Estratégias de Promoção da Saúde na Primeira Infância: Tecendo Redes Locais
Camila Sighinolfi de Moura, Mathias Roberto Loch
Data da defesa: 02/05/2022
Os primeiros anos de vida são como a fundação de uma casa e, ao investir na primeira infância, investimos na sociedade como um todo. Nesse sentido, essa pesquisa objetivou analisar intervenções, estratégias e recursos utilizados para a realização de ações de Promoção da Saúde na Primeira infância, à luz da intersetorialidade, em um território da Atenção Primária à Saúde (APS) em um município de grande porte do norte do Paraná. Foi realizada uma pesquisa de abordagem qualitativa exploratória na qual o percurso metodológico foi estruturado para que, cada momento da pesquisa, subsidiasse o melhor direcionamento para a realização do Grupo Focal. Dessa forma, utilizando-se de informações obtidas através de coleta de dados primários e secundários, a seleção dos atores sociais se deu a partir da delimitação do universo amostral, da seleção e caracterização do Território de estudo e, proveniente dessa análise foram selecionados os atores sociais que mantinham vínculos mais expressivos com o território. Assim, o grupo focal foi realizado com oito atores sociais da rede local e analisado à luz de Bardin (2011). O material coletado foi organizado a partir das falas dos participantes que compartilharam suas vivências e experiências e, derivadas de sua análise, emergiram quatro categorias: 1) Demanda “mais Pititiquinha” e a situação de saúde na primeira infância: da clínica ao social; 2) PueriCULTURA: Ritalina para Todo Mundo 3) Rede de Nó(s): criando laços intersetoriais e 4) MultiplicAÇÃO: estratégias locais de promoção da saúde na primeira infância. O conjunto de ideias centrais fez vir à tona a visão de uma Primeira Infância demarcada por barreiras relacionadas ao aumento das demandas de ordem sociais e clínicas; a eclosão de transtornos “psiquiátricos”; as repercussões das tecnologias e mídias digitais nas relações humanas; as dificuldades da rede para lidar com os pais na construção da parentalidade e no desenvolvimento infantil, principalmente diante do modelo biomédico e da lacuna de formação, da sobrecarga e do sucateamento do trabalho; dos recursos insuficientes e, da persistência mal sucedida de articulação com os conselhos e participação popular, dificultando iniciativas intersetoriais. Frente a essas adversidades, a pesquisa identificou dispositivos potencializadores de Saúde para fomentar o trabalho intersetorial e a realização de ações de Promoção da Saúde na Primeira Infância demonstradas por esforços incansáveis, coletivos e individuais, de forma intra e intersetorial, que foram desde uma sequência de encaminhamentos médicos, avaliações, ações clínico-assistenciais, vacinas, até ações lúdicas na puericultura, projetos de construção de hortas e compostagem e a proposição de grupos familiares intergeracionais na Educação, na Saúde, e na Assistência Social. As estratégias ratificam a importância do estabelecimento de redes locais de cogestão e a potência da Promoção da Saúde na Primeira Infância no enfrentamento dos Determinantes Sociais da Saúde.
