, devido ao pouco tempo, dos integrantes do NASF, em cada unidade. A fragmentação do cuidado ainda se mostra como obstáculo estrutural a ser vencido pelas novas práticas. Há necessidade de produção de espaços de reflexão e análise do processo de trabalho para os trabalhadores das equipes de saúde da família e NASF para que possam produzir e disseminar inovações na prática do apoio matricial.
Internações por doenças do aparelho circulatório sensíveis à atenção primária: tendência das taxas no estado do Paraná
Flavia Guilherme Gonçalves, Ana Maria Rigo Silva
Data da defesa: 18/06/2014
As doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) são consideradas globalmente uma ameaça ao desenvolvimento humano. Algumas doenças do aparelho circulatório como a hipertensão arterial (HA) e insuficiência cardíaca (IC), além de serem classificadas como DCNT, também são consideradas como condições sensíveis à atenção primária (CSAP), ou seja, internações e óbitos podem ser evitados se a doença for diagnosticada e tratada oportunamente. As taxas de internação por CSAP podem ser utilizadas para avaliar indiretamente o funcionamento e a efetividade do primeiro nível de atenção. O objetivo deste estudo foi analisar a tendência das taxas de internação por agravos do aparelho circulatório, classificados como CSAP, em adultos de 40 a 74 anos, residentes no Estado do Paraná entre 2000 e 2012. Realizou-se um estudo de tendência tanto para o Paraná quanto para as suas macrorregionais de saúde. Os dados das internações foram obtidos no Sistema de Internação Hospitalar (SIH-SUS) e os de população foram estimados por interpolação intercensitária dos censos de 2000 e 2010 para o período de 2001 a 2009, e por projeção demográfica para os anos de 2011 e 2013. Foram calculadas taxas anuais de internação por sexo para as faixas etárias de 40 a 59 anos e de 60 a 74, bem como para grupos específicos de agravos cardiovasculares. Para a análise da tendência, foi realizada a regressão polinomial utilizando-se o programa estatístico R. Ocorreram no Paraná, de 2000 a 2012, 3.754.214 internações pelo SUS, destas, 14,2% foram classificadas como doenças do aparelho circulatório sensíveis à atenção primária. Quanto à distribuição proporcional destas internações no Estado e em suas macrorregionais, a IC foi a causa mais frequente, seguida pela angina, doenças cerebrovasculares e hipertensão arterial. As taxas médias de internação por angina, doença cerebrovascular e insuficiência cardíaca para o sexo masculino foram maiores que as do sexo feminino para o Paraná e macrorregionais de saúde. Já o sexo feminino apresentou maior taxa média de internação por HA. A faixa etária de 60 a 74 anos foi a que apresentou as maiores taxas de internação para doenças do aparelho circulatório, com média no Estado de 300,46/104 . Quanto à tendência das taxas por causas específicas, a angina apresentou tendência crescente, estabilização e novo período de crescimento para o Paraná e macrorregionais. As doenças cerebrovasculares e a IC tiveram tendência decrescente seguida de estabilização para o Estado e macrorregionais. Já a tendência das taxas de internação por HA apresentou comportamentos variados entre as macrorregionais de saúde e o Estado, como por exemplo: decrescente para a macro CentroLeste-Sul e ascendente, decrescente e estável para as macro Norte e Noroeste. Neste estudo verificou-se redução das taxas de internação por hipertensão, doença cerebrovascular e IC e aumento das taxas de internação por angina. Tais constatações indicam que houve melhorias, porém, ainda há necessidade de ampliar o acesso e a qualidade da atenção prestada pela atenção primária, bem como fortalecer o trabalho em redes de atenção, especialmente nos cuidados das doenças cardiovasculares consideradas CSAP.
