Teses e Dissertações
Palavra-chave: Assistência Integral à Saúde
Atuação do Ministério Público Estadual de Londrina na área da saúde pública: análise das demandas e atividades
Paulo César Vieira Tavares, Márcio José de Almeida
Data da defesa: 22/07/2010
O tema do presente trabalho versa sobre a atuação do Ministério Público Estadual
de Londrina na área da saúde pública, mais precisamente acerca das atividades
desenvolvidas pela 24ª. Promotoria de Justiça da Comarca de Londrina, no Estado
do Paraná, durante o período de 1º de fevereiro de 2008 a 31 de julho de 2008.
Almejou-se elucidar quais são as principais atribuições e características do Ministério
Público, qual é a demanda que chega ao Ministério Público e como essa instituição
desempenha as suas funções nessa área. Trata-se de uma pesquisa documental
exploratória, que restringiu-se às demandas, vinculadas ao Sistema Único de Saúde,
que provocaram a instauração de procedimentos administrativos no âmbito da
instituição. Nessa análise foram consideradas as demandas segundo sua origem,
tipo, desfechos e encaminhamentos realizados. Verificou-se, nesse estudo, que as
demandas que chegaram ao Ministério Público têm natureza predominantemente
individual e não coletiva, e que dizem respeito a deficiências nas ações de saúde,
particularmente no campo de atuação da vigilância sanitária; a dificuldades de
acesso à atenção especializada e à obtenção de medicamentos de alto custo e até
mesmo daqueles inseridos na relação de medicamentos essenciais, relativos à
atenção básica; e a relações interpessoais conflituosas entre o profissional médico e
os pacientes/familiares. No que se refere ao desfecho dos procedimentos
administrativos instaurados – objeto desse estudo -, oitenta e um por cento (81%)
foram arquivados com resolução dos problemas ou com o recebimento de
esclarecimentos satisfatórios. Depreendendo-se, assim, que a maioria dos casos
acaba sendo resolvida ou esclarecida no âmbito do Ministério Público, sendo, nesse
caso, desnecessária a intervenção do Poder Judiciário para a resolução do
problema de saúde.
A Territorialização e o Planejamento em uma Unidade Saúde da Família
Ana Paula Correa Pardal Morgado, Regina Melchior
Data da defesa: 31/01/2017
A territorialização é o processo no qual se identificam grupos, famílias e indivíduos
de um território adscrito, e os fatores condicionantes e determinantes de sua saúde;
é uma ação fundamental para o planejamento, e para a implantação de ações
estratégicas para intervir nos problemas encontrados, a fim de garantir a
resolubilidade ao sistema. O planejamento pode utilizar as informações obtidas no
processo de territorialização para promover a organização da oferta dos serviços. A
relevância da territorialização e do planejamento estão relacionados à organização
do cuidado pelos serviços de saúde da Atenção Básica (AB) às necessidades de
uma população e podem ser dispositivos para o fortalecimento da AB no Brasil.
Assim essa pesquisa teve por objetivo compreender como se deu o processo de
territorialização e de planejamento das equipes Saúde da Família (eSF) e equipe do
Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF) em uma Unidade Saúde da Família do
município de Londrina, PR. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, desenvolvida por
meio de um Grupo Focal com 5 integrantes da eSF e 2 integrantes da equipe NASF,
em meados de agosto de 2015. As discussões ocorridas no Grupo Focal foram
gravadas, transcritas e organizadas por meio da Análise de Conteúdo. Após a
exploração do material e a interpretação dos resultados emergiram três Categorias
de Análise: Arranjos e Dispositivos para Interagir, Organizar e Planejar; O
Reconhecimento do Território; e Cuidado Planejado. Os resultados revelaram uma
equipe comprometida com o trabalho, e que utilizou a Educação Permanente em
Saúde como estratégia para o enfrentamento das dificuldades no início de suas
atividades. A equipe compreendeu o conceito de territorialização, e usou vários
dispositivos e momentos para o reconhecimento do seu território, tais como: o
cadastramento das famílias, as visitas domiciliares, a busca ativa, a procura
espontânea das pessoas pelos serviços da Unidade de Saúde, a abordagem das
pessoas pelos agentes comunitários de saúde e vice-versa, e o Facebook. Muitas
barreiras foram encontradas para e realização da territorialização, entre outras foram
citadas: a falta de profissionais e a dificuldade no cadastramento das famílias. A
equipe reconheceu que as informações obtidas no processo de territorialização
podem ser úteis para o planejamento de suas ações, e que o planejamento é um
processo dinâmico e flexível, também exemplificou a territorialização e o
planejamento como etapas que fazem parte do cuidado compartilhado e em rede,
considerou seu trabalho gratificante e apontou como um aspecto muito favorável
para o exercício das funções, a inserção de todos os profissionais da unidade na
Estratégia Saúde da Família (ESF).