Repercussões do contexto sócio-político, sanitário e normativo para a oferta e organização de serviços da Atenção Básica na Macrorregião Norte do Paraná
Wellington Pereira Lopes, Brígida Gimenez Carvalho
Data da defesa: 17/03/2022
Introdução: A criação do Sistema Único de Saúde (SUS) se deu um contexto político de redemocratização do país, quando se encerrava um ciclo ditatorial e se iniciava o período democrático, marcado por manifestações, reinvindicações e participação popular em busca de melhorias em diversos aspectos. O contexto de implementação do Sistema Único de Saúde (SUS) foi marcado por políticas normativas seguindo a lógica federativa do país por meio da descentralização e participação de todos os entes federados. Apesar dos diversos avanços nos útimos anos, questões relacionadas a crise política, avanço do neoliberalismo e crises sanitárias têm influenciado diretamente as mudanças ocorridas no SUS. Esse trabalho teve como objetivo: Analisar as possíveis repercussões do contexto sócio-político, sanitário e normativo para a oferta e organização de serviços da AB na macrorregião norte do Estado do Paraná. Metodologia: Estudo de caráter compreensivo, realizado em dois movimentos distintos. O primeiro, de caráter quantitativo descritivo, por meio de dados secundários, disponibilizados pelo Ministério da Saúde (MS) no sistema Espaço para Informação e Acesso para o Sistema da Atenção Básica (e-gestor), sobre número e cobertura de equipes estratégicas da Atenção Básica (AB), referente ao período 2011 a 2019. O segundo movimento, de caráter qualitativo, foi realizado em 16 municípios da macrorregião norte do Paraná. Os sujeitos da pesquisa foram coordenadores municipais da Atenção Básica (AB) e secretários municipais de saúde entrevistados por meio de roteiro semiestruturado, que continha questões que versavam sobre a organização da atenção básica e gestão do trabalho e foram realizadas no periodo de julho a outubro de 2021. Para análise e interpretação dos dados, foi utilizado o método de análise de discurso. Resultados: Houve aumento no quantitativo e na cobertura, tanto da Estatégia Saúde da Familia (eSF), quanto das demais equipes estratégicas entre os anos de 2011 a 2019, porém os resultados apontam estagnação e até mesmo redução para algumas estratégias nos anos subsequentes. O crescimento das ideias neoliberais, a reforma trabalhista e contextos políticos, econômicos e sociais no período da formulação da Política Nacional de Atenção Básica (PNAB) de 2017, refletiram em flexibilização da forma de contratação e na estrutura das composições das equipes, afetando principalmente os Agentes Comunitários de Saúde (ACS) que sofreram redução do quantitativo de profissionais e da cobertura populacional. Na macrorregião norte do Paraná,a maioria dos municípios estudados manteve a organização da AB por meio das eSF, e em apenas três municípios verificou-se a existência de Equipes de Atenção Primária (eAP). Em relação às formas de contratação nesses municípios, notou-se aumento dos vínculos precáriosQuanto a percepção dos gestores sobre o desempenho e tipo de vínculo contratual, observouse que alguns gestores não identificam diferença entre a atuação de profissionais com vínculos distintos, entretanto houve ênfase por de alguns gestores que profissionais terceirizados e com vínculo de trabalho mais frágil tem melhor desempenho do que profissionais com estabilidade no trabalho. Observou-se que a crise sanitária da Covid-19 interferiu diretamente na organização e oferta de serviços da AB, além disso, a crise do federalismo brasileiro marcada por conflitos intergovernamentais provocou atraso na organização da AB para atuar frente a pandemia por Covid-19. Apesar disso houve organização por meio de unidades sentinelas de atendimento a pessoas sintomáticas respiratórias, unidades de coleta de exames e unidades de atendimento regular aos pacientes. Os serviços ofertados foram: tele-atendimento, rastreamento de casos suspeitos e casos confirmados, atendimento de pacientes com sintomas respiratórios nas unidades de referência, atendimento de rotina nas demais unidades, população do território, entrega ou envio por e-mail de receitas médicas de uso continuo aos pacientes crônicos para minimizar aglomerações, incentivo ao programa de imunização e atendimento psicológico. Conclusão: Os resultados permitem inferir que a PNAB 2017 não possibilitou o fortalecimento da AB com foco na eSF; que o cenário político, sanitário, econômico e social vivenciado pelos municípios nos últimos anos, interferiu diretamente na forma de contratação dos profissionais, na percepção dos gestores em relação ao desempenho e vínculo de trabalho e que a crise entre os entes federativos, especialmente a descooordenação, refletiu de forma negativa na organização da AB para o combate da Covid-19.