A Territorialização e o Planejamento em uma Unidade Saúde da Família
Ana Paula Correa Pardal Morgado, Regina Melchior
Data da defesa: 31/01/2017
A territorialização é o processo no qual se identificam grupos, famílias e indivíduos de um território adscrito, e os fatores condicionantes e determinantes de sua saúde; é uma ação fundamental para o planejamento, e para a implantação de ações estratégicas para intervir nos problemas encontrados, a fim de garantir a resolubilidade ao sistema. O planejamento pode utilizar as informações obtidas no processo de territorialização para promover a organização da oferta dos serviços. A relevância da territorialização e do planejamento estão relacionados à organização do cuidado pelos serviços de saúde da Atenção Básica (AB) às necessidades de uma população e podem ser dispositivos para o fortalecimento da AB no Brasil. Assim essa pesquisa teve por objetivo compreender como se deu o processo de territorialização e de planejamento das equipes Saúde da Família (eSF) e equipe do Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) em uma Unidade Saúde da Família do município de Londrina, PR. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, desenvolvida por meio de um Grupo Focal com 5 integrantes da eSF e 2 integrantes da equipe NASF, em meados de agosto de 2015. As discussões ocorridas no Grupo Focal foram gravadas, transcritas e organizadas por meio da Análise de Conteúdo. Após a exploração do material e a interpretação dos resultados emergiram três Categorias de Análise: Arranjos e Dispositivos para Interagir, Organizar e Planejar; O Reconhecimento do Território; e Cuidado Planejado. Os resultados revelaram uma equipe comprometida com o trabalho, e que utilizou a Educação Permanente em Saúde como estratégia para o enfrentamento das dificuldades no início de suas atividades. A equipe compreendeu o conceito de territorialização, e usou vários dispositivos e momentos para o reconhecimento do seu território, tais como: o cadastramento das famílias, as visitas domiciliares, a busca ativa, a procura espontânea das pessoas pelos serviços da Unidade de Saúde, a abordagem das pessoas pelos agentes comunitários de saúde e vice-versa, e o Facebook. Muitas barreiras foram encontradas para e realização da territorialização, entre outras foram citadas: a falta de profissionais e a dificuldade no cadastramento das famílias. A equipe reconheceu que as informações obtidas no processo de territorialização podem ser úteis para o planejamento de suas ações, e que o planejamento é um processo dinâmico e flexível, também exemplificou a territorialização e o planejamento como etapas que fazem parte do cuidado compartilhado e em rede, considerou seu trabalho gratificante e apontou como um aspecto muito favorável para o exercício das funções, a inserção de todos os profissionais da unidade na Estratégia Saúde da Família (ESF).
Cultura de segurança do paciente na atenção primária à saúde, Londrina, Paraná
Lílian Lozada Macedo, Edmarlon Girotto
Data da defesa: 27/02/2018
Atualmente vivencia-se uma sociedade de risco, em que tecnologias, novos hábitos de vida e processos de trabalho podem gerar altos e danosos custos para os indivíduos. A assistência à saúde não fica de fora desses problemas, submetendose a diversos riscos, perigos e danos à integridade do paciente. Estudos e iniciativas com relação à segurança do paciente no nível hospitalar têm sido desenvolvidos de forma mais expressiva quando comparados à atenção primária à saúde, apesar de já se identificar a ocorrência de erros e eventos adversos na atenção primária. Desta forma, identificou-se a importância de estudos que retratem aspectos relacionados à cultura de segurança do paciente na atenção básica. O objetivo deste estudo foi analisar a cultura de segurança do paciente entre trabalhadores da atenção primária à saúde em município de grande porte do Paraná. Para tal, foi realizado um estudo transversal com trabalhadores em saúde atuantes da atenção primária do município de Londrina, Paraná. A obtenção de informações sobre cultura de segurança foi realizada com o uso do instrumento autopreenchido Medical Office Survey on Patient Safety Culture, traduzido e adaptado para a realidade brasileira, que avalia as atitudes e percepções do profissional quanto à segurança do paciente. A análise dos dados foi realizada com o uso do programa Statistical Package for the Social Sciences, versão 19.0. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Estadual de Londrina. Foram entrevistados 550 trabalhadores, maioria do sexo feminino (83,5%) e com idade média de 42 anos. Detectou-se que as seções “processo de tralbaho no serviço de saúde”, “comunicação e acompanhamento dos pacientes” e “serviço de saúde de atuação” apresentaram avaliações neutras quanto à segurança (51,0%, 65,0% e 73,2%, de respostas positivas respectivamente). Sobre a avaliação global da qualidade do cuidado, houve predominância de respostas positivas (79,0%). Destaca-se também que 35,7% dos profissionais avaliaram como muito bom ou excelente a segurança do paciente. Já em relação ao apoio dos gestores na cultura de segurança, houve apenas 38,4% de respostas positivas. Trabalhadores das unidades de saúde da família da região sul avaliaram de forma menos positiva a segurança no que se refere a comunicação e acompanhamento do paciente, apoio de gestores e aos aspectos do serviço de saúde em que atuam. Técnicos de enfermagem apresentaram avaliação menos positiva quanto ao processo de trabalho, comunicação e acompanhamento do paciente, e aspectos do serviço de saúde. Sugere-se a modificação das estratégias para melhoria da cultura de segurança do paciente para estratégias que visem a construção de uma cultura com participação multiprofissional, de caráter não punitivo e que seja fortificadora das relações interprofissionais e com o paciente, o que certamente modificará valores, atitudes e futuras percepções da equipe da atenção primária à saúde.
