Apego psicológico ao trabalho, sono e outros fatores associados em professores da educação básica
Juliana Moura de Melo, Arthur Eumann Mesas
Data da defesa: 28/06/2016
A melhoria da educação pública tem sido tema constante nas agendas do governo e nas exigências da população. Entretanto, apesar de sua relevância social, a profissão docente continua cercada por condições de trabalho desgastantes, que implicam no adoecimento desses profissionais. O apego psicológico ao trabalho (APT), mediante o comprometimento de processos de recuperação do estresse, como o sono, pode ser um elemento importante na relação entre estresse ocupacional e a saúde. Considerando a complexidade desse contexto, o objetivo do presente estudo foi identificar a frequência do apego psicológico ao trabalho e fatores a ele associados, com enfoque para o sono. A população de estudo compreendeu 151 professores atuantes na Educação Básica em Londrina-PR, participantes do estudo PróMestre. Os dados sobre o apego psicológico ao trabalho e avaliação subjetiva do sono foram obtidos por meio do preenchimento de um diário ao longo de 7 dias, realizado pelos professores, e por entrevista, para o Índice de Qualidade do Sono de Pittsburgh (PSQI-BR). A análise objetiva do sono baseou-se no uso de actígrafo, de forma contínua, durante o mesmo período de preenchimento do diário. O APT apresentou elevada frequência na população estudada, sendo que 30,5% dos professores apresentaram APT hoje (questões vivenciadas no dia corrente, antes de dormir), 47% APT amanhã (questões a serem vivenciadas no dia seguinte) e 28,5 % apresentaram APT hoje e amanhã (ambas as situações). As seguintes variáveis se mostraram associadas ao APT hoje: sexo feminino (p=0,013), sintomas depressivos (p=0,000), maior pressão de tempo (p=0,003), maior latência do sono registrada no diário (p=0,013) e pior qualidade do sono (PSQI-BR) (p=0,007). O APT amanhã, por sua vez, associou-se ao sexo feminino (p=0,003), a sintomas depressivos (p=0,000), à ansiedade diagnosticada (p=0,001) e respectivo tratamento (p=0,000), a trabalhar em até dois períodos do dia (p=0,005), à maior pressão de tempo (p=0,002) e pior qualidade do sono (PSQI-BR) (p=0,002). Por fim, foi encontrada associação significativa entre o APT hoje e amanhã e as variáveis: sexo feminino (p=0,004), depressão (p=0,000), ansiedade diagnosticada (p=0,028), trabalhar em até dois períodos do dia (p=0,026), maior pressão de tempo (p=0,002) e pior qualidade do sono (PSQI-BR) (p=0,020). Além de identificar características individuais de professores que apresentam apego psicológico ao trabalho com maior frequência, este estudo permite concluir que pensar em situações do trabalho momentos antes de dormir tem potencial para comprometer a qualidade do sono, o que deve ser considerado na prevenção e no tratamento de distúrbios do sono nessa população.
Qualidade do sono em professores de educação básica: correlação entre métodos subjetivos e objetivos e sua relação com dor lombar crônica e uso de medicamentos
Marcela Zambrim Campanini, Arthur Eumann Mesas
Data da defesa: 18/04/2018
OBJETIVO: Examinar a correlação entre medidas subjetivas e objetivas do sono, bem como a relação entre sono, dor lombar crônica (DLC) e o uso de medicamentos em professores da educação básica. Objetivos específicos: 1) Analisar a correlação e concordância entre parâmetros subjetivos (diário) e objetivos (actigrafia) do sono; 2) Analisar a associação bidirecional e prospectiva entre sono e dor lombar crônica; 3) Investigar a associação entre o número de medicamentos de uso contínuo e parâmetros do sono. MÉTODOS: Para a estruturação desta tese, uma introdução abordando os temas de interesse foi elaborada. Em seguida, os objetivos específicos 1, 2 e 3 foram contemplados na forma de 3 estudos, cujos resultados e discussões foram abordados separadamente. A população estudada faz parte do projeto Saúde, Estilo de Vida e Trabalho de Professores da Rede Pública do Paraná (Pró-Mestre), no qual professores das 20 maiores escolas estaduais de Londrina (PR) foram entrevistados individualmente em dois momentos: baseline (nos anos de 2012 e 2013) e seguimento (após 24 meses). No seguimento, uma subamostra de professores (n=168) utilizou um actígrafo para registro do ritmo vigília-sono e preencheu um diário de atividades durante 7 dias. RESULTADOS: A concordância (coeficiente de correlação intraclasse – ICC) e a correlação (coeficiente de correlação de Pearson ou Spearman - r) entre actígrafo e diário foram de moderadas a altas para o tempo total de sono (ICC= 0,70; r= 0,60), tempo total de cama (ICC= 0,83; r= 0,73), horário de dormir (ICC= 0,95; r= 0,91), hora de início do sono (ICC= 0,94; r= 0,88) e hora de despertar (ICC= 0,87; r= 0,78). Entretanto, a latência do sono (ICC= 0,49; r= 0,38) e a eficiência do sono (ICC= 0,16; r= 0,22) demonstraram baixa concordância e correlação. O sono de pior qualidade (PSQI>5) foi um fator preditor para dor lombar crônica persistente após 2 anos de seguimento (Risco Relativo [RR]= 2,98, Intervalo de Confiança [IC] de 95%= 1,19- 7,48) mas não para novos casos dessa dor (RR= 1,09, IC 95%= 0,57-2,07). Não foram encontradas associações entre a dor lombar crônica no baseline e a qualidade do sono no seguimento. Nos participantes que tinham dor lombar crônica, a duração do sono ≤6 horas (RR= 1,54, IC 95%= 1,06; 2,25) e a eficiência do sono <85% (RR= 1,42, IC 95%= 1,07-1,89) medidas por actigrafia, e a hora de deitar reportada no diário >23h30m (RR= 1,54, IC 95%= 1,06; 2,24) foram associadas ao relato de dor no dia seguinte. O uso de ≥3 medicamentos foi associado com menor duração do sono (Odds ratio [OR]= 2,51; IC 95%= 1,01-6,21), maior latência do sono (OR= 2,65; IC 95%= 1,00-7,02) e maior número de despertares durante a noite (OR= 3.30; IC 95%= 1,32-8,28), medidos por actigrafia; e com maior latência (OR= 3,76; IC 95%= 1,36-10,5) e menor eficiência do sono (OR=11,6; IC 95% =2,92-46,1), medidos pelo diário. O incremento de 1 medicamento foi associado a maior latência e menor eficiência autorreportados. CONCLUSÕES: A actigrafia e o diário do sono demonstraram variados graus de concordância nos parâmetros do sono, sugerindo que esses métodos medem diferentes dimensões do sono, especialmente em relação à latência e à eficiência do sono. Os parâmetros do sono podem desempenhar o papel de preditores de dor lombar crônica a longo e a curto prazo. O uso contínuo de ≥3 medicamentos está associado a piores parâmetros objetivos e subjetivos do sono em professores.