A influência das Novas Diretrizes Curriculares Nacionais para a formação em Atenção Primária à Saúde em cursos de Medicina do Paraná
Luciana Osorio Cavalli, Brígida Gimenez Carvalho
Data da defesa: 21/07/2021
Introdução: Mudanças na formação profissional médica vêm sendo discutidas nas últimas décadas, entre elas, a superação do modelo de formação biomédico, fragmentado, com enfoque na especialização e hospitalocêntrico, que motivou várias entidades e instituições nacionais e internacionais a proporem recomendações para um novo modelo de formação, voltado para inserção na Atenção Primária à Saúde (APS). No Brasil, as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) de 2001 e 2014, principalmente, propõem a inserção nos primeiros anos e longitudinal na APS para desenvolver as habilidades e competências dos egressos dos cursos de Medicina. Objetivo: Analisar a formação para a APS, dos cursos de Medicina, no estado do Paraná, relacionado às últimas DCNs. Metodologia: A metodologia utilizada foi um estudo desenvolvido em três fases: 1) Scoping Review para verificar o que já havia sido descrito pela literatura sobre o assunto; 2) Exploratório e descritivo – levantamento das escolas e das grades curriculares, avaliando-as de acordo com a diretriz curricular; 3) Qualitativo – Entrevista com coordenadores de cursos para compreender como foi construído e está sendo implementado o projeto político-pedagógico (PPP). Os dados foram analisados subsidiados pelo referencial teórico de Bourdieu. Resultados: Os resultados foram apresentados em formato de três artigos científicos: 1) A Formação Médica na APS: Uma Revisão de Literatura 2) A Formação Médica na APS no Paraná; 3) A Formação Médica para a APS em quatro escolas do Paraná: a percepção dos coordenadores de curso. O primeiro artigo tratou de uma scoping review e identificou uma maioria de artigos publicados a partir de 2015, sendo que, as DCNs aparecem como principal motivador para mudança curricular, com 100% das escolas apresentando inserção precoce, 76,5% no primeiro semestre, 47,1% ao longo de oito semestres e com objetivo de aprendizado que vai ao encontro das diretrizes. Porém, a falta de estrutura das unidades, da formação dos preceptores e convênios precários apareceram como aspectos negativos. O segundo artigo retrata a análise dos PPPs de dez cursos de Medicina do Paraná, apresenta que 100% dos currículos analisados referem inserção na APS, sendo 80% por oito semestres, 100% inserem durante o internato, porém em 30% não acontece pelo período preconizado pelas DCNs; os objetivos da inserção, no entanto, obedecem às DCNs. O terceiro artigo apresenta que em 100% dos PPPs analisados também há a inserção na APS ainda no primeiro ano, sendo que em 75% deles por oito semestres, porém verifica-se na entrevista que em 50% destas o tempo de inserção prática é inferior ao descrito no PPP. Conclusão: Percebe-se, nos artigos brasileiros estudados e nos PPPs avaliados, que a formação médica na graduação atende ao preconizado pelas DCNs de 2014, pelos autores e pelas experiências internacionais. Verificam-se avanços importantes em relação ao ensino para a APS nos cursos estudados em relação à adequação ao preconizado nas diretrizes, mas há algumas divergências entre o que aparece no PPPs dos cursos e a inserção dos estudantes em estágios práticos. Reforça-se a importância da valorização desses espaços para os docentes e discentes.
A efetivação dos atributos da atenção primária à saúde: uma análise dos dados do programa nacional de melhoria do acesso e da qualidade da atenção básica e sua relação com mortalidade infantil no Brasil.