Fatores de risco para a incidência de diabetes mellitus e pré-diabetes em indivíduos de 40 anos ou mais: um estudo de coorte
Thiago Akira Aditahara, Camilo Molino Guidoni
Data da defesa: 26/02/2018
INTRODUÇÃO: O diabetes mellitus representa um problema na saúde pública mundial, pois estudos recentes revelam que há uma tendência de crescimento na prevalência em países em desenvolvimento e desenvolvidos, principalmente devido ao envelhecimento da população e aos hábitos de vida sedentários. OBJETIVO: Determinar a incidência e os fatores de risco para a incidência do diabetes mellitus e do pré-diabetes mellitus na população com idade igual, ou superior, a 40 anos em um município de médio porte. CASUÍSTICA E MÉTODOS: Trata-se de um estudo coorte de base populacional aplicado em 2011 e em 2015 no município de CambéPR, cuja população foi composta por adultos com idade igual, ou superior, a 40 anos. A coleta de dados foi realizada por meio de entrevistas com formulários. Foram considerados indivíduos com pré-diabetes mellitus (glicemia de jejum entre ≥100mg/dL e <126mg/dL e sem o uso de antidiabéticos e/ou insulina) e diabetes mellitus (glicemia de jejum ≥126mg/dL e/ou com o uso de antidiabéticos e/ou insulina). Para a presença do desfecho, após quatro anos, foi considerada a população que teve a incidência de diabetes mellitus ou de pré-diabetes mellitus, ou seja, que em 2011 foi classificada como sem diabetes mellitus e em 2015 passou a apresentar pré-diabetes mellitus ou diabetes mellitus, e a com pré-diabetes mellitus que passou a apresentar diabetes mellitus em 2015. A análise do risco relativo foi calculada por meio do método da regressão de Poisson. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa envolvendo Seres Humanos da Universidade Estadual de Londrina (CAAE 39595614.4.0000.5231). RESULTADOS E DISCUSSÃO: A população de estudo foi definida em 575 indivíduos, dos quais 20,5% (n=118) tiveram incidência de diabetes mellitus ou pré-diabetes mellitus. Associaram-se com o risco de apresentar o desfecho as seguintes variáveis: ser hipertenso (RR: 1,502 IC95% [1,089; 2,071]); possuir excesso de peso (RR: 1,848 IC95% [1,259; 2,713]); possuir circunferência da cintura (CC) acima do recomendado (RR: 2,012 IC95% [1,426; 2,839]); e se referir ao seu estado de saúde como de regular a ruim (RR: 1,869 IC95% [1,344; 2,600]). Posteriormente, realizadas análises ajustadas para as variáveis com p-Valor ≤ 0,200, sendo que tanto o excesso de peso (RRajustado: 1,747 IC95% [1,201; 2,539]) quanto a CC acima do recomendado (RRajustado: 1,761 IC95% [1,234; 2,513]) continuaram significativos após dois ajuste, e se referir ao seu estado de saúde como de regular a ruim (RRajustado: 1,678 IC95% [1,197 ; 2,353]), após quatro ajustes. CONCLUSÃO: Observa-se elevada incidência para pré-diabetes e diabetes mellitus associadas a ser hipertenso, possuir excesso de peso, possuir CC acima do recomendado e referir estado de saúde como regular a ruim, sendo que estes últimos três são fatores de risco para incidência de diabetes mellitus ou pré-diabetes mellitus, independente das características sociodemográficas e do estilo de vida aqui analisados.
