ASSOCIAÇÃO ENTRE PARÂMETROS DO SONO E ATIVIDADE FÍSICA, DOR CRÔNICA MUSCULOESQUELÉTICA E TRATAMENTOS NÃO FARMACOLÓGICOS DA FIBROMIALGIA
Mayara Cristina da Silva Santos, Arthur Eumann Mesas
Data da defesa: 29/04/2024
Introdução: Os problemas relacionados ao sono têm consequências para a saúde individual e para os serviços de saúde. Estão potencialmente relacionados com a etiologia e a cronificação da dor musculoesquelética e da fibromialgia. A manutenção ou mudanças de certos comportamentos e tratamentos não farmacológicos podem auxiliar na prevenção e controle desses desfechos. No entanto, não está clara a direção da associação entre os problemas relacionados com o sono e a dor crônica, assim como a influência de tratamentos não farmacológicos da dor e as consequências na qualidade do sono. Objetivo: Investigar a associação entre os parâmetros do sono e a atividade física, a dor crônica musculoesquelética e os tratamentos não farmacológicos para fibromialgia em adultos. Objetivos específicos: 1) Analisar a associação entre a prática de atividade física no tempo livre (AFTL) e a qualidade do sono em estudantes universitários; 2) Sintetizar a evidência científica sobre as associações bidirecionais prospectivas entre problemas relacionados com o sono e dor crônica musculoesquelética; e 3) Sistematizar a evidência científica acerca dos efeitos de tratamentos não farmacológicos da fibromialgia sobre parâmetros do sono. Métodos: Os objetivos específicos foram contemplados na forma de três estudos, com resultados e discussões abordados separadamente. O objetivo 1 foi contemplado na forma de um estudo transversal da relação entre atividade física no tempo livre e qualidade do sono. Um questionário online foi aplicado em estudantes de uma universidade pública do sul do Brasil em 2019. Modelos estatísticos de regressão logística e análise de covariância foram desenvolvidos e ajustados por fatores de confusão. Para contemplar o objetivo 2, foi realizada uma revisão sistemática com meta-análise de estudos de coorte disponíveis nas bases PubMed, Scopus, Web of Science, PsycINFO e Cochrane Library desde seu início até 19 de julho de 2022. As diretrizes da guia Meta-analysis Of Observational Studies in Epidemiology foram rigorosamente seguidas. Por fim, o objetivo 3 foi contemplado na forma de uma revisão sistemática de estudos experimentais e quase-experimentais disponíveis nas bases PubMed, Scopus, Web of Science, PsycINFO e Cochrane Library, desde seu início até 05 de novembro de 2023. As recomendações do Preferred Reporting Items for Systematic reviews and Meta-Analyses for Protocols foram fielmente observadas. Resultados: Objetivo 1) Foram analisados 2.626 estudantes universitários. Nas análises ajustadas, praticar AFTL de 4 a 7 vezes/semana associou-se com menor probabilidade de má qualidade do sono (odds ratio, OR=0,71; intervalo de confiança, IC 95%=0,52–0,97) em comparação com não praticar AFTL. Ademais, aqueles que praticavam AFTL tiveram médias significativamente menores nas pontuações do Pittsburgh Sleep Quality Index global, duração e qualidade subjetiva do sono, e pontuações de disfunção diurna comparado com os que não praticavam AFTL. Objetivo 2) Dezesseis estudos, com um total de 153.187 indivíduos, foram incluídos na meta-análise. Indivíduos com problemas relacionados ao sono (PRS) no baseline apresentaram incidência 1,79 vezes maior (OR=1,79; IC 95%=1,55–2,08; I 2=84,7%; p<0,001) e persistência 2,04 vezes maior (OR=2,04; IC 95%=1,42– 2,94; I2=88,5%; p<0,005) de dor crônica musculoesquelética (DCME) do que aqueles sem PRS. Por outro lado, indivíduos com DCME no baseline apresentaram incidência 1,83 vezes maior de PRS (OR=1,83; IC 95%=1,49– 2,26; I2=89,4%; p<0,001) do que aqueles sem DCME. Objetivo 3) Noventa e cinco estudos experimentais e quase-experimentais com um total de 6.137 adultos com idade média de 48,7 