Marla Fabiula de Barros Hatisuka, Marcos Aparecido Sarria Cabrera
Data da defesa: 20/07/2021
Objetivo: Analisar a relação entre a efetivação da Atenção Primária à Saúde, na perspectiva do usuário, e a classificação de desempenho das equipes de saúde, no Programa Nacional de Melhoria do Acesso e da Qualidade da Atenção Básica (PMAQ-AB) com a Taxa de Mortalidade Infantil (TMI). Método: Trata-se de uma pesquisa avaliativa, transversal e de abordagem quantitativa. A população do estudo foi composta por usuários que participaram do 3º ciclo do PMAQ e que responderam ao Módulo III – Entrevista na Unidade de Saúde com o Usuário. Também, foram analisados os dados da classificação de desempenho das unidades de saúde que participaram do programa. Para a análise da TMI, a população do estudo foram os óbitos de menores de um ano e o total de nascidos vivos dos anos de 2015 a 2017. Para a análise dos atributos essenciais da Atenção Básica (AB), foi realizada a correspondência entre as questões contidas no Módulo III, com as definições dos atributos essenciais definidos pela pesquisadora Bárbara Starfield (2002). Para a análise de certificação, as unidades, classificadas acima de boa, foram agrupadas em uma única variável renomeada como “boa classificação de desempenho”. Para verificar a associação entre as porcentagens de unidades com boa classificação de desempenho e a TMI, foi realizado o teste de coeficiente de correlação de Pearson, assim também foram realizadas análises de similaridade entre as variáveis estudadas e os Estados da Federação. Para verificar a diferença nas médias dos atributos essenciais, segundo o porte populacional, foi realizado o teste de ANOVA de uma via e, para verificar quais grupos diferiram entre si, foi utilizado o teste de post-hoc de Tukey. Também foi utilizado o teste de coeficiente de correlação de Pearson,sendo adotado nível de significância de 5%, para verificar a relação entre a TMI e as médias dos atributos. Resultados: Existe correlação negativa de intensidade moderada (-0,534) e significante (p=0,005) entre a certificação das equipes e a TMI. Na análise de similaridade, obteve-se a formação de quatro grupos, sendo o grupo, com as menores porcentagens de unidades com boa classificação de desempenho e maior média da TMI, composto por cinco Estados, todos da região Norte. A análise da diferença de médias demonstrou que existem diferenças no alcance dos atributos essenciais, nos diferentes portes populacionais, na percepção de seus usuários, principalmente nos atributos de primeiro contato e longitudinalidade. Também revela que existe relação negativa entre a TMI e o alcance dos atributos, com resultado mais expressivo entre o atributo de primeiro contato e as metrópoles. Conclusões:Existe relação entre a certificação da equipe de saúde com a TMI, assim como existem diferenças nos alcances dos atributos essenciais da AB, na percepção dos usuários, de acordo com o porte populacional. São grandes os desafios, para que se consiga atingir a efetivação da qualidade da AB no Brasil, sobretudo no contexto político neoliberal com redução dos gastos públicos, principalmente nas políticas sociais.
O Uso de Medicamentos na Atenção Básica em Londrina-PR
Poliana Vieira da Silva, Adriana Mitsue Ivama
Data da defesa: 10/02/2004
De acordo com a Constituição Brasileira, a saúde é direito do cidadão, incluída a assistência farmacêutica, de forma universal, integral e equânime. A implementação da Assistência Farmacêutica no SUS tem como um dos seus principais referenciais a Política Nacional de Medicamentos (PNM), que tem como propósito precípuo garantir a necessária segurança, eficácia e qualidade dos medicamentos, a promoção do uso racional e o acesso da população àqueles medicamentos considerados essenciais. Uma de suas prioridades é o acompanhamento e a avaliação contínua das ações em saúde orientadas pela assistência farmacêutica, mediante metodologias e indicadores a serem definidos. O objetivo desta pesquisa foi conhecer as características do uso de medicamentos na atenção básica do Sistema Único de Saúde em Londrina, Pr. Foram usados como principal referência os indicadores do uso de medicamentos propostos pela Organização Mundial da Saúde, de prescrição, de assistência ao paciente e do serviço de saúde. As unidades básicas de saúde (UBS) foram caracterizadas por porte e localização e foi feita uma amostra aleatória para coleta em 13 das 54 UBS de Londrina e entrevista com 390 usuários.No município existe uma Central de Abastecimento Farmacêutico, uma farmácia para dispensação de medicamentos de controle especial e dispensários nas UBS. Não há presença de farmacêuticos nas unidades básicas de saúde. São prescritos 2,2 medicamentos por consulta. Destes, 28,6% são antibióticos, 10,9% são injetáveis, 66,5% são prescritos por seus nomes genéricos e 73,3% pertencem a Relação Municipal de Medicamentos Essenciais (REMUME). O tempo médio de consulta foi de 8,6 minutos e dos medicamentos prescritos 71,8% foram dispensados. Quanto aos pacientes 46,6% possuíam as informações mínimas para usar corretamente os medicamentos prescritos. A REMUME estava presente em 69,2% das UBS estudadas e apenas 46,1% das UBS possuíam todos os medicamentos chaves da lista pactuada para a assistência farmacêutica básica. Embora os usuários do Sistema Único de Saúde em Londrina tenham acesso aos medicamentos constantes da REMUME nas UBS onde foi realizada a pesquisa, não se pode afirmar que este acesso seja regular e tenha uma racionalidade de prescrição ou que os usuários usem racionalmente tais medicamentos, uma vez que relatam um nível baixo de conhecimentos sobre como utilizá-los. Estes indicadores podem contribuir para a formulação de políticas voltadas para a reorientação da assistência farmacêutica, promovendo a melhoria do acesso e uso racional dos medicamentos.
