O Acolhimento no Cotidiano dos Profissionais das Unidades de Saúde da Família em Londrina-Paraná
Sônia Nery, Regina Melchior, Elisabete de Fátima Polo de Almeida Nunes
Data da defesa: 23/02/2006
Analisa-se o acolhimento no cotidiano do trabalho de profissionais que atuam em três unidades de saúde da família no município de Londrina, Paraná. Adotou-se a pesquisa qualitativa e os dados foram coletados utilizando-se a técnica de grupo focal. Os sujeitos que compõem o universo desta pesquisa foram 12 agentes comunitários de saúde, nove auxiliares de enfermagem, cinco enfermeiras e seis médicos, num total de 32 profissionais. A análise de conteúdo possibilitou a definição de duas categorias temáticas: o acolhimento e o modelo predominante de atenção em saúde e a organização e os métodos de trabalho. Na primeira categoria, analisou-se a escuta, a construção da autonomia do usuário, a responsabilização e a resolutividade pelo trabalhador dos problemas/necessidades de saúde do usuário e comunidade. Na segunda categoria, destacam-se as facilidades e dificuldades relacionadas à organização da demanda, à atenção domiciliar e ao trabalho em equipe. A escuta foi considerada um elemento importante na acolhida, mas não ocorre de forma plena. A promoção da autonomia do usuário encontra-se relacionada à transmissão de informações, não se concretizando a perspectiva de ampliar a compreensão das pessoas sobre o processo de adoecer e seu autocuidado. A resolutividade depende do acolhimento e responsabilização clínica e sanitária dos profissionais no desenvolvimento de ações envolvendo o coletivo da equipe de saúde da família e demais serviços de saúde. A estratégia saúde da família levou ao aumento da demanda espontânea nas unidades e não se conseguiu ainda compatibilizar esta demanda com as atividades programáticas. Quanto à atenção domiciliar, a visita propiciou maior conhecimento dos problemas de saúde do território/famílias, mas esta atividade não foi incorporada por todos os profissionais. O trabalho em equipe foi considerado como um processo que está em construção, demandando novas práticas em saúde, visando superar a fragmentação no cotidiano do trabalho. A educação permanente apresenta-se como possibilidade para que os diferentes atores sociais envolvidos no processo de atenção em saúde questionem sua própria maneira de agir na atenção individual e ou coletiva. Assim, o acolhimento constitui um importante elemento no atendimento às necessidades de saúde das pessoas, mas na realidade analisada ainda não ocorre de forma plena, tendo como referência o modelo de atenção voltado à integralidade das ações em saúde.
Organização do trabalho em uma Unidade de Urgência: percepção dos enfermeiros a partir da implantação do acolhimento com avaliação e classificação de risco
Fernanda da Silva Floter Godoy, Mara Lucia Garanhani
Data da defesa: 12/07/2010
Trata-se de uma pesquisa qualitativa que teve por objetivos conhecer o trabalho de uma unidade de urgência após a implantação do Acolhimento com Avaliação e Classificação de Risco (AACR), as repercussões sobre o processo de trabalho do enfermeiro, os sentimentos vivenciados e as estratégias defensivas utilizadas por estes profissionais. Participaram da pesquisa dez enfermeiros de um hospital universitário localizado no interior do Estado do Paraná. A coleta de dados ocorreu nos meses de julho e agosto de 2009. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas, que continham questões norteadoras fundamentadas no referencial teórico. Optou-se pela gravação em fita cassete e, em seguida, as falas foram transcritas na íntegra. Para a análise dos discursos e construção das categorias, utilizou-se a técnica fundamentada na estrutura do fenômeno situado, e a discussão foi realizada utilizando algumas contribuições da Psicodinâmica do Trabalho. A análise das dez entrevistas desvelou quatro categorias, sendo três analíticas e uma empírica. As categorias versam sobre os temas: processo de trabalho e as repercussões do AACR em uma unidade de urgência, os sentimentos vivenciados por estes profissionais, as estratégias defensivas utilizadas pelos enfermeiros e as atitudes necessárias para o trabalho em uma unidade de urgência com AACR. O ambiente da unidade de urgência mostrou-se similar às outras realidades vivenciadas e descritas em literatura. O AACR trouxe modificações significativas para o processo de trabalho dos enfermeiros, permitindo organizar a fila de espera e priorizando os casos mais graves. Os sentimentos de prazer foram identificados como contribuição para o diagnóstico precoce, alívio da dor e na recuperação do paciente e no relacionamento com a equipe de enfermagem. As vivências de sentimentos de sofrimento estão relacionadas com a intensificação do trabalho, o relacionamento com a equipe médica, o medo e a insegurança em fazer a contra-referência dos usuários. As estratégias defensivas utilizadas pelos enfermeiros evidenciaram essencialmente ações individuais: buscar apoio na prática religiosa, o convívio com familiares e amigos e a prática de esportes. Observou-se, nesta pesquisa, a presença de ambiguidade de sentimentos de prazer e sofrimento na vivência do AACR. Os resultados deste estudo mostram as repercussões que o AACR proporciona em unidades de urgência, no que diz respeito à organização da demanda e à priorização dos casos com critérios baseados na gravidade, ou seja, no risco de vida. O conhecimento dos fatores que levam aos sentimentos de prazer e sofrimento neste trabalho pode abrir novas possibilidades para refletir sobre esta prática, contribuindo para a realização de um processo mais participativo e inovador.
