DO SONHO DO INTERCÂMBIO A EXPERIÊNCIA DE DIPLOMACIA
Por: Maynara Fernanda Carvalho Barreto
Em 2017 eu estava no segundo ano do mestrado em etapa de finalização da coleta de dados da minha dissertação. À época era bolsista do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PPGENF) da Universidade Estadual de Londrina (UEL), representante discente e também realizava diversas atividades acadêmicas junto à Coordenação, sob responsabilidade da Profa. Dra. Maria do Carmo Fernandez Lourenço Haddad.
Em abril de 2017, ao receber da Coordenação do PPGENF um Edital de Abertura do Processo Seletivo do Departamento de Sistemas e Serviços de Saúde (HSS) da Organização Pan-Americana de Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS) para uma vaga de estágio para enfermeiro/profissionais da Saúde Pública ou Estudantes de Pós-graduação, na área de recursos humanos de saúde e/ou saúde pública. O candidato selecionado realizaria o estágio sob supervisão da Assessora Regional de Enfermagem e Técnicos em Saúde, Dra. Silvia Helena de Bortoli Cassiani, no período de setembro de 2017 a fevereiro de 2018.
Como a realização do intercâmbio internacional sempre foi um sonho e objetivo pessoal e profissional para mim, resolvi participar do processo seletivo pois o edital estava alinhado à minha área de formação e linha de pesquisa. E, para o meu contentamento e realização, entre os candidatos da América Latina e Caribe fui a selecionada para realizar o estágio profissional.
Os requisitos mínimos para participar do processo seletivo estavam relacionados a possuir um currículo profissional e acadêmico relevante para a vaga, com experiências exitosas, uma carta de interesse, conhecimento avançado do inglês e/ou espanhol, e cartas de recomendação do candidato. Recebi o apoio dos docentes, reitoria, bem como da Assessoria de Relações Internacionais da UEL que providenciaram os documentos necessários e me apoiaram durante todo o processo seletivo.
Quando recebi a notícia da aprovação tive apoio dos meus maiores incentivadores e apoiadores: meus pais. Por acreditarem que ser uma das candidatas aprovadas para a realização do estágio, eles viram propósito e acreditaram neste sonho. Assim, por ser um estágio sem remuneração, eles foram os meus investidores e certamente os frutos que tenho colhido até hoje e continuarei no futuro, pertencem também à eles.
Recebi a aprovação em meados de maio e a partir daquele momento os dias de preparo até a ida a Washington-DC foram intensos. Em três meses tudo mudou… precisei finalizar a coleta de dados da minha dissertação, redigir a versão para a qualificação pois naquele momento também decidi solicitar a mudança no nível de mestrado para doutorado por possuir os critérios exigidos pelo programa, providenciar as documentações necessárias (visto americano, entre outros), encontrar um local para morar, entre os desafios que não caberiam em um parágrafo.
Para tudo isso, tive uma rede de apoio exemplar que me acolheu e sonharam junto comigo. Em relação à moradia, morei na International Student House of Washington DC, um local incrível, em que profissionais e estudantes de pós-graduação de todo o mundo podem enviar um currículo e verificar se há disponibilidade de quarto para o período de moradia pretendido. O aluguel mensal incluía o quarto completo contendo cama, armário, escrivaninha, todos os serviços da casa (áreas de serviço, lazer, lavanderia, biblioteca, sala de música, sala de eventos, sala de jogos) e as principais refeições.
Na International Student House of Washington DC havia diversas agendas culturais, entre elas destaco um evento privado em que Joe Biden (vice do ex-presidente Obama) foi até à casa e durante sua fala inspirou aos participantes a usarem o que estavam aprendendo durante suas experiências profissionais para melhorar o mundo. Eu tinha recém chegado para morar na casa e pude assistir/ouvir todo o discurso da minha janela.
Quanto ao estágio, desenvolvi atividades para potencializar o alcance dos planos estratégicos da OPAS/OMS em relação aos recursos humanos de saúde e enfermagem na região das Américas, com destaque para a Enfermagem de Prática Avançada e Educação Interprofissional em Saúde. Pude entender sobre as questões de saúde global, enfermagem e a função das organizações internacionais de saúde. Também participei do gerenciamento das redes sociais da EnfAmericas.
Entre os principais trabalhos desenvolvidos destaco o mapeamento do Brasil sobre a distribuição de Recursos Humanos em Enfermagem, publicado na Revista Panamericana de Salud Publica. Tive o privilégio de participar da 29ª Conferência Sanitária de Saúde realizada em Washington-DC e fazer parte da equipe organizadora da II Reunião Técnica Regional sobre Educação Interprofissional, realizada em Brasília-DF em dezembro de 2017.
Poderia discorrer sobre mais experiências, mas quero focar agora no pós intercâmbio. Retornei ao Brasil em fevereiro de 2018 e hoje, quase cinco anos após viver uma das melhores experiências pessoais e profissionais da minha vida, tenho a oportunidade de colocar em prática cada ensinamento e experiência vivenciada na OPAS/OMS.
Hoje estou professora na Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP), já finalizei o doutorado e neste momento há novos sonhos e propósitos que me impulsionam a viver com mais convicção e certeza de que é possível aplicar os conhecimentos adquiridos independente do local em que estamos inseridos. E, quem sabe no futuro, com novas experiências relacionadas a diplomacia em saúde e saúde global.
Para finalizar, deixo aqui meu incentivo a quem busca realizar um intercâmbio internacional. Sugiro que procurem oportunidades alinhadas aos objetivos de pesquisa/estudo e área de formação. Busquem também oportunidades com bolsa de estudos parcial ou integral. Potencializem ou aprendam uma língua estrangeira, isso faz diferença nas seleções. Mas, jamais, deixem que o medo de não alcançar um objetivo seja maior do que as etapas que levam à realização.