Atenção à saúde dos adolescentes: ações desenvolvidas pelos médicos e enfermeiros das equipes da Saúde da Família, Londrina, Paraná
Rosângela Aparecida Pimenta Ferrari, Zuleika Thomson
Data da defesa: 18/08/2004
Este estudo teve como objetivo analisar a atenção à saúde do adolescente prestada pelos médicos e enfermeiros das equipes da Saúde da Família, no Município de Londrina, Paraná. A coleta de dados foi realizada no período de agosto a setembro de 2003. O método utilizado foi uma investigação descritiva qualitativa e quantitativa. Para a análise dos dados quantitativos utilizou-se o programa Epi-Info e para o dado qualitativo a Análise de Conteúdo. O município contava com 188 profissionais (94 médicos e 94 enfermeiros). Desse total, 89 enfermeiros (94,7%) e 82 médicos (87,2%) participaram da pesquisa. Mais da metade dos médicos era do sexo masculino, com média de idade de 42,2 anos. Entre os enfermeiros predominou o sexo feminino, com média de idade de 33,9 anos. Grande parte dos médicos atuava há mais de nove anos na área da Saúde Coletiva, enquanto que a atuação de mais da metade dos enfermeiros, nessa área, era de menos de nove anos. Quase a totalidade dos enfermeiros e pouco mais de 50% dos médicos tinham mais de dois anos de trabalho na ESF. Quanto à pós-graduação, os enfermeiros foram predominantes na especialização em Saúde Coletiva; já o índice da especialização, nessa área, por parte dos médicos atingiu 45%. Quase a totalidade dos profissionais referiu que não havia um programa específico de atenção à saúde do adolescente no serviço, mas todos afirmaram prestar assistência para esse grupo etário, todos os dias e quase todos os dias. Pouco mais de 20% dos médicos atendiam adolescentes no pré-natal e na prevenção do câncer, cerca de 32% atendia-os no planejamento familiar e aproximadamente 60% na prevenção de DST/Aids, orientando-os sobre o uso do preservativo, e pouco mais da metade orientava-os sobre a prevenção da gravidez. Cerca de 70% dos enfermeiros prestavam assistência aos adolescentes no planejamento familiar e orientavam-nos sobre a prevenção das DST/Aids e da gravidez, mais de 70% sobre o pré-natal e a prevenção de câncer e mais de 80% sobre o uso do preservativo. Do total dos participantes da pesquisa, 47 profissionais responderam à questão aberta. A partir desse registro, foram analisados e categorizados cinco temas: os serviços de saúde e o adolescente: pouca oferta ou baixa procura?, necessidade de formação/capacitação em adolescência, multidisciplinariedade e intersetorialidade, ações de atenção à saúde do adolescente e necessidade de implantação de um programa específico para adolescentes. Evidenciou-se que mais de 80% dos profissionais consideraram prioritário desenvolver ações de atenção à saúde do adolescente no serviço. Diante dessas conclusões, considera-se necessária a implantação de um programa de atendimento específico para adolescentes no serviço de saúde do município, após treinamento e capacitação da Equipe da Saúde da Família.