Hospitais gerais públicos de média complexidade na rede de atenção às urgências: influência da estrutura de gestão
Fabiane Gorni Borsato, Brígida Gimenez Carvalho
Data da defesa: 06/03/2020
Este estudo teve o objetivo de compreender a dinâmica da estrutura de gestão da média complexidade
hospitalar pública de uma Região de Saúde e sua influência para o desempenho destas instituições na Rede
de Urgência e Emergência. Foi realizado em dois hospitais públicos de média complexidade de uma Região
de Saúde, utilizando-se do método de natureza mista, a partir de dados quantitativos e qualitativos, em três
momentos. No primeiro momento desenvolveu-se um estudo exploratório, com coleta de dados secundários,
a partir de uma abordagem documental e; outro quantitativo, para permitir a pesquisadora aprofundar seus
conhecimentos sobre o contexto estudado. Na abordagem documental buscou-se conhecer a tipologia e perfil
dos hospitais, a capacidade instalada, a abrangência regional, aspectos organizacionais e sua estrutura de
gestão. Utilizou-se de documentos institucionais (planos estratégicos, organogramas, contratos e convênios
firmados, plano municipal e estadual de saúde, o Plano de Ação de Urgência e Emergência da Macrorregião
Norte do estado e o Plano Diretor de Regionalização). Na abordagem quantitativa realizou-se a coleta de
dados dos relatórios da Auditoria Operacional realizada pela Diretoria de Regulação da Atenção à Saúde do
município onde os hospitais se localizam; dos relatórios do Protocolo de Acolhimento com Avaliação e
Classificação de Risco das instituições; e do Sistema de Informações Hospitalares (SIH/SUS). Os dados
quantitativos referiram-se ao período de janeiro de 2016 a junho de 2017, sendo os documentos analisados
vigentes no mesmo período. No segundo momento foi utilizada abordagem qualitativa, com entrevistas
realizadas com sete atores envolvidos na estrutura de gestão dos hospitais para atuação da Rede de
Urgência e Emergência. Em um terceiro momento, foi realizada a Triangulação de Métodos, relacionando
dados qualitativos aos elementos documentais e quantitativos, com posterior aplicação da análise
hermenêutica de Paul Ricoeur. A média complexidade hospitalar estudada constitui-se de instituições
estaduais localizadas em um município responsável pela gestão total do sistema de saúde e, desta maneira,
possui relação estreita com as diretorias dos hospitais estudados. Esta relação é estabelecida por meio de um
contrato firmado que envolve também o Consórcio Intermunicipal de Saúde e prevê transferências de
recursos federais para o financiamento da produção hospitalar, recebido pelo ente municipal. A análise da
estrutura de gestão permitiu identificar a existência de dois núcleos (Círculo Municipal e Círculo Estadual),
revelando-se complexa e atomizada com poder centralizado no gestor municipal que detém a autoridade
legal, domínio dos recursos financeiros e maior capacidade produtiva na região de saúde. Ao passo em que
isto acontece, existe um distanciamento do Estado que delega às diretorias das instituições a autonomia para
negociações e pactuações no âmbito regional. A autonomia dos hospitais visionada pelo ente estadual se
revela como um fator de risco para os processos de gestão efetivos, devido à rotatividade da gestão hospitalar
que no contexto, se origina de indicações político-partidárias, relacionadas ao poder político vigente. Apesar
destes hospitais se constituírem em serviços de referência para RUE, constatou-se que os mesmos possuem
uma demanda instalada para os serviços de urgência e emergência majoritariamente constituída por pessoas
residentes no próprio município em que estão instalados (96,2% no hospital A e 97,4% no hospital B). Desta
demanda, 70,8% e 61,9% evoluem para internação nos hospitais A e B, respectivamente. Das internações,
observou-se que 36,3% e 42,3% consistem em Condições Sensíveis a Atenção Primária. Os atores do estudo
reconhecem as dificuldades enfrentadas pela Atenção Primária em Saúde no município como um dos
determinantes de impacto na atenção hospitalar de média complexidade. Concluiu-se que, mesmo que os
planos de trabalho voltados à regionalização coloquem os hospitais deste estudo como componentes da Rede
de Urgência e Emergência voltados a assistência de média complexidade à 21 municípios constituintes da
região de saúde, existem dificuldades de regionalização do atendimento destes serviços que, em conjunto
com a centralização do poder localmente, revela a atomização do sistema municipal. A dissociação
apresentada pela estrutura de gestão analisada nesta pesquisa evidencia o aumento de poder centralizado no
ente municipal enquanto o Estado se envolve na sustentação estrutural dos hospitais e nas diretrizes de
gestão que, como exposto, pouco se relaciona com o ente municipal e ocorre diretamente com a gestão
hospitalar, rotativa e política. Este distanciamento do Estado reflete na autonomia e poder dos atores
hospitalares enquanto eleva o poder político do município nas pactuações e implementação de políticas,
ficando instituições estaduais sob o comando dos interesses políticos municipais e de atendimento a
demanda por atenção em saúde do território com consequentes dificuldades de regionalização dos serviços
estudados. Este estudo demonstrou necessidades de revisão nos processos de gestão dos hospitais, com
tentativas de resgatar o protagonismo do Estado e de seus representantes, especialmente os atores da
gestão hospitalar; e inserir a problemática aqui apresentada em discussões nos espaços de governança
regional.