Acolhimento com avaliação e classificação de risco: análise da demanda atendida no pronto socorro de um hospital escola
Vivian Biazon El Reda Feijó, Luiz Cordoni Junior, Célia Regina Rodrigues Gil
Data da defesa: 20/08/2010
A área de urgência e emergência constitui-se em importante componente da assistência à saúde. A crescente demanda nos últimos anos e a insuficiente estruturação da rede de atenção são fatores que têm contribuído para a sobrecarga dos serviços de urgência e emergência, transformando-os em uma das áreas de maior problemática do SUS. Diante disso, o Ministério da Saúde instituiu em 2004 o Programa Nacional de Humanização (PNH), trazendo como proposta ferramentas e dispositivos que podem efetivamente potencializar a garantia de atenção integral. Destaca-se como diretriz o acolhimento com avaliação e classificação de risco (AACR). Considerando a escassez de estudos relacionados ao uso do protocolo de AACR em serviços de emergência de alta complexidade e sua implantação no Pronto Socorro do Hospital Universitário de Londrina-PR, este estudo teve como objetivo geral analisar a demanda que procurou atendimento neste serviço mediante os critérios do protocolo de AACR e, como objetivos específicos, identificar características e fatores associados à adequação da demanda quanto à finalidade assistencial do serviço. A população de estudo foi constituída por 976 pessoas que procuraram atendimento no período de junho de 2008 a maio de 2009, selecionadas por amostragem sistemática. Os dados foram coletados das fichas do protocolo de AACR e das fichas de atendimento médico nos casos em que o desfecho tenha sido atendimento nesse serviço. Foram digitados e armazenados no programa Epi Info versão 3.5.1 para Windows e analisados no programa SAS. A associação entre as variáveis independentes e as variáveis respostas classificação de risco foi avaliada com o teste de qui-quadrado ou teste exato de Fisher. Foram considerados adequados à demanda para atendimento no hospital terciário os pacientes classificados como vermelho, amarelo, e verde; os classificados como azul foram considerados inadequados. Verifica-se nos resultados que 82% dos pacientes foram classificados como adequados ao serviço segundo critérios do protocolo. O sexo predominante foi masculino na faixa etária de 20-59 anos. A procura por atendimento foi maior nos dias úteis em horário comercial, coincidindo com o turno de maior procura dos casos menos graves. Na análise estatística verifica-se associação significativa da variável procedência da demanda, horário de procura para atendimento com a adequação da demanda. As variáveis clínica responsável pelo atendimento, destino após atendimento médico, ser acompanhado neste serviço, SSVV, tempo da queixa, procedimentos realizados e comorbidades apresentam associação significativa com a classificação de risco atribuída por cores. Conclui-se com os achados deste estudo que a implantação do AACR contribui na identificação dos casos mais graves e na organização da demanda. Entretanto, a adequação da demanda depende também da organização do sistema de saúde local como um todo. Com base nestas informações, outros serviços de emergência podem ser motivados a incorporar esta tecnologia de trabalho e de gestão.
Acolhimento da população negra em sofrimento psicossocial pelo candomblé de Londrina-PR
Jackeline Lourenço Aristides, Regina Melchior, Dinarte Ballester
Data da defesa: 07/03/2012
Os negros vivem uma relação de desigualdade socioeconômica em comparação aos brancos, e isto está diretamente relacionado ao processo saúde doença também desigual para aquelas pessoas. Como forma de enfrentamento à às mazelas da escravidão as comunidades de terreiro ficaram conhecidos lócus de produção cultural e política, bem como espaço de produção de saúde. O candomblé, assim como outras religiões de matriz africana utilizam o acolhimento em seu cotidiano, e esse termo é utilizado na atenção e escuta aos sujeitos em sofrimento psicossocial nesses espaços. Para compreender esse acolhimento foram entrevistadas seis líderes do candomblé do município de Londrina- PR. Para a interpretação das falas foi utilizada a análise de discurso que segundo Pêcheux (1998) compreende considerar a interdiscursividade, ou seja, uma fala individual é carregada de vários sujeitos e de um contexto histórico e ideológico.O acolhimento nos remete à iniciação orixá, conforto espiritual, prática de banhos com ervas medicinais, cuidado aos grupos sociais específicos, abordagem em doenças sexualmente transmissíveis, encaminhamento aos serviços especializados. As formas de sofrimento psicossocial mais referidas pelas pessoas acolhidas segundo o relato das líderes, ora possuíam classificação médica como o etilismo e a depressão, ora eram subjetivações do sofrimento como “perturbação” e estresse. O acolhimento do sofrimento psicossocial traz significados como a dialética do material e do espiritual, visita domiciliar, fragilidade da continuidade na linha do cuidado e racismo e preconceito racial como causadores de sofrimento. Este trabalho avança na perspectiva de apontar a necessidade de trabalho em rede, de desconstrução da hospitalização psiquiátrica e da medicalização, e do enfrentamento do preconceito frente ao candomblé. Possibilita também compreender como a população negra busca apoio frente ao sofrimento psicossocial.