Organização do processo de trabalha vivenciado durante um programa de qualificação da Atenção Primária à Saúde
Mariana Lectícia Beraldi, Fernanda de Freitas Mendonça
Data da defesa: 06/03/2020
A Educação Permanente em Saúde (EPS) constitui-se em uma estratégia que busca transformar as práticas profissionais e a organização do processo de trabalho a partir das demandas do próprio trabalho. Ela atua como componente do Programa de Qualificação da Atenção Primária à Saúde (APSUS), ocorrido no ano de 2011 a 2018, que corresponde a um programa do governo do Estado do Paraná que propõe a melhoria da Atenção Primária à Saúde (APS) em todo o Estado para que ela possa exercer seu papel de coordenadora do cuidado. Como segunda etapa do programa, ocorre a tutoria, que busca contribuir com as equipes de saúde a incorporar mudanças e adequações do processo de trabalho e para isso utiliza-se de um instrumento norteador que impulsiona a prática dos profissionais, o Selo da Qualidade. O selo da qualidade em sua segunda etapa, etapa prata, visa aferir o gerenciamento dos processos. O objetivo deste estudo foi analisar a organização do processo de trabalho vivenciada durante um programa de qualificação da APS. A pesquisa ocorreu com profissionais de uma Unidade de Saúde da Família (USF), localizada no município de Londrina, Paraná, participante do processo de tutoria, buscando a certificação da qualidade do nível prata. O estudo foi feito com todos os trabalhadores da unidade, incluindo profissionais residentes que atuavam juntamente a equipe e tutores do programa. A pesquisa tem caráter qualitativo, descritivo e exploratório, do tipo estudo de caso. Utilizou-se como ferramenta de coleta de dados observação-participante, realizada no período de julho a outubro de 2018, e entrevistas semiestruturadas com os profissionais da USF, feitas em dezembro de 2018 até abril de 2019. Os dados foram analisados de acordo com a proposta de Martins e Bicudo. Da análise dos resultados emergiram três manuscritos: Reflexos de um processo de qualificação da Atenção Primária à Saúde na rotina e no cuidado produzido pelos trabalhadores; Estratégias de gestão do trabalho durante um processo de qualificação da Atenção Primária à Saúde; Resultados de um processo de qualificação da Atenção Primária à Saúde. Os resultados apontaram para organização do processo de trabalho, oportunidade de refletir sobre a prática, sobrecarga física e mental dos profissionais, ênfase em questões burocráticas em detrimento do cuidado e dificuldade do programa em contemplar as singularidades do território e possibilitou. Diversas estratégias foram desenvolvidas pela equipe: reuniões de equipe e gerais, mutirões de estratificação de risco e criação atendimentos coletivos em formato de grupo, que possibilitaram a organização do processo e melhoria da qualidade da atenção. A participação no selo permitiu melhor conscientização do processo de trabalho, organização do fluxo e sistematização de atividades, resgate de populações negligenciadas e monitoramento da população com condições crônicas. A EPS mostrou-se como eixo transversal que percorreu todo o processo de trabalho, permitindo problematizações, trabalho em equipe e reflexão sobre a prática profissional. A EPS desenvolvida pelos próprios profissionais possibilitou sair da lógica da captura impositiva do processo e dar qualidade a gestão do trabalho.
Núcleos Ampliados de Saúde da Família e Atenção Básica e as Práticas Colaborativas para o cuidado integral
Daiene Aparecida Alves Mazza, Brígida Gimenez Carvalho, Marselle Nobre de Carvalho
Data da defesa: 20/05/2020
Introdução: Os profissionais do NASF-AB se encontram diante de uma aposta que pressupõe uma relação de trabalho colaborativa, sendo que o grau de articulação esperado entre esses trabalhadores, e destes com a equipe de referência e com outros componentes da rede são essenciais para a produção da qualidade do cuidado. Buscando-se compreender as práticas colaborativas desenvolvidas pelos NASF-AB de forma mais ampliada, utilizou-se o referencial teórico das dimensões de colaboração, e as premissas da ergologia. Esta possibilitou uma análise para além do trabalho prescrito, considerando a perspectiva dos profissionais, a relação que eles estabelecem com o meio em que estão implicados, bem como as singularidades existentes na realização das atividades. Objetivo: O estudo teve como objetivo compreender os elementos estruturantes das práticas colaborativas desenvolvidas no processo de trabalho de equipes NASF-AB para o cuidado integral em municípios que integram a 16ª Regional de Saúde de Apucarana, Paraná. Método: Trata-se de um estudo exploratório-descritivo, com abordagem qualitativa, de caráter abrangente, realizado em três municípios da 16ª Regional de Saúde de Apucarana, Paraná. Os participantes da pesquisa foram profissionais que integram as equipes da NASF-AB em cada município analisado. O estudo foi realizado através de: revisão de literatura; definição de locais de pesquisa e participantes; observação do participante; e entrevista semiestruturada. Para análise dos dados, foi utilizado o método de análise de discurso proposto por Martins e Bicudo. Resultados: O estudo revelou que aspectos macro e micropolíticos estão presentes de modo conjunto e indissociável no cotidiano de atuação do NASF-AB, sendo que fatores referentes à infraestrutura, gestão do trabalho, formação para o SUS, relação entre as equipes e características dos profissionais influenciam a organização e o processo de trabalho do NASFAB. O espaço de apoio matricial possibilitou aos trabalhadores o desenvolvimento de elementos essenciais para a colaboração, como respeito mútuo, comunicação aberta e escuta de diversos pontos de vista, e o estabelecimento de consenso, tendo como essência o cuidado do usuário. A interpretação das práticas realizadas pelo NASF-AB demonstrou o desenvolvimento de práticas colaborativas na rotina desses profissionais expressas nos atendimentos individuais, nas visitas domiciliares, no planejamento e execução de atividades coletivas e na articulação com a rede. As práticas colaborativas desenvolvidas pelos profissionais do NASF-AB foram produtos das renormalizações de seu trabalho prescrito, sendo, os trabalhadores, protagonistas do processo de trabalho. Conclusão: Este estudo explorou a potência do trabalhador, de modo a desenvolver práticas colaborativas considerando suas singularidades e o contexto em que estão inseridos. A operacionalização do apoio matricial e o desenvolvimento de práticas colaborativas se mostraram favorecidos nos municípios de pequeno porte, que integram equipes NASF-AB modalidade 2 e 3. As práticas colaborativas desenvolvidas pelos profissionais do NASF-AB foram produtos das renormalizações de seu trabalho prescrito, sendo, os trabalhadores, protagonistas do processo de trabalho.