anos foram incluídos. Os parâmetros do sono foram avaliados em 45,3% dos estudos com o Pittsburgh Sleep Quality Index. O tempo médio de acompanhamento da intervenção foi de 8,7 semanas. Entre os 91 artigos com indivíduos subdivididos por grupos, 11,1% foram alocados na intervenção ou terapia cognitiva comportamental, 10,9% eletroestimulação craniana ou transcraniana ou transcutânea, 5,4% exercícios aeróbicos, 4,3% Tai Chi e 4,3% mindfulness. Entre os 35 artigos que contemplam as intervenções predominantes, 65,7% apresentaram melhora significativa nos parâmetros do sono comparado com os alocados nos grupos controle (p<0,05). Conclusões: Em síntese, em grupos populacionais específicos, como o de estudantes universitários, a prática de AFTL pode contribuir para a melhor qualidade do sono. Evidências robustas reforçam a associação longitudinal entre PRS e incidência e persistência de DCME em adultos, assim como estudos prospectivos suportam a existência de uma relação bidirecional entre DCME e PRS. Por fim, a evidência disponível sugere que tratamentos não farmacológicos para a fibromialgia podem resultar em uma melhora do sono em adultos.
Incapacidade funcional entre adultos de 40 anos ou manis idade: Estudo de base populacional
Cristhiane Yumi Yonamine, Tiemi Matsuo, Regina Kazue Tanno de Souza
Data da defesa: 30/05/2012
O envelhecimento populacional é um fenômeno que concorre para um aumento da prevalência das doenças crônicas e da incapacidade funcional. Envelhecer mantendo todas as funções não significa problema para o indivíduo ou para a comunidade, entretanto, quando a autonomia funcional começa a deteriorar, os problemas começam a surgir. A incapacidade funcional é um importante indicador de saúde, uma vez que reflete a piora da qualidade de vida e os graves impactos sociais, tais como a institucionalização e o aumento do uso de serviços de saúde. O presente estudo teve por objetivo analisar a prevalência e os fatores associados à incapacidade funcional entre adultos residentes na região urbana do município de Cambé, Paraná. Trata-se de um estudo transversal, de base populacional, realizado com adultos de 40 anos ou mais de idade, no período de fevereiro a junho de 2011. As variáveis dependentes pesquisadas foram os fatores associados à dificuldade de subir e descer escadas e os fatores associados à autonomia funcional em dois grupos etários. A população foi composta de 1336 sujeitos elegíveis, dos quais 1180 foram entrevistados. A prevalência da incapacidade funcional encontrada nas atividades básicas de vida diária apresentou-se baixa e aumentou progressivamente com a idade. As dificuldades mais frequentes referem-se às atividades de urinar (5%), subir e descer escada (24%), ler ou enxergar (78,3%), memorizar (28,9%) e lavar roupa (23,4%). Os fatores associados à dificuldade de subir e descer escada foram: ser do sexo feminino, não ter trabalho remunerado, pertencer à classe econômica C, D ou E, não praticar atividade física no lazer, ter histórico de doenças crônicas, ter histórico de quedas nos últimos 12 meses e ser obeso. Observou-se que 46,5% das pessoas estudadas apresentavam a autonomia funcional preservada e alguns fatores associados à autonomia funcional foram distintos entre idosos e não idosos. Ter trabalho remunerado, praticar atividade física no lazer e não ter histórico de artrite/artrose foram comuns a ambos os grupos, mas a escolaridade e a ausência de histórico de diabetes associaram-se apenas na faixa etária de 40 a 59 anos, enquanto que histórico de problemas na coluna relacionou-se apenas às pessoas de 60 ou mais anos de idade. Os resultados apontam a necessidade de ampliar as ações e as estratégias assistenciais, principalmente na atenção básica, visto a magnitude de algumas dificuldades que interferem na autonomia funcional e os fatores associados à incapacidade e à autonomia funcional.