Risco de ulceração em pés de portadores de Diabetes Mellitus em Londrina, Paraná: caracterização do cuidado na atenção básica, prevalência e fatores associados
Maira Sayuri Sakay Bortoletto, Selma Maffei de Andrade , Maria do Carmo Lourenço Haddad
Data da defesa: 30/04/2010
O portador de diabetes mellitus (DM) tem, aproximadamente, 15% de possibilidade de desenvolver ulcerações nos pés durante sua vida. Aproximadamente 40 a 60% das amputações não traumáticas de membros inferiores são realizadas em portadores de diabetes. A prevenção desse agravo constitui-se um grande desafio para os profissionais de saúde. Esta pesquisa objetivou analisar ações de prevenção de úlceras em pés de portadores de diabetes desenvolvidas na atenção básica de Londrina (PR), a prevalência e fatores associados ao maior risco de ulceração em pés de portadores de DM. O estudo foi desenvolvido em duas etapas. Na primeira, realizada em dezembro de 2008, entrevistaram-se as coordenadoras das 39 Unidades de Saúde da Família (USFs) da zona urbana de Londrina. Na segunda etapa, foram entrevistados e examinados, entre dezembro de 2008 e março de 2009, portadores de DM acompanhados em duas USFs, uma com ações de prevenção de complicações nos pés e outra sem essas ações instituídas. Os prontuários desses portadores de DM também foram consultados. Observou-se que 48,7% das USFs desenvolviam ações de prevenção, sendo a mais frequente a consulta de orientação, seguida da avaliação de enfermagem. Em 84,2% destas USFs, as ações preventivas foram instituídas havia menos de um ano. As ações estavam totalmente sistematizadas em somente 15,8% das USFs. Foram avaliados 337 portadores de diabetes, sendo 60,0% mulheres. A idade média foi de 64,6 anos, 37,1% tinham menos de quatro anos de escolaridade e 68,2% classificavam-se na classe econômica C. A prevalência de pé em risco de ulceração foi de 27,9%, sendo maior na USF sem ações de prevenção (29,7%) do que na USF com estas ações (26,1%). A ausência de ações de prevenção de complicações nos pés associou-se à escolaridade menor que quatro anos (p=0,024), cor da pele autorreferida como preta/parda (p=0,002), hipertensão arterial (p=0,026), corte de unhas inadequado (p=0,019), uso de calçados inadequados no momento da entrevista (p=0,005), uso diário autorreferido de calçados inadequados (p=0,046), micose interdigital (p=0,003) e micose de unha (p=0,001). Na análise multivariada, os fatores independentemente associados à prevalência de maior risco de ulceração foram: diagnóstico de diabetes há mais de 10 anos (OR=1,88), histórico de infarto agudo do miocárdio (OR=3,46) ou de acidente vascular encefálico (OR=2,47), presença de calosidades (OR=1,87) e de micose de unha (OR=1,79). Os resultados indicam que apenas metade das USFs do município realiza ações de prevenção de complicações nos pés de portadores de DM e uma parcela ainda menor as executa de forma sistematizada. A comparação entre os portadores de DM cadastrados nas duas USF estudadas revelou diferenças significativas quanto ao autocuidado com os pés e à presença de doenças dermatológicas, indicando possível efeito dessas ações no maior autocuidado e na redução desses agravos. A alta prevalência de maior risco de ulceração em pés de portadores de DM acompanhados na atenção primária e os fatores associados a essa condição indicam que políticas e ações na atenção básica devem ser instituídas, buscando o melhor controle da doença e o estímulo de hábitos de autocuidado com os pés entre os portadores de DM.