Avaliação de acessibilidade aos serviços de atenção primária e longitudinal do cuidado entre adultos
Bárbara Radigonda, Luiz Cordoni Junior, Regina Kazue Tanno de Souza
Data da defesa: 17/07/2017
A atenção primária em saúde (APS) deve ser o contato preferencial dos usuários, a principal porta de entrada e o centro de comunicação com toda a rede de atenção. A acessibilidade e a longitudinalidade estão entre os atributos essenciais da APS e influenciam na efetividade do cuidado e satisfação do usuário. Avaliações produzidas a partir de análises do cotidiano detectam carências e contribuem para o aperfeiçoamento da APS. O presente estudo tem como objetivo analisar e avaliar a acessibilidade aos serviços de atenção primária e a longitudinalidade do cuidado em grupo populacional de adultos. Trata-se de um estudo transversal composto por adultos de 40 anos ou mais, participantes de estudo de base populacional – VIGICARDIO - realizado no município de Cambé – Paraná, em 2011. Em 2015, foi realizado o segundo contato com a população entrevistada no baseline para verificar as alterações ocorridas no perfil de risco cardiovascular. Para avaliação do presente estudo, utilizaram-se questões propostas no PCATooL-Brasil para usuários adultos sendo construída uma matriz de indicadores e calculado o escore individual, escore do indicador e índice composto das dimensões de análise – acessibilidade organizacional e longitudinalidade. Os resultados foram julgados de acordo com os valores obtidos: 2,0-1,80 (Excelente); 1,79-1,40 (Satisfatório); 1,39-1,00 (Regular); <1,00 (Crítico). Na análise descritiva e de associação foram incluídas variáveis sociodemográficas, econômica, uso de medicamento, hipertensão arterial e diabetes autorreferidas. As análises foram realizadas por meio da regressão de Poisson com ajuste de variância robusta e nível de significância de 5%. Foram entrevistados 885 adultos, entre os 1180 participantes do baseline. Entre os 92,5% dos indivíduos que mencionaram ter um serviço de referência, a Unidade Básica de Saúde (UBS) foi o serviço mais citado para o primeiro contato para um problema de saúde não urgente. A acessibilidade organizacional à UBS mostrou-se inferior à dos demais serviços analisados – especializados do SUS e convênio/particular. A maioria dos indicadores de acessibilidade à UBS apresentou resultados considerados críticos e a obtenção de aconselhamento pelo telefone foi o pior indicador da dimensão. A proporção dos que conseguem atendimento pelo telefone foi significativamente mais elevada entre as mulheres (p=0,001) e a facilidade para marcar consulta de revisão mais elevada entre os homens (p=0,03). Ter vínculo com um médico e considerá-lo referência para o acompanhamento da saúde, foi citado por 55,2% dos entrevistados, sendo o médico da UBS o mais referido. A maioria dos indicadores de relação interpessoal apresentou resultados satisfatórios ou excelentes. Telefonar e falar com o médico foi o pior indicador dessa dimensão com resultado crítico nos serviços públicos. Após análise ajustada, nenhum fator permaneceu associado à longitudinalidade do cuidado. A pesquisa revelou vínculo entre a população atendida e o profissional médico, no entanto há problemas na acessibilidade organizacional que apontam para necessidade de estratégias que aprimorem esses atributos visando a acessibilidade e longitudinalidade do cuidado e, consequentemente, a orientação dos serviços para o fortalecimento da APS.