Alteração de peso e circunferência abdominal em população de 40 anos e mais, após 4 anos de seguimento
Agnes Carolina Ribeiro Pinto, Ana Maria Rigo SIlva
Data da defesa: 21/09/2016
Introdução: As mudanças demográficas e epidemiológicas ocorridas nos últimos anos propiciaram o aumento de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) mundialmente, com o sobrepeso e a obesidade sendo considerados importantes fatores de risco. Objetivos: Analisar mudanças de peso, das categorias do IMC e circunferência abdominal, em adultos de 40 anos e mais, entre 2011 e 2015. Métodos: Estudo longitudinal prospectivo, que faz parte do projeto: “Estudo de coorte Vigicardio 2011-2015”, realizado em Cambé (PR), com indivíduos de 40 anos e mais, residentes em todos os setores censitários urbanos. O índice de massa corporal (IMC) foi classificado conforme as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN), com pontos de corte distintos para cada faixa etária. A circunferência abdominal (CA) foi classificada em baixo risco (<80 cm em mulheres e <94 cm em homens), risco moderado (≥80 cm em mulheres e ≥94 cm em homens) e alto risco (≥88 cm em mulheres e ≥102 cm em homens). A alteração percentual de peso foi definida em perda ≥10%, perda >5 a <10%, manutenção ≤5 a ≥5%, ganho >5 e <10% e ganho ≥10%. As análises estatísticas foram realizadas ao nível de confiança de 95% (pvalor significativo <0,05), para as características sexo, faixa etária e tercis de classificação econômica. Utilizou-se cálculo de frequências absolutas e percentuais, intervalos de confiança de 95% com correção de Bonferroni e o testes de ShapiroWilk para verificar normalidade dos dados. Para avaliar as diferenças nas medidas de peso e CA foi feito o teste de Wilcoxon para dados pareados. Para verificar diferenças entre sexo, faixa etária e tercis da classificação econômica em cada uma das categorias de IMC e classificações da CA foi feito o teste Qui-quadrado ou o teste Exato de Fisher, seguido do teste z para comparação das porcentagens entre as colunas. A pesquisa foi autorizada pelo CEP-UEL (CAEE nº 39595614.4.0000.5231) e realizada após assinatura do termo de consentimento pelo participante. Resultados: Participaram do estudo 863 indivíduos, com média de idade de 54,18 anos (±9,68) e que apresentaram características sociodemográficas semelhantes à amostra original. Não houve diferença estatisticamente significativa nas classificações de IMC e CA entre 2011 e 2015. Após 4 anos, a maioria dos indivíduos manteve o peso inicial, em ambos os sexos, faixas etárias e tercis econômicos. Os percentuais de manutenção do peso foram maiores em homens (63,2%), idosos (60,2 a 64,2%), e semelhantes em todos os tercis econômicos (aproximadamente 58%), entretanto não foram estatisticamente significativas. A alteração das classificações do IMC e da CA também foram marcadas pela manutenção das classificações de 2011, com importantes diferenças entre os sexos, faixas etárias e tercis econômicos. Conclusão: Os indivíduos avaliados apresentaram elevados percentuais de manutenção das classificações de IMC e CA para todas as características analisadas (sexo, faixa etária e tercis econômicos). A alteração percentual de peso também foi caracterizada pela manutenção de peso entre os sexos, faixas etárias e tercis econômicos.