Caracterização dos usuários de medicamentos cardiovasculares e antidiabéticos em uma Unidade Básica de Saúde: análise do uso irregular de medicamentos e das condições de saúde bucal
Ana Carolina Bertin de Almeida Lopes, Marcos Aparecido Sarria Cabrera
Data da defesa: 26/05/2010
A Organização Mundial da Saúde considera que as doenças crônicas, como as doenças cardiovasculares e o diabetes mellitus assumiram caráter epidêmico, acompanhado pelo aumento no consumo de medicamentos para sua prevenção e tratamento. As doenças periodontais, especialmente a periodontite, têm sido relacionadas à presença e à evolução do diabetes mellitus e das doenças cardiovasculares. Este estudo teve como objetivos caracterizar os usuários de medicamentos cardiovasculares e antidiabéticos de uma Unidade Básica de Saúde (UBS) e avaliar as condições de saúde bucal desses usuários. Realizou-se um estudo transversal com 397 indivíduos maiores de 18 anos que retiraram medicamentos cardiovasculares e antidiabéticos na UBS Centro Social Urbano (CSU), no município de Londrina, PR. As informações foram obtidas através de formulário com questões estruturadas, semi-estruturadas e abertas com dados autoreferidos. A média de idade encontrada foi de 63,9 anos, a maioria do sexo feminino (65,5%), com escolaridade de um a quatro anos (44,6%), e classes socioeconômicas (ABEP) predominantes C1, C2 e D (78,4%). Os anti-hipertensivos mais utilizados foram os inibidores da enzima de conversão de angiotensina (IECA) (63,5%), os diuréticos tiazídicos (54,9%) e os betabloqueadores (27,7%). Entre os antidiabéticos o mais consumido foi o cloridrato de metformina (23,2%). A prevalência de uso irregular de medicamentos cardiovasculares e antidiabéticos foi de 35,8% e teve como principal motivo relatado o esquecimento. Os diabéticos consumiram em média 3,9 medicamentos cardiovasculares e antidiabéticos e os hipertensos 1,6. Na análise multivariada o trabalho remunerado (não exercer) e a coexistência da hipertensão arterial e do diabetes mellitus apresentaram associação independente ao uso irregular de medicamentos cardiovasculares e antidiabéticos. Em relação às condições de saúde bucal identificou-se 35% de prevalência de edentulismo e associação das variáveis faixa etária (ser idoso) e ter hipertensão arterial e diabetes mellitus com o risco periodontal (sangramento gengival e/ou mobilidade dentária). Apesar da amostra estudada representar uma população específica que utiliza medicamentos e que recebeu diagnóstico de hipertensão arterial e/ou de diabetes mellitus, os resultados apresentados evidenciaram que uma proporção significativa dos usuários fazia uso irregular de medicamentos cardiovasculares e antidiabéticos e que as condições de saúde bucal analisadas foram insatisfatórias. Dessa forma, a promoção do uso racional de medicamentos, das medidas não medicamentosas e a atenção à saúde bucal devem ser priorizadas em portadores de doenças crônicas.
