As “guerreiras” de Salvador-BA : um estudo sobre estratégias para a saída da pobreza
Lina Penati Ferreira, Silvana Aparecida Mariano
Data da defesa: 12/11/2018
Este trabalho soma-se à extensa literatura das ciências sociais que tem como temática central a pobreza e como foco específico as tentativas de enfrentamento a esse fenômeno social. Desse modo, o objeto desta pesquisa são as estratégias mobilizadas pelas mulheres beneficiárias da assistência social para a possível saída da situação de pobreza na cidade de Salvador-BA. Isso significa que tratamos da pobreza e de sua superação a partir de uma perspectiva em particular, da visão daquelas que vivem nessa condição. Nosso foco em mulheres se justifica pelo fato de serem majoritariamente elas as interlocutoras entre a família e o Estado nas políticas de combate à pobreza, bem como pela grande presença de famílias chefiadas por elas entre a população pobre. Salvador-BA destaca-se por ser a maior capital da região mais pobre do país e por isso torna-se um caso particular quando falamos em pobreza urbana. Orientamos este trabalho partindo de três perguntas: 1) De que maneira as mulheres em situação de pobreza atuam nos contextos de vulnerabilidade, a fim de buscar a saída da situação de pobreza? 2) Em que circunstâncias os diversos pertencimentos, como os de gênero, raça e classe, se interseccionam e geram diferentes possibilidades e obstáculos para a saída da situação de pobreza? 3) Qual seria a relação dessas mulheres com a escolarização e com o mercado de trabalho como possíveis caminhos para a superação da pobreza? Para responder essas indagações, selecionamos oito entrevistas com mulheres pobres da periferia de Salvador. Apesar de não ser um critério, todas as entrevistadas são negras. A partir da técnica de entrevista narrativa, buscamos captar as trajetórias e as estratégias de superação da pobreza mobilizadas por essas mulheres. Assim, pudemos compreender uma combinação de diferentes dimensões da vida dessas mulheres que resultam nas estratégias de saída da pobreza, mas também da própria sobrevivência delas e de suas famílias. A conciliação entre trabalho e família, as atividades informais, as redes de apoio, as políticas sociais e a representação de mulher autônoma que elas têm de si mesmas são combinadas de forma a enfrentar os obstáculos e oportunizar caminhos para a sobrevivência e a melhora de vida. Nessa empreitada, o trabalho passa por discussões que envolvem as noções de agência e capacidades nos contextos de pobreza e destaca as possibilidades que essas mulheres constroem, mesmo em situações de extrema vulnerabilidade.