Barreiras para o consumo de frutas e de verduras ou legumes em indivíduos de 44 anos ou mais do município de Cambé, Paraná
Graziela M. Campiolo dos Santos, Ana Maria Rigo Silva, Mathias Roberto Loch
Data da defesa: 29/07/2016
Introdução: O consumo insuficiente de frutas, legumes e verduras encontram-se entre os dez principais fatores de risco para a carga global de doenças em todo o mundo. Objetivo: Analisar barreiras percebidas para o consumo de frutas e de verduras ou legumes em uma amostra com 44 anos ou mais do município de Cambé, Paraná. Método: Estudo transversal que faz parte de um projeto mais abrangente denominado “Doenças Cardiovasculares no Estado do Paraná: Mortalidade, Perfil de Risco, Terapia Medicamentosa e Complicações” (VIGICARDIO). Em 2011 foi realizado um estudo de base populacional no município de Cambé (PR), em que foram entrevistados 1180 sujeitos de 40 anos ou mais de idade. Em 2015, os mesmos sujeitos foram novamente procurados e 884 aceitaram participar novamente do estudo. O presente estudo considerou apenas os dados coletados em 2015. Após algumas exclusões por falta de informações a respeito das principais variáveis deste estudo, a amostra foi composta por 877 adultos de 44 anos ou mais de idade. Os dados foram coletados entre março e outubro de 2015 por meio de entrevistas domiciliares. As barreiras para o consumo de frutas e de verduras ou legumes foram levantadas em perguntas sobre cinco possíveis barreiras: não gostar do sabor; família não tem o hábito/costume; custo pesa no orçamento da família; necessidade do preparo e falta de tempo para ir ao mercado/feira com frequência para comprar estes alimentos frescos. Foram também levantadas informações sobre características sociodemográficas e frequência semanal de consumo de frutas, verduras ou legumes. Para a análise de associação entre as barreiras percebidas e as variáveis sociais e demográficas foi utilizada a regressão logística binária, com análises brutas e ajustadas. Resultados: Dos entrevistados, a maioria era do sexo feminino (55,9%), pertenciam à faixa etária de 50 a 59 anos (38,1%), 60,2% se declararam brancos, 44,7% tinham até quatro anos completos de estudo, 64,4% foram classificados no nível econômico C ou inferior e 65,4% referiram ser casados (as). Quanto ao consumo irregular de frutas (menor que cinco dias por semana) a prevalência observada foi de 42,5% sendo superior nos homens, entre os com idade entre 44 e 49 anos, entre os que referiram cor da pele parda/preta/indígena, com 5 a 8 anos de estudo e entre os com menor nível econômico. Em relação ao consumo irregular de verduras ou legumes (menor que cinco dias por semana), a prevalência foi de 30,2% e foi superior entre os homens, entre os que referiram cor da pele parda/preta/indígena, com menor escolaridade e entre os indivíduos com menor nível econômico. Em relação às barreiras para o consumo de frutas, a mais mencionada foi o “custo pesa no orçamento da família", com prevalência de 57,7%. A chance de apresentar esta barreira foi significativamente maior entre as mulheres (OR=1,93; IC95%=1,45-2,57) e nos que tinham escolaridade entre 0 e 4 anos (OR=1,57; IC95%=1,07-2,31). A barreira a "família não tem hábito/costume de consumir frutas" foi citada por 16,4% da amostra e a chance de apresentar esta barreira foi maior entre os indivíduos com idade entre 50 a 59 anos (OR=2,01; IC95%=1,30-3,10). A barreira "falta de tempo para ir ao mercado/feira com frequência para comprar frutas frescas" foi citada por 8,0% da amostra e a chance de apresentar esta barreira foi maior entre as mulheres (OR=1,79; IC95%=1,03-3,12) e entre os que não tinham companheiro (OR=1,92; IC95%=1,14-3,24). A barreira "necessidade de preparo" foi citada por 7,6% da amostra e a chance de apresentar esta barreira foi maior entre os indivíduos da faixa etária de 44 a 49 anos (OR=2,37; IC95%=1,10-5,12) e 50 a 59 anos (OR=2,35; IC95%=1,22-4,51). A barreira “não gostar do sabor das frutas” foi citada por 6,2% da amostra e não foi associada a nenhuma variável sociodemográfica. Quanto às barreiras para o consumo de verduras ou legumes a mais mencionada foi o “custo pesa no orçamento da família", com prevalência de 49,9%. A chance de apresentar esta barreira foi maior entre as mulheres (OR=1,63; IC95%=1,23-2,16), indivíduos com até 4 anos de estudo (OR=1,79; IC95%=1,22-2,63) e com nível econômico B e C (OR=2,01; IC95%=1,01-3,99). A barreira a "família não tem hábito/costume de consumir verduras ou legumes" foi citada por 10,9% da amostra e não foi observada associação com as variáveis sociodemográficas. A barreira "necessidade de preparo" foi citada por 9,7% da amostra e a chance de apresentar esta barreira foi maior entre as mulheres (OR=1,69; IC95%=1,03-2,76). A barreira "falta de tempo para ir ao mercado/feira com frequência para comprar verduras ou legumes frescos" foi citada por 7,6% da amostra e não foi observada associação com as variáveis sociodemográficas. A barreira “não gostar do sabor das verduras ou legumes” foi citada por 6,6% da amostra e a chance de apresentar esta barreira foi maior entre os indivíduos com cor da pele parda/preta/indígena (OR=2,43; IC95%=1,38-4,26). Conclusão: Mais de 40% dos indivíduos apresentava consumo irregular de frutas e 30% o de verduras ou legumes. A principal barreira percebida para o consumo de frutas e de verduras ou legumes foi relacionada ao custo destes alimentos, seguida pela falta de hábito da família. Estes achados podem ajudar na orientação de políticas públicas que objetivem o aumento do consumo de frutas, legumes e verduras.