Características antropométricas de crianças de 6 a 23 meses de idade e fatores associados a desvios nutricionais
Cybele Renata Trevisan e Silva, Regina Kazue Tanno de Souza
Data da defesa: 27/04/2012
O crescimento infantil é um dos melhores indicadores de saúde e seu acompanhamento constitui uma das prioridades na atenção a esse grupo populacional. O objetivo geral desse trabalho foi realizar uma avaliação antropométrica de crianças de seis a vinte e três meses de idade residentes na área de abrangência de uma unidade básica de saúde (UBS) de Londrina-PR e identificar fatores associados aos desvios nutricionais. Como objetivo complementar, comparou-se a avaliação do estado nutricional utilizando-se os referenciais NCHS de 1977 e OMS de 2006. Estudo transversal, com amostra de 268 crianças identificadas no SINASC, Ficha A e outros registros do serviço. Os desfechos estudados foram excesso de peso e baixa estatura, definidos por meio de percentil e escore z, segundo referencial proposto pela OMS em 2006. As variáveis independentes foram as relacionadas às crianças, às mães, às condições sociossanitárias, ao acesso ao serviço e a algumas características alimentares. Realizou-se análise descritiva, e, para a associação entre as variáveis, foi utilizado o teste de qui-quadrado, com correção de Yates e teste exato de Fisher. Entre as crianças avaliadas, observou-se maior proporção de sexo masculino (53,7%), de peso adequado de nascimento (94,8%) e de crianças que são cuidadas pela mãe (63,1%). A maioria das crianças faz acompanhamento na UBS (75,4%), e 91,7% iniciaram a puericultura antes de 30 dias de vida. Encontrou-se também uma frequência alta de ingestão de biscoitos salgados industrializados (59,3%), refrigerante (59,7%) e doces (69,4%). Na avaliação antropométrica verificou-se prevalência de 14,9% de risco de sobrepeso, 7,1% de sobrepeso e obesidade, 2,6% de déficit de peso e 4,1% de baixa estatura. Na comparação entre os dois referenciais, verificou-se maior sensibilidade do referencial OMS de 2006 tanto no diagnóstico de excesso de peso na relação peso para estatura, quanto no de baixa estatura. Os fatores que se associaram significativamente na análise bivariada ao excesso de peso no índice peso para estatura foram: quem cuida a maior parte do tempo da criança não é a mãe, trabalho materno e a não convivência da mãe com o companheiro. Em relação ao déficit de estatura, a prevalência do desfecho foi significativamente mais elevada entre as crianças cujo cuidador não é a mãe. A maior importância do excesso de peso em relação ao déficit sugere transição nutricional em curso, e o seu envolvimento com doenças crônicas não transmissíveis aponta a necessidade de ações efetivas em faixas etárias de vida cada vez mais precoces.
Caracterização dos gerentes e práticas gerenciais na atenção primária à saúde em municípios de pequeno porte da região norte do Paraná
Regina Hitomi Fukuda Ohira, Luiz Cordoni Junior
Data da defesa: 01/08/2012
Com o processo de municipalização, decorrente da implantação do Sistema Único de Saúde (SUS), torna-se necessário a organização local para garantir a saúde como direito da população. O objetivo deste estudo é caracterizar o perfil dos gerentes da atenção primária à saúde (APS) e descrever as práticas gerenciais nos serviços de APS em 49 municípios de pequeno porte das 16ª, 17ª e 18ª Regionais de Saúde do Paraná. Trata-se de um estudo de natureza descritiva, no qual foi aplicado questionário semi-estruturado para 90 gerentes. Para análise estatística, utilizou-se o programa EpiInfo 3.5.1, e o desfecho nos resultados não foi homogêneo, visto que algumas questões não obtiveram 100% de respostas dos participantes. O perfil dos gerentes aponta 91,1% do sexo feminino, 50,0% com idade predominante entre 21 a 30 anos e 75,6% pós graduados. Quanto ao ingresso no emprego, 70,0% foram por meio de concurso público/teste seletivo, com atuação profissional de 40,0% acima de 5 anos, 43,4% inseridos na APS acima de 5 anos e 32,2% na unidade básica de saúde atual há menos de 1 ano. Sobre treinamento específico para desempenho da função gerencial, 71,1% não fizeram nenhum curso, mas 37,7% já atuaram como gerentes. Quanto às práticas gerenciais citadas, 85,6% realizavam reunião com a equipe; 77,8% conheciam metas e indicadores de saúde de 2010; 73,3% planejavam as ações; 70,0% realizavam reunião com a comunidade; 64,5% discutiam as metas e indicadores com os trabalhadores da unidade; 61,1% conheciam os indicadores de saúde de 2009; 61,1% realizavam avaliação das ações e serviços de saúde; 54,4% realizavam educação permanente em saúde com os trabalhadores, mas somente 37,8% realizavam avaliação dos trabalhadores. Conclui-se que o cargo de gerência não está instituído, os participantes realizavam práticas gerenciais informalmente e há falta de profissionalização para o desempenho desta função já que somente 23,3% relataram ter feito curso de gestão.