Mudança na situação conjugal e associação com a incidência e manutenção de comportamentos positivos de saúde: Estudo Vigicardio (2011-2015)
André Ulian Dall Evedove, Mathias Roberto Loch
Data da defesa: 22/02/2018
trodução: Algumas evidências apontam que a situação conjugal está associada a indicadores de saúde, em geral, indicando que pessoas com companheiros/as (casadas ou em união estável) possuem menores taxas de morbimortalidade se comparadas às pessoas sem companheiros/as (solteiras, divorciadas/separadas ou viúvas). Entretanto, existem poucos estudos epidemiológicos e longitudinais que associam a transição conjugal com comportamentos de saúde, principalmente na América Latina. Objetivo: Verificar a associação entre mudança na situação conjugal com a incidência e a manutenção de comportamentos positivos de saúde. Métodos: Estudo longitudinal prospectivo, que faz parte do projeto: ―Incidência de mortalidade, morbidade, internações e modificações nos fatores de risco para doenças cardiovasculares em amostra de residentes com 40 anos ou mais de idade em um município de médio porte do Sul do Brasil: Estudo coorte Vigicardio 2011-2015‖ realizado com indivíduos de 40 anos (em 2011) ou mais residentes em Cambé/PR. Para este estudo, participaram 883 pessoas nos dois momentos da pesquisa. As variáveis dependentes foram: atividade física no tempo livre, consumo de frutas, consumo de verduras e legumes, tabagismo e consumo abusivo de álcool. Foram ainda realizadas análises com a combinação (análise de simultaneidade) dos comportamentos relacionados à saúde considerados. A variável independente foi a situação conjugal, comparando-se a situação de cada sujeito nos quatro anos do estudo. Assim, os sujeitos foram divididos em quatro grupos. Grupo 1: pessoas que tinham companheiro(a) nos dois momentos (n=583); Grupo 2: pessoas que tinham companheiro(a) em 2011, mas não em 2015 (n=72); Grupo 3: pessoas que não tinham companheiro(a) nos dois momentos (n=204); Grupo 4 (n=24): pessoas que não tinham companheiro(a) em 2011 mas tinham em 2015. Assim, o grupo 1 e 3 manteve a mesma situação conjugal, enquanto os grupos 2 e 4 teve transição na sua situação conjugal. A análise dos dados, foi feita aos pares (grupo 1 x grupo 3; e grupo 2 x grupo 4), de modo a melhor explorar a possível associação da manutenção ou incidência de comportamentos positivos com a mudança na situação conjugal. Além das variáveis dependentes e a independente, foram consideradas as seguintes variáveis de confusão: sexo, faixa etária, classe econômica e escolaridade. Os dados foram analisados no Programa SPSS vs. 19, através da regressão de Poisson bruta e ajustada. Resultados: Os participantes que deixaram de ter companheiro(a) apresentaram menor incidência de abandono ao tabaco (RR:0,29,IC95%:0,12-0,68), de consumo regular de frutas (RR:0,43,IC95%:0,20-0,90) e de manutenção de pelo menos dois comportamentos positivos de saúde (RR:0,80,IC95%:0,70-0,92) do que os sujeitos que tinham companheiro(a) nas duas coletas. Já os participantes que passaram a ter companheiro(a) tiveram maior incidência de pelo menos um comportamento positivo de saúde (RR:1,76,IC95%:1,07-2,88) e maior incidência de consumo regular de frutas (RR:2,42,IC95%:1,40-4,18) comparados com aqueles que não tinham companheiro(a) em 2011 e 2015. Por outro lado, vale mencionar que algumas variáveis dependentes, especificamente: atividade física no tempo livre e consumo de verduras e legumes não se mostraram associadas à mudança na situação conjugal. Conclusão: Tais resultados são importantes para um melhor planejamento do cuidado à saúde.
Alimentação em pacientes com diabetes com 45 anos ou mais atendidos em atenção primária
Daniele Cristina Fernandes Niehues, Marcos Aparecido Sarria Cabrera
Data da defesa: 18/12/2020
Introdução: No Brasil, a prevalência de diabetes é de 8,9% ocupando o 4º lugar na lista dos países com o maior número de diabéticos no mundo. Mais da metade das pessoas com a doença têm dificuldades para seguir as recomendações, principalmente no que se refere à alimentação, tornando-se necessário compreender as barreiras que dificultam as mudanças no hábito alimentar. Objetivo: Analisar o perfil da alimentação de pacientes diabéticos atendidos na atenção primária. Método: Estudo transversal realizado em duas Unidades Básicas de Saúde em Londrina-PR. A amostra foi composta por 200 adultos com idade igual ou superior a 45 anos, com diabetes e em uso medicamentos antidiabéticos (hipoglicemiantes orais ou insulina). Os dados foram coletados entre Abril e Julho de 2019 por meio de entrevista. As barreiras relatadas que dificultam manter os hábitos alimentares para controle da doença foram levantadas através de pergunta aberta e a partir da resposta espontânea do entrevistado, a resposta era classificada dentro das opções previamente definidas baseadas na literatura. Para aqueles indivíduos que não conseguiam relatar nenhuma dificuldade, foram apresentadas as opções para que o paciente pudesse elencar qual ou quais dificuldades apresentava em manter os hábitos alimentares para controle glicêmico. Foram também levantadas informações sobre características sociodemográficas, utilização de serviço de saúde, padrão alimentar, tempo de diagnóstico do diabetes e presença de comorbidades. Para a análise de associação entre as barreiras percebidas e as variáveis sociais e demográficas foi utilizada a regressão logística binária, com análises brutas e ajustadas. Resultados: Dos entrevistados, a maioria era do sexo feminino (54,5%), com idade mínima de 45 anos e máxima de 96 anos, 53,0% se declararam brancos, 59,5% eram casados e 37,0% tinham até quatro anos de estudo. Quanto à frequência de consumo semanal dos alimentos, viu-se que verduras e legumes são consumidos de duas a quatro vezes semana; mais da metade dos entrevistados não consomem doces diariamente, porém o consumo de açúcar diário foi relatado em 42,0% no chá ou café; o pão, biscoito salgado e/ou doce são consumidos pela maioria dos entrevistados diariamente. Cerca de 55,0% dos entrevistados utiliza adoçante todos os dias e a maioria não consome produtos diet. As principais barreiras relatadas para a manutenção da dieta adequada foram o sabor desagradável ao paladar, falta de hábito individual para ingestão de alimentos integrais e diet e o alto custo dos alimentos. Foi possível verificar que quem recebeu visita domiciliar do agente comunitário de saúde e a orientação nutricional tiveram menos chance de apresentar a barreira e/ou dificuldade de adesão à dieta em relação a quem não recebeu. Conclusão: Há uma alta prevalência do consumo inadequado de alimentos pelos pacientes e as principais barreiras e/ou dificuldades estavam relacionadas às características pessoais, como sexo, faixa etária e escolaridade.
Prevalência, incidência e fatores predisponentes à síndrome metabólica na população de 40 anos e mais: Vigicardio 2011-2015
Kécia Costa, Ana Maria Rigo Silva, Luiz Cordoni Junior
Data da defesa: 13/09/2017
A Síndrome Metabólica (SM) é definida como um conjunto de alterações metabólicas que conferem aumento do risco cardiovascular. Sua prevalência na população adulta tem aumentado no mundo e diversos fatores estão relacionados à sua ocorrência. Este estudo tem como objetivo analisar o perfil da SM em uma coorte de adultos de 40 anos e mais, comparando-se a prevalência da SM e seus componentes entre dois períodos e identificando sua incidência e fatores preditores após seguimento. Trata-se de um estudo com dois delineamentos distintos, um comparativo entre dois períodos, 2011 e 2015, e o segundo uma coorte prospectiva. A população de estudo foi constituída por adultos de 40 anos e mais residentes em Cambé, Paraná. A coleta de dados da primeira etapa ocorreu entre os meses de fevereiro e maio de 2011 e foram entrevistados 1180 indivíduos. A segunda etapa iniciou-se em março e terminou em outubro de 2015 e 885 adultos foram entrevistados. Em ambas as etapas realizou-se aferição da pressão arterial, medidas antropométricas e exames laboratoriais. A SM foi identificada segundo a definição harmonizada, que preconiza a presença de três ou mais dos componentes: circunferência abdominal ≥102 cm homens e ≥ 88 cm mulheres; triglicérides: ≥ 150mg/dl e/ou tratamento medicamentoso com hipolipemiantes; PAS ≥ 130 e/ou PAD ≥ 85 mmHg e/ou tratamento com medicamentos antihipertensivos; HDL: <40 mg/dl em homens e <50 mg/dl em mulheres e/ou tratamento medicamentos com hipolipemiantes; glicemia jejum: ≥100 mg/dl e/ou medicamento para tratamento do diabetes. Todas as análises foram realizadas no programa SPSS 19.0. Para a comparação das prevalências da SM e de seus componentes entre os períodos foi utilizado o teste de Mc Nemar e para a comparação entre os sexos o teste Qui-quadrado, adotando-se o nível de significância de p<0,05. A análise de regressão logística múltipla foi utilizada para identificar os fatores preditivos para a incidência acumulada da SM em 2015. Houve aumento estatisticamente significativo entre 2011 e 2015 da prevalência da SM e de todos os seus componentes exceto da glicemia de jejum alterada. O componente mais prevalente em ambos os períodos foi alteração dos níveis pressóricos, 68,3% e 71,3% respectivamente. A obesidade abdominal elevada foi o componente mais frequente entre as mulheres e, entre os homens foi a alteração dos níveis pressóricos. Após o seguimento, a incidência acumulada da SM foi de 32,4%. Entre as mulheres foi de 40,1% e, entre os homens, de 20,0%. Após ajustes, as variáveis que permaneceram associadas à incidência da SM no sexo feminino foram o hábito de fumar como fator de proteção, a autopercepção negativa do estado de saúde e a presença de componentes pré-SM, com aumento da chance de incidência da SM quanto maior o número de pré-componentes. No sexo masculino apenas o índice da massa corpórea (IMC) classificado como sobrepeso e/ou obbesidade foi associado significativamente. Entre as principais conclusões destaca-se a frequência elevada da SM, a piora do perfil de risco metabólico e cardiovascular e a obesidade abdominal como um importante fator preditivo. A condição de SM reconhecida permite classificar os grupos segundo a condição de risco e planejar intervenções a fim de minimizar as consequências aos indivíduos e serviços de saúde.
Exposição ambiental ao chumbo e pressão arterial em população urbana: estudo de base populacional
Ana Carolina Bertin de Almeida Lopes, Mônica Maria Bastos Paoliello
Data da defesa: 15/01/2015
A exposição ambiental e ocupacional ao chumbo representa um importante problema de saúde pública. O acúmulo do chumbo no organismo pode levar ao desenvolvimento de diferentes morbidades, como aumento na pressão arterial sistólica (PAS) e diastólica (PAD), hipertensão arterial, arteriosclerose, disfunção renal, entre outras. Dessa forma, este estudo objetivou verificar os determinantes socioeconômicos, ambientais, de estilo de vida e de condições de saúde relacionados aos níveis de chumbo em sangue em adultos com 40 anos ou mais de idade. Além disso, examinou-se a associação entre os níveis de chumbo em sangue e alterações na PAS e PAD e hipertensão arterial. Realizou-se um estudo transversal de base populacional, com 959 adultos residentes na região urbana de um município de médio porte no Sul do Brasil. Os dados foram obtidos por meio de entrevistas, exame físico e exames de laboratório. Foram incluídas variáveis socioeconômicas, de estilo de vida, condições de saúde, dieta, e sobre exposição ocupacional ao chumbo. Os níveis de chumbo em sangue foram medidos pela técnica da espectrometria de massa com plasma de argônio indutivamente acoplado (ICP-MS). Considerou-se como PAS elevada valores 140 mmHg e PAD elevada 90 mmHg. A hipertensão arterial foi definida como PAS 140 mmHg e/ou PAD 90 mmHg ou uso de medicação antihipertensiva. As análises estatísticas foram realizadas nos programas Stata versão 13.1 e SPSS versão 20. A média geométrica dos níveis de chumbo em sangue foi 1,97 g/dL (95% CI: 1,90-2,04 g/dL). No Modelo 1 da análise de regressão linear múltipla ajustou-se por sexo, idade, cor da pele, educação, classe socioeconômica, tabagismo, consumo de álcool, exposição ocupacional ao chumbo, consumo de carne vermelha e de leite de vaca. O Modelo 2 foi ajustado para sexo e exposição ocupacional ao chumbo. Os níveis mais elevados de chumbo em sangue foram associados ao sexo masculino, à idade avançada, ao tabagismo, ao consumo de álcool e ao menor consumo de leite de vaca. No Modelo 2, os níveis de chumbo em sangue foram maiores nos participantes não brancos em relação ao brancos, em ex-fumantes e naqueles expostos ocupacionalmente ao chumbo. Participantes vivendo em área onde foram identificadas mais indústrias que utilizam chumbo apresentaram níveis de chumbo em sangue mais elevados (3,30 g/dL) comparados aqueles vivendo em outras áreas com menor número de indústrias (1,95 g/dL). Os níveis de chumbo em sangue foram associados à PAS e PAD na análise de regressão linear múltipla. A análise de regressão logística mostrou que os indivíduos do mais alto quartil de concentração de chumbo em sangue apresentaram odds ratio (OR) para hipertensão arterial significativamente elevado em relação aos participantes do quartil 1, com aumento gradativo entre os quartis (quartil 2: OR, 1,16 (0,77-1,74); quartil 3: OR, 1,15 (0,76-1,74); quartil 4: OR, 1,82 (1,17-2,82), p-trend = 0,011). O OR ajustado para PAD elevada foi mais alto para os participantes do maior quartil de chumbo em sangue em relação aos participantes do quartil 1 (OR: 2,31; IC 95%: 1,21- 4,41). A análise de clusters revelou que os participantes com níveis de chumbo em sangue mais elevados (2,99 g/dL), eram geralmente hipertensos, com PAS e PAD elevadas, do sexo masculino, com média de idade de 54,92 anos e com sobrepeso (IMC de 25 a >30). O cluster dos participantes com níveis de chumbo em sangue mais baixos (2,16 g/dL) eram geralmente não hipertensos, com PAS e PAD normais, do sexo feminino, com média de idade de 50,89 anos e com IMC normal (de 0 a <25). Conclui-se que os níveis de chumbo em sangue foram associados ao sexo masculino, à idade avançada e a hábitos como tabagismo, consumo de álcool e menor consumo de leite de vaca. Além disso, indivíduos com níveis de chumbo mais elevados têm mais chances de apresentarem hipertensão arterial. Finalmente, apesar dos baixos níveis de chumbo em sangue encontrados nos adultos desta área urbana, é importante que a exposição ao chumbo seja monitorada e que leis regulatórias sejam decretadas com o objetivo de prevenir a contaminação de chumbo em ambientes urbanos.